FAB terá sistema nacional de datalink para comunicação entre aeronaves

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Foi assinado contrato com a Mectron para o desenvolvimento do ‘Link BR2’ –  sistemas de datalink atuais da FAB ainda não permitem trocas de dados entre todas as aeronaves, o que deverá ser possível com o novo datalink

A Força Aérea Brasileira assinou nesta quinta-feira (6/12) o contrato para o desenvolvimento do “Link BR2”, tecnologia que vai permitir os aviões trocarem dados entre si em pleno voo. O acordo com a empresa Mectron, de São José dos Campos (SP), prevê que até 2016 o sistema deverá estar instalado em quatro caças F-5M, quatro A-29 e dois E-99, além de estações em solo, inclusive para uso do Exército e da Marinha. O planejamento prevê instalar o Link BR2 futuramente em um maior número de aeronaves, além de outros modelos, como helicópteros, aviões de patrulha e de reabastecimento em voo.

“O sistema de datalink é um multiplicador de força para qualquer Força Aérea”, afirmou o Brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Júnior, Presidente da Comissão Coordenadora do Programa Aeronave de Combate (COPAC), organização da FAB responsável por projetos de aquisição. O Link BR2 vai integrar mais aeronaves da Força Aérea em uma só rede, diferente dos modelos atualmente em uso, que são restritos para aeronaves específicas. Com o novo datalink será possível, por exemplo, um piloto conseguir visualizar todos os dados captados pelo radar de outro avião.

O Brigadeiro Baptista Júnior lembrou ainda que o contrato assinado envolve não apenas a aquisição do sistema, mas o seu desenvolvimento no Brasil. “É uma oportunidade para a indústria nacional, para que a gente traga não somente a fabricação do hardware, do rádio, daquilo que é fabricado, mas principalmente que a gente traga a inteligência que está dentro deste processo do datalink”, explicou.

Já o presidente da Mectron, Gustavo Ramos, ressaltou que este contrato é importante para assegurar o desenvolvimento do Brasil na área de tecnologia. “É uma condição sine qua non azer o desenvolvimento no Brasil para que a indústria nacional de defesa possa ter essa competência, atender a essas necessidades, absorver tecnologia com garantia de segurança nacional e depois exportar para outros países e crescer ainda mais”, disse.

SAIBA MAIS – Leia a seguir entrevista com o Coronel-Aviador Francisco Guirado Bernabeu, um dos gerentes do projeto Link BR2, e o Coronel-Aviador Flávio Luis de Oliveira Pinto:

Agência Força Aérea – Qual a vantagem de uma aeronave utilizar datalink?

O datalink hoje representa um grande diferencial para uma Força Aérea, especificamente para aeronaves de combate, porque permite que elas troquem informações, por dados, sem a necessidade de comunicação por voz. Isso agiliza a comunicação entre os pilotos e aumenta muito a consciência situacional.

Agência Força Aérea – Como, na prática, ele pode ser utilizado?

Por exemplo, a síntese radar do E-99, uma aeronave que tem um radar bastante poderoso, pode ser repassada para um piloto de A-29, de maneira que este tenha condições de visualizar outras aeronaves, mesmo sem ter um radar à bordo Isso evita que o operador do E-99 e o piloto do A-29 tenham que estabelecer comunicação por voz.

Agência Força Aérea – E o Link BR2 serve para transmitir imagens também?

Serve. É possível a transmissão de imagens óticas ou de outros tipos de sensores, além de também mandar texto, o que também traz um grande ganho operacional. Uma aeronave pode enviar a imagem de um alvo para outra aeronave ou para um centro de comando e controle, a fim de verificar sua correta identificação e engajamento.Um comandante pode acompanhar visualmente o desenrolar de uma operação.

Agência Força Aérea – A adoção dessa tecnologia muda a forma de combater?

Muda. Por exemplo, utilizando o recurso do datalink, você pode enviar uma aeronave na frente, com o radar desligado, mas conhecendo todos os alvos à frente, repassados por uma aeronave que esteja mais atrás, esta sim com o radar ligado. Então, quer dizer, a aeronave da frente ao não utilizar o radar, vai estar mais escondida eletronicamente do que uma aeronave que esteja com o radar ligado. Essa aeronave da frente, portanto, pode se aproximar mais de seu alvo e fazer uso mais eficiente de seu armamento, por meio das informações passadas por outras aeronaves.

Agência Força Aérea – E é possível atirar utilizando os dados do Link BR2?

Sim, será possível. Não faz parte do escopo deste projeto, mas já previmos a possibilidade de fazer a escravização e o guiamento de mísseis a partir de alvos captados por sensores de outras aeronaves e transmitidos via data link.

Agência Força Aérea – Como será a implantação do Link BR2 na FAB?

Inicialmente nós vamos instalar o datalink em quatro aeronaves F-5M, quatro aeronaves A-29 e duas aeronaves E-99M. Com o datalink instalado nessas aeronaves, vamos fazer uma prova de conceito e testar todas as funcionalidades que foram planejadas. Depois que validarmos a solução, vamos implementar nas demais aeronaves da Força Aérea.

Agência Força Aérea – E o A-1 modernizado, terá o Link BR2?

O Link BR2 já está sendo instalado no A-1, só que o A-1 está recebendo a primeira versão do link BR2. Neste contrato que estamos assinando, vamos ter o link BR2 com capacidades adicionais, mas essa nova versão será capaz de trocar dados com a versão instalada no A-1 .

Agência Força Aérea – Qualquer aeronave pode receber uma tecnologia como essa?

Sim, mas seu uso depende de como a aeronave vai ser utilizada em um cenário operacional. O equipamento datalink é mais ou menos do tamanho de uma caixa de sapatos. Nessa caixa haverá um rádio e o terminal datalink, com protocolos de comunicação e aplicativos para interagir com os pilotos e os sistemas das aeronaves

Agência Força Aérea – E que tipos de aeronaves devem receber datalink?

Depende da missão dessa aeronave. Aeronaves de caça, aeronaves de reconhecimento, aeronaves de patrulha, de reabastecimento, de controle e alerta em voo, helicópteros…. qualquer aeronave que tenha uma função relevante no teatro de operações.

Agência Força Aérea – A FAB já utiliza algum tipo de datalink? Qual a diferença para o Link BR2?

Nós já utilizamos alguns datalinks. Nós temos um datalink que permite que apenas aeronaves F-5 conversem entre si; temos outro datalink para as aeronaves A-29, e temos o Link BR1, que permite a comunicação entre as aeronaves E-99 e R-99 com estações em solo. Foi a partir da experiência adquirida com esses datalinks, que conseguimos desenvolver os requisitos para o Link BR2, que vai permitir que todas as aeronaves possam conversar entre si com grande capacidade de transferência de dados. Será possível, com esse novo sistema, incluir mais de 1.000 aeronaves, em diversas redes, trocando dados, simultaneamente, entre si.

FONTE / FOTOS DO ALTO: FAB (Agência Força Aérea) – título original foi reduzido e acrescentamos subtítulo ao texto

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HMS TIRELESS

Parabéns à FAB, que continua investindo em novas capacidades para a força emque pese as picuinhas da “cumpanhêrada” do MD.

Diegolatm

Uma ótima noticia, mas os colegas não acham timidez demais em somente colocar o sistema em quatro caças F-5M, quatro A-29 e dois E-99 isso claro, somente daqui a 4 anos?

Nick

Finalmente uma boa notícia para a FAB. Agora, não sabia que o data-link do F-5EM só conversa com outro F-5EM. No minimo deveria conversar com os E-99.

[]’s

Clésio Luiz

@Diegolatm Isso deve ser a parte inicial do projeto, ou um datalink “beta”, onde você sai testando numa variedade de plataformas até consertar todos os “bugs”. Depois com o sistema pronto e homologado, deve ser instalado no resto da frota. Eu imagino que esse datalink novo não vá precisar de equipamento novo para ser instalado nas aeronaves, já que os atuais já são controlados por software e podem em teoria receber uma atualização para operar o sistema de datalink novo. Mas posso estar enganado, já que a eletrônica avança rápido e os rádios atuais podem não ter capacidade de lidar… Read more »

andreas

A primeira foto desse post é incrível!!!! Não tem em resolução maior?

Darkman

Uma boa essa implementação que será feita nos aviões da FAB, mas tb ruim pq vamos ter uma vida longa aos F5M da FAB.

Com isso a vida vai se prolongando no meu pensamento.

Marcelo

“…Será possível, com esse novo sistema, incluir mais de 1.000 aeronaves, em diversas redes,…”

Não está superdimensionado não? hehehehe 🙂

marciomacedo

Este link já não existe, construído recentemente pela Embraer?

Justin Case

Amigos, boa tarde. O link BR1 indica uma ligação ponto a ponto. O link BR2 refere-se às ligações de aeronaves em rede. No momento, existe várias versões de link BR2, implementadas em diferentes aeronaves. Existe BR2 do F-5M, BR2 do A-29 e até (talvez) uma versão BR2 para o A-1M. Parece que não é possível conectar aeronaves que usem versões diferentes, nem essas redes com o AEW. Esse novo BR2 pretende unificar e conectar essas redes, além de aumentar sua capacidade operacional. Vai ser mais uma tentativa de implementar esse link BR2 único, cuja iniciativa se arrasta há mais de… Read more »

Justin Case

Ainda… …existeM várias versões… foi mal. O número de aeronaves que é possível conectar não é um parâmetro assim tão importante. Como em qualquer outra rede de dados, uma grande quantidade de conexões vai afetar negativamente a capacidade de atualização (update rate). Certamente a quantidade de informação transmitida, assim como a criptografia ou o salto de frequência tornam ainda mais lento o sistema. Para um data-link de comando e controle, pode ser considerado adequado um update rate de 10 segundos entre as fontes de informação. Para um data-link tático, uma atualização a cada décimo de segundo seria adequada. Para isso,… Read more »

Nick

Caro Justin,

Então esperamos que esse link BR2, já “nasça” com “banda larga”. 🙂

Eu imaginava por exemplo que os F-5EM já conseguiam enxergar o que o R-99 “via”. Infelizmente a coisa ainda não é bem assim.

[]’s

Guilherme Poggio

Troca de informações entre aeronaves não é algo trivial. Países do primeiro mundo, com recursos dezenas de vezes maiores que os nossos, também possuem deficiências nesta área. Só como exemplo, aeronaves furtivas não atuam em guerra centrada em rede. Simplesmente porque o avançado sistema de troca de informações delas (data link) não permite que outras aeronaves não furtivas participem. No caso do avançado F-35, ele só “fala” com outro F-35 e precisa ser um por vez. Em outras palavras, os aviões de quinta geração lutam uma guerra totalmente desconxa das demais aeronaves quando o assunto é troca de dados. É… Read more »

Renato Oliveira

Que coisa ‘boa’. Ao invés de usar um DL comercial, vamos usar um brazuca, pra meia dúzia de aeronaves. Imitar os franceses, ao ter sistemas exclusivos para suas aeronaves, é uma péssima ideia se você não quer gastar o dinheiro necessário para tornar-se efetivo.

A China pode desenvolver seu próprio DL, porque não tem medo de gastar com defesa. Banalândia não.

Guilherme Poggio

Caro Renato Oliveira Troca de informações em caráter sigiloso deveria ser prioridade em qualquer Força Armada do mundo. Na verdade o principal programa militar do Brasil não deveria ser o F-X2, ou PROSUPER ou Guarani. Deveria ser um satélite de comunicação exclusivo de uso militar, coisa que nós não temos e não custa o que custa um Submarino Nuclear. Aliás, operar submarino nuclear sem o emprego de satélites próprios é outro absurdo, mas isso fica para outro blog. E neste campo temos os “datalink”. Todos deveriam dar suporte a um datalink exclusivo e nacional. Lembrando da China que você citou,… Read more »

Optimus

Ótima notícia mesmo!

Mas desculpem a pergunta (provavelmente meio tola) desse neófito aqui… e se por um milagre houvesse finalmente uma definição no caso do F-X2, qualquer que seja o escolhido, como ficaria essa integração? Esse tipo de coisa esta definida na TT?!

Sds.

Mauricio R.

“Vai ser mais uma tentativa de implementar esse link BR2 único, cuja iniciativa se arrasta há mais de 10 anos.”

Parece que aquele lero-lero que a Embraer vende, sobre sua capacidade em integrar “sistemas complexos”, virou novela.

Soyuz

Este é um programa digno dos maiores elogios até porque não reúne tudo que normalmente encontramos em programas de defesa no Brasil. Não tiveram idiotas oportunistas como Jobim ou Amorim dando palpites. Não teve “alianças estratégias” com terceiros que servem apenas para inflacionar preços. Não teve presidente da Embraer dando opinião. Não teve AEL, dizendo que a tecnologia era toda nacional (Os rádios são alemães) Não teve acordos de participação industrial, onde se produz uma asa aqui, um flap ali, mas a capacidade de engenharia de projeto que é bom fica no exterior. Enfim, este programa foi direto ao ponto;… Read more »

Justin Case

Soyuz, boa tarde. Pelo que ouvi, não foi uma escolha direta, mas resultado de um processo de seleção padrão, com RFI, RFP, ofertas, BAFO e outras coisas que lemos sempre por aqui. A Embraer também estava entre as concorrentes, mas foi vencida. Tanto Embraer como Mectron certamente têm empresas estrangeiras que lhe dão suporte tecnológico nas áreas onde são carentes. A solução não vai ser criada “do zero”, com tecnologia totalmente nacional. Ninguém pretende reinventar a roda. Além disso, certamente as indústrias aeronáuticas voltarão a ser chamadas para contribuir na integração desse novo sistema nas aeronaves. O domínio do software… Read more »

Soyuz

Exatamente o que escrevi Justin,

Ninguem reinventou a roda (usaram hardware alemão).

O projeto não sou entregue a Embraer sem maior analise critica (houve competição e ela perdeu).

Não houve demagogia politica sobre o programa, nem “alianças estratégicas”.

Por estes e outros motivos que este programa pra mim é especial.

Mauricio R.

Dado o “ruído” gerado pela decisão do Sisfron, a “derrota” da Embraer nesta concorrência, pareceu “conveniente” em demasia.

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