Por Jan Tegler

Analistas de defesa afirmam que a Força Aérea dos EUA está adotando o ataque marítimo de uma maneira que não fazia há décadas.

No último ano, a Força anunciou vários esforços para fortalecer sua capacidade de combater as forças navais chinesas. Essas iniciativas incluem a compra adicional do sofisticado míssil antinavio de longo alcance da Lockheed Martin (LRASM), a integração da arma com novas e antigas frotas de caças e o desenvolvimento acelerado de munições de ataque marítimo mais baratas e de produção mais rápida.

Essas medidas são uma resposta lógica aos desafios apresentados pelos mísseis balísticos, de cruzeiro e hipersônicos da China contra a Marinha dos EUA no Pacífico, disse o tenente-general aposentado da Força Aérea, David Deptula, reitor do Instituto Mitchell de Estudos Aeroespaciais.

“A melhor maneira de alcançar a dominação marítima em um conflito no Indo-Pacífico é pelo ar, não pelo mar”, afirmou.

Essa ideia foi reconhecida pelo comandante das Forças Aéreas do Pacífico, general Kevin Schneider, quando questionado pela National Defense sobre como a Força Aérea vê seu papel no ataque marítimo.

“Os comandos componentes de cada comando combatente operam sob uma estrutura de guerra conjunta, que reúne todas as capacidades para gerar efeitos. Como tal, o componente aéreo desempenha um papel fundamental na guerra conjunta – e uma de suas funções é produzir efeitos no ambiente marítimo”, disse ele em uma resposta por escrito.

Em janeiro, o Comando de Sistemas Aéreos Navais anunciou que está trabalhando na integração do AGM-158C-1 LRASM nas novas frotas F-15EX e F-15E da Força Aérea.

F-15EX lançando LRASM

O F-15EX, uma versão modernizada do antigo caça de superioridade aérea F-15C/D, foi projetado para substituí-lo e se juntará ao F-15E como a única aeronave tática de longo alcance da Força Aérea. Ambos os modelos do Eagle podem carregar uma quantidade de armas muito maior do que os furtivos F-35A e F-22 da Força.

A Força Aérea já emprega o LRASM em sua frota de bombardeiros B-1B. Com um alcance estimado de 480 a 800 quilômetros, o míssil também é usado pelos F/A-18E/F Super Hornet da Marinha e está sendo adaptado para os caças F-35C e para a aeronave de reconhecimento marítimo P-8A Poseidon.

O Desafio Chinês

Os esforços da Força Aérea para expandir sua capacidade de ataque marítimo terão que estar alinhados com a prioridade do comandante do Comando Indo-Pacífico, almirante Samuel Paparo, que é dissuadir uma possível invasão de Taiwan, disse Bryan Clark, pesquisador sênior do Instituto Hudson.

Se a Força Aérea mantiver seu papel tradicional de tentar alcançar a superioridade aérea atacando bases aéreas no território chinês – por exemplo, usando bombardeiros furtivos B-2 ou B-21 equipados com a versão terrestre do LRASM, o míssil de ataque conjunto ar-superfície de longo alcance (JASSM) –, isso pode não impedir a China de invadir Taiwan.

“A China pode pensar: ‘Tudo bem, vamos perder várias aeronaves, mas ainda assim conseguiremos invadir Taiwan, que é nosso objetivo real'”, disse Clark. “Mas se, em vez disso, você estiver adquirindo LRASMs e outras armas antinavio e as colocando em todas as aeronaves que possam carregá-las, talvez isso mude o cálculo da China.”

Nos primeiros dias de uma campanha para defender Taiwan, “a Força Aérea carregará a maior parte da carga do ataque marítimo”, disse Mark Gunzinger, diretor do Instituto Mitchell para conceitos futuros e avaliação de capacidades.

A frota de bombardeiros de longo alcance da Força poderá lançar muito mais armas contra embarcações anfíbias e outros navios de guerra chineses no Estreito de Taiwan e na primeira cadeia de ilhas do que a Marinha, segundo Gunzinger e Deptula.

“Se falamos de porta-aviões, estamos falando de uma posição a mais de 1.600 quilômetros de distância para reduzir a ameaça de mísseis balísticos e de cruzeiro antinavio do Exército de Libertação Popular chinês, que está bem preparado para usá-los contra nossos navios”, disse Gunzinger.

Deptula acrescentou que, uma vez que os grupos de ataque de porta-aviões e os submarinos esgotem seus estoques de munições de ataque marítimo, “eles ficarão fora do combate por um tempo” até reabastecer suas armas no mar ou voltar para um porto.

Clark disse que acredita que a Marinha chinesa destacaria alguns combatentes de superfície, incluindo seus próprios grupos de ataque de porta-aviões, mais afastados do Estreito de Taiwan para proteger a periferia do combate.

Os mísseis balísticos chineses DF-26, com alcance estimado de 4.000 quilômetros, forçariam os caças baseados em porta-aviões dos EUA a operarem no limite extremo de seu alcance.

“Os pilotos terão que percorrer 1.600 quilômetros com reabastecimento aéreo até o ponto onde poderão lançar armas que terão que viajar mais 800 quilômetros para atingir o Estreito”, disse Clark.

Isso limitaria a eficácia de mísseis como o LRASM, pois eles teriam que seguir em linha reta até os alvos, tornando mais fácil para o inimigo prever seus ataques.

Estoque de Munições

Outro desafio, segundo os analistas, é o estoque de munições de ataque marítimo dos EUA. O orçamento da Força Aérea para 2025 solicita uma aquisição plurianual do LRASM, com a compra planejada de 549 unidades até 2029, ao custo total de US$ 1,7 bilhão.

Esse suprimento poderia ser esgotado em poucos dias, observou Gunzinger, acrescentando que os LRASMs são caros – custando mais de US$ 3 milhões por míssil – e difíceis de produzir rapidamente devido à complexidade de seus componentes e à cadeia de suprimentos limitada.

Por isso, a Força Aérea está explorando opções mais baratas, como o Munição de Ataque de Alcance Estendido (ERAM), projetado para ser um míssil de precisão lançado do ar com um alcance de 800 quilômetros.

Clark observou que um pedido recente da Força Aérea especifica que o ERAM deve ter “alcance de 800 quilômetros e capacidade de produzir 1.000 unidades nos primeiros seis meses de produção.”

Outra inovação são mísseis de cruzeiro de baixo custo, como o Franklin, que podem ser lançados de aeronaves de transporte C-130 Hercules, criando uma “onda” de ataques antes dos mísseis furtivos como o LRASM.

O Papel dos Bombardeiros

A Força Aérea enfrenta ainda outro desafio: sua frota de bombardeiros é relativamente pequena, com menos de 20 B-2 disponíveis. O B-21 Raider, sua aeronave mais avançada, ainda não entrou em operação.

Isso significa que a Força terá que decidir quais missões priorizar.

Clark disse que se a Força Aérea usar caças de curto alcance como o F-35A e bombardeiros de alta assinatura como o B-1B e o B-52 para ataques marítimos, “perderá muitos deles.”

Mas se os B-2 e B-21 forem combinados com submarinos e drones marítimos do Comando Indo-Pacífico, os EUA podem ter sucesso.

“Se você combina essas aeronaves furtivas com um enxame de sistemas não tripulados no Estreito de Taiwan, como o almirante Paparo defende, nossos modelos mostram que isso é muito eficaz”, explicou Clark.

Deptula concluiu que a Força Aérea desempenhará um papel essencial na estratégia conjunta e que o F-15EX será uma peça fundamental, pois pode ser rapidamente rearmado e trazido de volta à luta.

“O valor do F-15EX é que ele pode ser reabastecido rapidamente e voltar ao combate. Essa é a utilidade do poder aéreo reutilizável.”

FONTE: National Defense Magazine

Subscribe
Notify of
guest

24 Comentários
oldest
newest most voted
Inline Feedbacks
View all comments
Paulo Costa

Deverão usar armas standoff,como no B-52,a tecnologia atual permite isto

Rinaldo Nery

Davi Deptula é o último pensador vivo do Poder Aéreo. Fez parte do Estado Maior da Força Aérea Componente na Guerra do Golfo. Braço direito do Lt Gen Charles Horner, JFACC. Bom exemplo pra quem pensa que a MB deve ter Gripen pra atacar navio. A FAB faz isso desde a Segunda Guerra.

Angus

Atualmente a FAB faz isso com o que mesmo? fiquei em dúvida, F-5M com bomba burra?, A-1M (esse já não conta mais)? P-3AM com Harpoon (desconheço um único lançamento)? P-95M com foguete?

Rinaldo Nery

E a MB? A-4 com bomba burra, também?

Angus

Esse é o ponto.
Hoje nem FAB, nem Marinha, aparentemente, tem a capacidade de fazer o que os Argentinos fizeram ainda em 1982 com o Super Étendard.
Não é possível achar isso normal.
Quase igual ao Exército não ter AAe de média altura.
Não tem como explicar ou justificar.

Rinaldo Nery

Ninguém disse que é normal.

Miguel Felicio

Penso que uma grave problema de nossa “Forças Armadas” é cada uma pensar em si só e não em uma união de doutrina de emprego e tipo de armas…….

Aéreo

O razoável a ser feito, me parece ser é a compra de um pequeno lote de RBS-15 que já são integrados ao Gripen, mantendo uma capacidade básica de dissuasão e desenvolvimento da doutrina. Isso nos igualaria ao que os argentinos já fazem há mais de 40 anos.
É a opção mais barata e segura.

Rinaldo Nery

Exato. Qualquer bom míssil (há vários no mercado). Lançar a partir de um avião de combate não tem nenhum segredo. Não sei se os argentinos ainda fazem…

Last edited 4 dias atrás by Rinaldo Nery
Luís Henrique

Solução mais rápida, econômica e letal disponível. Os Gripen estão chegando, só adquirir um lote de RBS-15.

Outra opção é a versão lançado do ar do MANSUP-ER. Mas seria mais demorado, por outro lado teríamos maior autonomia.

De qualquer forma o Gripen E não é a plataforma ideal, o Gripen E não tem a carga de armas e o alcance de caças pesados como F-15EX e Su-34.

Miguel Felicio

Ainda dá tempo de empregar o dinheiro a ser gasto em uma possível compra de talvez RBS-15, no desenvolvimento de uma versão lançada de avião, do nosso MANSUP.

Diego

Acredito eu que o MANAER esteja em vias de ser desenvolvido pela SIATT, uma vez que o sócio da SIATT o EDGE Group é uma estatal dos Emirados Árabes Unidos e estes adquiriram caças Rafale franceses, e o MANSUP é plug and play com Exocet naval, imagino que a empresa seja capaz de fazer o MANAER plug and play com o Exocet aerotransportado, o que pode ser uma ótima para nós. Lembrando que isso é achismo meu, mas acredito que o meu raciocínio possua uma lógica.

Miguel Felicio

Temos o MANSUP e podemos melhorá-lo, ……como disse acima, não existe união entre as “forças” (se o são), não existe apoio (apoio mesmo) à industria nacional.

Henrique A

A FAB adquiriu um lote de Lizard e SPICE que podem ser usados contra belonaves.

Angus

Enquanto isso, no Brasil, a Força Aérea não quer mais os P-3AM, que hoje são os únicos aviões do inventário com capacidade para disparar mísseis para ataque marítimo (supondo que os Harpoon existam e estão estocados) e a Marinha insiste com os A-4M, que só tem capacidade de lançar bombas “burras”. Assim o ataque marítimo eficaz quase que se resume apenas ao Seanawk com penguin. O restante ninguém sabe ou ninguém viu. Lembrando que a Argentina já tinha o Super Étendard em 1982 e o Brasil até hoje não tem nada parecido (por favor, que ninguém cite os 9 Gripen,… Read more »

Guizmo

Assino embaixo

Henrique A

Os Skyhawk da MB foram modernizados num patamar em que eles podem ser armados com armas guiadas e levar pods de designação de alvos; o problema é mais financeiro e de leniência por parte da MB.

A MB não poderia alocar 1 ou 2 milhões para adquirir alguns mísseis Harpoon ou mesmo Maverick que mesmo variantes mais antigas do Skyhawk já estão homologadas para levá-los? É complacência.

Luís Henrique

1 ou 2 mi se for de dólares talvez dê para Meio Harpoon.

Leandro Mendes

Tem as Kombis com AM39 também.

Miguel Felicio

“KOMBIS” só par nóis que temos MUITOS outros para operar………

Henrique A

A MB poderia pelo menos adquirir um pequeno lote de Paveway III ou Lizard ou mesmo Harpoon para ter alguma capacidade crível de ataque naval com os Skyhawk; achar que vai conseguir fazer ataque à uma força naval moderna com bomba burra é sandice.

Bosco

A grande vantagem do LRASM é que ele não exige uma cadeia de destruição extremamente complexa e que depende de plataformas de reconhecimento que permaneçam dentro do alcance das defesas de um porta-aviões. Já os tais ASBM chineses com milhares de quilômetros de alcance têm o calcanhar de Aquiles de exigirem uma cadeia de destruição complexa e que adentre a área de defesa de um CSG. Para designar um enxame de LRASMs bastam os dados fornecidos por satélites ELINT e/ou de reconhecimento fotográfico de baixa latência. Em na área designada o míssil procura e acha seu alvo por conta própria… Read more »

ln(0)

“A melhor maneira de alcançar a dominação marítima em um conflito no Indo-Pacífico é pelo ar, não pelo mar”. David Deptula
Será que isso não poderia ser adaptado ao nosso país? Se no Indo-Pacífico é importante por que no Atlântico Sul não?

Ricardo Araujo

Novidade nenhuma. É apenas uma volta às origens desta força. Uma de suas mais famosas aeronaves, o B-17, surgiu com esta função primária, defender o país de frotas navais inimigas. Aliás, o nome “Fortaleza Voadora” deriva daí.