O mítico Mikoyan Gurevich MiG-21 ‘Fishbed’- terceira parte: MiG-21 e F-7 em ação
Por Éverton Pedroza [1] e Sérgio Santana [2]
Desde que foram aceitos oficialmente para servir tanto à força aérea quanto na Aviação de Caça da Força de Defesa Aérea da URSS, bem como na Força Aérea popular de Libertação da China (PLAAF), os MiG-21 e F-7 foram protagonistas de ações não apenas nas mãos de pilotos soviéticos e chineses, mas também de outros países.
Dentre elas, destacam-se as Guerras do Vietnã, Irã x Iraque, Guerras árabe-israelenses, Guerras indo-paquistanesas e a Guerra Civil de Angola. O objetivo do texto é citar resumidamente (e em ordem alfabética) o histórico em combate desses aparelhos, tanto nas ações de ataque ao solo como na guerra aérea, mostrar teatros operacionais onde o ‘’Fishbed’’ foi relevante para dar a vitória a alguma das partes, tais como ocasiões em que seu emprego foi maciço, mas não teve ‘’efeito transformador’’para virar a mesa a favor do país usuário.
Além do recorde de produção para caças a jato, o “Fishbed” também detém o recorde de “caça a jato que mais participou de conflitos” em todos os tempos.

Afeganistão (Guerra do Afeganistão)
Assim como a Força Aérea do Afeganistão, a União Soviética também operou com os MiG-21 de forma maciça até mais ou menos a metade da Guerra do Afeganistão (1979-1989). No início de 1980, foi tão numericamente expressivo que chegou a ser a aeronave de asa fixa mais numerosa naquele Teatro de Operações, realizando, só em 1980, 620 surtidas, ficando atrás apenas dos helicópteros. Operadas a partir do Afeganistão (Cabul, Herat, Jalalabad, Mazar-i-Sharif, Bagram e Khandahar), do Uzbequistão e do Turcomenistão, essas aeronaves não eram mais consideradas modernas, mas eram o que de melhor havia nos distritos do sul da URSS. Operar de aeródromos no Afeganistão ficava cada vez mais difícil, devido aos ataques dos mujahideins aos campos de aviação, situação agravada especialmente em Kandahar.

Os MiG-21 PFM soviéticos e afegãos eram considerados muito velhos (com uma média de 15 anos de idade no período da Guerra Fria), mas tinham valor como plataforma de lançamento de armas ar-solo, disparos de canhão e reconhecimento sobre montanha. Os MiG-21 SM e os Bis, com maior autonomia, também cuidavam da defesa aérea do espaço aéreo afegão e logo receberam o apelido de “divertidos” devido à agilidade que possuíam.
Durante as missões de ataque ao solo, os pilotos de MiG-21 decolavam em pares e agiam tanto para bloqueio de estradas (que evitavam a aproximação de comboios inimigos) como “caçando” posições guerrilheiras entre as montanhas, tarefa na qual se mostraram inadequados e pouco eficazes: lançavam em mergulho armamento não guiado de uma altitude elevada, contra tropas que tinham uma excelente mobilidade e a proteção natural das montanhas.
Para piorar, eram aviões monomotores, o que os deixava ainda mais vulneráveis aos mísseis Stinger, o que exigia múltiplos lançamentos de flares. Doze MiG-21 foram perdidos em combate de 1980 a 1984, e a aeronave foi sendo progressivamente substituída pelo Su-17 e Su-25 no ataque ao solo e pelos MiG-23, na defesa aérea. Apesar do sucessivo “afastamento” das operações militares, os MiG-21 continuaram a operar em menor número e em ações pontuais até o final do conflito, em 1989.
Angola (Guerra Civil de Angola)

Entregues à Angola a partir de 1976 e tripulados inicialmente por pilotos cubanos, o MiG-21 (conhecido pelos angolanos como ‘salsicha’) teve um papel importante na Guerra Civil de Angola (1975-2002), principalmente na execução de missões de ataque ao solo, visto que demonstrou ser pouco eficaz como interceptador para combate em baixa altura. Fontes russas estimam que 3 MiG-21 da FAPA-DAA foram abatidos ou danificados em combate aéreo contra os Mirage F-1 da Força Aérea Sul-Africana (SAAF), bem como alegam também a vitória de um MiG-21 sobre um C-130 sul-africano em 3 de abril de 1986. Angola chegou a ter 100 “Fishbeds”, dentre as versões PFM (de segunda mão), MF (entregues novas) e Bis.
Devido a executarem preferencialmente missões de ataque ao solo, os MiG angolanos foram maciçamente abatidos por MANPADS da UNITA, mas tiveram seus dias de glória nas Batalhas de Sumbe, Canbanga e Cuito Cuanavale. Partindo de Menogue, esses caças voavam cerca de 200 km até a linha de contato de Cuanavale para atacar blindados, artilharia e tropas de infantaria. Um dado interessante é que de janeiro a março de 1988, juntamente com os MiG-23, os MiG-21 realizaram 1.283 saídas, sendo dessas 722 de ataque e 561 de defesa aérea, executadas preferencialmente pelos MiG-23.
Nos combates de Sumbe, em março de 1984, os MiG-21 realizaram sozinhos 200 saídas, rechaçando um ataque de 1.500 soldados da UNITA contra uma guarnição do Exército Angolano. Em Cangamba (junho de 1983), foram 400 saídas de apoio aéreo, que totalizaram 400 bombas lançadas, bem como mais de 2.700 disparos de foguete e igual número de disparos de canhão, causando a baixa de aproximadamente 2 mil combatentes da UNITA. Com sua integridade territorial assegurada, Angola deveu muito, tanto aos pilotos cubanos, como aos MiG-21 e MiG-23, o fato de ter vencido os guerrilheiros, apoiada pelos sul-africanos.
Croácia (Guerra de Independência da Croácia)

Devido às hostilidades entre croatas e iugoslavos, a Força Aérea da Iugoslávia (JRV) foi convocada para realizar ataques aos separatistas croatas. Tudo deveria correr relativamente “bem”, se não fosse o fato de existirem croatas voando pela JRV, que prontamente se recusaram a bombardear as áreas croatas. Não contentes apenas com a “rebelião”, três pilotos croatas fugiram com seus MiG-21 para a Croácia, em 1992, com dois dos três aparelhos perdidos em ações subsequentes. Após esse fato, mais de 40 MiG-21 foram incorporados à – então recém-criada – “Força Aérea da Croácia” (HV) em 1993, com 20 deles colocados em serviço.

Acredita-se que uma boa parte desses aparelhos veio de estoques alemães, através de uma transação “clandestina” de venda de armas. Desde o início, sendo usados primordialmente como aeronaves de ataque ao solo, o ponto alto dos MiG-21 croatas foi a operação “Oluja”, também conhecida como “Storm”, que consistiu numa contraofensiva muito bem-organizada pelo Exército Croata, que contava com apoio aéreo incessante dos MiG-21.
Voando um total de 67 missões CAS, os MiGs se destacaram ao danificarem e destruindo blindados sérvios, postos de comando e depósitos de armas. Alguns pilotos foram perdidos em ação, dentre eles o herói nacional Rudolf Peresin, morto enquanto fazia uma missão de reconhecimento aéreo sobre território inimigo. Independente desde 1995, a Croácia desde então confiou a missão de defesa aérea aos caças MiG-21 Bis, até sua substituição pelos Rafales franceses, em 2024.
Etiópia (Guerra Eriteia x Etiópia)

Apesar de a Etiópia ter recebido MiG-21 soviéticos de várias versões no final dos anos 1970, mais precisamente em 1977, o papel desses aviões na Guerra de Ogaden foi secundário, já que a ponta de lança dessa força foi os F-5A e F-5E fornecidos pelos americanos.
A verdadeira experiência de combate dos MiGs veio na guerra contra a Eritreia, ocorrida entre 1998 e 2000: sabendo-se da desvantagem do modelo contra os mais recentes MiG-29 adquiridos pela Eritreia, o papel principal dos MiG-21 era o de ataque ao solo e reconhecimento, também sendo usados como “iscas” para atrair os MiG-29 do adversário para uma “zona de matança” favorecendo os Su-27 etíopes.
A Etiópia perdeu 2 de seus MiG-21 em combate aéreo contra os “Fulcrum” da Eritreia. Um fato curioso sobre os MiG-21 etíopes é que o piloto Bezahib Petros (o mesmo conhecido por ter abatido o primeiro MiG-21 somali na Guerra de Ogaden voando um F-5) foi abatido por artilharia antiaérea em 5 de junho de 1998, no comando de um MiG-21, enquanto fazia a segunda passagem num ataque contra uma base aérea da Eritreia. Ejetou e virou prisioneiro de guerra por alguns meses.
Egito (Guerra dos Seis Dias, Guerra de Atrito, Guerra do Yom Kippur, Guerra Egito-Líbia)
Tendo em sua frota cerca de 200 aparelhos MiG-21 em 1967, a Força Aérea do Egito (EAF) se viu em apuros quando a Força Aérea Israelense a atacou de surpresa no início da Guerra dos Seis Dias, ocorrida entre 5 e 10 de junho de 1967. A maior parte da frota aérea egípcia foi destruída no solo (mais de 400 aeronaves), mesmo havendo situações de engajamento ar-ar, tarefa principal dos MiG-21 egípcios. Cerca de apenas 150 surtidas foram feitas nos primeiros quatro dias de combate, embora nem todas elas tenham sido executadas pelos MiG-21 da EAF. A primeira vitória aérea egípcia foi executada pelo MiG-21 de Nabil Shoukry, que decolou solitariamente após sua base ser atacada, pela segunda vez no dia, por Mirages israelenses.
Nabil venceu um Mirage IIICJ, um dos 10 ou 11 que os israelenses afirmam ter perdido naquela guerra, em circunstâncias de combate aéreo. Na Guerra de Atrito (1967-1970), a EAF, menos treinada que a israelense e com sérios problemas para lidar e aceitar a doutrina dos seus “avalistas” soviéticos, até que tentaram corrigir os erros cometidos na Guerra dos Seis Dias, mas o resultado prático para os pilotos de MiG-21 foi bem indigesto: várias aeronaves foram perdidas com a famosa tática da “isca”: duas aeronaves da IAF penetravam o espaço aéreo egípcio em grande altitude e atraíam meia dúzia de caças egípcios até elas, enquanto uma dúzia de caças da IAF se aproximavam em muito baixa altitude e pegavam os pilotos de MiG desprevenidos.

Vale a pena constatar que Israel conhecia muito bem o MiG-21, na medida em que havia deserções de pilotos e seus aparelhos eram capturados. Estudava-se praticamente tudo, com ajuda do próprio piloto desertor! O fato mais curioso desse período foi quando a União Soviética, meio descrente da qualidade dos pilotos e operadores egípcios, enviou alguns de seus SAM e vários de seus pilotos para defrontar os pilotos israelenses: pelo menos cinco aeronaves MiG-21MF pilotadas por soviéticos foram abatidas numa operação que envolveu doze Mirage IIIC e quatro F-4E da IAF e dez MiG-21 egípcios, na conhecida Operação Rimon, que, de acordo com os soviéticos, foi apenas uma operação de retaliação.
Antes da afamada “Rimon”, os soviéticos reivindicaram vitórias sobre outras cinco aeronaves israelenses em batalhas na Costa do Mar Negro entre 13 de abril e 25 de junho de 1970. Os abates foram negados por Israel, que reconheceu apenas um A-4 danificado por míssil R-3, lançado por MiG-21 no dia 25 de julho. As reivindicações soviéticas possuem várias inconsistências, tais como atribuir vitórias a pilotos não identificados (aces.safarikovi.org). No geral, a “kill ratio” em combates aéreos da Guerra de Atrito foi muito favorável para a IAF, algo próximo dos 5/1.

Em 1973, os árabes atacaram de surpresa os israelenses durante o Shabat, que culminou na Guerra de Yom Kippur ocorrida entre os dias 6 e 25 de outubro. A parte aérea dessa guerra ficou marcada muito mais pela capacidade dos SAM egípcios de neutralizar a aviação de caça israelense (a IAF perdeu mais de 100 diferentes aeronaves em diversas circunstâncias) do que um sucesso dos MiGs egípcios no combate aéreo.
Uma evidência dessa superioridade qualitativa da IAF foi a Batalha Aérea de Ofira, em que 20 MiG-17 e 8 MiG-21 foram parados por uma dupla de F-4E, e isto resultou em sete aeronaves egípcias derrubadas. Embora todas as batalhas tenham ocorrido em solo ou espaço aéreo egípcio, era comum aviadores de outros países (a exemplo do Iraque) também lutarem contra Israel. Por falta de dados confiáveis, a tarefa de avaliar o uso dos MiG-21 pelos pilotos desses países é inconclusiva, mas acredita-se que seus resultados foram semelhantes aos da EAF. Uma participação digna de nota dos MiG-21 da EAF e suas tripulações foi a Batalha de Al Mansoura, na qual 62 MiG-21 defrontaram um pacote de ataque com 160 aeronaves IAF, num combinado entre os F-4 Phantom II e A-4 Skyhawks.
Os israelenses visavam atacar as bases aéreas de Tanta e Mansoura, quando foram surpreendidos por um “enxame” de caças MiG-21 do Egito, que frustraram o ataque israelense e causaram baixas estimadas entre duas (reivindicação IAF) e dezessete aeronaves da IAF perdidas (reivindicação egípcia). De um modo geral, os egípcios reivindicam 27 “kills” de MiG-21 sobre aeronaves israelenses, em toda a Guerra do Yom Kippur. Israel diz que o fato não é crível, visto que assume apenas 15 perdas para todos os tipos de caças egípcios, durante toda a guerra, e reivindica o abate de 65 caças MiG-21.
Fora do escopo do tradicional enfrentamento com a Força Aérea Israelense, os egípcios tiveram outra oportunidade de testar o MiG-21 em combate real, quando as relações entre Líbia e Egito se deterioraram, em julho de 1977, devido a divergências sobre as relações com Israel. Insatisfeito com o posicionamento “pacifista” do presidente egípcio Anwar Sadat, Muammar Gadaffi começou a despachar tropas para um confronto fronteiriço com as forças egípcias, que também contou com batalhas entre aeronaves, dadas as missões de apoio aéreo das forças aéreas de ambos os países.
O primeiro abate da guerra relâmpago ocorreu no dia 22 de julho de 1977, quando um Mirage 5DE líbio foi algoz de um MiG-21MF egípcio. Não contente com tamanho gesto hostil, a EAF partiu para a vingança, em 23 de julho, e colocou patrulhas PAC atrás de pacotes de ataque inimigos. Numa dessas ocasiões, uma formação de MiG-21MF egípcia atacou um pacote de ataque de Mirages 5 a caminho do aeródromo de Mersa-Matruth.
O encontro terminou com o saldo de pelo menos três Mirages e um MiG-23 de escolta abatidos. Outro Mirage também foi reivindicado nesse dia, mas sem provas definitivas que embasassem a reivindicação. Dois anos depois, em 1979, uma dupla de MiG-23MS se encontrou com uma patrulha de dois MiG-21MF armados com mísseis ar-ar AIM-9J. O MiG-23MS era um avião rápido, mas não tinha a manobrabilidade do MiG-21.
Dessa forma, o major Sal Mohammad não teve dificuldades em engajar e derrubar um dos Flogger, o que resultou na imediata fuga do ala do piloto líbio vitimado. Comenta-se que uma das razões de o Egito ter adotado as faixas laranjas usadas em seus caças foi para diferenciar suas aeronaves dos aviões da Força Aérea Líbia, visto que os modelos e as camuflagens de ambos os países eram muito parecidos.
Índia (Guerras Indo-Paquistanesas de 1965 e de 1971, Guerra do Kargil)

É provável que a Força Aérea da Índia seja a maior conhecedora do MiG-21 dentre todos os outros usuários: fabricou durante anos, modernizou, formou pilotos, usou em treinamentos de ataque ao solo, treinamento em combate ar-ar (inclusive para aviadores da Força Aérea Iraquiana), reconhecimento, testes de armas, interceptação e em combate real durante 60 anos e ao longo de 3 guerras (sem contar eventuais escaramuças).
Também foi a força aérea que aprendeu as maiores lições sobre o gosto amargo das severas perdas operacionais, que na maioria delas foi ocasionada por falha humana, colisão com pássaros (o espaço aéreo indiano é um dos que mais tem ocorrência de aves) e do uso inapropriado, durante anos, dos MiG-21UM para treinamento avançado, tarefa de aeronaves de menor desempenho, como os BAE HAWK.
Apesar de constantemente os acidentes serem associados à idade das aeronaves, esse fator não parece ser determinante para tantas fatalidades, visto que a média de ocorrência desses eventos sempre foi elevada desde que os aparelhos eram novos. Conhecido por apelidos como “caixão voador”, “macabro” e “Bison”, o “Fishbed” também é sério candidato a ser a aeronave mais importante que já serviu na IAF, que utilizou inúmeras versões de todas as gerações do aparelho. Num dado momento, o MiG-21 respondia por 70% das horas voadas de todos os modelos de caça existentes naquela força aérea!
Em 1961, a Índia tomou a decisão de, pela primeira vez, adquirir uma aeronave de caça soviética. Já operadora de aviões de transporte Ilyushin e Antonov, a IAF entendeu que a oferta da URSS de transferência total de tecnologia e produção local era mais vantajosa. Também pegou muito mal o fato de os Estados Unidos estarem fornecendo armas e consultores ao Paquistão, bem como a venda dos Mirage estar sendo discutida entre os governos paquistanês e francês.
Com as primeiras aeronaves entregues em 1963 e declaradas operacionais em 1964, não demorou muito para o avião estrear em combate, na Guerra Indo-Paquistanesa de 1965. Com um papel muito limitado no conflito, devido às poucas aeronaves e aos pilotos disponíveis, cerca de seis aparelhos participaram da guerra e tiveram como principal tarefa serem elementos dissuasórios em ações defensivas do combate aéreo. As primeiras impressões foram as melhores possíveis, exceto pelo alto consumo de combustível e baixa autonomia.
A Guerra de Libertação de Bangladesh, também conhecida como Guerra Indo-Paquistanesa de 1971, foi o ponto mais alto da vida operacional dos MiG-21 pela Força Aérea Indiana, que alcançaram a superioridade aérea sobre áreas vitais do conflito com uma “kill ratio” de 8/1 contra aeronaves como F-86, F-6 (versão chinesa do MiG-19) e os F-104. O tão esperado embate com o Mirage III acabou não acontecendo, muito disso devido aos tipos de missões atribuídas pela Força Aérea Paquistanesa (PAF) ao novo vetor: os Mirage eram usados para atacar pistas de pouso, bombardeios e patrulhas PAC, enquanto os F-86, F-104 e F-6 desempenhavam funções CAS e interdição aérea.
Contando com um total de 11 esquadrões operacionais de MiG-21 em 1971, a Índia ainda utilizou seus MiG-21FL para missões de ataque ao solo, especialmente nos arredores de Dakha. Numa dessas missões quatro MiG-21FL decolaram, armados cada um com dois pods de foguetes, para uma missão, no mínimo, especial: num recado político, os aviões indianos atacaram a casa do Dr. A. M. Malik, então governador do Paquistão Oriental, e o convenceram de que as promessas de ajuda chinesas e americanas eram uma utopia, forçando-lhe a assinar a rendição, que culminou com o encerramento do conflito.
A última grande campanha militar em que a IAF empregou os aviões em larga escala foi a Guerra do Kargil (3 de maio a 26 de julho de 1999), mais precisamente na operação Safed Sagar, ou “Mar Branco”, em alusão ao gelo e à neve presentes na paisagem de Batalik.
Cerca de 150 aeronaves de vários tipos foram desdobradas para a tarefa de ataque ao solo, incluindo pelo menos 60 aparelhos MiG-21 de variadas versões. Deve-se notar que os indianos estavam completamente cientes das capacidades limitadas do “Fishbed”, contudo, sua boa relação peso-potência e sua agilidade para operar em ambiente montanhoso ainda eram indispensáveis.

Como comparação, o SEPECAT Jaguar, que é uma aeronave especializada em ataque ao solo, foi considerado inapto para as operações aéreas sobre Batalik, devido à pouca potência e problemas operacionais em altitudes elevadas. As principais tarefas designadas aos MiG-21 eram: apoio aéreo aproximado (utilizando foguetes) e lançamento de bombas incendiárias de 250 kg.
Mesmo sem sistemas de orientação modernos, vários pilotos foram improvisando aparelhos de GPS caseiros nas cabines desses aviões, o que melhorava muito a eficácia de seus ataques, se comparados aos resultados dos primeiros dias da operação. Apenas um MiG-21 foi perdido em combate: após receber a notícia da derrubada de um MiG-27, o líder de esquadrão Ajay Ahuja recebeu ordens para fazer reconhecimento sobre a área da queda do MiG-27. Voando baixo, seu MiG foi vítima de um MANPADS.
Alguns dias depois do final da Guerra do Kargil, um MiG-21 foi envolvido numa nova situação de combate real, quando acionado para interceptar um Breguet Atlantique paquistanês que voava sem permissão sobre o espaço aéreo indiano. Demonstrando hostilidade, o piloto da PAF tentou colisão proposital com um dos MiGs, que revidou com o disparo de um míssil R-60, causando a morte de todos os 16 tripulantes da aeronave paquistanesa.
Iraque (Guerra Irã x Iraque e Guerra do Golfo)

No período da Guerra Irã x Iraque (1980-1988) a Força Aérea do Iraque enfatizava qualidade sobre quantidade e possuía um combinado de aeronaves soviéticas e ocidentais.
Em 1980, o número de aparelhos MiG-21 era estimado em 115 aeronaves das mais variadas versões (F-13, PFM, FL, MF, UM etc.), divididas em cinco esquadrões, número que aumentou para cerca de 200 aeronaves e 9 esquadrões na fase final da guerra, incluindo exemplares de F-7B fornecidos pelo Egito.
Inicialmente, os MiG-21 executavam muitas missões de defesa aérea, mas foram sendo gradativamente empregados em missões de ataque ao solo. Sendo uma versão de exportação de uma aeronave que não era mais o estado da arte em tecnologia, os iraquianos, que já tinham como parâmetro aeronaves como o Mirage F-1 EQ, queixavam-se do alcance diminuto do radar, falta de capacidade “” e deficiências no sistema de controle de tiro, que tornavam o MiG-21 eficiente apenas quando direcionado por GCI (Controle de Interceptação Terrestre). Na prática, os MiG-21 conseguiram 43 vitórias contra aeronaves iranianas, ao custo de 52 aparelhos perdidos (23 deles abatidos por F-14), tornando-se o caça iraquiano com mais vitórias ar-ar no conflito.
As vitórias do “fishbed” variavam entre diversos tipos de aeronaves – incluindo os F-5, F-4 e talvez até um F-14 –, a partir dos quais, até hoje, existe uma controvérsia: no início dos anos 1990, a TV estatal iraquiana divulgou um vídeo obtido da cabine de um MiG-21, que mostrava um F-14 do Irã atingido por disparos de canhão do MiG.
De acordo com o pesquisador austríaco Tom Cooper, o Tomcat pousou em segurança minutos depois, apesar das avarias. Há uma reivindicação de um jovem piloto de MiG-21, ocorrida no outono de 1980, mas novamente esbarra na falta de confirmação iraniana, bem como evidências da IQAF.
Após 1981, o Iraque parou de usar seus MiG-21 em missões de interceptação.
Atualmente, os registros fotográficos, filmagens ou destroços de aeronaves inimigas são muito difíceis de recuperar, visto que o Iraque passou por uma invasão militar (2003), na qual vários prédios governamentais foram invadidos e saqueados, e, com isto, levaram embora parte dos registros oficiais. Ainda sobre dados controversos, é comum que se frise o desempenho “pior” do MiG-21 diante dos F-5 ao olhar para experiências de combate na África, como a Guerra de Ogaden, ou o estudo soviético feito com o F-5 capturado dos sul-vietnamitas: na Guerra Irã x Iraque o confronto direto acabou sem um vencedor! Os MiG-21 bateram 4 Northrop F-5, com número igual de MiGs vitimados pelo pequeno caça iraniano. Vários MiG-21 Bis do Iraque receberam os mísseis R-550 Magic franceses, o que ajudou no desempenho em batalha, sobretudo contra os robustos F-4 Phantom. Os mísseis R-3 eram obsoletos e os R-60 infligiam danos que, muitas vezes, eram insuficientes para derrubar uma aeronave de grande porte.
Outra dificuldade para mensurar dados sobre o desempenho em batalha dos MiG-21 iraquianos está em conseguir dados verídicos sobre os pilotos em ação. A nível de exemplo, várias fontes relatavam Mohommed Ryyan (aka Sky Falcon) como o maior ás da força aérea iraquiana, com 11 vitórias. Pesquisas recentes mostram que “Sky Falcon” foi, provavelmente, um piloto fictício, a exemplo do Coronel Toon, do Vietnã. Tom Cooper, que pesquisa sobre a IQAF desde finais dos anos 1980, acredita que nenhum piloto iraquiano obteve mais que quatro vitórias durante toda a guerra contra o Irã.
A Guerra do Golfo (1990-1991) é vista por alguns escritores como “o canto dos cisnes das aeronaves de caça de terceira geração”. É como se, de repente, características como robustez, velocidade e manobrabilidade não garantissem mais a sobrevivência das aeronaves no campo de batalha. Atributos como eletrônica moderna, furtividade, capacidade de alternar papéis dentro de uma mesma missão e armamento para uso “além do alcance visual” começavam a determinar quem voltava para a base em segurança ou não. Em condições muito ruins, devido ao uso excessivo na Guerra Irã x Iraque, a maioria dos MiG-21 iraquianos não estava ativa durante a Desert Storm.
Para preservar as células, a IQAF bolou vários tipos de camuflagens para esconder seus MiGs no solo. Com menos de dez MiG-21 destruídos no solo, o único engajamento ar-ar ocorreu quando um par de MiG-21 tentou se aproximar de um par de F-18 C do VFA-81 em 17 de janeiro de 1991: os MiG decolaram e foram orientados por GCI até a posição dos caças da US Navy. Aproximando-se a uma distância de 10 km, a presença dos caças iraquianos foi percebida pelos pilotos norte-americanos, que revidaram com mísseis Aim-7 e Aim-9, que destruíram as duas aeronaves hostis. Carregados de bombas, os F-18 se preparavam para um ataque a uma base aérea, ataque executado logo após o combate aéreo, visto que os “hornet” não alijaram sua carga bélica durante os engajamentos. Inicialmente, os americanos disseram que derrubaram duas aeronaves F-7B, o que é contestado por fontes iraquianas, que alegam que os caças fornecidos pelo Egito nunca foram usados para combate aéreo, e serviam apenas para treinamento.
Iugoslávia
A Força Aérea Iugoslava adotou o MiG-21 como seu principal caça a partir da década de 1960, integrando diversas variantes como MiG-21M, MF, PFM e, posteriormente, o MiG-21bis. A aquisição desses aviões começou com um contrato assinado em 2 de agosto de 1961 com a União Soviética, e ao longo dos anos 1962 a 1977 a Iugoslávia recebeu cerca de 277 exemplares de MiG-21 em suas várias versões.
No início da implantação, a Iugoslávia planejou que cada corpo regional de defesa aérea (AF & AD, ou JRV i PVO) teria regimentos de aviação de caça equipados com MiG-21. Por exemplo, o 204º Regimento de Aviação de Caça (204. LAP), sediado em Batajnica, operou squadrões de MiG-21 bis e também introduziu o MiG-29 posteriormente, mas o MiG-21 permaneceu como apoio operacional.
Especialmente na década de 1980, o MiG-21bis se consolidou como o caça principal de linha de frente da Iugoslávia até as transformações políticas que culminaram na dissolução do país.
Durante sua carreira operacional, os MiG-21 iugoslavos foram empregados em missões de defesa aérea territorial, intercepção e patrulhamento, embora tenham tido atuação limitada em conflitos abertos, especialmente devido ao equilíbrio geopolítico e à presença de grandes potências na região. Um episódio conhecido ocorreu em 7 de janeiro de 1992, quando um MiG-21 da Força Aérea Iugoslava derrubou um helicóptero da Missão de Monitoramento da Comunidade Europeia (ECMM) sobre território croata.
Com o colapso da Iugoslávia e os conflitos balcânicos nos anos 1990, parte dos MiG-21 foi herdada por estados sucessores, especialmente pela Sérvia, que continuou a operar versões bis, UM e modificadas para reconhecimento até meados da década de 2010. No entanto, o desgaste e os acidentes levaram à aposentadoria gradual: a Sérvia desativou seus últimos MiG-21 operacionais após um acidente fatal em setembro de 2020.
Líbia – Primeira Guerra Civil da Líbia (2011) e Segunda Guerra Civil da Líbia (2014-2020)

Em um país marcado por rebeliões contra o governo, como a ocorrida em Benghazi (que motivou os aliados ocidentais a fazerem uma intervenção militar no país), o papel da força aérea, e consequentemente dos MiG-21, foi bem limitado. Deserções fizeram parte do rearranjo de forças no país: em 2011, pelo menos três pilotos levaram seus aviões de Sirte, sob controle do governo de Khadafi, para Benina, até então sob controle rebelde. Após algumas surtidas, um MiG-21 UM acidentou-se por falha técnica, e este fato culminou na ejeção dos dois pilotos. A Força Aérea da Líbia Livre (equipada com MiGs 21, 23 e Mi-24), seus respectivos pilotos (14 no total), bem como 50 técnicos de solo, foram cruciais para repelir investidas das forças do governo contra Benghazi, pois lançaram vários ataques aéreos na primeira quinzena de março de 2011. Em 27 de junho foi possível ver um voo em formação de três aeronaves rebeldes, completamente armadas, sobre o aeroporto de Benina.
A segunda Guerra Civil eclodiu em um momento em que surgiam dois governos dentro do mesmo país: um reconhecido internacionalmente (GNA) e outro que detinha áreas do leste sob comando do general Haftar (LNA). Na medida em que Haftar conseguia mais poder, veio com isso o apoio do Egito e dos Emirados Árabes. Entre 2014 e 2017, vários MiG-21 da LNA foram perdidos em uma série de eventos distintos, dentre os quais prevaleceram os acidentes causados por falha humana, que provocaram a perda de três aparelhos (dois MiG-21 Bis e um MiG-21 UM). O quarto avião, outro MiG-21 UM, foi vítima de MANPADS enquanto sobrevoava a cidade de Derna em 31 de julho de 2017. Os pilotos ejetaram, mas foram capturados por radicais islâmicos simpáticos a GNA.
Após sofrer perdas expressivas na luta contra radicais islâmicos, a LNA contou com ajuda do Egito (que estava aposentando sua veterana frota de MiG-21) e repassou, pelo menos, 8 MiG-21 MF ex-egípcios. Acredita-se que a Rússia tenha modernizado alguns desses aviões, mas não são conhecidos maiores detalhes desse possível upgrade. Em 9 de abril de 2019, um MiG-21 da LNA se envolveu em uma ação de ataque com foguetes S-24 contra o aeroporto de Mitiga, utilizado pela GNA, que resultou na paralisação das operações de pouso e decolagem durante os dias 08 e 10 de abril de 2019. No dia 14 de abril, um dos MiG-21 MF da LNA foi abatido por um Manpads, enquanto fazia uma missão de patrulha.
Síria (Guerra dos Seis Dias, Guerra de Atrito, Guerra do Yom Kippur, Guerra do Líbano, Guerra Civil Síria)
A Síria foi um dos usuários mais tradicionais de MiG-21 de todo o mundo. Ao fazerem sua primeira encomenda em 1962 e chegarem a contar com cerca de 130 aparelhos, os sírios desejavam aposentar o velho caça-soviético quando eclodiu a Guerra Civil de 2011, que forçou a SyAF a manter a maior quantidade de meios que pudesse.
Com a entrada em serviço em 1963, os MiG-21 sírios não demoraram a estrear em batalha e tiveram seu batismo de fogo na Guerra dos Seis Dias. Como os alvos prioritários da IAF eram na Jordânia e no Egito, os MiG-21 estiveram em poucas missões de ataque, mas participaram de alguns eventos importantes como as tentativas mal-sucedidas de atingir as refinarias de petróleo de Haifa. Fontes israelenses alegam que na Guerra dos Seis Dias a Síria perdeu cerca de 32 “fishbeds” dentre perdas no solo e no ar, número pouco menor do que Israel reivindica na Guerra de Atrito, em que se alega a destruição de mais de 50 MiGs com menos de dez perdas. Um fato bastante curioso da época é que a um piloto sírio é creditada a invenção da manobra “Cobra”, que ficou famosa pela atuação dos Su-27 soviéticos em shows aéreos e era conhecida na Síria como “manobra de velocidade zero”.
Em 1973, os sírios se gabavam de uma performance aceitável, podendo inclusive ser melhor que a dos colegas egípcios: reclamaram 30 aeronaves israelenses destruídas para 26 MiG-21 perdidos, dados que provavelmente não terão confirmação de fonte oficial israelense. A predominância do uso dos MiG-21 sírios era o combate aéreo.
O ponto mais baixo da atuação dos MiG-21 com insígnias sírias certamente ocorreu durante a Guerra do Líbano de 1982. Os MiG-21, com os mesmos problemas e virtudes de sempre, tiveram que defrontar caças de quarta geração como F-15 e F-16, em uma guerra que contou com o uso de aeronaves de sensoriamento remoto por parte de Israel, tal como o E-2 Hawkeye. Durante a famosa “Operação Drugstore”, a IAF alega a destruição de 45 MiG-21 MF da Síria, com a confirmação de 37 pelos sírios.
A Síria reivindica de 15 a 17 kills a seu favor, com – pelo menos – dois F-15 danificados, mas não conseguiu reunir elementos que sustentassem essa afirmação. Contudo, estamos falando de 1982, não havia internet, smartphones, boas câmeras portáteis, nem confirmação via satélite por parte dos sírios. É bom lembrar que na Guerra da Ucrânia, entre 2022 e 2023, houve dezenas de embates entre aeronaves de origem soviética de ambos os lados, e no desenrolar disso tudo ,muito poucas ou quase nenhuma imagem de gun camera foi divulgada pelas partes.
Raras fotos de destroços aparecem, e quando aparecem não há como verificar de forma aprofundada se foi um kill ar-ar ou ar-solo, bem como se o cenário foi ou não adulterado para favorecer alguma linha narrativa. Afirmações como “nós mostramos todos os nossos aviões intactos” ou “pesquisadores independentes ou de força aérea de terceiros verificaram” também são um procedimento possível de adulteração pela remarcação das aeronaves, pela divulgação de fotos e vídeos anteriores aos acontecimentos ou até mesmo por declarações não isentas de militares responsáveis pela segurança da tecnologia das aeronaves envolvidas. Ainda assim, é notória a grande derrota da Síria nos combates aéreos do Vale do Becka.
Após mais de dez anos de guerra civil, a Síria manteve alguns MiG-21 em seu inventário, mas com uma missão bem diferente da que desempenhara outrora: durante os combates contra insurgentes, esses MiGs foram usados como plataforma de lançamento de bombas e disparo de canhão e foguetes, com vários vídeos de ação disponíveis na internet. Um dos momentos mais tensos para os pilotos de MiG-21 foi os combates contra o Isis pelo domínio da Base Aérea de Taqba, em Raqqa, em 2014. Após dezenas de surtidas que envolviam as poucas aeronaves sírias em condições de voo, os militantes do Isis conseguiram tomar a base. Ao todo, pouco mais de dez aparelhos MiG-21 foram derrubados por MANPADS, AAA ou vitimados por acidentes entre 2012 e 2017.
Somália (Guerra de Ogaden)
Pouco tempo após sua independência em 1960, a Somália logo se viu no meio da Guerra Fria: a União Soviética precisava de uma posição estratégica na região, e desejava usar os portos somalis para isso. Após a assinatura do contrato de amizade entre os países, os soviéticos iniciaram a entrega dos primeiros jatos MiG-21 MF da SAF, em 1974, e constituíram um único esquadrão com 29 aeronaves.
Em 1977, as tropas da Somália invadiram a província etíope de Ogaden, em apoio a grupos rebeldes que lutavam contra o governo, o que se revelou um verdadeiro “tiro no pé”: Cuba e União Soviética, na época, tinham um relacionamento muito mais sólido com os etíopes, e acabaram em dar-lhes apoio militar para expulsar as tropas somalis de Ogaden.
Durante a breve guerra, pôde-se ver alguns dos combates mais interessantes entre caças soviéticos e norte-americanos, especialmente versões de F-5 versus os MiG-21 MF. Com um treinamento inferior, os pilotos da SAF tiveram um kill ratio pífio contra os etíopes, que haviam sido treinados pelos americanos poucos anos antes.
Há o relato de um combate bizarro no qual 4 MiG-21 faziam escolta de 4 MiG-17, e no momento em que caças da ETAF se aproximaram, um MiG-21 colidiu com o outro, após tentativas de ambos os pilotos de quebrar a formação. Tal feito deixou as duas escoltas restantes inferiorizadas, alvos dos canhões dos F-5. No total, os F-5 etíopes derrubaram cerca de 10 MiG-21 somalis, sem perdas entre 24 de julho a 1 de setembro de 1977, a maioria com uso dos AIM-9 sidewinder. Os somalis reivindicam uma aeronave de carga etíope, supostamente abatida por MiG-21.
Após o término da Guerra de Ogaden, a SAF foi perdendo gradativamente operacionalidade, ao passo que em 1993 não tinha mais que oito MiG-21 ativos (seis MiG-21 MF e dois MiG-21 UM). Todos os MiG-21 saíram de serviço na medida em que a força aérea somali foi dissolvida, após a fuga do presidente Barre de Mogadíscio para Gedo, dando início à Guerra Civil da Somália.
Sri Lanka (Terceira Guerra de Eelam)

A história da Força Aérea do Sri Lanka (SLAF) com o Chengdu F7 começou em 1991. Após várias negativas ocidentais, os chineses tomaram a decisão de vender um pequeno número de F-7 B.
Em 2008, essa pequena força aérea teve sua capacidade ampliada com a chegada dos F-7G. Tantos os modelos “B” como os “G” são utilizados principalmente na missão primária de interceptação, todos reunidos no 5º Esquadrão de Aeronaves a jato, localizado no aeroporto de Bandaranaike.
Dentre todos os usuários de F-7/J7, a SLAF é a única que possui uma vitória em combate aéreo comprovada: mesmo com um número considerável de missões ar-solo contra o grupo rebelde Tigres de Libertação de Tamil Eelam (LTTE), em 2008 viram ação no ar quando dois monomotores Zlín-143 (de origem tcheca), pertencentes ao LTTE, decolaram do aeroporto Mullaitivo para bombardear ativos das forças do governo. Um dios Zlin conseguiu atacar e avariar levemente o aeródromo de Vavuniya, mas foi abatido por um míssil de um dos 3 F-7G que haviam decolado em busca das aeronaves rebeldes.
Tanzânia (Guerra Uganda – Tanzânia)

Ao contrário do que é relatado, a Tanzânia nunca comprou qualquer J-7 da China. Em vez disso, a Jeshi Ia Anga Ia Tanzania (Força Popular de Defesa Aérea da Tanzânia, ou TPDF) recebeu 14 MiG-21 MF e dois MiG-21 U da União Soviética em 1974. Vários foram perdidos em acidentes, devido ao treinamento deficiente, mas todos os remanescentes foram usados na guerra contra a Uganda (1978-1979), e pelo menos um deles foi abatido por fogo-amigo, vítima de um SA-7 disparado por forças tanzanianas.
O exército da Tanzânia também logrou êxito em capturar e incorporar sete MiG-21 MF e um MiG-21U da Força Aérea de Uganda. O emprego dos MiG-21 da Tanzânia foi majoritariamente em ações ar-solo, porém é digno de nota que essas aeronaves foram responsáveis pela diminuição de surtidas de aeronaves Tu-22 “Blinder” líbias, que apoiavam o governo de Uganda. Posteriormente, a Tanzânia incorporou também alguns MiG-21 SM ex-ucranianos (entregues em estado muito ruim, em 1998), bem como também recebeu poucos F-7 do Irã. Atualmente, apenas os F-7 “Airguard” estão ativos na TPDF.
Uganda (Guerra Uganda-Tanzânia)

Dispondo de MiG-21 MF e UM, a Força Aérea de Uganda foi pega de surpresa na guerra contra a Tanzânia e viu grande parte de sua frota ser abandonada em solo por estar indisponível para combate. É prudente informar que a frota aérea da UAF havia sido duramente castigada pela sabotagem feita pelos israelenses, durante o resgate dos reféns em Entebbe (1976). A falta de peças sobressalentes também foi um problema constante, que fez com que a força aérea de Uganda fosse praticamente eliminada em pouco tempo, com seus pilotos e técnicos fugindo para o exterior. Oito MiG-21 de Uganda acabaram nas mãos da Tanzânia. No final dos anos 1990, a UAF recebeu MiG-21 Bis da Polônia e Belarus, com os exemplares poloneses sendo atualizados pela IAI em Israel.
Vietnã (Guerra do Vietnã)

A participação do MiG-21 no Vietnã dispensa apresentação, e talvez seja a passagem mais lembrada de toda a carreira do jato soviético. Sua presença ficou marcada pelas interceptações de pacotes de aeronaves americanas durante a Rolling Thunder (1968), mas operou com o Vietnã não só durante toda a guerra, mas até o ano de 2015.
Os primeiros MiG-21 vietnamitas foram entregues em 1966, chegando lá através de navios, parcialmente desmontados. Disponíveis inicialmente nas versões F-13, PF e PFM (além de versões de conversão operacional), os cerca de 100 aparelhos foram distribuídos entre os esquadrões 921º e 927º para a execução apenas de missões ar-ar. Valendo-se do bom uso das técnicas de “hit and run”, os pilotos de MiG-21 normalmente faziam aproximação pela retaguarda de seus adversários, devido ao seu bom desempenho em velocidades de cruzeiro e com uso de pós-combustão. Na maior parte das vezes, as vítimas dos MiG-21 variavam entre caças F-4 e F-105 que voavam em missões de ataque.
Devido à baixa autonomia e ao alto consumo de combustível, a VPAF ativou vários aeródromos improvisados com reserva de combustível, para receber os MiG-21 que voltavam das surtidas. Por exemplo: um piloto que decolava de uma determinada base aérea, cumprida a missão, tinha outras opções para pouso, a fim de evitar ter que retornar até a unidade de onde saiu.
A despeito de muitas coisas que se fala sobre o “21”, algumas coisas parecem ser folclore, tais como a suposta predileção dos aviadores da VPAF pelo MiG-17: Em entrevista ao autor britânico Roger Boniface, os pilotos Pham Ngoc Lan e o às Nguyen Nhat Chieu (que obteve vitórias tanto com MiG-17 quanto com MiG-21) disseram frases como “O MiG-21 tinha radar, era muito mais rápido e dispunha de mísseis R-3, que eram confiáveis quando disparados entre 900 metros e 1 km de distância”. Chieu complementou dizendo ainda: “para mim pessoalmente, preferia o MiG-21 porque era superior em todas as especificações de subida, velocidade e armamento! Sempre estive confiante em abater um F-4 quando estive num MiG-21”.
Talvez a maior controvérsia de toda a guerra seja o enfrentamento dos B-52 pelos MiG-21: com quase todas as batalhas envolvendo MiG-21 e B-52 se desenrolando à noite, a USAF reivindica dois MiG-21 abatidos pelos canhões de cauda de seus B-52 e não admite perda alguma para caças vietnamitas. Já o Vietnã reivindica três vitórias, resultando em dois “buff” abatidos e um terceiro a apresentar perda total após pouso com danos de batalha.
De acordo com o Vietnã, 13 de seus pilotos de MiG-21 conseguiram o status de “ás”, porém o lado americano confirma apenas quatro ou cinco desses pilotos como ases. Costuma-se mencionar um suposto kill ratio de 3:1 a favor dos americanos na Guerra do Vietnã. No entanto, além de esses números serem parte de “apenas um lado da história”, não são condizentes com a realidade da eficácia do MiG-21, visto que é um kill ratio global, incluindo vitórias e derrotas dos MiG-17 e MiG-19.
O historiador vietnamita Tou Nguyen foi ainda mais longe ao afirmar que “a USAF tem registros de abates de caças vietnamitas em dias e horários em que simplesmente não houve atividade alguma da VPAF”, opinião compartilhada pelo autor Ivstan Toperczer. Por falta de diversidade de fontes sem viés e usando a página suíça “Migflug” como referência, é possível que os MiG-21 tenham obtido entre 67 e 78 vitórias ar-ar com a perda de 95 aeronaves.
Em se tratando de confronto direto com o F-4, as fontes vietnamitas ainda são mais ousadas. Elas afirmam que os “Fishbed” derrubaram 103 F-4 de diversas versões, com a perda de 54 aeronaves. De todas as aeronaves de caça do Vietnã, o “Fishbed” era a que proporcionava maior sobrevivência após a ejeção, com a perda de apenas 16 pilotos em toda a guerra!
No total, o Vietnã recebeu mais de 200 MiG-21, com as últimas entregas realizadas em 1979. No ato, os MiG21 Bis foram entregues ao 927º. Acredita-se que o Vietnã tenha planos para transformar sua frota de MiG-21 em UACV.
Zimbábue (Segunda Guerra do Congo)

A Força Aérea do Zimbábue esteve ativa durante a Segunda Guerra do Congo (1998), mais precisamente prestando apoio às forças do governo congolês. Durante sua participação, a AFZ implantou seis aparelhos F-7IIN, provenientes de Gweru na Base Aérea de Lubumbashi, bem como um número incerto de aparelhos na base de Mbuji-Mayi, ambas no Congo.
Partindo das bases no exterior, a AFZ voou meses em dezenas de missões PAC, na tentativa de interceptar aeronaves de transporte usadas para trazer pessoal e suprimento de Ruanda e Burundi para o Congo, mas não obteve sucesso.
No final de outubro de 1998, os F-7 do esquadrão nº 5 (Arrow) foram usados numa ofensiva no leste do Congo, e visavam atingir os aeroportos de Gbadolite, Dongo e Gmena, que estavam sob controle de rebeldes. Em 21 de novembro, os F-7 voltaram a ser empregados contra depósitos de armas e centros de comunicação dos rebeldes e das tropas de Ruanda, na cidade de Kisangani.
Mais tarde, em 24 de novembro, participaram de ataques contra rebeldes em Kalemie. No geral, atribui-se aos pilotos do Zimbábue a destruição de infantaria inimiga, blindados, dois barcos, bem como um AN-12 estacionado no solo.
Considerações finais
É difícil fazer um apanhado de uma carreira tão longa como a do “Fishbed”, mas seguindo os dados do pouco material disponível, entende-se que esses aviões tiveram um kill ratio de 1 x 2, com aproximadamente 240 vitórias contra cerca de 500 derrotas no combate ar-ar, com perdas imensuráveis de outras naturezas (perdas para Manpads, SAM, perdas no solo). A participação do F7 foi pouco relevante, tanto na questão de perdas como de vitórias em combate aéreo, ainda que tenha sido empregado com sucesso por três ou quatro países.
As perdas gerais dos “Fishbed” foram elevadas, mas as vitórias em combate aéreo os colocam no rol dos aviões a jato mais vencedores de todos os tempos, atrás, talvez, apenas do Mirage III e do F-4. É importante recordar ainda que muitas vitórias de MiG-21 são contestadas, visto que as versões predominantes sobre os fatos quase sempre provêm de literatura norte-americana.
Quando esteve em combate ar-ar, o MiG-21 e suas tripulações nunca tiveram superioridade qualitativa dos pilotos, nem de equipamento (ambas somadas), diferentemente da experiência de oponentes como o F-15 versus Força Aérea Iraquiana de 1991.
Sobre a importância que o MiG-21 teve para seus usuários, o caça foi decisivo em algum momento histórico para a Índia, foi muito importante para o Vietnã – assim como para o Iraque, a Angola, a Croácia, a Síria e o Egito (que, apesar das grandes perdas, não tinha em seu inventário nada que fosse melhor) – e ineficaz atuando pela Somália, pelo Afeganistão (e pela URSS naquele T.O) e Uganda.
É óbvio que haverá discordâncias quanto aos critérios, visto que uma aeronave pode não ter qualquer vitória ar-ar e ser eficaz devido à dissuasão que provocou. Ou mesmo pode ter participado de alguns combates, não ter perdas e ter sido ineficaz por não conseguir cumprir com sua missão.
Mas tratamos aqui de eficácia em combate. A importância do MiG-21 para os chineses foi tremenda, com um legado maior até do que o deixado para os russos/soviéticos, mas não foi empregado em nenhuma guerra pela PLAAF. De qualquer modo, o MiG-21 e o J-7 estão entre as aeronaves de caça mais velhas ainda em uso no mundo e devem continuar com esse status por algum tempo ainda.■
[1] Éverton Pedroza é formado em desenho industrial e trabalha no setor financeiro. Ele desenvolveu interesse pela aviação militar no final dos anos 1990 e publicou vários artigos online para sites Poder Aéreo, Warfare, Velho General e outros. Desde 2019, está envolvido no estudo intensivo do ataque aéreo da Força Aérea Indiana ao campo terrorista em Balakot, que culminou no livro “Terror and Response”, da editora Helion.
[2] Sérgio Santana é Bacharel em Ciências Aeronáuticas (Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL), pós-graduado em Engenharia de Manutenção Aeronáutica (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC/MG). Colaborador de Conteúdo da Shephard Media. Colaborador das publicações Air Forces Monthly, Combat Aircraft e Aviation News. Autor e co-autor de livros sobre aeronaves de Vigilância/Reconhecimento/Inteligência, navios militares, helicópteros de combate e operações aéreas.
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Constant Peg, o programa secreto da USAF que usava aviões russos para treinamento










No museu de aeronáutica de Ottawa é possível entrar no cockpit de um Mig-21. Idêntico ao do início da matéria.
Seria muito legal se os aviões do futuro museu no campo de marte fossem abertos pra entrar no cockpit. Uma pena ver tanto avião incrivel e só ficar de fora.
Muito bom o artigo. Essa guerra de Uganda vs tanzania merece nota. Teve uma batalha q Uganda perdeu 19 aeronaves entre helicopteros, caças e transportes. A situação ficou desesperadora e o Kadaffi enviou ajuda ao Idi Amin (ditador de Uganda, cuja personalidade era mto similar a de um certo ex presidente brasileiro) a ajuda consistia em bombardeiros TU22 de longo alcance, os Blinders, q o Kadaffi havia adquirido da URSS para atacar Israel em caso de uma grande ofensiva dos países islamicos contra aquele país (o Kadaffi esperava isso, coisa q nunca aconteceu dps dos acordos de Camp David). Os… Read more »
Bela matéria 👍
Dava até para dividir em capítulos e divulgar no blog.
Uma guerreiro nato! Reportagem fantástica.
Somente a Aerovodochody produziu 1 desses por dia por mais de 10 anos
EDITADO:
COMENTÁRIO BLOQUEADO DEVIDO AO USO DE MÚLTIPLOS NOMES DE USUÁRIO.
Excelente!!!!
Caros Srs. Sergio Santana e Éverton Pedroza,
Parabéns pelos artigos sobre o MiG-21! São fantásticos!
Deixo aqui uma sugestão para um próximo artigo: o TsAGI e as suas contribuições para os projetos das aeronaves russas e até de outros países.
Fantástica Matéria! parabéns, é para ler e reler….. É interessante constatar que o MIG-21 apesar de ser um dos caças mais produzidos e utilizados no mundo todo , na América do sul não teve nenhum operador… Sendo Cuba o único pais na América Latina que operou esse tipo. e Só para contar Tenho um MIG-21 só que na escala 1/72 🙂
Existe um exemplar do MiG-21 aqui no Brasil, de origem polonesa, no Museu Asas de um Sonho (“Museu da TAM”).
Belíssima matéria, parabéns aos autores! Belas imagens.