Controvérsia sobre custo do Gripen E/F, na Suécia, respinga na mídia suíça

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Segundo nota publicada no site da TV Suíça (SFTV) na quinta-feira, 16 de agosto, está ocorrendo no momento um debate na Suécia sobre os custos reais de aquisição da nova versão do caça Gripen. A oposição à compra vem especialmente do Partido Verde sueco. Porém, ao que parece, o próprio Exército Sueco está servindo de ajuda a essa oposição.

A SFTV (com notícias veiculadas em alemão), assim como o jornal suíço 24 heures (editado em francês) trouxeram informações de outra mídia, o “Neuen Luzerner Zeitung”, com uma declaração do  chefe do Departamento de Planejamento e Política do Exército Sueco, general brigadeiro Dennis Gyllensporre. O general teria dito: “Claramente, nós teremos uma nova versão do Gripen, mas não a qualquer preço.”

A questão é que haveria uma diferença no valor total, conforme se inclui ou não o custo de desenvolvimento da versão E/F do Gripen. Segundo o porta-voz dos verdes no Parlamento Sueco, Peter Rådberg, nos números tornados públicos até o momento não há um valor definido para o custo do desenvolviemento.

Rådberg afirmou que o desejo das forças armadas do país é adquirir 60 caças Gripen por aproximadamente 50 bilhões de coroas suecas (7,3 bilhões de francos suíços ou 7,4 bilhões de dólares). Já os números esperados pela Saab são entre 32 e 33 bilhões de coroas suecas (4,7 bilhões de francos suíços ou 4,8 bilhões de dólares) mas sem incluir os custos de desenvolvimento, pois o próprio porta-voz da Saab, Karin Walka teria dito que a saab não divulgou nenhum custo de desenvolvimento para o Gripen E/F.

Por outro lado, segundo o jornal 24 heures o ministro da Defesa da Suíça, Ueli Maurer, sempre disse que o custo de 3,1 bilhões de francos suíços para a aquisição de 22 caças Gripen pelo país (lembrando que o Gripen E/F foi declarado vencedor da concorrência suíça que envolveu também os caças Dassault Rafale e Eurofighter Typhoon) cobririam o custo de desenvolvimento da aeronave para a Suíça.

Antes da mídia suíça, essa questão também aparece na sueca.  Editorial da quarta-feira passada (8 de agosto) do jornal sueco Expressen defende que “é hora de dar adeus ao Gripen”. Apesar de não criticar a qualidade do caça, o jornal faz uma metáfora com apostadores, dizendo que é sempre quem mais perde dinheiro que tem mais dificuldades em deixar o jogo. O jogador acaba apostando novamente tendo esperança de que finalmente vai conseguir ganhar, até que seus fundos sejam exauridos.

Esse seria o caso da Suécia com o desenvolvimento do Gripen que, segundo o jornal, acabaria custando mais do que o seu retorno em exportações. Assim, o editorial defende que um país pequeno como a Suécia não pode se dar ao luxo de continuar investindo sozinho em desenvolvimento de caças, e que já se investiu demais no Gripen.

A sobrevivência do projeto estaria, segundo o Expressen, mais ligada a prioridades econômicas do que de necessidades de defesa, pois a Suécia já comprou mais caças do que precisaria, valendo mais a pena, na opinião do jornal, adquirir novos caças de algum fornecedor externo ao invés de desenvolver seu “Super-Jas” (apelido da versão E/F do Gripen, de nova geração).

O problema, conforme o jornal, é que a demanda internacional por caças é virtualmente inexistente, e não há com quem dividir os custos de desenvolvimento. O editorial do Expressen deixa claro que não há nada de ruim no Gripen em si, mas que o problema está no fato de que a pequena Suécia  não é visto por outros países como um parceiro estratégico. Outras nações do mesmo porte que a Suécia, e que tentaram desenvolver seus próprios caças, já jogaram a toalha quanto a prosseguir no caminho do desenvolvimento próprio. Para o Expressen, já é hora da Suécia fazer o mesmo e comprar caças no mercado externo.

Isso traria mais custos inicialmente, por ter que se mudar a infraestrutura montada para o Gripen, mas no longo prazo seria uma opção economicamente melhor, segundo o jornal. Também beneficiaria com melhores parcelas do orçamento outros ramos das forças armadas da Suécia, e não só a Força Aérea.

Pelo jeito, a polêmica política na Suécia e na Suíça ainda vai trazer novos lances para o futuro da nova versão do Gripen. Até o próximo dia 21, a comissão de defesa do parlamento suíço que analisa todo o processo de seleção do Ministério da Defesa, que levou à escolha do caça sueco, deverá apresentar seu relatório ao Conselho Nacional (segundo reportagem do já citado Neuen Luzerner Zeitung, publicada na semana passada). Então, será decidida a publicação ou não dos resultados dessa análise do processo. Ao mesmo tempo, prossegue o desenvolvimento da nova geração do caça e até de uma versão naval, por parte da Saab e seus parceiros, como mostram os links de matérias já publicadas (veja lista abaixo).

FONTES: 24 heures, SFTV, Neuen Luzerner Zeitung e Expressen (compilação, tradução, adaptação e edição: Poder Aéreo)

FOTOS: Saab

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A. J. Camargo

“Off Topic”. Se os Editores permitirem, gostaria de postar um editorial, o qual considero como um das mais importantes dos últimos meses. Gostaria ainda de convidar o Sr. Mauricio R. a refletir sobre os argumentos do Sr. Mauro Santayana e perguntar se ainda seria melhor para o Brasil, apenas comprar sistemas de defesa, baseado unicamente no quesito preço. É longo, mas de fato, vael a pena. Obrigado. Segue: Na contramão da tendência mundial, o Brasil desnacionaliza sua indústria bélica Mauro Santayana As forças militares brasileiras só dispõem de munições para uma hora de resistência, segundo declarou o general Maynard Santa… Read more »

edcreek

Olá,

É claro e evidente que o preço será muito maior que o propagado, o caça no ecsiste e para sair do auto cad para o mundo real custo muito e nunca fica no preço estimado. Será que só os Suecos são espertos e não estouram o orçamento como Americanos, Russos, Franceses e Ingleses? É só pensar um pouco, já os caças já prontos e operacionais tem o custo real já definido…

Abraços,

Marcelo

Foi só aparecer um (provável) comprador externo e a verdade começa a aparecer…lembrando que qualquer estimativa de custo de desenvolvimento levantada agora tem chances de estourar…no fim terão um caça de 4a geração (ou 4.5) em 2018. Não seria melhor começar um desenvolvimento novo de um 5a geração, em conjunto com outro país (Coréia ou Turquia por exemplo) ?

champs

É por isso que digo que o Brasil não sabe o que quer. É claro que os suecos estão precisando de um parceiro para desenvolver o NG, e estão certos e não querer desenvolver sozinhos, aí que entraríamos nós.

Agora se quer um caça pronto, já desenvolvido, que no máximo tenha sua manutenção feita aqui e no futuro uma atualização de meia vida com tecnologia nacional, aí serveo FA-18E/F, Rafale, Su-35S…

O que não pode é querer de tudo um pouco (transferência de tecnologia, desenvolver, exportar, operacional urgente para o GDA, naval, pagar por preço de prateleira,…)

Mauricio R.

O único fato concreto nesta questão tda, é que não há valores definidos ainda, o restante varia de ruído a barulho, somente.
E a Saab já deu provas mais do que suficientes, que consegue trabalhar dentro ou até abaixo do orçamento acordado.
No mais, somente aqueles que abraçaram o F-35, terão uma aeronave de 5ª geração p/ exibir.
Os demais continuarão c/ as mesmas aeronaves de 4ª, 4 e 1/2 geração que já possuem, devidamente recauchutadas.

Control

Senhores Toda dificuldade trás sempre um rol de oportunidades. Para o Brasil é uma excelente oportunidade de buscar um acordo que traga para o Brasil a produção de um caça e toda a tecnologia a ele associada. Bem conversado, o Brasil poderia participar do desenvolvimento final do NG, assumir sua produção aqui, tanto para atender a FAB como a própria Suécia e quiçá a Suiça. Bem arrumado, o acordo seria bom para o Brasil, para os suecos e para os suiços. Poderia até, com um bom exercício de negociação trazer a produção do motor F414 para cá. Diferente do que… Read more »

Giordani

“de que a pequena Suécia não é visto por outros países como um parceiro estratégico. Outras nações do mesmo porte que a Suécia, e que tentaram desenvolver seus próprios caças, já jogaram a toalha quanto a prosseguir no caminho do desenvolvimento próprio. Para o Expressen, já é hora da Suécia fazer o mesmo e comprar caças no mercado externo.” Não me parece lógico destruir uma indústria tecnologica de ponta. O jornal quer o mesmo que foi feito no canadá e na GB???? Bom, no mais, escrever o quê? A notícia só é ruim para os torcedores do Gripen, no mais,… Read more »

Observador

Senhores, A notícia apenas comprova aquilo que penso: os verdes são um obstáculo ao progresso de qualquer nação. São fanáticos para os quais não existem contra-argumentos. No caso da Suécia, querem destruir um ativo que vale bilhões (quantos países do mundo são capazes de possuir uma indústria aeroespacial? E quantos destes são capazes de produzir aviões militares de alta performance?). O que este pessoal quer mesmo, mas não tem coragem de dizer, é desarmar o seu país, para fazer triunfar seu sonho de hedonismo, paz e amor. Só esquecem que o país que se desarma entrega sua soberania aos outros.… Read more »

Giordani

“Observador disse:
17 de agosto de 2012 às 12:23
A notícia apenas comprova aquilo que penso: os verdes são um obstáculo ao progresso de qualquer nação.”

Mas Eu esperava um melhor nível intelectual do povo sueco, com capacidade de discernimento…

Grifo

Senhores, na minha opinião o que está acontecendo na Suécia nada mais é do que a negociação entre o governo e a SAAB sobre o contrato e as especificações finais do Gripen E/F. O governo quer pagar menos, a SAAB quer receber mais. É assim desde que o mundo é mundo. De relevante eu vejo a notícia que o governo sueco quer comprar *66* Gripen NG, que somados com os 22 da Suíça e os eventuais 36 do Brasil já dariam o respeitável número de 124 caças. Somados com os quase 250 Gripen já fabricados das demais versões, acho que… Read more »

Nick

Esse Expressen jogando contra o seu próprio país e sua soberania. Pouquíssimos países no mundo possuem a expertise no desenvolvimento e fabricação de caças de alto desempenho. E se a Suécia abrisse a mão disso por caças de prateleira, seria um verdadeiro hara-kiri tecnológico.

Por outro lado o caminho da Europa como um todo passa por um caça unificado Europeu, garantindo a escala necessária para o mesmo. Nesse caso a SAAB poderia ser uma das empresas do consórcio, fabricando componente para todos os caças dos países participantes.

[]’s