Shutdown nos EUA atrasa programa ultrassecreto do novo míssil JATM em três meses, dizem parlamentares

O programa ultrassecreto do novo míssil ar-ar de longo alcance AIM-260 Joint Advanced Tactical Missile (JATM) foi atrasado em pelo menos três meses por causa da paralisação parcial do governo dos Estados Unidos, segundo membros do Comitê de Serviços Armados da Câmara (HASC).

A informação foi revelada em um relatório interno dos republicanos do HASC, divulgado em 24 de outubro, que lista os principais impactos do shutdown sobre a segurança nacional norte-americana.

“Houve um atraso de três meses na implantação do programa da Força Aérea JATM, que é central para nossas capacidades de combate aéreo”, diz o documento. “O JATM é necessário para alcançarmos a China, que avançou significativamente na capacidade de atingir ativos estratégicos com mísseis ar-ar de ultra longo alcance.”

Programa estratégico e sigiloso

Desenvolvido desde 2018 pela Lockheed Martin, o JATM foi projetado para substituir o AIM-120 AMRAAM — principal míssil radar guiado das forças aéreas e navais dos EUA. Embora detalhes técnicos permaneçam classificados, estima-se que o novo armamento tenha mais que o dobro do alcance do AMRAAM, mantendo compatibilidade com trilhos de lançamento existentes e baias internas de caças de 5ª geração como o F-22 Raptor e o F-35 Lightning II.

O atraso ocorre em um momento sensível: a Força Aérea dos EUA busca recuperar a paridade com os mísseis chineses PL-15 e PL-17, que teriam alcance superior ao AMRAAM, favorecendo aeronaves furtivas de Pequim em combates BVR (além do alcance visual).

Shutdown paralisa contratos e treinamento

O relatório do HASC alerta ainda que, enquanto durar a paralisação orçamentária, novos contratos não podem ser firmados nem renovados, o que afeta diretamente aquisições críticas para as Forças Armadas. Além disso, treinamentos e exercícios estão suspensos e manutenções essenciais vêm sendo adiadas.

Embora o documento não detalhe como quatro semanas de shutdown resultaram em um atraso de três meses no cronograma do JATM, parlamentares afirmam que a interrupção do fluxo contratual é um fator-chave.

Um porta-voz da Força Aérea declarou que informações sobre o JATM “estão protegidas por medidas de segurança reforçadas” e se recusou a confirmar ou negar o atraso.

Pressão estratégica

O programa JATM já havia sofrido adiamentos anteriores. Testes do míssil foram realizados na Eglin Air Force Base, na Flórida, e autoridades esperavam a produção em escala a partir de 2023.

Durante sua sabatina no Senado em 9 de outubro, o general Kenneth Wilsbach — indicado para chefiar a Força Aérea — afirmou que dará atenção especial ao programa, ressaltando a necessidade de coordenação com a Marinha.

Enquanto isso, a Raytheon Technologies anunciou recentemente novos recordes de alcance do AMRAAM, e os EUA fecharam em julho um contrato recorde de US$ 3,5 bilhões para fornecimento de mísseis até 2031.

Cenário competitivo

Além do JATM, a Marinha dos EUA vem apostando no AIM-174B Gunslinger — versão aérea do míssil Standard Missile 6 —, com alcance superior ao AMRAAM, mas incompatível com as baias internas dos caças stealth.

Especialistas avaliam que a continuidade do shutdown ameaça não só o cronograma do JATM, mas a própria capacidade dos EUA de manter a vantagem tecnológica frente a adversários estratégicos como a China.

“Cada mês de atraso neste programa representa perda de vantagem em um cenário de rápida modernização chinesa”, alerta o analista militar Michael Kofman.

O desfecho da paralisação federal e a capacidade do Pentágono de retomar a execução orçamentária serão determinantes para o futuro próximo do míssil que pretende redefinir o combate aéreo de longo alcance nos EUA.■