O Poder Aéreo visitou recentemente a Ala 10, que está situada no município de Parnamirim ao lado da cidade de Natal no estado do Rio Grande do Norte e é o mais importante centro de formação dos aviadores da Força Aérea Brasileira.

A Ala 10 também é palco da mais importante manobra aérea do continente sul-americano, a Operação CRUZEX, reunindo ótimas capacidades de espaço físico, além das boas condições meteorológicas na maior parte do ano.

A formação de pilotos é uma atividade crucial, notadamente a especialização do piloto militar, sempre exigente na moderna aviação de combate, em constante evolução.

Hoje a Ala 10 detém um papel vital: após os quatro anos na Academia da Força Aérea (AFA) na cidade paulista de Pirassununga os jovens aspirantes aviadores seguem para o 1°/5°GAV, onde são lapidados nas suas especializações de aviadores.

Na Ala 10 em Natal-RN estão baseados os esquadrões; 2º/5º GAV (Joker) de instrução de caça, equipado com as aeronaves A-29 Super Tucano, o Esquadrão 1º/11º GAV (Gavião) de instrução em asas rotativas, equipado com o helicóptero UH-50 Esquilo, e o esquadrão 1°/5° GAV (Rumba) com os C-95 Bandeirante, responsável pela formação dos futuros pilotos da aviação multimotor da Força Aérea Brasileira.

Brigadeiro do Ar José Virgílio Guedes de Avellar – Foto: Valter Andrade

O atual comandante da Ala 10, Brigadeiro do Ar José Virgílio Guedes de Avellar, diz: “É muito gratificante retornar a Natal, agora com um aumento de responsabilidade”. Ele também já foi aspirante no esquadrão Rumba, posteriormente seguiu carreira na aviação de patrulha na FAB, voando nos P-95 Bandeirulha, onde realizava longas missões de patrulha de até seis horas sobre vasto mar territorial brasileiro. Avellar ressalta a importância que tem a preparação realizada pelo 1°/5°GAV: “Transformar o cadete, aumentando a responsabilidade, deixando nele um legado de disciplina”, complementa sorridente e orgulhoso o brigadeiro.

Um pouco de história

B-25J

O 1º/5º Grupo de Aviação foi ativado em 24 de abril de 1947 na Base Aérea de Natal, inicialmente utilizando aviões B-25 Mitchell para a formação das tripulações. Realizava missões de treinamento, onde se destacavam as de bombardeio rasante, picado, horizontal e voo em formação.

Após dez anos de serviço, em 1957, os B-25 foram substituídos pelos B-26 Invader. Com estas aeronaves, em 1964, o esquadrão recebeu o troféu “Segurança de Voo” da USAF, por ter completado 6.000 horas de voo sem acidentes.

B-26 Invader

A origem do nome Rumba data ainda em 1950, quando foi realizada pelo 1º/5º GAV uma grande manobra que incluía missões de patrulha marítima com a participação da Marinha do Brasil com duas corvetas, que mantinham contato permanente via rádio com as aeronaves do esquadrão.

Para isso, foram adotados códigos de chamadas: a torre de controle de Natal era chamada de “Flauta”, enquanto as aeronaves do 1º/5º GAV tinham o código de chamada “Rumba”, seguido do número do piloto em comando. Dado o entusiasmo gerado pelo sucesso das missões, o 1°/5° GAV passou a ser conhecido como Esquadrão Rumba.

Foto: Valter Andrade

Já em 1971, o 1º/5º GAV foi transferido para a Base Aérea de Recife, onde permaneceu até a sua desativação em 1973.

Anos depois, o esquadrão foi reativado em Natal, incorporando os aviões C-95 Bandeirante fabricados pela Embraer, ministrando instrução avançada em aeronaves multimotores aos jovens aspirantes da FAB.

O Bandeirante é empregado em diversos tipos de missões, com a instrução ministrada pelo 1º/5º GAV preparando as tripulações para as missões de busca e salvamento, patrulha, reconhecimento, transporte e ligação e observação.

Foto: Valter Andrade
Foto: Valter Andrade

Em 1994, o C-95 Bandeirante deixou de ser utilizado pelo 1º/5º GAV que, após um período de dois anos, foi declarado como Esquadrão de Ataque, sendo reequipado com os AT-27 e T-27 Tucano.

Em 2002, o Esquadrão passou por outra mudança, com a desativação do CATRE (Comando Aéreo de Treinamento) em 1º de janeiro daquele ano. O 1º/5º GAV foi transferido, no dia 9 do mesmo mês, para a Base Aérea de Fortaleza, voltando a operar aeronaves C-95 Bandeirante, com a função de treinar os futuros pilotos da aviação de transporte, reconhecimento e patrulha.

No final de 2012, o Esquadrão recebeu os primeiros C-95M Bandeirante modernizados. No ano seguinte, em outubro de 2013, o 1°/5° GAV retornou para sua antiga casa, a BANT (Base Aérea de Natal), hoje inserida na Ala 10.

AERONAVES VOADAS PELO 1°/5° GAV – ESQUADRÃO RUMBA

  • B-25 J “Mitchell”

  • B-26 B/C “Invader”
  • A-26 B “Invader”

  • T-27 “Tucano”

  • AT-27 “Tucano”

  • C-95 A/B “Bandeirante”

O Brasão do Esquadrão Rumba

Em 1952, o Tenente Aviador Hugo Hélio Corrêa Bastos idealizou a “bolacha” do Rumba, identidade que perdura até hoje. Composta por um Galo de Campina que se assemelha ao Pica Pau, mas não possui o penacho na cabeça, sendo uma ave típica do nordeste brasileiro, foi pintado sobre uma bomba, identificando a tarefa principal do esquadrão na época, como uma unidade de bombardeio. Outro detalhe que identifica o esquadrão com a região nordeste do Brasil é o céu azul com uma camada de nuvens brancas, e uma expressão bem típica da região; “Êta Cabra da Peste!”, e compondo o personagem o chapéu de vaqueiro e o coco verde.

Curso de Especialização Operacional

Foto: Cap Av Rodrigo Alcantara
Foto: Cap Av Rodrigo Alcantara

Ao Primeiro Esquadrão do Quinto Grupo de Aviação compete ministrar aos pilotos estagiários diversos cursos. Operando com aeronaves C-95M Bandeirante o 1º/5º GAV, anualmente ministra o CEO (Curso de Especialização Operacional) a uma parcela de oficiais aviadores formados na AFA (Academia da Força Aérea).

O curso consiste em duas fases: básica e avançada. Na primeira, os estagiários do CEO aprendem a operar a aeronave Bandeirante, realizando missões de adaptação diurna e noturna, voo por instrumentos, navegação e voo de formatura.

O Aspirante tem seu desempenho avaliado em três campos: militar, funcional e operacional.

Na fase básica, os estagiários terão o primeiro contato com a aeronave, onde aprenderão a operar nas diversas missões: adaptação diurna e noturna, voo por instrumentos e viagens de navegação, quando terão a oportunidade de pousar em diferentes aeroportos. Visando também o emprego militar da aeronave, realizarão missões de voo em formatura.

Na fase avançada, os estagiários realizam missões de treinamento específicas das aviações nos cursos CEOIVR (Inteligência, Vigilância e Reconhecimento) e CEO-TR (Transporte), recebendo instrução teórica da respectiva aviação.

No CEO-IVR a instrução é recebida dos Esquadrões de Patrulha, que são o 2º/7º GAV sediado em Canoas-RS e o 3º/7º GAV sediado em Belém-PA.

Foto: Valter Andrade

Ao final estão capacitados para compor equipagens operacionais, prontos para seguirem suas carreiras operacionais nos diversos esquadrões da Força Aérea Brasileira.

Pelos corredores do esquadrão é constante a movimentação dos jovens aspirantes no frenético ir e vir entre voos, constantemente sendo avaliados pelos instrutores que os acompanham em todas as etapas de seu intenso período no 1°/5°GAV.

Neste ano de 2021, um aviador da Força Aérea da Bolívia está fazendo o curso no Rumba: Capitão Aviador Rossel, que veio através de um intercâmbio entre as duas armas aéreas.

Mesmo com larga experiência no país andino, o capitão boliviano diz que está aproveitando bem essa boa oportunidade e que irá levar a doutrina da FAB para melhor padronizar a Força Aérea da Bolívia.

O esquadrão Rumba atualmente é o berço dos pilotos das aviações de Transporte, Inteligência, Vigilância e Reconhecimento na Força Aérea Brasileira.

100 mil horas de C-95 Bandeirante após a reativação

Foto: Ten Gondim

O dia 3 de novembro de 2020 entrou para a história do 1°/5° GAV, pois o esquadrão Rumba completou 100 mil horas de voo com o Embraer C-95 Bandeirante.

A marca histórica foi alcançada num voo de formatura durante uma missão do CPI (Curso de Padronização de Instrutores). O voo do “Rumba Verde”, que foi composto pelos C-95BM Bandeirante 2318 (Ás), 2312 (2) e 2317 (3), teve a duração de pouco mais de uma hora.

A tripulação deste voo foi composta pelos aviadores:

  • Major Aviador Felipe Augusto LINCK Antunes de Sampaio e Capitão Aviador VICTOR Augusto da Silva – C-95BM Bandeirante FAB 2318
  • Capitães Aviadores Thiago Wanderley MACÊDO Neves de Almeida e ALEXANDRE de Oliveira Maio dos Santos – C-95BM Bandeirante FAB 2312
  • Capitães Aviadores Cayo CÉZAR Farias Amorim e José Rodrigo Lourenço de ALCÂNTARAC-95BM Bandeirante FAB 2317

O Major Linck, chefe da seção de operações do esquadrão Rumba, relatou o sentimento de liderar o Rumba Verde, no momento histórico da unidade:

“Desde a chegada dos primeiros C-95 no acervo do esquadrão Rumba, em 2002, 100 mil horas de voo foram bem empregadas na formação do piloto de combate da aviação multimotor da Força Aérea, seja no transporte, na patrulha ou no reconhecimento, forjando até hoje, mais de 1.100 pilotos, da FAB e da Marinha do Brasil”.

A chegada do C-95 Bandeirante modernizado

O novo painel glass cockpit do C-95 Bandeirante – Foto: Valter Andrade
O antigo painel do C-95 Bandeirante

No final de 2012, o Esquadrão recebeu os primeiros C-95M Bandeirante modernizados, trazendo um novo conceito de aviação e instrumentos mais avançados de navegação aérea, que aumentou as capacidades operacionais e consciência situacional dos tripulantes. As aeronaves modernizadas vêm formando ano após ano, pilotos de transporte e IVR cada vez mais profissionais.

A chegada desse novo vetor, representou uma transição para o esquadrão que passou a fazer parte da nova geração em que todas as aviações passam a utilizar equipamentos de ponta de modo a operar com maior versatilidade e eficiência. Cumprindo sua missão de especializar os novos pilotos da Força Aérea, agora com uma nova responsabilidade na sua doutrina, a aviônica Glass Cockpit, que implementou avanços significativos, principalmente no que diz respeito à confiabilidade das informações dos instrumentos.

Dotado de sistemas Garmin, o C-95M Bandeirante utiliza quatro telas MFD (Multifunction Displays) que aumentam consideravelmente a consciência situacional dos pilotos, trazendo consequentemente maior segurança de voo.

O comandante do esquadrão Rumba, o Tenente-Coronel aviador David Cabral, relata com emoção o início de sua carreira operacional, ainda como estagiário a bordo do C-95 Bandeirante:

“Me vem à memória a dedicação necessária, no estudo teórico e mental para operar um avião mais complexo que o Embraer T-27 Tucano, que eu tinha operado na Academia da Força Aérea. O C-95 permitiu-me ter contato com a aviação de transporte e suas missões específicas. Hoje, tenho a particular satisfação de poder transmitir aos atuais estagiários um pouco desse conhecimento e prepará-los para o futuro na Força Aérea Brasileira, operando os C-95 agora modernizados”.

De acordo com o comandante do 1°/5°GAV, os ganhos são crescentes na formação dos jovens aspirantes, o conceito de IVR trazido dos EUA tem provocado muitas melhorias.

Um Bandeirante com pintura especial

Foto: Valter Andrade

Para comemorar a marca histórica de cem mil horas de voo do esquadrão, foi escolhida uma aeronave disponível dentre as muitas do 1°/5° GAV para receber a pintura especial no leme: o C-95AM Bandeirante FAB 2291.

Este avião foi inicialmente entregue pela EMBRAER em 08 março de 1978 ao Parque de Material Aeronáutico de Recife (PAMA-RF).

Depois do PAMA-RF seguiu para o Parque de Material Aeronáutico de Belém (PAMA-BE), Parque de Material Aeronáutico de Lagoa Santa (PAMA-LS), Parque de Material Aeronáutico dos Afonsos (PAMA-AF),

1º/5º GAV a primeira vez em 2010, Escola de Especialistas da Aeronáutica (EEAR) em 2015, ETA 5 em 2018, ETA 2 em 2020, e ALA 10 em 2020.

Com o total de 15.349 horas voadas pelo C-95AM Bandeirante FAB .

O Rumba em números

Aeronaves do esquadrão Rumba

  • 4 – C-95AM Bandeirante
  • 6 – C-95BM Bandeirante

O esquadrão dispõe de trinta e cinco instrutores com larga experiência profissional, todos oriundos de unidades operacionais.

Um simulador do C-95M Bandeirante pertencente ao Grupo Logístico da Ala 10 em Natal é empregado nas mais diversas instruções.

Tenente-Coronel aviador David Cabral, comandante do Esquadrão Rumba – Fotos: Valter Andrade

Estagiários formados de 1947 a 2001

  • 2.230 estagiários

Estagiários formados de 2002 a 2020

  • 1.131 estagiários
  • Total: 3.361 estagiários

NOTA: O autor e o editor do Poder Aéreo agradecem ao empenho e dedicação da equipe do CECOMSAER, ao Brigadeiro Avellar comandante da Ala 10, Ten. Cel. Aviador David Cabral comandante do esquadrão Rumba e a todos membros do 1°/5°GAV, os quais muito gentilmente colaboram para este trabalho, fazendo jus ao lema do esquadrão.

NA INSTRUÇÃO O RUMBA É REI!

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Flight_Falcon

Parabéns pelo artigo. Muito bom.
Que repliquem o modelo em outras Unidades Aéreas.

HENRIQUE MAXIMIANO BARBOSA DE SOUSA

Matéria espetacular!!!! Completíssima!!!!

Carlos Alberto Soares

Muito bom o artigo.

Celso Sugiura

Parabéns pelo artigo. Muito bom saber do dia a dia da unidade e dos tipos e quantidades de aeronaves.

Leandro Costa

A matéria ficou ainda melhor com uma foto do A-26 Invader… Ô avião lindo!

Phenix

A FAB deveria formar pilotos a cada 2 anos, tanto na AFA quanto nos esquadrões. São muitos pilotos pra poucos aviões, pilotos pouco voados e pouca experiência. O que eu voo em 3 ou 4 anos na linha aérea o militar voa na carreira toda. Sem falar na aposentadoria e pensão que consome mais de 70% da verba da fab. Ja passou da hora de ser mais enxuta, pra daqui uns anos diminuir a folha e melhorar os investimentos.

Last edited 2 anos atrás by Phenix
Rinaldo Nery

Você, na linha aérea, somente voa. Não acredito que não tenha função administrativa na sua companhia. Na FAB, o oficial é, também, uma administrador. TODOS tem uma função administrativa, uma Seção, subseção pra chefiar. Como o próprio nome diz, ele é oficial aviador, e não aviador oficial. Eu fui da FAB e, atualmente, vôo na Azul. Conheço bem as diferenças.

Rinaldo Nery

*não acredito que tenha função administrativa…
*um administrador…

Fábio CDC

Todos os dias vejo esses aviões aqui perto de casa. As vezes 1 ou 2 em formação… E o máximo que observei simultaneamente foram 3.
.
Ontem vi 4 ST voando em formação também.

Joli Le Chat

Corrosão não é amiga do avião.

No mais, grande matéria! Muito bom conhecer como o Bandeirante está na ativa e contribuindo com nosso país.

Last edited 2 anos atrás by Joli Le Chat
Flanker

Posso estar enganado, mas aquilo que parece corrosão ou ferrugem, me parece ser graxa ou algum outro lubrificante. Se fosse ferrugem, estaria aparecendo por todo p trem de pouso e não apenas em alguns pontos.

Denis

Mas que pareceu, pareceu.

Alexandre Galante

É graxa.

M65

Parabéns aos Instrutores e alunos.
Os aviadores de asa fixa da Marinha do Brasil são formados neste Esquadrão. Pilotos do AF-1 e do próximo KC-2 Turbo Trader.

Rinaldo Nery

Não, amigo. Só os do KC-2. Os do AF-1, alguns, são formados no 2°/5° GAV (A-29).

JORGE PETROLA FERREIRA

Excelente artigo… A história do rumba é muito rica e vc soube fazer a ponte entre o passado e o presente…

Aéreo

Bandeirante entre capitais
T-25 entre canaviais
Horas nacele, amor, cantar
 
Um Caravan vai devagar.
Um Xingu vai devagar.
Um S Puma vai devagar.
Devagar… Devagar até estolar….
 
Eta aeroclube lindo, meu Deus.

Adriano Madureira

Aaaaah, agora descobri o porquê de tanto C-95 na base de parnamirim…

Da estação de trem sempre avistava as aeronaves mas nunca pensei que eram usadas para formar pilotos.

Martins Pereira da Silva Junior

Excelente!! Me orgulho em fazer parte dessa história!!