Super Tucano A-29

Virgínia Silveira

vinheta-clippingA Embraer está desenvolvendo um programa de offset (compensação comercial, industrial e tecnológica) para o governo da Colômbia, em contrapartida à venda de 25 aeronaves Super Tucano para a Força Aérea Colombiana (FAC) em 2005. Esta é a primeira experiência efetiva da Embraer como ofertante de programas de offset, uma exigência cada vez mais frequente em compras externas na área de defesa.

Segundo a FAC, a Embraer se comprometeu em cumprir obrigações de offset no valor total de US$ 237,81 milhões. O montante corresponde a 100% do valor do contrato de venda das aeronaves pela Embraer e prevê, entre outras iniciativas, a modernização da frota de 14 aeronaves Tucano (versão anterior ao Super Tucano), compradas pela FAC no início dos anos 90, e a criação de um Centro de Certificação aeronáutica, nos moldes do que existe no Brasil, com o IFI (Instituto de Fomento e Coordenação Industrial), órgão do DCTA (Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial), responsável pela certificação de aeronaves militares.

A empresa colombiana FSC e as brasileiras Sygma e DCA-BR (Organização Brasileira para o Desenvolvimento da Certificação aeronáutica) trabalham juntas na estruturação do primeiro centro de certificação aeronáutica da Colômbia. Segundo o diretor da Sygma, Manoel de Oliveira, seis engenheiros colombianos já participam de um programa de pós-graduação em engenharia aeronáutica e gestão, no Instituto Tecnológico de aeronáutica (ITA).

“O objetivo do governo colombiano é criar as condições para a formação de um sistema de certificação de alto nível, como o brasileiro, para que seus produtos possam ser reconhecidos e exportados para o mundo”, comentou Oliveira.

Segundo o subdiretor de Engenharia da FAC, que trabalhou dois anos no Brasil na estruturação do programa de offset colombiano, coronel Ricardo Castro, o acordo de compensações com a Embraer já está bastante adiantado e até o momento três projetos foram aprovados. “Esses projetos cobrem 95% do total das compensações acordadas, sendo que um deles já está em execução e os demais em processo de definição de aspectos de ordem legal e técnica.”

Os detalhes de cada projeto, segundo Castro, ainda não podem ser revelados porque existe um acordo de confidencialidade com a Embraer. A fabricante brasileira de aeronaves não comentou o assunto, mas seu vice presidente para o Mercado de Defesa, Orlando Neto, chegou a confirmar, em entrevista concedida anteriormente ao Valor, que a empresa estaria trabalhando no desenvolvimento de 15 projetos de offset com a Colômbia.

Numa primeira fase a indústria aeronáutica colombiana quer se tornar uma fornecedora de partes e peças e a Embraer surge como cliente potencial. “O governo da Colômbia tem como objetivo fortalecer a sua indústria aeronáutica para que no futuro ela tenha mais autonomia e vigor para atuar no mercado aeroespacial internacional”, comentou o diretor da Sygma.

Na modernização da frota de Tucano da FAC, segundo o subdiretor Ricardo Castro, está prevista a troca do trem de pouso das aeronaves e a modernização da cabine. Em relação ao projeto de criação do sistema de certificação aeronáutica colombiano, o subdiretor comenta que autoridades civis e militares colombianas estão envolvidas e no caso do Brasil, o IFI.

O programa de offset na Colômbia teve um impulso a partir da compra dos aviões Super Tucano da Embraer, ocasião em que o governo daquele país acelerou a implementação da sua política de compensações na área de defesa. “Temos como objetivo desenvolver a indústria do nosso país em todos os níveis, gerando fontes de emprego qualificado, assim como o aumento das exportações e o incremento da auto-suficiência do país no setor aeronáutico”, disse Castro.

O Brasil, de acordo com o oficial da FAC, vem desempenhando um papel muito importante no processo de aprendizagem e de implementação dos programas de offset na Colômbia, especialmente os relacionados às propostas apresentadas pela Embraer. “Mas também recebemos informação e capacitação nessa área de países como a Espanha, o Chile, entre outros”, disse.

FONTE: Valor, via Notimp FOTO: Embraer

LEIA MAIS:

Subscribe
Notify of
guest

10 Comentários
oldest
newest most voted
Inline Feedbacks
View all comments
Ronaldo

So não entendi uma coisa, como pode haver lucro se tem que compensar com um off set de 100% ?

Justin Case

Ronaldo, bom dia. Offset funciona assim: 1. Valor para transferência de tecnologia: arbitrado para o valor do conhecimento que é transmitido. Não tem relação com o custo incorrido para a sua transferência (este custo de transferência é normalmente assumido pela empresa beneficiária). 2. Valor para atividades realizadas no país de destino. Se uma atividade teria que ser feita de qualquer jeito, contratada, ao ser transferida para o país comprador, o valor dessas atividades se transforma em implementação de offset. 3. Multiplicadores: são fatores que multiplicam o “valor” de cada projeto de offset, conforme definidos pelo país cliente. É com o… Read more »

Felipe Cps

Srs. Editores, o título está errado: a transferência é do Super-Tucano, não do Tucano (até me surpreendi quando li).

Sds.

grifo

Caro Ronaldo, offset não é despesa. Ele significa que você deve investir aquele o mesmo valor que você recebeu em empresas ou aquisição de mercadorias (dependendo do tipo de offset) no país comprador.

Por exemplo, vamos supor que você seja a Suécia e vendeu o Sea Gripen para a Índia. A SAAB poderia realizar o offset comprando componentes de empresas indianas, instalando uma fábrica no país, etc, fazendo com que a Scania e a Volvo comprem aço da ArcelorMittal, etc.

Justin Case

Ronaldo,

É também o que explicou muito bem o Grifo.
A classe de offset que ele citou é chamado de offset não-relacionado.
Com relação ao projeto específico (F-X, por exemplo), poderiam existir três classes de offset:
Offset direto: aplicado diretamente no F-X (suas tecnologias, trabalho no brasil, sua logística)
Offset indireto: outros projetos, mas dentro da área aeroespacial (KC-390, por exemplo)
Offset não-relacionado: convênios com universidades, área de energia, por exemplo.
O pedidos de oferta requerem percentuais mínimos de offset direto e indireto. Alguns projetos não aceitam offset não-relacionado como parte da proposta.
Abraço,

Justin

“Justin Case supports Rafale”

grifo

Para deixar as coisas mais interessantes, o offset não necessariamente precisa ser cumprido pela empresa vendedora. Por exemplo, *dependendo do tipo de offset aceito* a Vale poderia investir em uma ferrovia na Colômbia e isso servir como offset para a venda da Embraer. Neste caso Embraer talvez pagasse um X para a Vale. Existem consultorias especializadas neste tipo de transação de offsets. Uma coisa que deve ficar clara é que offset custa dinheiro, e o país que pede o offset sabe que o custo está embutido dentro do valor do contrato. Na prática é uma forma de subsidiar investimentos do… Read more »

Baschera

Falando em ST, a USNavy está cossando as mãos….. agora faltaria pouco.

(Escrito do exílio com um XT 386)

Sds.

CosmeBR

Que tecnologia?