MoD britânico investiga casos de câncer em tripulações aéreas após alegações sobre helicópteros

O governo britânico está investigando quantos militares foram diagnosticados com câncer, após alegações de que alguns helicópteros expuseram suas tripulações a vapores tóxicos.

Pelo menos seis casos já foram resolvidos fora dos tribunais pelo Ministério da Defesa (MoD), e dezenas de outros membros da tripulação aérea e suas famílias estariam em processo de ação judicial.

Eles alegam que as autoridades sabiam das preocupações com a segurança de certas aeronaves desde 1999, mas optaram por não informar a tripulação nem introduzir precauções de segurança suficientes.

O MoD afirma que leva “a saúde de nosso pessoal extremamente a sério” e está atualmente testando as emissões de escapamento de alguns helicópteros militares.

As doenças contraídas por alguns dos tripulantes que voaram nesses helicópteros incluem câncer de pulmão, câncer de garganta, câncer testicular e algumas formas raras de câncer no sangue.

O jornal The Times relatou no ano passado que pelo menos três ex-tripulantes morreram e outros foram informados de que seu câncer é terminal.

Entende-se que o governo reconhece que o design de algumas aeronaves de asa rotativa aumenta a probabilidade de os gases de escape do motor entrarem na cabine.

O benzeno, que é um carcinógeno humano conhecido, está presente no combustível das aeronaves.

Em novembro, o governo iniciou testes nos gases de escape dos helicópteros, mas entende-se que as autoridades ainda acreditam que não há risco à saúde.

O MoD confirmou que agora está realizando um estudo para determinar quantos membros das forças armadas serviram como tripulantes de aeronaves e foram diagnosticados com câncer.

Entende-se que esse trabalho começou oficialmente no início deste ano, abrangendo a RAF (Força Aérea Real), o Exército e a Marinha, incluindo veteranos e militares ativos.

Quando questionado pela BBC News, o MoD não conseguiu dizer quando espera apresentar uma estimativa inicial do número de pessoas potencialmente afetadas.

No entanto, uma fonte de Westminster familiarizada com a investigação disse que as dificuldades no acesso aos registros médicos dos veteranos podem fazer com que o processo leve anos.

Acredita-se que mais de 150 pessoas tenham procurado escritórios de advocacia alegando terem sido afetadas, mas muitas não serão elegíveis para compensação, já que a lei que permite ações contra o MoD só entrou em vigor em 1987.

Pelo menos quatro tipos de aeronaves foram mencionados em documentos legais, incluindo os modelos Sea King, Westland Wessex, Puma e CH-47 Chinook.

O escritório de advocacia Hugh James, que representa muitas das famílias afetadas, alega que os riscos relacionados ao Sea King foram claramente comunicados ao MoD em 1999.

Eles afirmam que um relatório “recomendou modificações na aeronave para desviar os gases de escape”, mas que o MoD “não tomou medidas com base nessas recomendações” e “falhou em alertar os militares sobre os perigos potenciais e o risco de desenvolvimento de câncer”.

O Sea King foi usado em operações militares britânicas entre 1969 e 2018 e, no passado, foi pilotado tanto pelo Rei Charles quanto pelo Príncipe de Gales.

O Westland Wessex foi aposentado em 2003, enquanto os modelos Puma e CH-47 Chinook ainda estão em operação.

O MoD apontou testes anteriores realizados em helicópteros em nome da RAF que não indicaram que a tripulação aérea estivesse sendo exposta a níveis perigosos de contaminantes.

Louisa Donaghy, advogada sênior do escritório Hugh James, disse que o escritório representa mais de 40 ex-militares, mas alertou que esse número pode ser ainda maior.

“É encorajador que o MoD tenha começado a investigar a escala desse problema, mas o processo deve ser rápido e transparente”, disse ela.

“Cada atraso significa que mais veteranos e militares podem ficar sem o apoio de que precisam. Dada a dificuldade de acesso aos registros dos veteranos, é vital que o governo aloque os recursos necessários para garantir que ninguém seja negligenciado.”

No mês passado, a BBC News usou um pedido de Liberdade de Informação para perguntar ao MoD quantos tripulantes atuais e antigos eles sabem que foram diagnosticados com câncer.

O MoD respondeu que não possuía esses dados centralmente, mas confirmou que o trabalho para determinar o número de pessoas afetadas estava em andamento.

Um porta-voz do MoD afirmou que “levamos a saúde de nosso pessoal extremamente a sério e revisamos regularmente nossos processos para garantir que estamos fazendo tudo o que podemos para manter nossa equipe segura”.

Ele acrescentou que é “essencial que possamos garantir a segurança de nosso pessoal no trabalho”.

FONTE: BBC