Brasil torna-se o ‘quartel-general’ da Thales para a América Latina

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Em coletiva de imprensa realizada na subsidiária brasileira, a Omnisys, foram apresentados os novos executivos da Thales no Brasil – atuação nos mercados do país e da América Latina, transferência de tecnologias e as perspectivas de ampliação das atividades também estiveram em pauta

 

O Poder Aéreo participou de coletiva de imprensa da Thales realizada na quinta-feira, 30 de agosto, em que a empresa apresentou sua nova liderança no Brasil, num momento em que o país passa a ser, de fato, o “quartel-general” da Thales para toda a América Latina. A apresentação dos novos executivos foi feita nas instalações da Omnisys, subsidiária brasileira do grupo francês, em São Bernardo do Campo – SP.

Os novos executivos para o Brasil vêm do escritório do grupo na Cidade do México, marcando assim a passagem, do México para o Brasil, da liderança das atividades da Thales na América Latina. Essas atividades estão focadas em cinco mercados: Defesa, Segurança, Transportes, Aeronáutica e Espaço, sendo que as duas primeiras respondem por mais de 50% dos negócios.

A partir de 1º de setembro, assume como diretor geral da Thales no Brasil o francês Julien Rousselet, que era diretor geral no México. O executivo de 37 anos ingressou na Thales em 2007, como diretor comercial no escritório mexicano.

E, juntamente com a chegada do novo diretor, está sendo transferido do México para o Brasil o  vice-presidente da Thales para a América Latina, o argentino Cesar Kuberek. O executivo de 47 anos está na Thales desde 2001. Kuberek e Rousselet estarão temporariamente trabalhando nas instalações da Omnisys em São Bernardo do Campo (cidade do ABC paulista), até a finalização do novo escritório da Thales em São Paulo, prevista para daqui a um mês.

O “trio” de lideranças da Thales no Brasil também conta, desde o mês passado, com o brasileiro Edgard Menezes como presidente da subsidiária Omnisys. Menezes é um dos fundadores da Omnisys, nascida em 1997 e que desde 2006 está associada ao grupo francês Thales. Na foto acima, da esquerda para a direita, estão Julien Rousselet, Cesar Kuberek e Edgard Menezes.

Segundo Kuberek, as mudanças na direção estão inseridas num movimento para tornar cada vez mais local a liderança da Thales na América Latina e, em especial, no seu maior mercado, que é o Brasil. O objetivo é que, em breve, as posições de comando assumidas por ele e por Rousselet passem para brasileiros. “Queremos ser cada vez mais brasileiros no Brasil”, disse Kuberek, reforçando que 98% dos quadros da Thales no país são ocupados por pessoal do Brasil e que a presença estrangeira está sendo gradualmente reduzida. A estratégia da Thales no Brasil é “compartilhar tecnologias, compartilhar conhecimentos e exportar”, segundo o executivo.

Exportações e transferência de tecnologia

Nesse sentido, um dos principais objetivos é ampliar as exportações para a América Latina, e também para a África, a partir do braço industrial da Thales no país, a Omnisys. “É na Omnisys que são recebidos os engenheiros da Thales no mundo para ensinar os brasileiros. A Omnisys alavanca a Thales no Brasil, e é o recipiente das tecnologias, dos cérebros”, disse Kuberek, ao que Rousselet acrescentou: “Transferência de tecnologias se dá com pessoas.”

Sobre esse assunto, o executivo francês disse que “transferência de tecnologias não é um tema fácil. Sem ter experiência nisso, sem ter gente capacitada localmente, não é transferência de tecnologia, é apenas uma impressão de que se está transferindo. No caso da Thales e da Omnisys, essa transferência é rápida, pois já existe.” Rousselet também afirmou que a Thales quer cada vez mais engenheiros e decisores brasileiros nas posições importantes, para estar mais perto do cliente, que demanda soluções locais, desenvolvidas especificamente e não simplesmente importadas.

Entre os desenvolvimentos conjuntos da Omnisys com a Thales, o executivo citou a produção dos radares Banda L, denominados LP23SST (na foto acima, um conjunto completo já produzido passa por testes finais de aceitação, antes de ser entregue ao cliente. Na imagem logo abaixo, um radar já embalado para transporte). O radar, que é usado no controle de tráfego aéreo de rota, tem uma carteira de 35 pedidos, com parte significativa exportada:  a China foi responsável por encomendar praticamente um quarto desse total.

O Poder Aéreo perguntou ao novo presidente da Omnisys, Edgard Menezes, sobre as perspectivas de continuidade da linha de produção do LP23SST, já que anteriormente foi dito que as encomendas existentes garantiam a fabricação até o final de 2012 (para mais detalhes, veja matérias anteriores abaixo e reportagem especial publicada na revista Forças de Defesa número 2). Menezes confirmou que os últimos pedidos deverão manter a linha de montagem aberta até o final deste ano, embora a produção de módulos e partes de reposição na fábrica deva prosseguir por mais tempo, além de todos os trabalhos de manutenção relacionados a esta e outras linhas de radares. Ele ressaltou que a Omnisys mantém todo o parque de radares de controle de tráfego aéreo do Brasil, exceto os do Sivan.

Porém, o executivo também afirmou que há diversas negociações em andamento com clientes para novos pedidos do produto, pois tradicionalmente as encomendas são consolidadas ao final do ano. Sobre o novo radar previsto para entrar em produção local no futuro, o Ground Master 400 de aplicação militar da Thales, o executivo afirmou que o processo licitatório para a aquisição desses radares pelo Brasil está no meio do caminho, seguindo agora para a parte técnica. Há outros dois concorrentes, entre eles a israelense Elta, mas a empresa está otimista pois o modelo vem sendo bem-sucedido no mercado internacional.

Perguntado sobre o desenvolvimento local pela Omnisys e sobre como é a atuação da Thales nessa atividade, Menezes disse: “O desenvolvimento na Omnisys é todo feito por engenheiros brasileiros. Há, no momento, 4 franceses temporariamente no Brasil para adequar nossos métodos com os da Thales. Mas, em breve, eles serão substituídos por brasileiros”. Entre os trabalhos de desenvolvimento atuais, Menezes citou o “seeker” (cabeça de busca) do novo míssil antinavio para a Marinha do Brasil, o MANSUP: “É um desenvolvimento complexo e difícil, feito por engenheiros brasileiros, mas temos a Thales assessorando para reduzir riscos, dizendo se os caminhos que estamos seguindo estão adequados”. A Thales é a responsável por desenvolver “seekers” para os mísseis da MBDA, empresa com participação de vários países europeus e uma das líderes mundiais do setor.

Segurança, defesa e transporte, os três setores onde a empresa vê maior possibilidade de crescer na América Latina

O setor de segurança tende a crescer no Brasil devido aos novos eventos que se aproximam (Copa do Mundo e Olimpíadas), mas o mercado na América Latina como um todo é muito grande, devido a questões como o tráfico de drogas e de pessoas, às elevadas taxas de homicídio (mais de 130.000 por ano na América Latina, o que supera números de muitas guerras), e à elevação da insegurança em muitas das grandes cidades, conforme destacou Kuberek.

No México, de onde vieram os dois executivos que estão assumindo no Brasil, o setor de segurança é o mais importante, apresentando-se “mesclado” com o de Defesa. Já no Brasil e em diversos outros países da América Latina, que nos últimos 20 anos descuidaram de investimentos em Defesa, esse é o setor com maiores projetos em andamento, especialmente no mercado brasileiro. A mudança do “quartel-general” das atividades da Thales para o Brasil deve-se também ao fato de que, na visão da empresa, a “bandeira” mais importante para entrar nos mercados latino-americanos é a Brasileira, “muito mais do que hoje são as dos Estados Unidos ou da França”, segundo Cesar Kuberek.

A Thales participa no momento de várias concorrências e projetos ligados a Defesa e Segurança no Brasil e na América Latina. Entre os programas que têm produtos vendidos e em produção, destacam-se sistemas de comunicação (por exemplo, o sistema de comunicação por satélite do avião presidencial brasileiro é da Thales), além do já citado mercado de radares: o maior parque de radares da Thales, em todo o mundo, fica no Brasil, com mais de 100 instalados.

Entre outras oportunidades citadas, estão as próximas fases do programa SISFRON (voltado a sistemas de vigilância nas fronteiras) do Exército Brasileiro (EB). A concorrência para a primeira fase do projeto foi ganha pelo consórcio liderado pela Embraer, mas a proposta da parceria da Thales com a Andrade Gutierrez recebeu uma pontuação técnica bastante elevada, segundo os executivos. Assim, a Thales está otimista quanto às disputas das próximas fases, que envolvem sistemas e equipamentos diferentes, aptos a operar sobre outros tipos de terreno.

Ainda em relação a programas do EB, há perspectivas de ampliar as entregas do sistema de comunicação SOTAS, destinado às novas viaturas blindadas Guarani. O sistema é da Thales Holanda, com produção no Brasil (para orientar esse trabalho, estão sendo trazidos engenheiros holandeses). O SOTAS é cotado para a modernização dos blindados M113 do Exército.

O terceiro setor mais importante é o de transportes, também com vários projetos e programas em andamento ou em concorrência. Foi destacado o sistema de sinalização para a linha 17 do Metrô de São Paulo, cujo contrato foi vencido pela empresa. Nesse programa, a Omnisys trabalha com o apoio da Thales do Canadá, da qual deverá receber a transferência de tecnologias para prestação de serviços.

Assim como em encontro realizado no ano passado, também realizamos uma visita à fábrica da Omnisys. Algumas novidades e outras informações colhidas na ocasião você verá em outras matérias.

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