Guias de solo caminham ao lado de uma aeronave F-15C Eagle da 1st Tactical Fighter Wing enquanto a aeronave taxia no pátio durante a Operação Desert Shield

Com este texto, o ‘Poder Aéreo’ inicia uma série de artigos exclusivos sobre as operações ‘Escudo no Deserto’ e ‘Tempestade no Deserto’, indubitavelmente reconhecidas como as maiores operações do tipo na História

Sérgio Santana*

A Guerra do Golfo” – Antecedentes

As operações militares que a partir de janeiro de 1990 passaram à História como “A Guerra do Golfo” (desencadeadas pelas que ainda hoje são amplamente consideradas como as mais poderosas concentrações de forças militares já presenciadas pela Humanidade, oficialmente designadas “Operation Desert Storm”, Operação Tempestade no Deserto) tiveram como fato motivador a invasão do território do Kuwait por contingentes das Forças Armadas do Iraque em 2 de agosto do ano anterior.

Na realidade, contudo, este foi o ápice de uma intenção que se anunciou publicamente pouco mais de um ano antes, em 16 de julho de 1989.

Naquela data, o Iraque enviou uma carta para a Liga Árabe protestando pela política de produção e preços de petróleo praticada pelo Kuwait. No dia seguinte, o ditador iraquiano Saddam Hussein ameaçou usar a força para resolver aquelas queixas, com o aumento da atividade aérea e o movimento de duas divisões do exército iraquiano tendo sido observados em 18 Julho.

Ações tomadas pelos estados do Golfo na semana seguinte às primeiras ameaças do Iraque de usar a força e os movimentos correspondentes das tropas iraquianas foram ambíguos. As forças sauditas e do Kuwait aumentavam seu estado de alerta em reação às ações militares iraquianas, alerta este que era levantado e abaixado de acordo com diferentes eventos no período anterior à invasão. As intenções contraditórias de estar pronto para responder ao acúmulo de tropas iraquianas e não parecer provocativo causou a ambiguidade e produziu sinais confusos.

A Organização de Países Exportadores de Petróleo (OPEP) se reuniu em 26 de julho daquele ano e o resultado foi visto por muitos nas nações árabes como um sinal otimista de que a crise poderia ser resolvida pacificamente, o que não se confirmou até o ano seguinte.

Em 27 de julho de 1990 foi relatado que seis divisões iraquianas estavam localizadas na fronteira com o Kuwait. Reuniões bilaterais entre o Iraque e Kuwait ocorreram em 31 de julho, sob o patrocínio do presidente egípcio Hosni Mubarak, mas foram suspensas em 1º de agosto.

Nas primeiras horas da manhã de 2 de agosto, o Iraque invadiu o Kuwait. Mas muitos pensaram que o Iraque estava apenas fingindo influência nas negociações. As nações árabes não chegaram a um consenso, o que levou a uma relutância em pedir ou aceitar assistência dos Estados Unidos. Por outro lado, os Estados árabes desejavam manter o problema um assunto interno e minimizar a intervenção ocidental.

Uma aeronave F-15C Eagle da 1st Tactical Fighter Wing taxia em direção ao seu hangar protegido durante a Operação Desert Shield

A “Operação Escudo do Deserto”

Logo após a invasão, foi tomada a decisão de implantar forças norte-americanas para a região, mas o problema de ganhar acesso para a península árabe ainda não estava resolvido.

Equipes de Batalha foram convocadas para desenvolver opções e fazer preparativos, mas, na ausência de orientação concreta, apenas iniciativas de planejamento e mobilização limitada foram tomadas até que a ordem de implantação fosse recebida.

Depois de um curto período para consulta governos árabes, a ordem de implantação de forças de combate foi transmitida em 7 de agosto. Era o início da “Operação Escudo no Deserto”, planejada tanto para servir como uma reação inicial ao deslocamento iraquiano quanto para o acúmulo de forças a serem empregadas em um futuro contra-ataque.

Os F-15C Eagle da USAF na Operação Escudo do Deserto

 Aeronaves F-15C Eagle da 1st Tactical Fighter Wing em uma área de espera após desdobramento durante a Operação Desert Shield

Logo após a invasão, foi tomada a decisão de implantar forças norte-americanas na região, mas o problema de ganhar acesso para a península árabe ainda não estava resolvido.

Equipes de Batalha foram convocadas para desenvolver opções e fazer preparativos, mas, na ausência de orientação concreta, apenas iniciativas de planejamento e mobilização limitada foram tomadas até que a ordem de implantação fosse recebida.

Depois de um curto período para consultar os governos árabes, a ordem de implantação de forças de combate foi transmitida em 7 de agosto. No dia seguinte, um esquadrão de F-15Cs (os 24 Eagles do 71º Esquadrão de Caças Táticos, apelidados de “The Ironmen”, da 1ª Ala de Caças Táticos, sediado na Base Aérea de Langley, Virginia) pousou na Base Aérea de Dhahran, Arábia Saudita.

O briefing com as tripulações dos primeiros Eagles a chegarem à Arábia Saudita começou às 13h30 do dia 7 de agosto de 1990 e durou 20 minutos. Os preparativos para o deslocamento demoraram 3 dias e o briefing foi bastante complicado, mas não houve muitas perguntas a serem feitas porque não havia tempo para fazê-las. A decolagem aconteceu às 17h30, com os vinte e quatro F-15 divididos em quatro grupos de seis aeronaves, com 30 minutos de intervalo, armadas com 4 mísseis AIM-9 Sidewinder, 4 AIM-7 Sparrow e os 940 projéteis para o canhão Vulcan M61 de 20mm.

Após um voo de 14 horas que incluiu alguns reabastecimentos aéreos, o 71º Esquadrão de Caças Táticos pousou na Arábia Saudita. A 1ª Ala de Caças Táticos foi deslocada totalmente, com mais de 1.500 membros, que integravam o 1º Esquadrão de Forças de Segurança, o 1º Esquadrão de Serviços, o 1º Esquadrão de Controle, 1º Esquadrão de Engenheiros e, finalmente, o 1º Grupo Médico. Sob às ordens da 1ª Divisão Aérea Provisória, os pilotos começaram a voar missões de Patrulha Aérea de Combate na fronteira saudita com o Iraque logo após a sua chegada.

Vista inferior de uma aeronave F-15 Eagle armada com mísseis AIM-9 Sidewinder e AIM-7 Sparrow

Chegam mais F-15…

Em nove de agosto, outros 25 F-15C de outro esquadrão da mesma Ala (o 27º Esquadrão de Caças Táticos, conhecidos como “Fighting Eagles”) foi deslocado para a mesma base aérea saudita, sendo administrados também pela já mencionada 1ª Divisão Aérea Provisória.

No dia 28 daquele mês, a força de F-15C da USAF foi reforçada por 24 unidades dos 58º Esquadrão de Caças Táticos (os “Gorillas”, da 33ª Ala de Caças Táticos baseada em Eglin, na Flórida, que como as demais naquele teatro de operações incorporou o “Provisória” na designação oficial), que passaram a voar a partir da Base Aérea Rei Faisal (também conhecida como Base Aérea deTabuk), além da mesma quantidade de F-15C operados pelo 53º Esquadrão de Caças Táticos (“Tigers”), administrado pela 36ª Ala de Caças Táticos, sediada em Bitburg, na então Alemanha reunificada, que chegariam apenas no fim de dezembro de 1990, quando foi reforçado por outro esquadrão da mesma ala, o 525º Esquadrão de Caças Táticos (“Bulldogs”), deslocado para a Base Aérea turca de Incirlik, que acaboupor receber mais 24 F-15C do 32º Esquadrão de Caças Táticos (“Wolfhounds”) administrado pelo 32° Grupo de Caças Táticos na Base Aérea de Soesterberg, Holanda.

Além dos esquadrões de F-15C especializados em superioridade aérea, a USAF também deslocou para aquele teatro de operações a versão do Eagle projetada para ataque a alvos de superfície, o F-15E Strike Eagle.

Aeronaves F-15E Eagle da 4ª Ala de Caças Táticos estão na linha de voo antes de uma missão durante a Operação Desert Shield

Assim, foram deslocados dois esquadrões da 4ª Ala de Caças Táticos (“Provisória”), sediados na Base Aérea de Seymour Johnson, Carolina do Norte: o 335º Esquadrão de Caças Táticos (“Chiefs”) e o 336º (“Rocketeers”), somando 48 aeronaves do tipo. Os “Chiefs” chegaram em solo saudita no dia 27 de dezembro de 1990, sendo alocados para a Base Aérea Prince Sultan, enquanto que os “Rocketeers” chegaram um pouco antes, em 18 de dezembro.

Próximo artigo: A primeira missão de uma tripulação de E-3 Sentry na “Operação Escudo do Deserto”


*Bacharel em Ciências Aeronáuticas (Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL), pós-graduado em Engenharia de Manutenção Aeronáutica (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC/MG). Colaborador de Conteúdo da Shephard Media. Colaborador das publicações Air Forces Monthly, Combat Aircraft e Aviation News. Autor e co-autor de livros sobre aeronaves de Vigilância/Reconhecimento/Inteligência, navios militares, helicópteros de combate e operações aéreas

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Magaren

Tríade de ouro da aviação militar americana: F14, F15 e F16.

Depois a coisa desandou de vez.

Pablo

Desandou com F22, por exemplo?

Caloro

Conhece mesmo, hein….. Desandou com F-18, F-22, F-35…..só falta dizer que deveriam até hoje está operando com F-14.
Cada comentário…….

KKce

Desandou com F-18, F-22 e F-35? Queria que a FAB “desandasse” assim kkkk

Bispo

🤔 Realmente os EUA ainda não tiraram do papel o Caça estelar X-wing 🤪

Wagner Figueiredo

Uns 20 desses aí e estaríamos bem na fita

Maurício.

Quase todo mundo gosta do F-16, agora, eu aposto que se tivesse uma votação para um futuro caça para fazer dupla com o Gripen, e as opções fossem F-15 ou F-16, eu tenho quase que certeza que o vencedor seria a F-15…😂

Mirade1969

Só para lembrar que o F-16 era o caça menor e de custos menores que o F-15 e que seria de produção massa e o F-15 era o caça de superioridade aérea dos EUA nos anos 80 até os anos 90 sendo a espinha dorsal da força aérea americana e que deveriam ser(e foram) substituídos respectivamente pelos caças F-35 e F-22. O F-16 e F-15 hoje são segunda linha na força aérea americana.

Fernando "Nunão" De Martini

Continuam sendo primeira linha, cumprindo missões de primeira linha.

Maurício.

“O F-16 e F-15 hoje são segunda linha na força aérea americana.”

Discordo, ambos são primeira linha, com “poucos” F-22, e o F-35 que na minha opinião ainda não é um caça 100% operacional, quem ainda carrega o piano é o F-15, F-16 e F-18.

Fernando Vieira

E vão continuar sendo. O F-22 é o caça definitivo para superioridade aérea mas seus custos acabaram por fazer fechar a linha de produção e a USAF vai ter que ficar com os que tem e não vai usá-los de qualquer maneira.

o F-35 é um pato, só se mantém porque o custo de desenvolvimento foi tão alto que cai na versão americana do submarino nuclear brasileiro: Se gastou muito dinheiro nele então vamos forçar a barra para que seja viável.

Mirade1969

Mas…com o passar de alguns anos os F-16 e F-15 vão ser dado baixa isso ocorreu com muitos outros aviões através dos anos como o F-4 que tinha uma frota gigantesca e no entanto foram diminuindo até todos ser paralelizados e dado baixa. Vai ocorrer o mesmo. Por mais que vc pense assim não é assim que pensa a Força aérea americana mesmo porque o custo aumenta com o passar dos anos.

Carlos Crispim

São caças diferentes, já temos o Gripen monomotor leve, então seria ideal ter um caça pesado como o F-15, com dois motores, para superioridade aérea, tendo alcance maior de radar e maior chance de sobrevivência…particularmente eu preferia que o Brasil tivesse adquirido o F16, mais barato, sem TOT, mas numa quantidade bem maior compatível com o tamanho do Brasil, mas…

Magalhaes

A foto clássica dos Eagle com AIM-7 e AIM-9. Sou fã desse layout de armamento nos F-15C.

Aéreo

Carga útil vs alcance, grandes forças aéreas nunca operaram apenas com aeronaves de defesa de ponto.

Leandro Costa

Operaram sim. E muitas até.

Orivaldo

Um dos mais bonitos. Junto com, F22, F16 israelenses, Su34 e o Rafale

Rinaldo Nery

Os EUA aplicaram, pela primeira vez, a doutrina do Comando Combinado (Gen Schwarzenkopf) e Forças Componentes. Fruto da lei Goldwater-Nichols e da experiência fracassada do Vietnã. O LtGen Charles Horner foi JFACC (Joint Force Air Component Commander). Escreveu um excelente livro sobre o conflito, chamado Every Man a Tiger, explicando todo o desenrolar do conflito, desde o planejamento e desdobramento. Sugiro a leitura. Quando chegaram na Arábia Saudita, não havia camas suficientes para todos! Tiveram que construir muita coisa, inclusive pátios de estacionamento. A dotação de bombas no conflito quase acabou. Em função do veto norte americano, só conseguimos aprender… Read more »

Rinaldo Nery

Outro detalhe interessante: posicionaram 4 fragatas no Atlântico, sob a rota dos F-15, pro caso de ejeção sobre o mar durante o translado.

Carlos Crispim

Bem pensado.

Fernando Vieira

Bem interessante as informações.

Eu acho que a chave para o sucesso na campanha do Golfo foi além das forças serem muito superiores as iraquianas foi também o fato de toda a coordenação que agora estamos conversando aqui por conta dessas matérias.

vou procurar esse livro.

Rinaldo Nery

Um dos oficiais do Estado Maior da JFAC, Cel Dave Deptula (hoje Maj Gen na reserva), é um grande estrategista e palestrante do Poder Aéreo. Um dos planejadores, Cel JohnWarden, foi à Arábia Saudita explicar esse planejamento, mas não agradou ao LtGen Charles Horner. Cel Warden é o autor da Teoria dos Anéis Concêntricos, e publicou um livro sobre o tema. Não foi promovido a General, creio q pela desaprovação do Gen Horner. Seu livro é referência para todos os estudos de targeting. Utilizei como bibliografia no meu mestrado.

Carlos Crispim

Os americanos sempre bem à frente do resto do mundo.

Last edited 4 meses atrás by Carlos Crispim
Funcionário da Petrobras

Foto bem hollywoodiana a moda filmes dos anos 80.

Jonathan Pôrto

Tem gente que fica irritada quando a gente usa a expressão “Ô lá na FAB” !! Fazer o que se a pessoa _________
________

COMENTÁRIO EDITADO. MANTENHA O RESPEITO. LEIA AS REGRAS DO BLOG:

https://www.aereo.jor.br/home/regras-de-conduta-para-comentarios/

Akauã

Valeria a pena ter F-15 modernizados na FAB hj? Ou pela idade não compensaria?

Cansado

Claro que sim.
O nosso Gripen depenado não mete medo em ninguém. Com F15 a coisa é bem diferente.

Rinaldo Nery

Esse sabe tudo de avião de Caça!

Cansado

Obrigado, vindo de você é uma honra!

Magalhaes

Rapaz. Numa boa. Cada comentário que é inacreditável. E não é o primeiro nesse nível hein.

Carlos Crispim

É uma verdade que dói em certas pessoas.

Rinaldo Nery

Tudo se traduz em custos: aquisição, operação e manutenção.

Carlos Crispim

E se tudo são custos, o comentário do amigo Cansado procede, vc acabou dando razão a ele porque quem quer ser o maior não pode se preocupar com custo, custo baixo significa performance baixa, não existe milagre, aliás, a defesa de um país não deve se pautar por custos.