F-35: sucesso no exercício, fracasso no programa

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O F-35, mais novo avião de combate dos Estados Unidos, tem se mostrado uma excelente plataforma de combate em exercícios simulados, mas seu programa de desenvolvimento tem enfrentado atrasos, custos elevados e tecnologias pouco maduras

Caças F-35 participando de exercícios na Nellis Air Force Base, Nevada
Caças F-35 participando de exercícios na Nellis Air Force Base, Nevada

por Guilherme Poggio

Os treze caças F-35 (todos da versão F-35A) que participam do exercício Red Flag 17-1 estão fazendo história. Trata-se da primeira vez que este caça de quinta geração é colocado diante de exercícios tão realistas e o resultado tem surpreendido muita gente.

“Voei uma missão com uma formação de quatro F-35A e eles destruíram cinco ameaças superfície-ar num período de 15 minutos sem que fossem rastreados pelos sistemas de terra”, disse o major James Schmidt, que pilotava jatos A-10 Thunderbolt II antes de voar o Lightning II.

Ainda segundo relatos publicados pela conceituada revista Aviation Week para cada F-35A perdido nos combates simulados, 15 outras aeronaves agressoras foram derrubadas. E ao lado dos também furtivos F-22 os aviões estão redimensionando o combate aéreo.

Caça F-35
Caça F-35

No geral as informações divulgadas sobre a participação do F-35 no exercício deste ano são muito favoráveis à aeronave. Porém, todas estas vantagens que a tecnologia proporciona num combate estão chegando por um custo bastante elevado, de forma extremamente atrasada e não totalmente madura.

Já é bastante comum ler em diversos artigos e documentos que o programa do F-35 é o programa militar mais caro da história. Tanto que o recém-empossado presidente dos EUA, Donald Trump, manifestou o seu desapontamento (para dizer o mínimo) com os custos do programa antes mesmo de tomar posse.

Não só isso. A versão embarcada do F-35, conhecida como F-35C, pode até ser cancelada. O problema relacionado com o curto gancho de parada foi contornado (embora nunca devesse ter existido de tão básico), mas as indesejadas oscilações da aeronave durante as catapultagens são um problema muito maior. Causando desorientação e severa dor no pescoço dos pilotos a solução para esse problema talvez tenha que passar por profundas modificações no projeto.

Não por menos o presidente Trump já solicitou que o Secretário de Defesa James Mattis (também conhecido como “cachorro louco”) avalie a possibilidade de substituir o F-35C por uma versão mais moderna do F/A-18 E/F Super Hornet. Resta saber se esta é uma ideia que está sendo levada a sério ou apenas mais um instrumento de pressão governamental sobre a fabricante do F-35, a Lockheed Martin. De qualquer forma a Marinha dos EUA retomou a ideia de avaliar o programa de melhoria do propulsor do Super Hornet (o turbofan GE F414) possivelmente visando uma extensão além do desejado da frota atual e até mesmo a aquisição de novas aviões de versão mais moderna.

Mesmo que os EUA insistam no projeto do F-35C as modificações necessárias para eliminar ou minimizar o problema das oscilações durante as catapultagens deverão levar meses ou até mesmo anos. Este seria mais um de diversos atrasos enfrentados pelo programa.

Embora os Fuzileiros NavaiS dos EUA (USMC) tenham declarado que a versão F-35B tenha atingido sua capacidade inicial de operação (IOC) em 2015, o avião ainda precisa de muitos ajustes até alcançar a plenitude. Em outras palavras, o programa se aproxima de uma década de atraso.

Na verdade as modificações para tornar o caça uma verdadeira e temida arma de combate ainda dependem de ajustes que vão desde a atualização do software (há relatos de pilotos que tiveram que dar “boot” no sistema em pleno voo) até o reprojeto de estruturas da aeronave.

Asas novas

A última “novidade” sobre o projeto foi anunciada na semana passada. A seção externa das asas do modelo F-35C (versão embarcada) terá que ser reprojetada e reforçada. Esta é a seção que se dobra para cima quando a aeronave fica estacionada no convés de voo (ou no hangar e no elevador) de forma a ocupar menos espaço.

F-35C, versão naval

Durante ensaios em voo foram observadas turbulências e oscilações além do desejado quando a aeronave está equipada com cabides e mísseis AIM-9X. Isto, segundo os especialistas do projeto, se dá pela resistência estrutural inadequada para suportar as cargas induzidas pelos cabides com mísseis.

A nova seção externa da asa já foi produzida e agora está sendo ensaiada em voo. Todas as aeronaves F-35C já produzidas até aqui terão que passar pro “retrofit” (voltar para a fábrica e substituir a peça defeituosa).

Outro impacto deste problema está na campanha de certificação do míssil AIM-9X, que será postergada e só ocorrerá quando a versão Bloco 3F estiver disponível. Cabe mencionar que caças como o Super Hornet já estão certificados para o emprego de mísseis até mais avançados, como o AIM-9X Block II.

F-35A

Ainda na parte de armamentos o programa do F-35 enfrenta outras frentes de batalha. O designador de laser da aeronave, um equipamento desenvolvido na década de 1990 e adaptado para o F-35, não possui capacidade para rastrear e iluminar alvos terrestres em alta velocidade.

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Vader

Então ficamos assim: o F-35 tem problemas, está atrasado e custa caro. Como o F-16 antes dele. E como o Super Hornet. E o A-10. E o F-15, e o F-14, o F-4, o F-5, o A/V-8B, e… . Porém sua Kill Ratio está em 15:1 (senão 20:1). Só isso… 😉 . Ou seja: vale o quanto custa. Vale cada centavo. E valerá cada vez mais. . Os únicos aviões de combate que ninguém JAMAIS irá ouvir falar de ter problemas, atrasar ou custar caro (e se ouvir é porque quem está falando é americanófilo, “direita”, antipatriota, russofóbico etc.) são… Read more »

Ivan

Efetivamente há muita crítica ao programa Joint Strike Fighter – JSF, ou simplesmente ao seu produto, o F-35 qualquerletra Lightning II. . Vejo 3 (três) tipos de ‘críticos’. . Primeiro. Os antiamericanos de plantão, por viés político, modismo, ‘gramscismo’, inveja ou seja lá por que motivo. Estes não merecem atenção, devendo ser lido com um enorme filtro ideológico para tentar garimpar alguma informação técnica que valha a pena. . Segundo. Aqueles patrocinados pela Boeing e pela Airbus, com Dassault e SAAB incluídas, que tentam desconstruir o conceito e/ou programa JSF como negócio. Estes valem a pena ler, pois trabalham com… Read more »

Vader

Caro Poggio, não estou de mimimi, ao contrário. Quero ajudá-los a “sair do Lado Escuro da Força” e voltar a “enxergar a luz”. 😉 . É uma constatação: você assinou extensa matéria comentando dos “problemas” do F-35, alguns deles ainda por cima totalmente supostos e sem base comprovatória algum (como exemplo os “relatos” (?) de boot no sistema – absolutamente inverossímeis), e quase nada falou da mais importante novidade dos últimos 15 anos da aviação de combate mundial, a saber: . Uma “Kill Ratio” avassaladora de 15 (ou 20, segundo algumas fontes) para 1, o que significará, quando confirmado em… Read more »

Bosco

Quanto à capacidade do laser do sistema EOTS não ser capaz de trancar num alvo em alta velocidade vale salientar que a arma sup-ar padrão contra alvos táticos será a bomba SDB II (GBU-53) que não exige a iluminação do alvo por um laser. Até que o “problema” seja corrigido para possibilitar que as bombas Paveway e LJDAM possam ser utilizadas contra alvos móveis em alta velocidade (??) esses alvos de alta velocidade podem muito bem ser engajados pela GBU-53, que volto a dizer, não exige o concurso de um laser.

Bosco

Basicamente a variedade de armas do F-35 (qualquer letra) para funções ar-sup será bem limitada, que antes de ser um defeito é mais uma qualidade tendo em vista a padronização das armas, que hoje, são mais flexíveis e multifuncionais. Elas serão: Bombas de queda livre contra alvos estáticos (alcance na faixa de 25 km): 1- JDAM (fire and forget) Bombas de queda livre contra alvos móveis (e estáticos): 1- L-JDAM; (atire e siga, via laser) 2- E-Paveway II e III; (atire e siga, via laser) Bombas planadoras contra alvos estáticos (alcance na faixa de 100 km): 1- JDAM-ER; (fire and… Read more »

Bosco

Vale salientar que não está previsto armas propulsadas contra alvos na superfície (pelo menos num primeiro momento). Isso é vantajoso do ponto de vista do custo, dimensões e furtividade e só é possível devido ao fato do vetor (o caça) ser stealth.

Bosco

Ops: há também a LSDB, que é uma SDB guiada por laser, contra alvos móveis (ou estáticos), que já está em operação.
Também fala-se de uma versão da JDAM com seeker “antirradiação”.

Bosco

Poggio, Claro que o programa tem problemas mas não creio que isso se deva a ser ele uma versão “faz tudo”, mesmo porque as versões A e C partiram da versão inicial B (STOVL). O contrário sim poderia ser visto como fator complicador, que é fazer um caça STOVL a partir de um caça convencional. Eu acho que uma grande parte dos problemas tem mais a ver com uma cobrança exagerada da mídia do que qualquer outra coisa, com um viés esquerdista evidente que domina o Ocidente e não vê méritos em nada que seja oriundo dele. No campo militar… Read more »

Matheus Henrique

O Aéreo odeia o F-35! Shuashuashua

Clésio Luiz

O F-35 é um alvo fácil para as críticas porque… Tem muito o que se criticar sobre o programa como um todo. . A começar pelo modo como o programa foi conduzido, mudando especificações no meio da concorrência entre a Boeing e a Lockheed (dobraram a carga interna e diminuíram a velocidade de pouso). Depois fizeram um contrato com a empresa vencedora digno dos maiores políticos corruptos que já desfilaram pelo Brasil, um verdadeiro cheque em branco que a Lockheed usou e abusou por mais de uma década, com a total conivência do auto comando militar americano, comando esse que… Read more »

Vader

Olha só Poggio, não insinuei que você inventou coisas e de forma alguma questionei sua idoneidade, mas sim o viés do editorial, que dá pequeníssimo destaque a uma notícia favorável e em compensação desanca o F-35 ao dar extremo destaque em suas críticas. Isso, esse viés, me desculpe velho amigo, mas é inegável. . Tampouco afirmei que o F-35 não tinha problemas, mas apenas afirmo e reitero que t-o-d-o-s os projetos militares inovadores, especialmente quando se trata de aeronaves de combate de alta performance, tem problemas. Mais um fato inegável. . No mais, continuo no aguardo da matéria sugerida, blz?… Read more »

Mauricio Silva

Olá
Parece que minha postagem não saiu. Pena, pois tinha escrito bastante…
SDS.