As alternativas ao programa indiano MMRCA

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O Poder Aéreo analisa algumas das alternativas que a IAF poderia adotar frente a um eventual cancelamento do MMRCA

 São grandes as expectativas em todo o mundo sobre o provável anúncio do vencedor da disputa pelo MMRCA (aeronave de combate multitarefa de porte médio), o programa indiano que busca um novo caça para a IAF (India Air Force). A competição, que inicialmente contava com seis aeronaves, atualmente encontra-se restrita a dois caças (o Eurofighter Typhoon e o Dassault Rafale).

Foi longo e tortuoso o caminho percorrido pelo programa MMRCA até aqui. E muito disto deve-se ao complicado processo de escolha da IAF, que buscava a melhor alternativa considerando três pontos básicos desconexos: desempenho da aeronave e suas características técnicas, custos de aquisição e de ciclo de vida e compensações industriais e tecnológicas (offsets).

Infelizmente, considerando a forma como o programa foi estruturado, não foi possível obter o melhor dos três pontos citados acima reunidos uma única proposta. Um dos pontos básicos do programa foi a total separação dos critérios técnicos dos aspectos econômicos, sendo que estes últimos foram avaliados após a definição das performances dos caças.

Tanto o Eurofighter Typhoon quanto o Dassault Rafale podem ter se destacado do ponto de vista técnico (considerando os critérios adotados pela IAF), mas estão longe de serem as aeronaves com ciclos de operação e custos de aquisição mais baixos. Com a formação de um “shortlist” composto pelas duas aeronaves mais caras de toda a concorrência, um dos principais critérios do processo (a oferta com o menor preço) simplesmente perdeu toda a sua força nesta reta final.

É provável que, mesmo próximo de uma decisão, muitas autoridades dentro da Índia estejam questionando o processo de seleção. Principalmente em um momento onde os custos do programa sofreram elevações diante das quedas da rúpia frente a outras moedas internacionais. Segundo análises recentes, o valor do programa pode atingir a cifra de US$ 20 bilhões.

Diante deste quadro, já existem correntes dentro e fora da Índia que defendem o cancelamento do programa. Algumas opiniões advogam que a IAF gastará muito dinheiro em uma aeronave que não será exatamente a última palavra em tecnologia e desempenho dentro de dez anos. Mas se o programa MMRCA fosse cancelado, quais seriam as opções da Índia?

A questão central é que o programa não pode simplesmente ser cancelado. A Índia necessita substituir seus caças mais antigos e fortalecer o seu poder aéreo. Em ambas as situações há uma certa urgência. Portanto, o eventual cancelamento do MMRCA deveria ser seguido por uma ação no curto ou médio prazo.

Considerando a hipótese do cancelamento do MMRCA e as necessidades urgentes da IAF, algumas opções foram levantadas. Elas foram listadas abaixo.

Aquisição de mais caças Su-30 MKI “Super Sukhoi” – o Sukhoi Su-30MKI é, de longe, o principal caça da IAF, sendo uma aeronave moderna e de construção recente. Além disso, a IAF anunciou recentemente que pretende comprar mais destes caças só que em uma versão mais moderna. O cancelamento do MMRCA poderia ser compensado com a compra de mais “Super Sukhoi” que, grosso modo, é uma aeronave da mesma geração dos dois caças que concorrem ao MMRCA. A aquisição de mais Su-30 MKI teria um custo bem menor, assim como um tempo para entrar em atividade bastante reduzido. Porém, a IAF concentraria muito das suas forças em um único modelo de caça.

Aquisição de caças Mirage 2000-9 – é público e notório que os Emirados Árabes Unidos (EAU) pretendem adquirir um novo caça, desde que encontrem compradores para os seus atuais Mirage 2000-9. Estes aviões são, sem sobra de dúvida, os mais avançados caças da família Mirage 2000, incorporando tecnologias e soluções empregadas no Rafale. Deve-se notar que muitas das soluções adotadas nos “-9” também deverão ser empregadas na modernização dos Mirage 2000H da IAF, cujo contrato de foi assinado com a Dassault recentemente. Portanto, a compra dos Mirage 2000-9 dos EAU pela Índia representaria um fortalecimento da IAF no curto prazo e introduziria uma aeronave que, tecnicamente, estará muito próxima do Mirage 2000H modernizado. Nesta solução, a IAF incorporaria um número considerável de caças relativamente modernos, num período bastante curto e por um preço bem inferior quando comparado com a aquisição de caças novos. Mas o ponto negativo nesta opção  é a quantidade. O número total de unidades (pouco mais de 60) seria quase a metade do proposto no MMRCA (126).

Emprego dos recursos em projetos locais – o volume de recursos previstos para o programa MMRCA é considerável (estimado em US$ 20bilhões) e o dispêndio destes recursos em caças projetados fora da Índia pode ser questionado por parlamentares daquele país. Estes recursos poderiam ser empregados em projetos locais como o desenvolvimento do LCA Tejas e do futuro caça furtivo da Índia e da Russia (FGFA – Fifth Generation Fighter Aircraft). Tais medidas teriam forte apelo popular, mas seriam soluções para o médio/longo prazo uma vez que ambos encontram-se em estágio de desenvolvimento. Esta decisão faria mais sentido se fosse associada à introdução de um “caça-tampão”, que pudesse entrar em atividade rapidamente e na quantidade exigida pela IAF.

Complementação da dotação de caças MiG-29 – A IAF possui em seu inventário pouco menos de 70 MiG-29 que, no momento, estão sofrendo um grande processo de revitalização e atualização dos seus sistemas. Tanto pela quantidade de exemplares como pela atualização em andamento, estas aeronaves terão um peso significativo no poderio da IAF os próximos anos, ficando atrás somente dos Su-30 MKI. Deve-se destacar que os recursos anunciados para este “up-grade” são bastante baixos, tornando a relação custo-benefício extremamente atraente. A compra de mais células usadas/estocadas de MiG-29 e eventual modernização das mesmas aumentaria o poder de combate da IAF e forneceria uma solução provisória (“caça-tampão”) com custos aceitáveis até a introdução de novos caças como o FGFA ou o Tejas.

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Mauricio R.

A Índia deve focar no Flanker e no Tejas, tanto a opção pelo Mirage como pelo Fulcrum, são somente tampões p/ o FGFA e principalmente o AMCA. O Tejas é fundamental tanto p/ o desenvolvimento de tecnologias próprias, como contra peso as compras de mais sistemas russos. A prática atual de somente adicionar tipos e mais tipos ao inventário, deve ser revista. A consolidação do inventário é necessária, até p/ simplificar a complicada e cara logística atual e possibilitar a liberação de fundos que poderiam permitir outros investimentos. Uma aeronave mais ofensiva, nos moldes do B-1, capaz de carregar grandes… Read more »

Almeida

O problema dos indianos é que eles não querem ficar nas mãos de poucos, ou apenas um, fornecedor externo. Se forem pelo caminho de mais Su-30MKI, no futuro terão apenas Tejas, Super Flanker e FGFA. Se optarem por tampões Mirage 2000-9 e/ou Mig-29SM para complementar a dotação atual, à longo prazo também terão apenas Tejas, Su-30MKI e FGFA. Em ambos os casos, estarão nas mãos do russos. Por isso esse embróglio com apenas o Rafale e o Typhoon como finalistas. Querem pagar caro por tecnologia sem futuro para não ficarem amarrados apenas aos russos, mas também com seus tradicionais parceiros… Read more »

DrCockroach

Bela materia e belos comentarios: valeu a leitura!

Se a razao falar mais alto, o MMRCA serah cancelado, mas se o orgulho (nao mencionando outras especulacoes) deles contar mais, haverah uma conclusao entre o Typhoon e o Rafale.

[]s!

Nick

Almeida fala em “apenas” SU-30MKI(que serão modernizados no padrão SU-35S), Tejas MK2 e FGFA :).

Sou a favor da racionalização. Maioria das FAs modernas usam 2 tipos de aeronaves, fazendo o famoso Hi-Lo. Os Indianos preferem o Hi-Mid-Lo.

O MMRCA é um tampão, caro, mas é um tampão. Seus MIG-21 estão caindo à uma taxa de 1por semana. Recentemente groundearam os Su-30MKI. Recentemente “brigavam” com Russia por causa do apoio logístico. Enquanto forem dependentes de fornecedores estrangeiros, faz sentido manter 2 caças de alto desempenho… Não tem saída.

[]’s

Vader

Cancelado o MMRCA a Índia deveria ter um caça americano em seu inventário.

Giordani RS

A Índia não quer ficar na dependência de um ou dois fornecedores. Eles já viveram essa situação de embargo e em pleno combate tiveram de deixar aviões no solo, mesmo que tenham conquistado a superioridade aérea no conflito. É uma política de Estado, cara, mas sensata.
Convenhamos, mas que inveja desse problema hindu! O pior tampax deles é o tejas! E pior no sentido de que é menos ofensivo…
O MMRCA é como uma partida de futebol. A lógica não se aplica…

Se cancelado o MMRCA…smell of F-16 in the air …

Almeida

Nick, quando eu disse “apenas” me referia à “apenas modelos russos”. 😉 Concordo com a racionalização e que as capacidades de uma linha de frente formada por Tejas Mk2, SU-30MKI+ e Su-50 serão impressionantes! Mas se os russos não derem conta da logística ou fecharem as portas, ficaria difícil dar conta da missão apenas com o Tejas… eles precisam mesmo variar. Só não precisam gastar tanto com isso. Imaginem agora uma linha de frente com: 200 Su-50 (motores AL-41F1/117S) 272 Su-30MKI (upgrade para motores AL-41F1/117S) 126 F/A-18 E/F (motores F414-GE-400) 260 Tejas Mk2 (motor F414-GE-400) Totalizando 42 esquadrões de 20… Read more »

Alfredo Araujo

Concordo com o Almeida…

Na minha opnião, a melhor solução seria o F-18.

Com o Super Vespa, a FAI teria o mais moderno avião de 4° geração, mais testado em combate, porém, com menor probabilidade de futuros upgrades.
Sem contar no curto espaço de tempo, o custo menor, em relação aos europeus e ainda conseguiriam manter a FAI voando aviões de 3 fornecedores diferentes.

Nick

Caro Almeida,

Ok, já entendi. Mas de qualquer forma eu mesmo frisei que eles precisam manter duas linhas de fornecedores, e até mesmo 2 linhas de caças diferentes, o que sugere que o MMRCA não será cancelado.

Quando eles escolheram o GE-414 como motor do Tejas, imaginei que ia dar F-18 E… mas pelo jeito, preocupações com várias linhas de suprimentos não é a prioridade deles.

[]’s

Marcos

Tá todo mundo errado.

A melhor alternativa é seguir o exemplo do Brasil e lançar
o programa MMRCA-2.

Almeida

Pois é Nick! E agora também estou apostando na vitória do Rafale por conta da venda de 500 MICAs para a IAF, mas em se tratando dos indianos, tudo pode acontecer!

Agora, imagine a bagunça de ter escolhido o GE-414 pro Tejas em detrimento do EJ-200 e agora escolher o Typhoon! Sério, esses indianos são loucos…