finalistas-f-x2

vinheta-clippingPrincipal articulador do projeto de criação da Embraer, o engenheiro Ozires Silva considera inaceitável que a empresa brasileira esteja fora da concorrência do programa de aquisição dos caças de combate da Força Aérea Brasileira (FAB). “Não posso aceitar que alguém diga que a Embraer não é capaz de fazer um avião como esse. Esta é uma posição restritiva a uma companhia nacional, líder mundial no seu segmento e que já fabricou mais de 8 mil aviões, que operam hoje em 80 países do mundo.”

Segundo Silva, se não fosse a competência técnica da empresa, a FAB não entregaria a ela o projeto do cargueiro KC-390, o maior e mais pesado avião já feito pela companhia. “Assim como fez com o KC-390, a FAB deveria discutir o projeto do novo caça com a Embraer e comprar dela o novo avião. O que a empresa não souber fazer, ela pode desenvolver em parceria, garantindo o domínio do projeto em suas mãos.”

A outra hipótese defendida por Silva, mas que ele apresenta como segunda opção, é que a FAB escolha um dos três caças que estão sendo oferecidos pelos competidores do FX-2 (Boeing, Dassault e Gripen) e coloque a Embraer como contratante principal. “A compra do Xavante na década de 70 foi feita dessa forma e, graças a este sistema, a Embraer conseguiu arrancar todas as tecnologias que precisava dos italianos para desenvolver a linha de produção do Bandeirante, que começava a ser fabricado”, explica o ex-executivo da empresa brasileira.

Silva disse que não desistirá de lutar para que o governo brasileiro reconheça que comprar da indústria nacional os caças para a FAB é a melhor alternativa. O executivo lembra com amargura o dia em que o governo brasileiro anunciou a decisão de substituir o antigo Boeing presidencial por uma aeronave Airbus, em detrimento do avião brasileiro Embraer 190, que posteriormente foi adquirido como opção para viagens de alcance mais regional.

No começo dos anos 90, durante a fase final do processo de seleção dos aviões do programa JPATS, nos Estados Unidos, Silva esteve na cidade de Wichita, no Estado do Kansas, conhecida como a capital do avião, para uma reunião de trabalho. Naquela ocasião, segundo ele, todas as casas exibiam nas janelas a bandeira do país, o que ele interpretou como sendo um ato simbólico de defesa da empresa americana em uma das mais importantes concorrências do setor de defesa já lançadas pelo governo dos Estados Unidos.

“No dia em que o governo brasileiro anunciou a compra do Airbus presidencial, eu fui o único a exibir a bandeira do Brasil na janela, para demonstrar o meu grau de insatisfação com aquela decisão”, conta o executivo.

Silva ressalta que “gostaria que a FAB entregasse o projeto dos caças para a Embraer fazer, de acordo com as suas especificações e necessidades, como tem acontecido nos últimos 40 anos”. O F-X2, da forma como está sendo conduzido, segundo ele, talvez até gere alguma tecnologia, para confirmar a regra, mas não será nada muito significativo para o país.

O ex presidente da Embraer disse que nos Estados Unidos nenhum equipamento de defesa pode ser comprado de empresa estrangeira e, quando existe o interesse por um produto de fora, a lei “Buy American Act”, de 1933, exige que o fornecedor se associe a uma empresa americana e que a compra seja feita a partir dela. Ciente disso, a Embraer criou recentemente uma empresa, em Melbourne, no Estado da Flórida, que se dedicará inicialmente a montagem final de jatos executivos da linha Phenom.

Outro objetivo por trás da instalação de uma unidade de fabricação em Melbourne, segundo Silva, é colocar a Embraer na condição de empresa americana, o que aumenta suas vantagens na concorrência aberta pelo governo dos EUA, para aeronaves na categoria do Super Tucano. Para disputar o fornecimento de 711 aeronaves de treinamento militar para a Marinha e Força Aérea dos EUA, no começo dos anos 90, a Embraer teve que se associar com a Northrop, mas perdeu o contrato para a Beechcraft, que estava associada à suíça Pilatus.

A Beechcraft está de novo entre as competidoras da Embraer no novo processo de seleção aberto pela Força Aérea dos EUA, mas desta vez conta com o apoio político do Congresso americano. Segundo notícia divulgada pela agência “Reuters”, dois parlamentares americanos enviaram, na terça-feira, uma carta ao secretário de Estado, Robert Gates, pedindo que ele se oponha a qualquer tentativa de negociação do governo dos EUA para a compra dos aviões Super Tucano da Embraer.

Os parlamentares lembram que os militares americanos já investiram pesadamente no desenvolvimento do Hawker-Beechcraft AT-6B, aparelho fabricado pela empresa privada Hawker-Beechcraft. O governo americano, no entanto, já demonstrou grande interesse pelo Super Tucano, que já vem sendo testado, com sucesso, pela Marinha dos Estados Unidos. Além disso, segundo uma fonte ligada a Embraer, “o Super Tucano é o único modelo no mundo com operação comprovada não só no Brasil, como também em missões antiguerrilha na Colômbia, que possui em operação 25 unidades da aeronave”.

O ministro brasileiro da Defesa, Nelson Jobim, chegou a admitir, em entrevista, a possibilidade de compra direta, sem licitação, pelos Estados Unidos, de até 200 Super Tucano. A efetivação desse contrato, segundo declarou na época, dependia da formalização de um acordo de cooperação na área de defesa, que o Brasil estaria costurando com o governo do presidente Barack Obama.

FONTE: Valor On Line

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andrepoa

Falo com a experiência de quem já trabalhou na bancada de laboratório nos anos 80. As afirmações do Sr Ozires estão equivocadas, motivos: * Por ocasião do desenvolvimento do AMX a FAB com seus F-5 e mirages não estava TÃO defasada em relação ao mundo quanto hoje. Não temos tempo para esperar um desenvolvimento solo da EMBRAER. * Por ocasião dequele projeto AMX coube a EMBRAER somente um terço do produto final. * O sr Ozires está mais para o tempo (heróico por sinal) dos bandeirantes do que desenvolvimento de produtos de elevadissima tecnologia agregada e que somente os EUA… Read more »

Ivan

André, O Eng. Ozires Silva pode ser questionado como administrador nos tempos modernos, mas, como vc registrou, foi um corajoso desbravador (heróico foi sua expressão) nos tempos que quase nada tínhamos. Merece ser ouvido. Minha posição, pelo pouco que consigo acompanhar nos meios normais de comunicação especializada ou não, está entre a sua e com Cmdte Ozires, considerando que os dois são patriotas incontestes. A Embraer não tem condições de desenvolver sozinha um caça de geração 4,5, vc tem razão. Mas a participação da Embraer no processo FX-2 tem sido largamente mitigada, no que Ozires tem razão. Entretanto, o Edouard… Read more »

Francisco AMX

Concordo com vc Andre-poa! E digo mais, a EMBRAER já lucrou e lucra com a FAB, e recebeu muitos incentivos federais! não é só pela sua eficiência não! existe lob forte e marketing! natural! Agora achar que tudo tem que ser feito pela empresa? sem ver viabilidade? vamos ter um caça made BR, do nível dos concorrentes, por quanto? se um AMX custou 2 F-16 de último bloco, naquela época, o quanto poderia custar um caça feito pela EMBRAER? e se uma Boeing se associasse a ela para produzir um SH aqui, não iria encarecer mais ainda o produto? ou… Read more »

casag

Se a EMBRAER tivesse que desenvolver um caça da categoria que se está procurando agora, teria de ter começado o projeto a dez anos no mínimo, não é mesmo? Imaginem o tempo de teste de uma fuselagen supersônica inédita para a companhia, se é que se chegaria a ela. E os controles digitais? Sistemas de armas? Outras “cositas mas” que uma aeronave desta necessita? Osíres foi um marco da indústria brasileira mas, no momento, está fazendo marola com um argumento que, mais do que nós, êle sabe ser inviável. Para que serve esta marola não é lá um grande mistério.… Read more »

flaviodepaula

“A compra do Xavante na década de 70 foi feita dessa forma e, graças a este sistema, a Embraer conseguiu arrancar todas as tecnologias que precisava dos italianos para desenvolver a linha de produção do Bandeirante, que começava a ser fabricado” Acredito que só por esta frase da pra ver que este senhor esta mais preocupado com os lucros e tecnologias que a Embraer possa ter para seus aviões civis do que com o caça para a FAB Realmente, este sr foi muito importante para o Brasil, e continua sendo, claro, mas acho que devemos nos pautar agora sobre os… Read more »

Felipe Cps

Ai ai ai, quanto blá blá blá…

É possível a Embraer fazer um caça supersônico 100% nacional? Claro: dê-lhe 40 bilhões de reais e 20 anos e sai…

De resto, o cidadão joga pra torcida com um discurso desenvolvimentista muito do barato e que já vimos no que dá em outras ocasiões… Aliás, o “caça” AMX é uma prova viva disso…

Sds.

Francisco AMX

Agora que a SAAB e a EMBRAER juntas poderiam fazer um produto mundial, não tenho dúvidas! pena que eles não se “animam”… acho que um caça nos moldes do NG não atrapalhariam os “negócios” estratégicos com a França, diferente do SH… pois sabemos que os USA não aceitam que seu amado tenha “amante” fora da relação “principal”… já a Suécia em parceria industrial com o Brasil, com seu produto, o NG, poria uma pressão natural sobre o governo e a FAB de forma sadia e bacana… e digo mais, caso o Rafale vença e a SAAB se una a EMBRAER… Read more »

Ivan

Francisco,

Gostei muito da sua idéia do futuro caça de 5º geração tripartite.
Apenas acho que o caminho seria primeiro com a Dassault, provável parceiro escolhido pelo governo, em seguida com SAAB.
Isto é claro se a Dassault não começar a pensar que é a Boeing, fica em Seatle e pode tratar os latino americanos como quiser… He he he.

Ivan.

casag

Francisco AMX,

Sua idéia do caça de quinta geração tripartite é perfeita. Já nasceria com encomendas de três países, que tornaria o preço competitivo em qualquer situação.

Pena que o perfeito raramente frequente a vida real. Mas, quem sabe.

Ivan

Chicão,

Já somos três a sonhar…
He he he…

Ivan.

Francisco AMX

Ivan e casag,

faz tempo que eu sonho com isso, e sinceramente não acho que 2 vetores, no mundo de hoje, seja um empecilho logístico não! aliás, com a economia gerada pode-se ter em estoque mais sobreçalentes!
E digo mais, nem falo em NG, o Gripen C/D atualizado com AESA já estaria bem bom para ser o Low da equação!

abração aos 2 brodis!

Felipe Cps

Chicão, Ivan e Casag: o que vocês não estão entendendo é que o FX2 SERÁ para compor um hi-low. A FAB até já tem o vetor low: chama-se F-5EM.

Sds.

Edmar

Caros Amigos.: É sem dúvida que a França já pense em um caça de 5 Geração. Mas para desenvolver um caça como esse é caro e os Franceses sabém muito bem disso!!! É por isso que eu acho que os Franceses estão dispostos a transferir tecnologia para o Brasil, pois, eles procuram um parceiro para ajudar nesse investimento!!! Mesmo a França que é um país de 1 Mundo não conseguiria financiar um projeto deste sozinha, então por isso, acho que o Brasil poderia ser um de seus parceiros neste investimento. “O “Dassault Rafale F-3” é um caça de 4,5 Geração,… Read more »

Roberto da Silva Rocha

Br + Fr + Índia

Walderson

Galera, não é nada pessoal, mas acho muito engraçado alguns aqui malharem a EMBRAER. E malham como se ela não fizesse nada que não se faça nos outros países. A EMBRAER se dá bem às custas da FAB, pois bem, temos de falar com os americanos – os otários ou os espertos, depende do ponto de vista – que a Boeing, a Lockhed (não sei se se escreve assim) e outras empresas se dão bem às custas deles. Ou então, lá está certo e aqui está errado. Caramba, galera, o Governo Americano dá dinheiro – investe – nas empresas para… Read more »

Walderson

Galera, em tempo. Acho que a EMBRAER ainda não tem capacidade para fabricar um jato – 100%. Mas capacidade para aprender a fazer, isso tenho certeza que ela possui. E também penso que o Governo deve ajudá-la a desenvolver-se, sim. Assim como a outras empresas, tais como: AkAER, AVIBRÁS, MECTRON etc. Apenas penso que alguns deveriam ser mais justos. A empresa é uma das melhores do mundo. Penso que enquanto brasileiros deveríamos valorizar mais o que é nosso. Se nossos governantes são ruim, problema nosso – do povo -, pois fomos nós que os colocamos lá. É só na próxima… Read more »

Perácio Bicalho

Qualquer que seja a decisão na compra dos caças, interesses vão ser contemplados e interesses serão contrariados. Há sempre dois lados, qualquer que seja a situação. O mundo é assim. Nesse caso, o melhor seria seguir o caminho do bom senso. Estão transformando uma questão técnica em política. Os caças serão utilizados pela aeronáautica? Que a aeronáutica decida a questão. Quanto a EMBRAER, já passou, e muito, da hora de o Governo se voltar para a empresa brasileira e desenvolver a nossa tecnologia. Demore o quanto demorar. Em qualquer situação na vida, há sempre um primeiro passo!