Assento ejetável do T-27 Tucano não prevê sobrevivência do piloto com o avião em velocidade zero

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O acidente de ontem (04.06.12) com um cadete da AFA que teve o assento ejetável acionado durante o táxi da aeronave fez lembrar o acidente com o capitão-aviador Ronaldo Rui Lobo César em 1987, natural do Pará, que ingressou na AFA em março de 1974 e tinha mais de 2.000 horas de voo quando foi vítima de uma ejeção involuntária ainda no solo.

O capitão Lobo pertencia à Divisão de Ensaios em Voo do CTA (atual DCTA), onde atuava desde 1985 e sua promoção para major era esperada para os meses seguintes.
O capitão taxiava uma aeronave T-27 Tucano na pista de São José dos Campos por volta das 17:30h do dia 21 de julho de 1987.

Surpreendentemente seu assento foi acionado, projetando-o para fora da aeronave. Por não ser um assento do tipo 0-0 (zero de velocidade e zero de altitude), não houve tempo suficiente para que o paraquedas fosse aberto.

Lobo sofreu fraturas diversas e graves ferimentos ao colidir com o solo. Atendido na Santa Casa de Misericórdia de São José dos Campos, Lobo não resistiu aos ferimentos e faleceu duas horas depois do acidente em função dos graves ferimentos.

Um artigo no site da ABRA-PC, do piloto Mark de Matos, diz o seguinte sobre a causa do acidente: “o voo era um ensaio para medir os esforços no manche do T-27 em diferentes manobras. Havia um instrumento acoplado ao manche para medir a força, um manchímetro, que era preso ao lado do manche. O Rui, no táxi, fez o teste de comandos livres e comentou com o Russo (piloto atrás) que devido ao manchímetro ele tinha que colocar a cadeira o mais baixo possível, pois na decolagem se a cadeira estivesse alta o manchímetro iria interferir e impedir ele de cabrar o suficiente. Ao acionar o motor elétrico para baixar a cadeira o punho de ejeção ficou preso sobre o manchímetro e com o deslocamento da cadeira para baixo houve a ejeção involuntária.”

O EMB-312 Tucano, na FAB T-27, possui dois assentos ejetáveis Martin-Baker modelo Mk8L. Estes assentos são mais simples, mais leves e mais baratos que os assentos tipo 0-0 (zero-zero) dos caças de alta performance. O Mk8L não possui motor-foguete e depende de uma velocidade mínima de 70 nós para funcionar devidamente.

Já o Super Tucano, o A-1 e o F-5M usam o modelo Mk.10, que é tipo zero-zero.

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Blind Man's Bluff

O barato sai caro!

Franco Ferreira

O barato sai, sempre, MUITO CARO! Em 1982, eu fui compelido a freqüentar um curso de assunto no qual já era doutor, sob risco de, em não o fazendo, ser expurgado do SIPAER. Durante o curso houve uma visita a SBSJ para “vermos” o T-27. Que máquina linda! Faz 30 anos! O Comandante do CTA, o Brigadeiro Menezes, ofereceu um voo no avião. Eu agradeci e perguntei pela sala do equipamento de voo! Eu sentaria na frente e o piloto atrás – não tenho certeza – mas acho que foi o Cap. Sabatelli, cadete dos meus tempos de instrutor na… Read more »

Justin Case

Amigos, boa noite. Alguns palpites do Justin sobre assentos ejetáveis: 1. A pistola drogue serve para extrair o paraquedas estabilizador. Este último serve para alinhar a cadeira durante a descida e para permitir que a abertura do paraquedas principal ocorra no alinhamento correto. Quando a ejeção é em altitude, só o paraquedas estabilizador fica aberto até que a altitude ideal (barométrica) seja alcançada. Não é aconselhável abrir paraquedas principal muito alto. Pode demorar muito a descida, com possíveis problemas de hipóxia e hipotermia. 2. As fitas restritoras, ao contrário do que parece inicialmente, têm a função de manter as pernas… Read more »

Clésio Luiz

Na época já era novidade o Tucano ter as assentos ejetáveis. Se eu não me engano, o PC-7 suíço não as tinha.

Quanto a manete única, era equipamento padrão nos caças alemães da segunda guerra.

Franco Ferreira

Puxa vida! Que legal. Just in Case – Só uma observação que – confesso – preciso analisar mais detalhadamente: a questão da dispersão dos esforços da ejeção sob as coxas do piloto com as pernas esticadas. Imagino que o tempo de atuação do iniciador de ejeção elimine esta possibilidade de dispersão dos esforços. E não posso deixar de lembrar (como Você fez) que o risco de danos pessoais por colisão com o montante da cabine é muito grande quando acionada com as pernas esticadas. Clésio – Eu olhei dentro da cabine de um Messerschmit 109 (não sei qual deles) no… Read more »

Clésio Luiz

Franco, eu sei que o FW-190 sempre teve manete única. Quanto ao 109, ate eu houvi falar também as tinha. Pode ser que passou a tê-las a partir de determinado modelo (e formam muitos). Vou pesquisar um pouco para ter uma resposta concreta.

E eu não sabia desse seu voo no protótipo do Tucano. Por falar nisso, você prestou serviço na FAB durante aquele período?

Franco Ferreira

“Clésio Luiz disse:
5 de junho de 2012 às 20:55
…. nisso, você prestou serviço na FAB durante aquele período?”

Bom dia Clésio – Eu fui incluído (Cadete Av) em 22.02.1963 e expelido em 26.08.1986 (Ten.-Cel.). O episódio do T-27 ocorreu durante o que se chamava “Estágio Básico de Prevenção e Investigação de Acidentes” em julho/agosto 1982.

HRotor

Franco, aqui vai um humilde pitaco de um colega de Força (não especialista no assunto, fácil de constatar pelo meu nickname…), usuário que fui do assento em pauta nos tempos de cadete e aspirante. Lembro que devíamos esticar as pernas para ejetar, para colar a coxa no assento; se houvesse um espaço entre a coxa e o assento, mesmo pequeno, haveria a colisão deste com aquela, no momento da ejeção. Com a coxa firmemente encostada (pernas esticadas), não haveria essa colisão, apenas a pressão do assento no corpo. As fitas restritoras, se corretamente ajustadas, fazem com que as pernas sejam… Read more »

HRotor

Quanto ao caro e barato, não creio que sejam apenas estes os critérios considerados ao se decidir quanto à instalação deste ou aquele assento em uma aeronave. Tem também o peso/complexidade do sistema, já que o 0/0 usa motor-foguete e não apenas as cargas explosivas, que podem ter impacto no projeto da aeronave toda. (Não estou discordando, apenas pensando…).
Sds

roberto

Houve, nos idos de 1970 ,salvo engano, o primeiro acidente com assentos ejetáveis na FAB , no solo, durante o TAXI, na BASC ,vitimando o Ten Aviador Ricardo Murad com F-5
JR

Fernando

Eu presenciei o trágico acidente com o Cap Lobo… Os bombeiros se esforçaram muito para salvá-lo, mas infelizmente não foi possível… Que Deus o tenha, Nobre Guerreiro

Eugênio

Mecânico da Embraer, Agostinho, faleceu ao ser atingido na face pela “drug”(?) do assento ejetável do Tucano (tucaninho), no solo?, feira de Le Bourget(?), ao suspender o assento para remover garrafas de oxigênio que eram instaladas sob o assento. O que era esta “drug”?