No fim da década de 1970 foi mostrada na TV brasileira uma série denominada Demônios do Ar. Era uma versão em português do original “Baa Baa Black Sheep”. A séria conta a história do esquadrão de caça VMA-214 Black Sheep do USMC e seu comandante Gregori “pappy” Boyington. Os pilotos não gostaram da versão da TV por estar bem fora da realidade, apesar de terem ganhado fama com o seriado.

O vídeo abaixo é um dos episódios do seriado. Todos estão disponíveis no Youtube bastando uma busca com as palavras “Black Sheep Squadron”. O problema é não ter legendas.

[youtube http://www.youtube.com/watch?v=aR2hpfLchSw&w=420&h=315]

O então Major Gregori “pappy” Boyington fez parte dos Tigres Voadores, onde teve uma péssima participação devido ao seu comportamento, devido ao vício em bebidas alcoólicas. Ele se voluntariou para pagar suas dívidas e fugir de problemas pessoais. Ao voltar para os Fuzileiros Navais, conseguiu o comando de um esquadrão principalmente por ter experiência de combate, num momento em que se precisava de todos os pilotos disponíveis.

Como comandante dos Black Sheep, Boyington teve um desempenho surpreendente. Ele aproveitou a experiência ganha com os Tigres Voadores e os ensinamentos do comandante Claire Chennault, ensinando seus pilotos a não temerem os caças Zero japoneses, considerados bem superior aos modelos americanos da época. Boyington descrevia os pontos fortes e fracos de todas as aeronaves e dizia que os pilotos deveriam se concentrar nos próprios pontos fortes e atacar os pontos fracos do inimigo.

Um dos pontos fracos dos japoneses era não ter iniciativa – eles seguiam sempre um plano. Outro ponto fraco era sempre manter o voo em formação. Seus caças não tinham blindagem e podiam explodir com um único tiro no tanque de combustível. O Zero era superior em dez categorias, mas Claire Chennault ensinava seus pilotos a lutar nas três categorias onde o P-40 vencia: armas, blindagem e peso. Por ser mais pesado, o P-40 mergulhava mais rápido. Assim, atacavam do alto, mergulhavam, disparavam, mergulhavam novamente para depois subir e repetir os ataques.

Isso funcionou com os Tigres Voadores, e depois o conceito foi repassado para usar com os F4F Wildcats. Se atacados por trás, os pilotos eram ensinados a fazer um Split-S, fugir e tentar subir para atacar em posição de vantagem. Os Zeros geralmente não seguiam caças mergulhando. Um Zero mergulhando por trás não subia muito contra um caça subindo subitamente para evadir.

Boyington treinava seus pilotos de forma exaustiva nos comandos da cabine até que as manobras se tornavam instintivas. Nas missões monótonas, como as patrulhas de combate aéreo, aproveitam para treinar formação, manobras agressivas em formação, busca de alvos distantes e troca de posição de líder com o ala. A identificação de aeronaves também era considerada importante, para depois reconhecer os pontos fortes e fraquezas de cada modelo. Os japoneses gostavam de atacar com o sol pelas costas e Boyington ensinou seus pilotos a colocarem um dedo na frente do sol e, assim, conseguirem ver ao redor uma aeronave vindo daquela direção.

Os americanos tentavam usar o rádio o mínimo possível para evitar que os japoneses determinassem sua posição. Como usavam o rádio só em emergência, precisavam de muito planejamento de missão. Para evitar serem pegos de surpresa, faziam vigilância constante no ar,  pois alguns segundos podiam ser importantes. Faziam vigilância até antes de pousar. Voavam pelo menos aos pares para proteção mútua, pois os japoneses não costumavam atacar aeronaves em grupos, preferindo atacar aeronaves solitárias. Boyington conseguiu desmistificar a superioridade do Zero, mudando a visão anterior dos pilotos, que já se consideravam derrotados antes de decolar.

Nos ataques, Boyington sugeria mergulhar com o sol pelas costas. Recomendava disparar bem de perto, pois um disparo a longa distância tem poucas chances de acertar. Se as traçantes alertam o piloto inimigo, fica bem difícil atingir um Zero manobrando. O próprio Boyington disparava a cerca de 30 metros. Porém, em encontros frontais, disparavam a uma distância bem maior.

Na época, as metralhadores dos caças americanos usavam munição incendiária, perfurante e traçante na proporção de 1:1:1. Boyington testou contra barris e determinou que a melhor proporção seria duas incendiárias, uma perfurante, duas incendiarias e uma traçante. A combinação foi adotada depois por todos os caças americanos.

Boyington também foi inovador. A doutrina da época ditava o uso de caças mais de forma defensiva, atuando como escolta, protegendo os bombardeiros, navios ou tropas. Essa doutrina até ditou a estratégia das operações no Pacífico com a tomada de ilhas para criar bases aéreas para que os caças pudessem escoltar os bombardeiros operando mais a retaguarda.

As formações de bombardeiros voavam a 20 mil pés, os P-38 entre 30 a 40 mil pés, os P-40 voando bem mais baixo e os Corsair entre as camadas acima dos bombardeiros. Os caças ficavam indo e vindo em um corredor de 3 a 7 km ao redor dos bombardeiros. Os japoneses ficaram intimidados com formações tão grandes e passaram a procurar aeronaves desgarradas ou citar pane e fugir. Os japoneses ficaram sem iniciativa até para decolar contra forças tão grandes.

Boyington não gostava das missões de escolta. Enquanto os japoneses voavam em qualquer lugar, as escoltas só ficavam em volta dos bombardeiros. Em uma missão chegaram mais cedo na área do alvo sem planejar e varreram os caças inimigos. Boyington já tinha proposto fazer isso antes e funcionou. Também sugeriu fazer outra varredura após os bombardeiros saírem. Ele propunha táticas mais ofensivas, indo no território inimigo atrás de caças no ar e em terra para conquistar a superioridade aérea. O Esquadrão até criou um livreto com táticas de escolta, patrulha, varredura e metralhamento que depois foi repassado para todos esquadrões de caça do USMC, US Navy e USAAF. Atualmente, as táticas de caças são divididas em operações ofensivas (Offensive Counter Air) e defensivas (Defensive Counter Air).

Com a chegada dos caças F4U Corsair, os americanos passaram a ter vantagens, pois era bem mais rápido, tinha o dobro do alcance dos outros caças, boas armas e boa blindagem. Nos primeiros encontros, os japoneses logo perceberam que estavam em inferioridade. O alcance permitiu escoltar os bombardeiros contra alvos mais distantes.

O alvo principal do esquadrão era Rabaul. Em novembro de 1944, a Marinha Japonesa enviou duzentos caças embarcados para operar nas pistas da região. Foram dois meses reagindo às varreduras de caças. Em 17 de dezembro, iniciaram uma varredura no local com 84 caças em três camadas, entre 10 a 26 mil pés. Poucos caças japoneses decolaram intimidados com uma força tão grande, apesar de oito terem sido derrubados. Na próxima, seriam apenas 24 caças do mesmo modelo. Isso funcionou para chamar os japoneses para o combate.

Após Boyington ser derrubado, o Esquadrão foi debandado. Em 84 dias, o esquadrão conseguiu 97 vitórias. Boyington recebeu a Medalha de Honra enquanto estava capturado e ficou famoso. Cita ter derrubado 28 caças, mas nem todas devem ser verdadeiras. Boyington também era famoso entre os japoneses. Em uma missão sobre uma base aérea japonesa, uma voz feminina chamou-o  logo depois que mergulhou, metralhou a base, e subiu. Então chamou os japoneses para o combate que logo decolaram.

A imagem abaixo é de Boyinton posando para fotos. Os pilotos não deixavam marcas de vitórias pois os japoneses se concentravam nos caças marcados. As marcas de vitórias eram colocadas só para fotos.

Bibliografia: Black Sheep – The Life of Pappy Boyington

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Nautilus

Texto bacana e bem pesquisado, mas cheio de erros de digitação e concordância. Vamos prestar atenção na revisão antes de postar, pessoal do Poder Aéreo. Não deixem a peteca da qualidade do site cair!

Ivan

G-Loc,

Muito interessante a matéria.
Vc teria sabe dizer se é difícil encontrar o livro indicado ou se há alguma outra indicação bibliográfica em português.
Gostaria de ler um pouco mais.

Grato,
Ivan.

G-LOC

Olá Ivan. A bibliografia indicada cita outros livros como vários livros escritos pelo Boyington. Em português eu nem procurei.