Saab J 35 Draken

Saab J35 Draken

Por Roberto F. Santana

O ano é 1969, centenas de fabricantes de peças, motores e aeronaves anunciavam seus produtos nas revistas de aviação. A fabricante de aeronaves Saab anunciava seus produtos e comemorava seu sucesso em um mercado difícil. Competindo diretamente contra dezenas de concorrentes, a empresa sueca atuava praticamente sozinha no mercado (a fusão e compra de empresas já era comum na época), chegava a fabricar boa parte dos sistemas das próprias aeronaves, como o assento ejetável e muito da aviônica e eletrônica era de fabricação local.

Seus três principais produtos eram o jato de treinamento e ataque Saab 105, que, além da encomenda original da Força Aérea da Suécia, foi exportado para Áustria. O caça supersônico Saab 35 Draken, interceptador considerado um dos mais atraentes caças da história e que possuía excelentes qualidades, podendo até mesmo, fazer frente ao F-15 Eagle no combate ‘dogfight’, o belo duplo-delta teve encomendas da Suécia, Dinamarca, Finlândia e Áustria.

A mais marcante aeronave do fabricante escandinavo era, sem dúvida, o Saab 37 Viggen, de aparência avançada, o caça trazia o um quase desconhecido ‘canard’ e o inédito reversor de empuxo dos motores. A configuração dava excelente performance nas decolagens e pousos, eram incrivelmente curtos. Infelizmente, o Viggen não teve exportações, apesar de ter sido usado em grande número pela Svenska flygvapnet.

Uma conquista modesta se comparada aos grandes fabricantes da época. Porém, cinquenta anos depois, com um pequeno e seleto número de fabricantes de aeronaves militares no mundo, a Saab sobrevive como uma das mais fortes companhias.

Saab J37 Viggen

P.S.1: As propagandas originais nas revistas eram mesmo em preto e branco.

P.S.2: No livro World Encyclopaedia of Aircraft Manufactures de Bill Gunston, o autor conta e lista a história de todos os fabricantes de aeronaves no mundo, um ótimo trabalho. No livro existe uma espécie de número de fabricantes que cada país já teve, o autor, porém, resolveu misturar o número com citações ou referências que cada fabricante recebe no livro ao longo da história. Por exemplo, a McDonnell Douglas, por ser uma companhia que tinha sua origem na fusão de dois fabricantes, provoca várias entradas na contagem geral.

A lista é grande, e claro, começa começa com os Estados Unidos, com 1.251 fabricantes (ou registros). A Suécia vem na 16º colocação, com somente 25 registros.

Curiosamente, o Brasil está no 11º lugar no ranking no número de entradas e referências, são 35 registros.

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Flamenguista

Se eu nao me engano, o Viggen foi utilizado, até pouco tempo, como defesa marítima, atestando a confiança num caça monomotor para tal fim!

Zeca

Quando da compra dos Mirage III, a FAB enviou alguns pilotos para testar outros caças disponíveis na época. Eu tinha uma revista Força Aérea como uma entrevista com o piloto que testou o Draken, mas não lembro o nome dele. O piloto disse que a aeronave era muito boa, mas já estava “fora do seu tempo”. Interessante que, já nessa época, o J-35 estava equipado com (um primitivo) datalink, sensores ópticos, tinha um radar e desempenho cinético melhores que o Mirage. A versão J-35D era o estado da arte pra época. . De qualquer forma, eu acho que o negócio… Read more »

Skyraider

Será que o sucesso do Mirage fez pender a questão logística a seu favor?

Clésio Luiz

Zeca, repare que o Mirage III já tinha sido vendido em grandes quantidades para Israel, Austrália e Suíça, antes do conflito no Oriente Médio. A Guerra dos Seis Dias apenas acelerou o ritmo das vendas, não foi o motivo delas. Na Suíça inclusive, o Mirage derrotou o Draken na concorrência e imagine você que um dos motivos foi o desempenho de pista foi considerado superior ao Draken. E a Suíça é um país que sempre operou caças “fora da base”, coisa aliás que era comum na Europa na época. O radar do Draken na verdade é um derivado do Cyrano… Read more »

Rui chapéu

Eu sou leigo com esses data-link. Eles funcionam com o radar ou é outro sistema que vai no avião?
E ele não pode ser rastreado? Não seria como uma emissão de rádio?

Zeca

O datalink é um sistema de transmissão de dados, não tem nada haver com o radar. No caso dos Draken, a aeronave era totalmente passiva, apenas recebia informações sobre a localização do bombardeiro soviético (era contra isso que eles esperavam lutar) a ser interceptado.

Rui chapéu

Eles não se comunicavam entre as aeronaves então ?
Era somente passivo, diferente dos data links atuais?
E como é essa emissão de sinal se não é um sinal de rádio? É que tipo de frequência ou sistema?

Clésio Luiz

Datalink do Draken era basicamente um rádio dedicado a receber instruções dos radares em terra, tipo subir, descer, esquerda, direita, etc. Não lembro os detalhes agora, mas era bem básico. As informações eram mostradas dentro de mostradores de velocidade e altitude, no painel. Alguém que não tivesse treinamento no modelo não conseguia ver nem entender as mensagens. Era segredo militar, os tripulantes estavam proibidos de comentar sobre o sistema nas comunicações de rádio. Não havia comunicação entre aeronaves, elas apenas recebiam os dados. Mas para a época, era bem avançado. Mas não era exclusividade sueca. F-106 americano foi pioneiro nisso… Read more »

Zeca

Clésio, as primeiras versões do J-35 eram equipadas com um radar derivado do Cyrano, mas isso foi no começo dos anos 60. Caso diferente da versão D, do início dos 70, cuja aviônica era muito superior à do Mirage. . Os Israelenses comprariam grande quantidade de qualquer caça francês, já que esse era o fornecedor de confiança da época. Certamente o Mirage III não venderia tanto caso não fosse o desempenho extraordinário dos israelenses. E por falar em israelenses na guerra dos 6 dias, mesmo que eles estivesse equipados com Mig-21, o resultado não seria muito diferente. Temo a dizer… Read more »

Clésio Luiz

Zeca, no papel o Draken parece uma aeronave superior, mas talvez esse não seja o caso. Com relação ao motor, por exemplo, o ATAR9C parece muito mais fraco que o Avon (Volvo RM6) que equipa o Draken. Mas na prática não é bem assim. Os australianos exigiram um protótipo equipado com o Avon, mas na prática a diferença de desempenho foi tão pouca que não compensava usá-lo no lugar do SNECMA, pois este mostrou que era muito eficiente em conjunto com a célula do Mirage. O Draken possui tomadas de ar fixas e era mais pesado que o Mirage, e… Read more »

Antony

Lembro dessa reportagem, porem, m recordo do Oficial ter dito algo positivo a respeito, algo como “esta A FRENTE do seu tempo”, cabine “futuristica” ou “moderno d+”

Marcos Cooper

A FAB queria o Viggen! Mas a política de exportação sueca proibia a venda de equipamentos militares à outros países. Com excessão da Dinamarca,Finlândia e Austria. O Mirage foi escolhido por excessão: O F-4 não foi liberado para o Brasil.o Viggen não poderia ser exportado e então sobrou para o francês.

Marcos Cooper

*exceção!.

Clésio Luiz

O mercado de caças supersônicos da década de 1960 teve como grande perdedor a Inglaterra, grande exportador de aeronaves militares até então. Comparado ao Hunter, o Lighting foi um fracasso de vendas, pelo fato de que era uma grande e pesada aeronave bimotora, com capacidade de combate de um caça leve monomotor. Inclusive sendo chamado jocosamente de “English Electric MiG”, pelo pilotos de bombardeiros soviéticos que ele interceptava. Prova maior disso é que os suecos, usando um esquema que depois a Embraer copiaria com grande sucesso, que é fabricar a fuselagem e comprar fora itens importantes como motor e radares,… Read more »

carvalho2008

O Draken para mim, figura entre os caças mais belos até os dias de hoje.

parece um caça espacial

Filipe Prestes

Parece um daqueles cruzadores de Star Wars

Biro Biro

Alguém já testou o RCS do Draken? Ele tem formas tão “stealth”.

Já pensou ele com materiais compósitos e eletrônica moderna? E com um Astros 2020 instalado? (brincadeira)

Airacobra

Concordo plenamente Carvalho

Clésio Luiz

O Draken foi um dos caças examinados pela FAB em 1967, junto com o Lighting britânico e o F-104 fabricado na Itália, no programa que culminou na compra do Mirage IIIE. Na época os EUA não queriam exportar aeronaves supersônicas de ponta para a América do Sul (que acabou dominada pela França), então aeronaves americanas estavam fora de cogitação. O Lightning, cujos pneus do trem principal eram tão finos e de alta pressão que “só poderiam operar no aeroporto de (não lembro) sem arrebentar a pista”, não foi aceito pela FAB nem quando os britânicos tentaram amarrar a venda dele… Read more »

Marcelo Andrade

Clésio, li uma vez que o Viggen tb foi examinado pela FAB, é verdade? Grande abraço!

Clésio Luiz

Não tenho conhecimento se isso teria acontecido Marcelo. Os testes aconteceram em 1967, quando a delegação da FAB passou por lá o Viggen tinha acabado de decolar pela primeira vez. Talvez eles tenha tido a oportunidade de conhecer a o protótipo.

Mas era a versão AJ-37, versão de ataque e a FAB queria um interceptador na época, a Saab só tinha o Draken para vender. O JA-37, interceptador, voou cerca de 10 anos depois.

Talvez tenha acontecido anos depois, mas não tenho conhecimento.

Marcelo Andrade

Valeu!!!

Rafael M. F.

Clésio, sabe dizer por que a FAB rejeitou na época o F-104S? Era uma aeronave nova, quando comparada com as versões americanas. Outro radar e diretora de tiro. Só não tinha canhão.

Mais: há uma reportagem da Veja que menciona o Phantom, o Lightining e, SNME, o Draken. Mas não faz menção ao F-104.

Clésio Luiz

Rafael, consta que os EUA não queriam uma “corrida armamentista” na América do Sul, por isso só liberou A-4E e F-5A para os latinos. Aí a Dassault fez a festa.

O F-104S é construído na Itália, mas continua sendo uma aeronave americana e precisaria de permissão de Washington para ser exportado para cá.

É provável também que na época o F-104 já estivesse com má fama e a FAB acabou se limitando a considerar seriamente apenas o Saab Draken e o Mirage IIIE, já que o Lightning britânico era basicamente um bimotor com capacidade de combate de monomotor.

Ivo

Receber mais conhecimento por meio dos comentários sem viés é muito bom viu. Os pássaros da Saab são sensacionais.

cwb

E apesar desta história de sucessos retumbantes, de aviões fantásticos o gripen é desmerecido por muitos,e olha que estamos falando de uma das maiores fabricantes de aviões do mundo.
quando data link era apenas uma palavra,na força aérea sueca fazia parte de um sistema!

MGNVS

Drakken/Dragao, Viggen/Raio e Grippen/Griffo Sao os 3 caças da Coroa Sueca. Eu sou suspeito para falar ja que tenho profunda admiraçao pelos Reinos da Dinamarca, Noruega e Suecia e da Republica da Islandia. Reinos estes que tiveram influencia direta na formacao de varios outros países tais como Inglaterra (Anglia) e França (Normandia). Nomes de reis famoso como Magnus, Ragnar Lothbrokk, Ivar Boneless e Bjorn Ironside foram escritos na historia nao so destes países como do mundo. Alem dos avioes da Suecia acima citados, ha que se fazer referencia ao fato de que junto com os outros povos vikings da Dinamarca,… Read more »

cwb

falou o que eu gostaria de falar,se nós fossemos 50%do que são os nórdicos em matéria de seriedade com sua cultura e povo,seríamos a 3° economia do mundo.
se tivesse um urso ou um dragão afiando as garras em qualquer fronteira do Brasil a coisa seria diferente….

MGNVS

cwb
saudacoes

Concordo com vc, mas infelizmente a unica seriedade que o povo brasileiro tem é para com o futebol, cervejada e carnaval. Cultura, educaçao, pesquisa e desenvolvimento estao longe das prioridades do nosso povo. Nossas mentes mais brilhantes sao todas cooptadas para trabalharem a serviço de naçoes estrangeiras. Assim fica dificil.

André

Mgnvs, desculpe-me, mas brasileiro não tem menor seriedade em matéria de cerveja.

Abs

MGNVS

André
Boa! ?

Clésio Luiz

MGNVS, os suecos são neutros e independentes, mas sempre compraram armamento de outros países, então dependem sim da ajuda de outros.

Os caças suecos, Tunnan, Lansen e Draken, todos voavam com motores ingleses, fabricados sob licença pela Volvo. A partir do Viggen, os EUA se tornaram os fornecedores principais.

Era meio que um segredo aberto que, em caso de agressão soviética, os suecos teriam ajuda militar das potências ocidentais, com papel assinado e tudo.

MGNVS

Clesio Saudacoes Sim, os suecos tbm usavam equipamentos de outros países como os motores q vc citou e tbm compravam outros armamentos, mas diferente do Brasil eles se esforcaram por desenvolver grande parte e uma ampla gama do equipamento militar deles la mesmo, e isso nas 3 Forças, desde avioes a submarinos. Qnto a geopolitica vc tbm esta correto, a Suecia era abertamente neutra mas aliada do Ocidente, em caso de um ataque sovietico os suecos seriam os primeiros a tentar barrar os caças do Pacto de Varsovia ate que chegassem os reforços da OTAN. Diferente da Dinamarca e Noruega… Read more »

Clésio Luiz

Dizem até hoje que escolha da força aérea suíça é selo de qualidade nas aeronaves escolhidas. Os caras tem prestígio. Pena que atualmente eles perderam muito disso.

Filipe Prestes

Eu acho o Draken bonito. Me lembra aqueles Star Cruisers do Império em SW hehe

Luiz Floriano Alves

Quando da procura para compra dos Gripen, muito se falou que caças Gripen de versões anteriores seriam cedidas para a FAB iniciar o treinamento e adaptação nos sistemas suecos. Depois de assinado o contrato, nada mais foi comentado. Foi especulação? Ou adoçaram a pilula?

Clésio Luiz
Carlos Alberto Soares

Bob

As anvs suecas eram e são pura criatividade, diferentemente das cópias Xing ling.