Canal Forças de Defesa estreia nova série

Lavochkin La-200B, o ‘caça de orelhas de elefante’

Esta série de vídeos é dedicada aos patinhos feios e micos dos céus. Estamos falando de estranhos projetos e protótipos de caças que foram levados a sério, que chegaram a participar de concorrências e voos de teste. Mas que felizmente, tanto para os pilotos quanto para o bom gosto e o bom senso, perderam para projetos melhores e mais promissores.

O primeiro da série é o Lavochkin La-200B, um projeto da União Soviética dos anos 50, uma década repleta de novas experiências em design de caças a jato. O projeto atendeu a um requerimento soviético de novembro de 1951, que especificava um interceptador para qualquer tempo equipado com o novo e volumoso radar Sokol, que seria operado por um segundo tripulante.

O avião deveria levar combustível suficiente para patrulhas de duas horas e meia de duração no Norte da União Soviética. Dois bureaus de projeto soviéticos apresentaram propostas, Lavochkin e Yakovlev, ambos bem sucedidos no projeto de ótimos caças da Segunda Guerra Mundial, como o La-5 e o Yak-3. As suas propostas foram bem diferentes.

Hoje, quando ouvimos falar de caças bimotores de dois lugares, geralmente pensamos em aeronaves com assentos em tandem, ou seja, um à frente do outro, e motores instalados paralelamente. Mesmo em 1951, no início da era do jato, esta seria uma configuração usual. Mas a idéia da Lavochkin buscou justamente o caminho inverso: assentos lado a lado, o que não chegava a ser incomum, mas motores a jato dispostos em tandem, um na frente do outro!

Essa configuração já havia aparecido no projeto antecessor da Lavochkin, o La-200, apresentado para um requerimento de 1949, e do qual derivou o La-200B. O predecessor já não era muito belo. Mas como trazia a então tradicional tomada de ar no nariz da aeronave, não chegava a destoar tanto de outros caças da época, apenas chamando a atenção pela longa extensão da fuselagem à vante da cabine, necessária para acomodar o motor de vante. Porém, o novo projeto deveria acomodar, também no nariz, um grande domo de radar, bem onde estava a tomada de ar do La-200.

Assim, para o La-200B foi preciso projetar uma nova e curiosa disposição das entradas de ar: o turbojato Klimov VK-1 dianteiro, que era um motor similar ao dos belos caças Mig-15bis era servido por uma tomada de ar no queixo. Já o ar para o motor de trás provinha de duas tomadas nos dois lados do nariz, logo apelidadas de “orelhas de elefante“. O bocal de saída do motor dianteiro ficava na barriga, mas era difícil de ser visto, ao menos de perfil, devido à posição dos dois grandes e desajeitados tanques externos sob as asas, indispensáveis para garantir a autonomia desejada. Se o modelo La-200 já não primava pela beleza, o bureau Lavochkin, ao persistir na configuração de motores em tandem no La-200B, acabou criando uma verdadeira aberração.

Apesar da estética, o La-200B até que possuía algumas qualidades. Graças ao bom perfil das asas enflexadas, o jato até que voou bem,e participou de um programa de testes bastante extenso e de comparativos com seu competidor. Ou seja: havia esperança de que ele entrasse em serviço. O protótipo da Lavochkin atingiu a velocidade máxima de 1.030 km/h e o tempo de menos de 3 minutos para atingir 5.000 metros de altitude, números respeitáveis para interceptadores pesados naquela época.

Mas o seu competidor do escritório de projetos Yakovlev, o Yak-120 ganhou a dura disputa com uma configuração mais simples e tradicional, de assentos em tandem e motores nas asas. O Yak-120 também ficou conhecido como Yak-25, o que costuma gerar confusão com outro caça do bureau, mais antigo. A mesma configuração do Yak-25 foi adotada em uma prolífica família, que terminou no Yak-28P, produzido até 1967.

Muito antes disso a Lavochkin, que tanto se destacou na II Guerra Mundial com os excelentes caças a pistão La-5, se despediria do design de caças. O último deles foi, diferentemente do feioso La-200B de orelhas de elefante, um caça razoavelmente bonito, de asas em delta, chamado La-250. Mas, também em contraste com o La-200B, o elegante La-250 tinha desempenho sofrível, e tal qual seu primo feio, não vingou.

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12 Comentários
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Ricardo da Silva

Aguardando pelos próximos episódios !!

JuggerBR

Essa não conhecia… Mas se for contar só as histórias dos que não vingaram, então o F-117 vai ficar de fora, pra mim ele é mais um avião de brinquedo com ângulos bizarros que uma aeronave operacional…

Maurício Veiga

O F 117 foi operacional e participou de combates na invasão do Panamá e nas guerras do Golfo, porém problemas de fadiga estrutural e na suposta invisibilidade assim como a produção limitada tornaram sua vida operacional curta, consequências da vanguarda do pioneirismo associado a este projeto…

Leandro Costa

E mesmo assim está de volta aos ares com uma certa regularidade. Aparentemente ele vem servindo como Agressor Stealth para USAF e USN/USMC.

Jad Bal Ja

Olha, dizer que La-250 era elegante tbm era meio exagerado né? Era feinho tbm com aquela tromba caída. Muito bom o vídeo.

Antoniokings

O Lavochkin não ficou tão feio assim.
Foi o que se pode arrumar.

JuggerBR

Tinhas varias soluções mais simples, motores em tandem, ou sobrepostos, nas asas, etc… Nesse arranjo que fizeram tinha mais problemas que acertos, fico pensando no empuxo desigual dos motores, temperatura do bocal de saída do motor 1, por exemplo…

Wagner

Excelente!!!!

Flanker

Acho que a série do F-5 ainda não terminou. Falta a evolução das séries iniciais para os definitivos F-5E/F e o promissor F-20.

carvalho2008

Mestre Galante, monta uma sobre o Boeing Skyfox!!!! Foi uma grande sacada!!!

Ricardo da Silva

Se a pergunta for séria:
No YB-70 eram 3 entre a entrada de ar os motores, logo à frente dos motores centrais. O difusor da entrada de ar abria o espaço interno;
Já no B-58 as Armas eram levadas em um grande pod central sob a fuselagem que na verdade era dividido em duas partes. a externa levava combustível para a viagem de “ida” e a interna era a arma propriamente dita.