Parados na pandemia, pilotos de avião cometem erros no retorno aos céus

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Desempregados, afastados ou simplesmente destreinados devido à redução de voos na pandemia, pilotos cometeram dezenas de erros no retorno à atividade

De volta à cabine depois de um período para se recuperar da Covid-19, um piloto de uma companhia aérea se esqueceu de acionar o segundo motor do avião para a decolagem, um erro que poderia ter acabado em desastre se ele não tivesse abortado o voo.

Outro piloto, que retornava ao trabalho depois de sete meses desempregado por causa da pandemia, na descida para a aterrissagem no início da manhã, percebeu quase tarde demais que não tinha baixado as rodas e reverteu a aproximação a apenas 240 metros da pista.

Semanas antes, um avião de passageiros saindo de um aeroporto movimentado seguiu na direção errada, pilotado por um capitão que voava pela primeira vez em mais de seis meses.

Todos esses erros potencialmente desastrosos ocorreram nos Estados Unidos nos últimos meses, quando pilotos voltaram ao trabalho. Em todos os casos, a tripulação atribuiu as falhas à falta de voos durante a Covid-19, a pandemia mais mortal desde o surto de gripe de 1918 e certamente a única a causar tantos estragos no que antes era uma dinâmica indústria de aviação global.

Os incidentes estão entre dezenas de erros, relatados confidencialmente por pilotos afastados das atividades desde o início da pandemia, que são guardados em um banco de dados discreto criado para identificar ameaças emergentes à segurança. O programa de monitoramento, financiado pela Administração da Aviação Federal dos EUA, foi lançado há décadas, mas agora envia sinais de alerta quando aviões retornam aos céus no mundo todo.

Demissões em companhias aéreas deixaram cerca de 100 mil pilotos com horas mínimas de trabalho ou em licenças de longa duração, segundo a consultoria Oliver Wyman. Muitos não pilotam há mais de 18 meses. Mas, à medida que as crescentes taxas de vacinação permitem que as viagens sejam retomadas, aumenta a preocupação de que a falta de proficiência, confiança ou simplesmente um momento de esquecimento possam causar tragédias.

“É realmente uma situação crítica”, disse Uwe Harter, piloto do Airbus A380 para a Deutsche Lufthansa, atualmente afastado, que também é vice-presidente executivo de padrões técnicos e de segurança da Federação Internacional de Associações de Pilotos de Linhas Aéreas. “A última coisa que o setor precisa agora é de um acidente grave.”

Embora algumas companhias aéreas ofereçam reciclagem adequada aos pilotos, outras fornecem “o mínimo”, se é que algo, disse Harter, que não pilota desde fevereiro de 2020. “Os regulamentos que temos não são suficientes.”

Não é que as autoridades ignorem o problema. A Organização da Aviação Civil Internacional , que define os padrões da indústria, e a Associação Internacional de Transportes Aéreos alertam sobre os riscos há meses. Ambos os órgãos, bem como o principal regulador do setor de aviação da Europa, publicaram guias de treinamento detalhados para ajudar companhias aéreas a fazerem a transição de pilotos destreinados de volta aos céus.

Mas entrevistas com pilotos da Ásia e Europa – e o banco de dados de relatos anônimos nos Estados Unidos – revelam vários graus de habilidade e confiança entre os que retornaram ao trabalho, incluindo pilotos que concluíram programas de reciclagem.

Em parte, isso se deve ao fato de que nenhuma sala de aula ou teoria virtual, ou prática em um simulador de voo, pode replicar as pressões da vida real de uma cabine de comando. Nem esses preparativos levam totalmente em consideração o impacto do estresse psicológico, emocional e financeiro da pandemia sobre a tripulação de companhias aéreas.

A aviação registrou enormes perdas financeiras por causa da pandemia: US$ 138 bilhões só no ano passado e outros US$ 52 bilhões esperados em 2021. À medida que a indústria tenta recuperar parte da receita perdida, administrar os riscos de segurança representados pelo retorno dos pilotos é um fardo extra que aéreas com balanços mais sólidos podem se dar ao luxo de lidar com mais eficiência do que outras.

FONTE: Bloomberg, via Exame

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Dod

Piloto usando o Flight simulator: “Vou posar sem os flapi”

Welington S.

Aí dá aquele bug que você vai pra de baixo do chão ou seu avião simplesmente kika no chão e tá no ar novamente.

Rafaelsrs

Isso depende das suas configurações né?! O FS tem configurações que deixam o voo o mais real possível num computador. Tem o Prepar3D que também é bastante real.

Welington S.

Sim, claro!

Rafaelsrs

Quem usa Flight Simulator sabe que ao se aproximar da pista sem trem de pouso faz alarmar até o último fio de cobre do avião.
A mesma coisa tentar decolar sem o envelope correto também soa alarme na cabine.

angelo

Esquecer de acionar motor ou de baixar o trem de pouso não se justifica por ficar 1 mês, 6 mêses e ou 1 ano parado… são erros primários…eram pilotos mesmo?…inacreditável

PACRF

Concordo.

sergio

Exato !!!!!

John

É mais comum do que você imagina, e acontece até mesmo com pilotos extremamente experientes. Existem vários fatores que podem aumentar a probabilidade de um erro aparentemente grosseiro ocorrer. Quebra de sequência (enquanto o piloto estava realizando o checklist para pouso, foi interrompido pelo órgão de controle, ou pelo comissário, ou por qualquer outro motivo. E aí ao retornar ao checklist “pulou” o item, por exemplo) Fadiga (imagina como está sua concentração no seu quinto voo do dia, às 06:00 da manhã depois de ter passado 10h trabalhando?) Não devemos ter tanta pressa para julgar os pilotos, devemos entender o… Read more »

Rafael Gustavo de Oliveira

vou viajar daqui alguns dias, você não sabe o quanto me conforta essa materia…rs
a pandemia também restaurou a fé das pessoas, sabia? kkkk

Rinaldo Nery

Aqui no Brasil, pelo menos na Azul, não tivemos isso não.

AMSS

Matéria bastante sensacionalista, praticamente todas as situações citadas t.chamce baixíssima de ocasionar um “desastre”, como foi citado, pois existem diversos sensores e alarmes que monitoram esses parâmetros.

Tô avião é projetado para decolar com menos um motor e ÓBVIO que o piloto ia perceber a falta de empuxo durante a corrida.

Tentar pousar sem o trem de pouso (não “as rodas do avião”) abaixado faz soar diversos alarmes na cabine e logo um arremetida segura.

Erros acontecem, mas a aviação é muito bem evoluída para impedir que erros se transformem em acidentes e que acidentes se tornem em fatalidades.

Fabio Araujo

Esse problema esta acontecendo com vários profissionais em todas as áreas, a falta de prática por um certo tempo tem cobrado o seu preço. Para diminuir esses erros não poderiam ter passado por um período de reciclagem em simuladores?

Rinaldo Nery

No Brasil passamos.

Reginaldo

Me lembrei de um vídeo que dois senhores franceses pousaram um monomotor sem baixar os trens de pouso. O mais maluco foi eles terem ignorado totalmente o alarme de aviso e depois da cagada um olha na cara do outro com cara de bunda kkkk…

João Fernando

Ozires Silva?

Willber Rodrigues

Pergunta de leigo:
Os aviões não avisam quando você deixa de fazer algum determinado procedimento, tipo, não ligar uma das turbinas quando começam a fazer os procedimentos de decolagem?
Não tem nenhum alarme ou aviso sonoro que o sistema avisa pro piloto que ele tá esquecendo de algo?

RenanZ

Existem alarmes de configuração de decolagem/pouso, e como redundância outros diversos checklists que fazem ambos pilotos (pelo menos em aeronaves comerciais) a verem e reverem status de determinado sistema, por vezes mais de uma vez.

Miguel Carvalho

Será que a foto da matéria não é a curva á direita para aterrar na ilha da Madeira?

Carlos

Certo… foi durante muito tempo umas das mais vistas do site airliners.net

Leandro Costa

Sei não, Roberto. No Do X acho que esquecer de acionar um dos motores faz com que o bicho nem consiga decolar hehehehe.

Mas bem lembrado. Meu avô conseguiu testemunhar o Do X quando esteve no Rio. É uma aeronave que fica marcada na minha cabeça justamente por isso (e porque também a acho linda demais).