Caças e embargo na rota de Dilma

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Na viagem que fará à Europa, em dezembro, presidente vai enfrentar temas comerciais delicados, como a compra de aviões para a FAB e o embargo da Rússia à carne brasileira

 

João Valadares

As embaixadas brasileiras em Paris e Moscou já fecharam praticamente todos os detalhes da visita da presidente Dilma Rousseff, em dezembro, à França e à Rússia. Em Paris, Dilma será recebida com todas as honras de uma visita de Estado que, no protocolo da relações internacionais, significa uma deferência diplomática especial. Cogita-se até a possibilidade de a presidente desfilar em carro aberto. Por trás de todas as pompas, o lobby do governo francês para conseguir, definitivamente, emplacar a venda de 36 caças Rafale para o Brasil em um contrato estimado em US$ 5 bilhões (pouco mais de R$ 10 bilhões). O presidente da Rússia, Vladmir Putin, corre por fora e também deve estreitar os laços comerciais entre os dois países para reinserir na lista de compras do Brasil os poderosos aviões de combate Sukói.

Antes da visita da presidente a Moscou, marcada para 13 e 14 de dezembro, a embaixada brasileira se apressa para tentar desatar um nó que pode provocar um grande constrangimento internacional: o embargo russo às exportações de carne dos estados do Rio Grande do Sul, do Paraná e de Mato Grosso. A restrição dura mais de um ano e tem afetado as relações comerciais entre os dois países. Diante do problema, o governo brasileiro tenta por fim ao embargo antes do desembarque da presidente Dilma Rousseff em solo russo.

A situação é tão delicada que várias providências para resolver o problema já começaram a ser sugeridas. O principal objetivo é, a partir do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), orientar os estabelecimentos exportadores a corrigir todos os pontos críticos apontados na inspeção russa feita em julho e agosto deste ano. A embaixada do Brasil em Moscou chegou a sugerir que o ministério obrigue os exportadores brasileiros a cumprir integralmente todas as normas sanitárias de acordo com o padrão higiênico da Rússia. Hoje, no Brasil, existem 40 frigoríficos habilitados a exportar carne para o país. No entanto, 119 estabelecimentos brasileiros apresentam restrições impostas ao longo dos últimos anos pelo importador.

Em Paris, a chegada de Dilma está prevista para o dia 11 de dezembro. O governo francês trata da venda dos caças com absoluta cautela. Na semana passada, o ministro da Defesa francês, Jean-Yves Le Drian, esteve no Brasil de maneira discreta para tentar estabelecer “parcerias militares” e tirar do foco a questão meramente comercial das negociações em torno dos aviões militares.

Em agosto, o ministro da Defesa brasileiro, Celso Amorim, chegou a dizer que a decisão de adquirir os aviões para reforçar a Força Aérea Brasileira (FAB) estava suspensa e sem previsão de retomada. Ele fez questão de ressaltar, no entanto, que a substituição dos aparelhos não estava descartada. A fala do ministro se apoiou em um contexto de incertezas na economia mundial. Além do aviões franceses, os modelos Gripen, da Suécia, e F18, dos Estados Unidos, estão no jogo.

É nesse clima de disputa que a presidente vai desembarcar na capital francesa. A previsão é que Dilma chegue a Paris no início da tarde e, logo em seguida, encontre-se com o presidente da França, François Hollande. Após conceder entrevista coletiva, participará de um jantar para 200 convidados. No dia seguinte, a agenda será intensa: visita à Assembleia Nacional, recepção na prefeitura de Paris, encontro na Casa do Brasil com estudantes do Programa Ciência sem Fronteiras, reunião com empresários, visita ao Centro de Energia Atômica e um evento cultural que ainda não está definido. O governo francês vai arcar com todas as despesas.

Espanha

Antes das missões na França e na Rússia, em dezembro, a presidente visita, ainda este mês, Espanha, Argentina, Peru e México. Na sexta-feira, Dilma participa da Cúpula Ibero-Americana de Cádiz, na Espanha. No dia 18, vai a Madrid para uma reunião com o chefe de governo espanhol, Mariano Rajoy. No dia 28, estará na Argentina. Dois dias depois, participa da Cúpula da Unasul, em Lima, Peru, e, em 1º de dezembro, estará na posse do presidente do México, Enrique Peña Nieto.

Roteiro de viagem

Novembro
16 – Cádiz (Espanha)
18 – Madrid (Espanha)
28 – Buenos Aires (Argentina)
30 – Lima (Peru)

Dezembro
1º – Cidade do México
11 – Paris (França)
13 e 14 – Moscou (Rússia)

FONTE: Correio Braziliense, via Notimp

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Mauricio R.

Essa viagem é somente circo, daquele tipo que a petralhada adora.

Baschera

Misturar bifes e lombinho de porco com aviões e caças vai dar indigestão e acidente aéreo !!

Sds.

Observador

Quem diz que os franceses não podem melhorar a sua proposta?

Agora esta inclui desfile em carro aberto à ilustre mandatária em plena Paris.

Se comprar o avião, desfila na Avenue des Champs-Élysées .

Só faltou o espelhinho e o colar de contas.

Nick

Se o lobby das Indústrias não adiantou, quem sabe o lobby agropecuário resolva. 🙂

E no mais, trocar bifes por caça não me parece um mau negócio não. Único ponto importante é manter uma linha de manutenção full por aqui, e possibilidade de integrar arma tupiniquins no caça russo.

[]’s

Marcos

Ridículo!!

Baschera

Nick, Me cita aí umas “armas” brazucas que sejam melhores ou iguais as russas pra se gastar rios de $$$ e perder uns 200 anos de tempo tentando fazer o sistema de software russo “falar” com o sistema brasileiro de armas…… simplesmente não rola !! Aliás, nem os sistemas AA russos, que todos gostariam de ver aqui, virão… Sistemas russos não “falam”… não se “comunicam” com os sistemas brasileiros, Siconta, etc…. Por isto que eles não teriam chance aqui …. e só há os MI-35 justamente por causa de trocas de carne…. eles, os MI Sabre da FAB, só se… Read more »

Luis

Baschera, o FEMEN é da Ucrânia.

Nick

Caro Baschera,

Gostaria de ver o A-Darter integrado. Não só ele, mas o SKMB, um MAN versão lançado do ar. Ou seja, algumas iniciativas que teriam de ser integrados ao caça. Se tecnicamente não é possível, que se faça ser. 🙂

Vai custar mais caro? Pode até ser, mas, é o preço(mínimo) de algum nível de autonomia.

E sinceramente, não sei se é tão difícil fazer os sistemas se conversarem. Só fazer uma interface e bora. 🙂

[]’s

Marcos

Senhores: Sistemas são difíceis e caros de se integrar. Peguemos como exemplo a Embraer com seu Legacy 450/500: estão encontrando enormes dificuldades em integrar sistemas ocidentais, com o software aberto, tanto que tiveram de contratar a Bae System e chamar todos os envolvidos para trabalhar dentro da própria companhia. Ao que parece a coisa andou, mas representou um enorme custo não divulgado e pelo menos um ano de atraso no primeiro vôo da aeronave. O FX-2 deveria voltar para a área técnica da FAB, onde nunca deveria ter saído. Até agora as investidas de políticos em decisões técnicas foram desastrosas.… Read more »

Baschera

Observador, Melhor eles deixarem assim mesmo sua proposta….. na Índia a “proposta” começou em Us$ 10 Bi…… agora já são Us$ 20 Bi….. Luis, Eu sei que o Femen surgiu na Ucrânia, mas se há “filial” no Brasil…certamente também há na Rússia….. aliás já há na Rússia uma “escola de samba”…com oito gatos-pingados ….. mas há !! Nick, Como o colega Marcos explicou….. integrar sistemas não é mole não….. aliás, é o problema que o A-Darter está enfrentando agora…. e por isto vai demorar um bocado ainda…. e até me pergunto se vale a pena investir na integração do mesmo… Read more »

A. J. Camargo

Como é difícil agradar nossos especialistas! Será que TODA e qualquer inciativa do governo, da FAB ou de empresas brasileiras da area da defesa, são envoltas em incompetência, ganhos escusos ou corrupção? Sabemos que os negócios deste vulto não são transparentes, mas simplesmente julgar sem conhecimento dos fatos, não acrescenta em nada! Particularmente, acho muito difícil uma troca carne x caças acontecer, depois de tudo que passamos com o finado FX e agora com a desgastante espera pela finalização do FX-2. No entanto, a presidente pode e deve aproveitar a oportunidade para forçar o governo russo a pelo menos rever… Read more »

Justin Case

Baschera, bom dia.

Nunca vi valor divulgado para qualquer das propostas na Índia.
Dez bilhões era a expectativa do governo indiano ao lançar o Programa.
Aqui, parece que a previsão inicial para o F-X2 era de dois bilhões. Certamente o custo será muito maior do que esse, ou nenhum dos aviões da competição será comprado na quantidade requerida.
Boa semana a todos.

Justin

Baschera

Caro Justin, muito boa tarde !

Realmente não sabemos o exato valor monetário constante do contrato entre a Dassault e o Ministério de Defesa da Índia, não formalmente assina do ainda….

Meu comentário, óbvio, foi baseado em informações recentes da impressa indiana, replicados aqui mesmo no Poder Aéreo. Entre outras cito abaixo:

“…Assim como no caso do Indian Express, a reportagem do dia 7 de novembro do Deccan Herald destacou que o valor do contrato deverá chegar a 20 bilhões de dólares, superando bastante os 10,4 bilhões estimados inicialmente….”

Fonte: http://www.aereo.jor.br/tag/rafale/

Sds.