Calma! Não é um anúncio de compra: é ‘apenas’ um possível desdobramento de caças da RAF em base dos Emirados, em resposta a tensões crescentes no Golfo Pérsico e ao programa nuclear do Irã

Segundo reportagem do jornal inglês “The Independent” publicada nesta sexta-feira, 2 de novembro, o Reino Unido está considerando o desdobramento de caças da Força Aérea Real britânica (RAF) no Golfo Pérsico. Entre as preocupações por trás da medida, estão a continuidade da confrontação com o Irã, relacionada ao programa nuclear iraniano, além do aumento de tensões na região.

O possível envio de caças Eurofighter Typhoon britânicos segue-se a conversações com os Emirados Árabes Unidos (EAU) para reforçar a presença do Reino Unido na região. No contexto, estão as ameaças de Israel em fazer ataques militares contra o Irã e a turbulência no Oriente Médio devido aos impactos da “Primavera Árabe” e à Guerra Civil na Síria. Ehud Barak, ministro da Defesa de Israel, está em visita a Londres discutindo principalmente a crise com o Irã, estando “totalmente informado” e apoiando as discussões sobre os caças, segundo o jornal.

Enquanto o Governo Britânico advoga calma para Israel, já que as sanções ao Irã já estariam dando efeito negativo na economia iraniana e diminuindo a popularidade do Governo de Mahmoud Ahmadinejad, os comandantes militares do Reino Unido estudam a possibilidade de mandar jatos para uma base em Abu Dhabi. A base de Al Dhafra já é usada por forças norte-americanas e francesas para eventual proteção do Estreito de Ormuz, em caso de tentativa de bloqueio por parte do Irã – caças-bombardeiros franceses operam no local, assim como a 380ª Ala Aérea Expedicionária (380th Air Expeditionary Wing) da Força Aérea dos Estados Unidos (USAF), com jatos norte-americanos e baterias de mísseis Patriot.

A matéria também informa que a decisão de mandar os caças será tomada pelo Primeiro-Ministro britânico David Cameron, após novas conversações com os governantes de Dubai e Abu Dhabi. Um anúncio a esse respeito é esperado para breve. No dia 1º de novembro, o Secretário de Defesa Philip Hammond disse que as nações europeias precisam estar preparadas par “assumir um papel maior em relação ao Norte da África e o Oriente Médio.”

Pronunciamento do Ministério da Defesa destacou que “o Reino Unido regularmente destaca caças Typhoon aos Emirados Árabes Unidos, como parte de nosso programa rotineiro de exercícios e para demonstrar nosso comprometimento militar com os EAU e com a segurança regional. Temos mútuos interesses com nossos parceiros do Golfo Pérsico em garantir a paz e estabilidade da região, e exercícios como esse permitem que pratiquemos o trabalho em conjunto. Esses desdobramentos não se devem a nossas preocupações com o programa nuclear do Irã. Continuamos a deixar claro que o Governo não acredita que ações militares contra o Irã sejam a opção correta de ação neste momento, apesar de nenhuma opção ser descartada.”

Porém, o jornal “The Independent” apurou junto a fontes militares e diplomáticas de alto nível que a base de Al Dhafra, localizada 20 milhas (aproximadamente 36km) ao sul de Abu Dhabi, está sendo vista como possível local de operação para os caças Typhoon. O Governo do Irã já tem se mostrado bastante crítico à presença de americanos e franceses no Golfo, argumentando que é uma tentativa de intimidação, colocando ameaças a seus interesses nacionais.

Desdobramento tem fins estratégicos e não comerciais, mas…

Ainda sobre os caças Typhoon britânicos, não foi decidido que país pagaria por sua presença. O Governo dos EAU já assume custos operacionais para os franceses, estimados entre 20 e 45 milhões de euros anuais. O Reino Unido já realizou dois exercícios com os EAU: o “Al Khanjar” envolvendo caças Typhoon em 2010 e outro neste ano, com jatos Tornado GR4. Porém, os Tornados deverão sair de linha na RAF em 2019, e a empresa BAE já disse que os Emirados têm um  “real e genuíno” interesse em comprar 60 de seus caças Typhoon ao invés do francês Dassault Rafale.

Apesar de um grande contrato da Força Aérea Indiana ter sido vencido pelo Rafale ao invés do Typhoon, os comandantes militares britânicos insistem que o desdobramento do Typhoon para Abu Dhabi é guiado por considerações estratégicas, e não comerciais. Ainda segundo o jornal, apesar do desenvolvimento multinacional do Typhoon ter ultrapassado em 75% o orçamento, com vários adiamentos, o caça é visto como um avião tecnologicamente avançado e moderno, com poucos rivais. Seu desempenho no conflito da Líbia do ano passado (onde voou mais de 600 missões) recebeu aplausos e gerou interesses de governos como o da Índia e do Brasil.

FONTE: The Independent (tradução e edição do Poder Aéreo a partir de original em inglês)

FOTOS: Eurofighter (K. Tokunaga)

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Marcos

Daqui a pouco teremos Sukhois venezuelanos em nosso território. Tudo por uma questão estratégica.

Vader

Belas imagens.

Ivan

O xodó do Cavaleiro ½ Jedi ½ Sith… 🙂

Ivan

Tenho defendido a bastante tempo que um fator positivo para uma possível venda do Rafale é a parceria estratégica (de verdade) entre os Emirados Árabes Unidos e a França, como um segundo pilar na política de defesa daquele país do Golfo Pérsico, onde os Estados Unidos constituem o primeiro e mais vigoros pilar. Armée de L’Air opera de forma quase permanente uma esquadrilha avançada na base aérea de Al Dhafra com caças de primeira linha, que antes eram os Mirage 2000-5 mas agora (pelo que andei lendo) seriam os Rafale. Entretanto com uma participação real da Royal Air Force no… Read more »