‘Como um clipe de papel salvou uma aeronave de 750 milhões de dólares’

30 de abril de 1966. O momento havia chegado. Os pilotos de teste Al White e Joe Cotton estavam prontos para levar o XB-70 #20207 Valkyrie ao seu teste final: uma extenuante corrida de 30 minutos a Mach 3, o último passo para conquistar o cobiçado status de “ilimitado”. Todos os sistemas estavam prontos — até que deixaram de estar.
Pouco após a decolagem, Cotton recolheu o trem de pouso. Um tranco assustador se seguiu — o trem dianteiro ficou preso com força na porta. De repente, o que começou como um voo de teste rotineiro virou uma emergência de alto risco. As tentativas de baixar o trem usando o sistema hidráulico principal falharam. Ao mudar para o sistema elétrico de emergência, Cotton ouviu um estalo seco. Silêncio. O sistema estava morto.
Um pouso de barriga não era apenas arriscado — era impossível. O longo e elegante nariz do Valkyrie e sua geometria de entradas de ar largas não deixavam nenhuma folga para essa manobra. Os engenheiros da North American nem sequer haviam simulado essa possibilidade.
White tentou uma manobra desesperada — trazer o XB-70 para um toque e arremetida, na esperança de que o impacto soltasse o trem. Nada. Tentou de novo. Ainda preso. As opções estavam se esgotando. Ejetar e sacrificar o protótipo de 750 milhões de dólares parecia ser a única saída.
Mas ainda havia combustível — e esperança. Enquanto engenheiros em solo vasculhavam diagramas e esquemas elétricos, White e Cotton circulavam sobre a Base Aérea de Edwards, com a pressão aumentando a cada minuto. Cotton rastejou até a parte traseira do cockpit, abriu painéis de serviço e examinava os sistemas como um cirurgião em pleno voo. Após mais de uma hora de diagnóstico — e quase duas horas no ar — o culpado foi encontrado: um disjuntor desarmado.
Mas consertar isso era outro problema. O Valkyrie não tinha kit de ferramentas a bordo. Mas Cotton havia trazido sua pasta. Dentro dela — um herói improvável — um clipe de papel. Ele o endireitou, segurou com uma luva de couro e cuidadosamente o inseriu. ZAP!
O disjuntor voltou à vida. White acionou o botão — e o trem dianteiro desceu. Funcionou. Cotton caiu de volta no assento, exausto, mas vitorioso.
O drama ainda não havia acabado. Quando o Valkyrie finalmente tocou a pista a 173 nós, a falha anterior revelou sua consequência final: a pressão hidráulica havia permanecido travada em três dos quatro freios principais. Ao tocarem o solo, os pneus não puderam girar. O resultado foi catastrófico — o atrito intenso incendiou a borracha, e os enormes pneus do trem de pouso do XB-70 pegaram fogo. As estruturas principais do trem foram severamente danificadas. Ainda assim, o avião permaneceu de pé.
O Valkyrie viveu para voar novamente — embora tenha levado duas semanas para reparar o trem de pouso chamuscado. Foi um preço alto, mas muito melhor do que perder essa maravilha única da engenharia.
FONTE: @Mach3Plus no X
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O que pouca gente sabe é o que se sucedeu à carreira de Joe Cotton. Ele acabaria deixando a pilotagem e ingressando na Organização Phoenix, inclusive mudando o nome para Angus McGyver. Ele usa o mesmo clip de papel até hoje!
Quem me garante que não é o mesmo clip de papel que mantém o caixão fechado? 😉
Sério 🙂 kkk
Esse foi um reparo épico. E no melhor estilo do jeitinho brasileiro… ^ ^
A qualidade da gravação impressiona para 1966. E o bicho era bem esquisito, canards enormes…
história Impressionante !, Ser piloto de teste com certeza é uma “profissão perigo” mais ainda bem que existem Clipes de papel…..
Não sei se conhece o piloto de testes inglês Eric Brown – que a despeito de ter vários acidentes/incidentes quase fatais faleceu c/ 96 anos – é o recordista por ter pilotado 487 tipos diferentes de aeronaves (ele desconsiderava as versões que cada aeronave que eventualmente voou teve, então p. ex. Spitfire conta só 1, mesmo c/ dezenas de variantes que testou) e entre estas está o nosso Bandeirante:
https://en.wikipedia.org/wiki/List_of_aircraft_flown_by_Eric_%22Winkle%22_Brown
Capt. Eric ‘Winkle’ Brown talks about flying Messerschmitt Me 163 Komet:
https://www.youtube.com/watch?v=eXLcUKB-jws
Isso fez lembrar do módulo lunar da Apolo XI, que foi salvo por uma caneta, pois o êmbolo de acionamento dos propulsores foi quebrado no retorno dos astronautas ao Módulo lunar, e uma caneta foi usada para acioná-los.
No final, deu tudo certo. Do contrário, Nixon teria que usar o discurso alternativo, informado o não-retorno de Aldrin, Armstrong e Collins.