DOMANDO O TIGRE – A HISTÓRIA DO CAÇA F-5, PARTE 31

CONSÓRCIO

No final do ano de 1996 a empresa israelense Elbit Systems foi selecionada pela Embraer para fornecer os principais aviônicos do Programa ALX. O acesso ao código-fonte do software que controla os aviônicos foi uma das razões principais da escolha da Elbit. Com o ALX, posteriormente denominado A-29 Super Tucano, a FAB teve acesso a aviônicos de última geração com liberdade de integrar armamentos e sistemas como desejasse. O caminho para as futuras modernizações de aeronaves da FAB começava a ser escrito.

A primeira dessas modernizações foi exatamente a do F-5. Com base no Decreto Presidencial 2.295, a Embraer foi escolhida sem licitação pelo então Ministério da Aeronáutica, em 1999, para gerenciar e integrar os sistemas do processo de modernização dos caças F-5. Já a escolha da empresa que forneceria os itens de hardware e software foi definida numa concorrência internacional realizada no ano de 2000, quando o Ministério da Aeronáutica já era Comando da Aeronáutica, com a criação do Ministério da Defesa. A Elbit Systems venceu mais uma vez, derrotando as empresas IAI, GEC-Marconi e SAGEM. A parceria Embraer-Elbit voltava a se repetir.

O contrato de modernização foi finalmente assinado em março de 2001, após a aprovação da contratação de um financiamento externo para custear o programa. O valor total original era de 285 milhões de dólares, cerca de seis milhões por aeronave. O programa englobava a modernização de 44 caças F-5E, do tipo monoposto e 3 jatos F-5F, de dois lugares, além da entrega de dois simuladores de voo, estações de planejamento e debriefing, apoio logístico, suprimento e treinamento.

Embora a contratante principal fosse a Embraer, a Elbit era responsável por uma fatia considerável do programa. Cabia à empresa israelense tanto o fornecimento dos principais aviônicos do F-5 como o suporte tecnológico à integração. A Elbit trazia na bagagem toda a experiência do programa de modernização do F-5 de Singapura, cujas aeronaves, inclusive, receberam o mesmo radar escolhido pela FAB, o italiano Grifo, que será abordado mais à frente nesta série.

AEROELETRÔNICA

Como o Comando da Aeronáutica exigia a fabricação dos aviônicos no Brasil como parte do programa de compensação industrial e tecnológica (o chamado “offset”), a Elbit optou pela aquisição de uma empresa nacional que já trabalhava com aviônicos. Em agosto de 2001 a empresa israelense adquiriu 70% da Aeroeletrônica, atual AEL Sistemas, e a transformou num grande centro de produção, desenvolvimento e apoio logístico de equipamentos eletrônicos.

A Aeroeletrônica era uma das três empresas do grupo Aeromot Aeronaves e Motores S.A, que nasceu em 1967 na cidade de Porto Alegre. A empresa comercializava aeronaves da Embraer e fornecia peças e serviços de manutenção para elas. A FAB acabou se tornando um dos clientes da Aeromot, que fazia a revisão geral do C-95 Bandeirante e do T-25 Universal.

O grupo expandiu para outras áreas da aviação como prestação de serviços e garantias para instrumentos e aviônicos, construção de poltronas de aeronaves e fabricação de motoplanador. Em 1981 o grupo criou a Aeroeletrônica, que passou a desenvolver aviônicos para dois aviões da Embraer, o EMB-312 Tucano e o EMB-120 Brasília. Com a formação do consórcio binacional AMX, a Aeroeletrônica produziu e desenvolveu quatro componentes próprios e nacionalizou outros nove através de transferência de tecnologia. Após o término da fase de fabricação dos componentes para os AMX, chamados de A-1 na FAB, cujas últimas entregas foram no final da década de 1990, a empresa gaúcha estava com seu portfólio bastante reduzido. A situação foi revertida com a aquisição pela israelense Elbit.

NOVO PAINEL

A Elbit, junto com a sua subsidiária AEL seriam as responsáveis pela maior diferença visual entre o F-5 original e o F-5 modernizado. Esta grande diferença não estava no aspecto externo, mas sim no interior do cockpit, mais precisamente no painel frontal. Após ser modernizado, o Tigre da FAB se tornou um dos F-5 mais modernos do planeta, com uma aviônica que se aproximava da embarcada nos caças F-16C Block 50/52 da época.

Assim como no ALX, o painel é dominado por duas telas multifunção. Nestas telas são apresentadas diversas informações como parâmetros de voo, dados de navegação, tela tática, armamentos, informações do radar e demais sensores, comunicações e outros.

Entre as duas telas está localizado o painel de controle frontal superior (UFCP), que funciona como um gerenciador de missão. Ao centro, logo abaixo do UFCP, existe uma terceira tela que apresenta os parâmetros de voo e dos motores. Acima do UFCP está o Head Up Display (HUD), visor ao nível dos olhos que é um equipamento fundamental para o piloto poder voar e combater sem precisar olhar para baixo.

DOIS CÉREBROS

Baseando-se mais uma vez no programa ALX (e posteriormente utilizado também no A-1 modernizado) o programa F-5BR foi concebido para empregar dois computadores de missão, conhecidos como Main Data Processor (MDP). Eles são idênticos e ficam instalados em pontos distintos da fuselagem. Ambos funcionam em paralelo, mas enquanto um faz o trabalho principal o outro segue processando dados.

Caso ocorra a falha no computador principal ou ele fique inoperante por danos sofridos em combate, o segundo entra em ação no mesmo momento sem que o piloto tenha que intervir.

Caso ocorra a perda dos dois computadores a missão terá que ser interrompida. Mesmo assim, o piloto terá condições de voltar para a base utilizando o sistema de instrumentos de voo reserva, alimentado por uma bateria separada.

Os dois computadores recebem informações de sensores espalhados por toda a estrutura da aeronave. Os dados são organizados e fundidos para posterior apresentação ao piloto via telas multifunção ou HUD.

Nos próximos episódios desta série, falaremos de mais equipamentos e armas do F-5 modernizado.

Clique na imagem abaixo para assistir ao episódio.

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Mais um excelente video da serie F5. Poderia ateh virar uma serie no History Channel. 🙂

Leandro Costa

Para que rebaixá-los até o nível do History Channel? Os videos estão ótimos

BK117

“Bem vindos ao Domando o Tigre. Neste episódio: tecnologias surpreendentes do caça, procedência alienígena? Um desenho ancestral de um F-5 foi encontrado nas pirâmides do Egito? Seria o HUD inspirado no equipamento de navegação da nave do ET de Varginha?”

Pelo menos quando eu assistia, o Discovery era melhor. Certamente está no nível Discovery. Altíssima qualidade. Acho que seria bacana, ao final, fazer um filme compilando os pontos principais de todos os episódios. Só uma sugestão.

Santamariense

Embora inicialmente fosse prevista a modernização de 44 monopostos F-5E, acabaram sendo 43 (20 ex-agressors e 23 do primeiro lote), pois 1 foi perdido antes da modernização. Assim ,somando ao 3 bipostos F, foram modernizados 46 F-5E/F ( posteriormente acrescidos de 3 F ex-Jordânia).

Santamariense

Exato, imaginei que era isso, mas quis colocar só para a possibilidade de alguém questionar os números. Abraço, Poggio.

Jorgemateus77

OFF
Seria interessantíssimo uma matéria sobre a audiência no comitê do senado americano que tivemos hoje sobre os UAPs (OVNIs). Se trata até o momento da mais importante discussão sobre vida extraterrestre de forma oficial.

Fábio CDC

Quais seriam as chances de surgir uma adaptação do F-5M Brasileiro no simulador DCS? Seria maravilhoso.

JSilva

Uma dúvida que eu sempre tive, por que num processo de modernização liderado por tecnologia israelense, o radar escolhido, que é um dos principais itens da modernização, foi o italiano Grifo e não o israelense Elta, que é um radar superior, e que, inclusive, já havia sido adotado na modernização dos F-5 chilenos, anterior à do F-5BR.

Qual foi a justificativa? Custo, lobby, questões técnicas?

Last edited 8 meses atrás by JSilva