ESPECIAL: ‘Quando a Segunda Guerra chegou ao Brasil’ – 80 anos da vitória da FAB na defesa do Atlântico Sul

No dia 27 de janeiro de 1941, com a criação do Ministério da Aeronáutica, toda Guarnição do Campo dos Afonsos passa às mãos do Ministro Salgado Filho. Apesar do bom número de aeronaves na imagem, com um olhar mais atento pode-se observar que quase todos os modelos eram obsoletos ou pouco adaptados a missões ofensivas. Créditos: FAB
Parte 1: O despreparo da FAB às vésperas da Segunda Guerra Mundial (1939-41)
Por Lorenzo Baer
O envolvimento da Força Aérea Brasileira na Segunda Guerra Mundial sempre estará obviamente atrelado ao 1º GAvCa, com os triunfos e glórias conquistadas pela unidade nos céus italianos sendo uma das grandes páginas da riquíssima história da FAB. No entanto, esse episódio é apenas o clímax de um conto bem mais longo, que teve suas raízes anos antes, na defesa de nosso próprio país.
Por conta disso, não é demérito nenhum dizer que um dos capítulos mais importantes e interessantes que culminaram com a aventura na Itália foi aquele traçado ao largo de nossas costas, em uma guerra esquecida e inglória: a defesa de nosso litoral que, entre os anos de 1942 e 1944, era o principal front do esforço brasileiro junto aos Aliados.
Esses anos não geraram narrativas tão épicas como aqueles de 1944 e 1945, onde os valentes pilotos da Força Expedicionária Brasileira teriam que enfrentar a terrível artilharia antiaérea; a guerra sobre o Atlântico Sul seria aquela composta por tediosas e longas patrulhas sobre um mar azul sem fim, em que homens e máquinas eram testados ao limite da resistência, a caça de um inimigo furtivo e que estava sempre à espreita de sua próxima presa.
Muitos dos homens que participaram de tais ações posteriormente foram selecionados para ingressar as filas do 1º GAvCa – mas até lá, seriam três longos anos, que serviram principalmente para forjar um verdadeiro esprit de corps, o qual se demonstraria muito útil quando da chegada desses homens em solo europeu.

Uma pseudo Força Aérea
O rompimento das relações do Brasil com os países do Eixo, no começo de 1942, foi um choque não somente para o público brasileiro, mas também para os diversos escalões das forças armadas. Apesar de circular, desde o final de 1941, o burburinho de que o Brasil poderia se alinhar às potências aliadas, ainda mais devido à grande pressão exercida pelos Estados Unidos em sua busca por um aliado forte nas Américas, nada preparou as forças armadas pelo que estava por vir.
Enquanto a Marinha, com sua frota modesta, mas minimamente organizada, e o Exército, com seu razoável efetivo, poderiam aparentar um grau de preparo para uma guerra em escala global, a Aeronáutica, com seus defasados e minguados recursos, parecia ser o patinho feio de todos os braços das forças brasileiras.
Apesar de o começo dos anos 30 virem um grande afluxo de aeronaves modernas para a Aeronáutica Brasileira, tais como os Vought V.65B e V.66 Corsair e Curtiss O-1E Falcon, ao final da década era claro que tal frota estava ficando cada vez mais antiquada face aos grandes saltos da indústria aeronáutica.
A situação se tornava ainda crítica se considerada a missão inglória que as forças aéreas do Exército e da Marinha (a FAB ainda não havia sido criada à época) foram designadas para cumprir no começo da guerra, de defender basicamente todo o litoral brasileiro da ameaça dos furtivos submarinos alemães e italianos (os chamados U-Boots). Assim, a mais negligenciada das forças brasileiras se encontrava agora no front da defesa da soberania nacional.

Por dados gerais da Aeronáutica, em conjunto com informações obtidas por outras fontes (artigos, livros e arquivos) se coloca em aproximadamente 80 a 90 o número de aeronaves operacionais da FAB com capacidade ofensiva no começo de 1942. Essas seriam cinco Boeing 256 (F4B-4), sete Boeing 267 (F4B-3), 29 Vought V.65 Corsairs, 14-20 Focke-Wulf Fw 58 Weihe, três Savoia-Marchetti SM.79 e 24 Vultee V.11-GB2.
Os 12 Boeing do modelo F4B compunham o cerne do grupo de caça brasileiro à época, enquanto os Vought atuavam no papel de reconhecimento e cooperação com o exército. Os Focke-Wulf, Savoia e Vultee atuavam nas mais diversas funções, desde força de bombardeio até como aeronaves de reconhecimento estratégico e patrulha.
Cabe lembrar que além destas aeronaves, existia um pot-pourri de outros pequenos aparelhos, alguns razoavelmente modernos, tais como 30 North American NA-72s, treinadores robustos da família “Texan”, e oito Lockheed 12A, bimotores de construção metálica usados para transporte, que poderiam em caso de emergência, ser convertidos rapidamente em aeronaves para fins verdadeiramente militares.
Como se pode ver, quase todas as aeronaves já há muito haviam sido consideradas obsoletas pelas principais forças aéreas do mundo, sendo basicamente o refugo de vários fornecedores militares. No entanto, seria com esses parcos recursos que as unidades aéreas do Exército e Marinha se preparariam para uma guerra – uma muito diferente das que já tinham participado.
Na Parte 2: O choque de uma Guerra Mundial (1942)
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Como sempre as coisas nos pegam de calça curta.. .e não aprendemos aínda!!! Rsrsrs
Na primeira foto, não há favelas.
Bons tempos.
Em 1961 as favelas abrigavam 15% da população do Rio de Janeiro. Em 1985 eram 40%. Uma tragédia aconteceu nesse período.
Problema que teria sido fácil de resolver no início. Construção de moradias populares dignas e padronizadas, obrigatoriedade de paisagismo, arborização radical e ao mesmo tempo ” chao” a qualquer embrião de ocupações irregulares. Com o tempo a própria população, disciplinada pela repetição e orgulhosa de suas belas e bem cuidadas cidades, se encarregaria de evitar a degradação. Ps: A agora famosa e quase que diariamente presente na mídia, “paraisopolis” surgiu, pasme! Em 1989, 1990. O que era apenas um terreno virou invasão sob os auspícios da então administração municipal de SP destruindo o Morumbi e hoje causando dor de cabeça… Read more »
Alguns projetos foram feitos assim. Geralmente removiam as pessoas de áreas nobres e as fixavam em locais bem distantes. Alguns exemplos são a Vila Kennedy, a Cidade de Deus e a Cruzada São Sebastião, lugares hoje ocupados por milicianos.
A primeira surgiu em 1896/1897, no morro da Providência, ocupado por ex-militares da Campanha de Canudos. Antes disso, a modernização para dar ares europeus à capital do país expulsou os pobres do Centro, que passaram a ocupar os lugares que podiam.
A imagem de abertura da matéria não é a Base Aérea dos Afonsos? As montanhas ao fundo alinhadas ao pátio e cabeceira da pista 26 torna evidente que essa foto foi feita lá, e não no Galeão como mencionado.
Concordo.
Obrigado, Rodrigo. Corrigimos, abs!
Na primeira foto há um dos 3 exemplares do S.M.79 que operamos no Brasil, e mais ao fundo, aparenta ser um dos Fw.58 pousando. Se for mesmo o Focke-Wulf, essa foto pode ter sido tirada imediatamente após a criação da FAB, porque o Campo dos Afonsos era da Aviação Militar, enquanto que o Fw-58 era da Aviação Naval.
A legenda, difícil de ler, diz que é ‘Passagem de Ministério,’ então talvez seja mesmo esse o caso. A passagem da base e seus meios para o recém-criado Ministério da Aeronáutica.
Definitivamente uma foto interessante.
Excelente link Roberto. Obrigado.
Obrigado, Bob!
Interessante. Essa eu não sabia.
Umas das histórias perdidas da segunda guerra é o aeroporto de Caravelas no sul da Bahia onde recebia os aviões dos E.U.A e próximo do aeroporto o alojamento onde ficavam os oficiais e soldados que no dia de hoje está em ruínas.