Os Dijon Boys e o Mirage III

Os Dijon Boys e o Mirage III

Localizado em Anápolis (GO), Esquadrão Jaguar opera as aeronaves F-5EM e se prepara para receber o F-39 Gripen

Neste mês de abril, o Primeiro Grupo de Defesa Aérea (1º GDA) – Esquadrão Jaguar, sediado na Ala 2 – Base Aérea de Anápolis (GO), completa 41 anos de atuação na Força Aérea Brasileira (FAB). A sua história surge em 1972, com os oito Dijon Boys – pilotos que realizaram, na cidade de Dijon, no leste da França, o curso de pilotagem do primeiro avião supersônico da Força Aérea Brasileira, o Mirage IIIE/D.

Atualmente o 1º GDA opera as aeronaves F-5EM e se prepara para receber o mais novo vetor de caça da FAB, a aeronave F-39 Gripen. “Nesta data que marca o aniversário de criação do 1º GDA, relembramos com orgulho dos feitos dos ‘Jaguares’ que nos antecederam e projetamos um futuro repleto de desafios com a chegada dos caças F-39 Gripen ao Esquadrão Jaguar”, salienta o atual Comandante do 1º GDA, Tenente-Coronel Aviador Leandro Vinicius Coelho.

História da Defesa Aérea

No dia 6 de abril de 1973, os oito Dijon Boys, pilotos brasileiros escolhidos e enviados à França para realizarem o curso de pilotagem da primeira aeronave supersônica brasileira, o Mirage IIIE/D, sobrevoaram Brasília (DF), a bordo de seis aeronaves Mirage III EBR/DBR. Assim, marcou-se o início de uma era onde o Brasil efetivamente passava a exercer a completa e exclusiva soberania do espaço aéreo sobre o seu território e respectivas águas territoriais, conforme afirmou à época o Ministro da Aeronáutica, Tenente-Brigadeiro do Ar Joelmir Campos de Araripe Macedo.

O Mirage III não trazia ao Brasil apenas à era supersônica, fazia parte de um projeto muito mais ambicioso, isto é, a implantação do Sistema Integrado de Defesa Aérea e Controle do Tráfego Aéreo, composto da cobertura radar do espaço aéreo, das redes Clique aqui para baixar a imagem originalde comunicações seguras e da solidificação das missões de interceptação e de Defesa Aérea.

Mirage IIIEBR – F-103E

A criação da 1ª Ala de Defesa Aérea (ALADA), localizada na cidade de Anápolis (GO), deu-se no dia 5 de abril de 1972, com o objetivo de servir como organização modelo para sediar a primeira unidade capaz de realizar, única e exclusivamente, as missões relativas à Defesa Aérea. Pouco tempo depois, a fim de se adequar à estrutura organizacional da Força Aérea Brasileira, a 1ª ALADA deixou de existir, dando origem à Base Aérea de Anápolis e ao 1º Grupo de Defesa Aérea, isso no dia 11 de abril de 1979.

O Sistema de Defesa Aérea foi colocado à prova também no mês de abril. A noite de 09 de abril de 1982 foi testemunha da primeira interceptação real da Força Aérea Brasileira. Dois Mirage III decolaram de Anápolis com a missão de interceptar a aeronave ILYUSHIN-62, que havia adentrado sem permissão no espaço aéreo brasileiro. Inicialmente, a aeronave incursora não obedecia nem respondia aos chamados dos controladores. Essa postura mudou completamente quando o piloto da aeronave interceptada foi ordenado a observar as suas asas e, então, percebeu um Mirage em cada lado de sua aeronave. A partir desse momento, a aeronave ILYUSHIN-62 acatou as ordens de pousar em Brasília para a realização das medidas de controle de solo.

Mirage 2000 da FAB

Os Mirage III (F-103) foram operados pelo 1º GDA desde o ano de 1973 (voo inaugural no Brasil) até o ano de 2005, atingindo a marca de 66.948:10 horas de voo. A partir de 2006, os Mirage 2000 (F-2000) voaram e ostentaram a bolacha do 1º GDA em suas fuselagens.

O F-2000, em conjunto com o F-5 modernizado das demais unidades de primeira linha da Aviação de Caça, foram os meios aéreos que serviram de assimilação e implementação do Combate BVR (do inglês, Beyond Visual Range – além do alcance visual, em português) na Força Aérea Brasileira.

As aeronaves F-2000 foram aposentadas no ano de 2013, mesmo ano em que foi definido o Gripen E como vencedor do Programa FX-2. Desde então, o 1º GDA opera as aeronaves F-5EM e se prepara para o recebimento da aeronave F-39 Gripen em outubro do ano que vem.

Primeiro Gripen E da FAB

FONTE: Força Aérea Brasileira

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Veiga 104

Bom dia. Saúde e paz pra todos . Uma dúvida que gostaria de tirar. Não foi um Bombardeiro VULCAN inglês que foi interceptado? ILYUCHEN ?

Veiga 104

CORRIGINDO ILYUSHIN

Madmax

A interceptação do Vulcan deu-se em outro episódio, e foi feita pelo 1 GavCA

Veiga 104

Obrigado .

Emerson

O Vulcan foi interceptado por um par de F-5, no Rio de Janeiro. O IL-62 foi interceptado pelos Mirage, baseados em Anápolis.

Ricardo Bigliazzi

Não tirando os méritos da FAB é importante lembrar um fator determinante para a interceptação do Vulcan que foi a quebra da sonda de reabastecimento durante o voo de volta, dessa forma o Vulcan iria cair no mar por falta de autonomia. O Vulcan deliberadamente tomou a “proa Rio” e nesse momento os F-5 foram lançados. Há relatos de vidros quebrados e toda a bagunça da quebra da barreira do som perto de casas. Ao perceber a interceptação o Vulcan emitiu aviso de situação de emergência. Os F-5 abordaram e conduziram a “ave” até o Rio. Outro detalhe muito lembrado… Read more »

Allan

Vale lembrar que sem a quebra da sonda o Vulcan não teria entrado em espaço aereo brasileiro, e portanto não teria que ser intercepitado, esse incidente mostrou o preparo e a prontidão da aviação de caça brasileira.
Quanto ao missil não á nada que prove que ele foi usado como uma base para projetos nacionais, visto que na época não havia projetos nacionais para um missil anti-radiação como o que foi aprendido.

Tamandaré

Allan, meu nobre colega A alguns anos atrás, li a respeito do desenvolvimento do MAR-1, que dizem ter sido o grande beneficiário da “engenharia reversa” do Shrike capturado junto ao Vulcan, e fui indagar um oficial reservista da FAB sobre a pertinência destas afirmações. Segundo me foi dito, isto não passa de “lenda urbana” espalhada pela caserna. O Shrike até foi analisado, mas nem teria como servir de base pra muita coisa – segundo ele próprio disse – porque era um míssil bem mais “arcaico” que o MAR-1. Não posso fazer garantias sobre a confiabilidade da história. Mas foi o… Read more »

Camargoer

Olá Ricardo. Desconhecia o incidente com a sonda do Vulcan. Sem querer “incluir” méritos á FAB, mas o contexto da interceptação do Vulcan era de conflito real nas Malvinas. Fica a dúvida se os F5 decolaram sabendo dos problemas do Vulcan antes de decolar ou só foram informados durante após levantarem voo. De qualquer modo a situação era excepcional. O Vulcan estava armado estava em uma operação militar real; ele invadiu o território brasileiro (caso não fosse interceptado, daria á RAF a possibilidade estratégica de usar o território brasileiro para futuras missões planejadas; não interceptar o Vulcan poderia criar problemas… Read more »

Leandro Costa

Os F-5 só souberam de que se tratava de um Vulcan inglês quando o avistaram após o merge. Até então o CINDACTA captou e alvos voando próximos e na direção do Rio. Dois deles se desviaram quando se aproximaram dos limites do espaço aéreo Brasileiro e um continuou em frente. Quando indagado pelos controladores, o piloto dizia estar em emergência mas não dizia que tipo de aeronave era, com medo de não ter permissão de pouso e perder a aeronave. Esse incidente mostrou o profissionalismo da FAB, mesmo que os dois F-5 que decolaram estivessem armados apenas com canhões, porque… Read more »

Camargoer

Olá Leandro. Essa história dos F5 de defesa estarem em “treinamento” é sensacional. Talvez a FAB tenha aprendido que o pessoal do alerta tem que fazer treinamento quando estão FORA da escala de alerta. Alerta é Alerta, nem que ficar o dia inteiro dormindo vestindo macacão. Treinamento é planejado para ser feito com planejamento para preservar a função fim.

Leandro Costa

E foi. Caso contrário os F-5 que iam sair em treinamento não teriam tido os canhões municiados e nem terem tido o horário de saída para o treinamento em si quando as aeronaves de alerta foram acionadas em exercício. Parte do planejamento. Mas é absolutamente normal as aeronaves de alerta serem acionadas em exercício. Normalmente são acionadas para se testar tempo e procedimentos de reação e quando estão no ar que recebem instruções. Se o exercício de alerta acontece de maneira programada com os pilotos, o exercício perde com isso. É preciso saber como os pilotos vão reagir em situações… Read more »

Leandro Costa

Camargo, dê uma lida no link abaixo:

http://geographika2010.blogspot.com/2011/04/rojao-de-fogo.html

Acho que vai gostar de ler. É uma matéria publicada em uma revista especializada que conta o episódio com mais detalhes.

Camargoer

Olá. Bacana o texto (o problema é sempre o jargão do aviadores que deixa os entusiastas apenas imaginando o significado). Se for bem feitinho, dá um filme legal (até porque deu tanta coisa errada que até parece filme mesmo). Recomendo todo mundo do blog ler. Bem legal. Valeu.

Carvalho2008

Os ingleses não tinham opção, ou pulavam no mar ou se dirigiam para o continente e pousar no aeroporto

Voces acham que isto já não fazia parte do briefing de missão ingles? Logico que era….era uma missão extremamente distante com vários reabastecimentos ao longo do caminho. Mesmo saltar no mar não era opção pois não haveria equipe de salvamento e resgate. Em caso de problema, a unica opção seria Buscar uma base no Brasil. Nem qualquer aeroporto inclusive serviria, teria de ser uma pista grande

É de praxe a missao calcular todas estás alternativas

Arthur

E o Vulcan não tem assento ejetor para todos na tripulação, não é?

Nerudarruda

sugiro a leitura do exemplar de número 18 da coleção Aviões de guerra,da nova cultural.”operação black buck,um vulcan no Rio de Janeiro.”

M65

A coleção é muito boa, porém omitiu o final da história, a ‘cereja do bolo”, a intercepção dos F-5. Omitiu porque é um livro editado pelos Britânicos.

Arthur

Eu era garoto, estava na escola, lembro perfeitamente do estrondo sônico e de fato, de algumas janelas rachadas! Sensacional!

Carlos Eduardo Broglio Gasperin

Parabéns ao 1 GDA! Imagina o salto tecnológico para os Mirage III! Alguém sabe a quem pertencia esse Ilyushin 62?

Emerson

Cuba!

Tamandaré

Carlos,

o fato se deu em meio à Guerra das Falklands. Um diplomata cubano, a bordo deste IL-62 pertencente à Cubana de Aviación, foi enviado por Fidel à Buenos Aires com intuito de negociar armas e apoio à Junta Militar portenha.

Acharam que aqui era Casa da Mãe Joana, então não informaram planos de voo nem identificações às autoridades brasileiras e decidiram apenas “passar por cima”. Deu no que deu!

Abraço!

Jagderband#44

Incrível. Um governo ditatorial comunista apoiando um governo ditatorial de extrema direita.

Tamandaré

Jagderband, perdoe-me o preciosismo, mas no período ao qual você se refere, na Argentina, não vigorou uma ditadura, mas sim um regime de exceção. Não é a mesma coisa. No mais, apesar de estarem em polos ideológicos diferentes, argentinos e cubanos tinham em comum o autoritariamo eatatal e a momentânea luta “contra um inimigo comum”. Tecnicamente falando, o proprio Brasil enfrentou de fato uma ditadura enquanto vigorou o AI-5 (ou seja; 10 anos). No resto do período, de 21 anos ao todo, tivemos diferentes nuances de um Estado de Exceção. A sequência seria: democracia > estado de exceção > ditadura… Read more »

Carlos Eduardo Broglio Gasperin

Obrigado Tamandare pela informação e cordialidade.

Tamandaré

Carlos, é sempre um prazer debater com os amigos do site!

Forte braço! 🙂

Marcelo-SP

Essa foto da formação dos quatro Mirage III EBR foi que me tornou um entusiasta da aviação…

Jagderband#44

O modelo 2000 deriva do modelo 3?

Tallguiese

Quando vão partir os primeiros vikings boys? Para buscar essa belezinha de nave aí?

Maurício.
Marcelo Mendonça

Foto feita quando da passagem do Gripen a caminho da FIDAE??

Maurício.

Sim, em 1998.

angelo

Os 8 Dijon Boys ainda são vivos?

Maurício.

Angelo, que eu saiba dois já faleceram, O Coronel Aviador Antônio Henrique Alvez dos Santos e o Major Aviador Lúcio Starling de Carvalho, na imagem é o sexto e o oitavo, da esquerda para a direita.

angelo

Grato Maurício.

Flanker

Pelo que eu sei, já são falecidos dois deles ( Antônio Henrique Alves dos Santos e Lúcio Starling de Carvalho).

Rinaldo Nery

Não tenho certeza, mas acho que tem mais. Justin talvez possa ajudar. Trompowsky, o terceiro da esquerda pra direita, era CHEM do COMAT quando servi na 2a ELO. Constantemente levávamos ele de AT-27 pra Brasília.

Audax

Trompowsky já faleceu há uns 4 anos. Era tio de um amigo meu. Era um cara divertido. Competia na natação master até bem perto de morrer.

Marcelo Mendonça

Boa tarde a todos. A interceptação do Vulcan foi poucos dias depois da do avião cubano. A aeronave de alerta estava retornando de um acionamento de treinamento e por isso outras duas aeronaves, que já estavam na rampa e guarnecidas com seus pilotos pois iriam fazer uma missão de treinamento é que foram lançadas para pegar o bombardeiro inglês. Realmente a lança de REVO quebrou e ele veio para o Brasil em emergência, mas em nada desmerece a interceptação pois a FAB não sabia disso. Os outros dois contatos eram reabastecedores Victor que retornaram antes de invadir nosso espaço aéreo.… Read more »

Johnny

Parabéns ao GDA, mas considerando as oito unidades do gripen E, prometidas e não entregues à força aérea sueca em 2019, considerando ainda o caos financeiro pelo qual o Brasil passará após o fim desta pandemia, com pautas bombas atrás de pautas bombas vindas do congresso nacional, não acredito em gripen em 2021 no Brasil. O cronograma de entregas certamente será revisto.

Vilela

Parabéns aos Jaguares do GDA!
Só acrescentaria que por um tempo, antes dos F5 patrulharem à partir de Anápolis, após a desativação dos F2000, essa missão de defesa foi delegada ao veteraníssimo Xavante (não eram pilotos do GDA, acho que eram do Pacau transferidos, não me lembro)!

Rinaldo Nery

Não. O Xavante operou lá entre o Mirage III e o Mirage 2000. E eram todos Jaguares. Inclusive, houve um ejeção após a decolagem. O piloto (não recordo o nome) sobreviveu.