Por Luiz Reis* – especial para o Poder Aéreo

Há 76 anos ocorreu uma das mais impressionantes operações aéreas da Segunda Guerra Mundial, a “Operação Chastise” (“Castigar” em francês), que foi um ataque da Real Força Aérea Inglesa (RAF) às barragens alemãs, realizado na noite entre os dias 16 e 17 de maio de 1943 pelo Esquadrão da RAF Nº 617, mais tarde denominado “Dam Busters” (“Caçadores de Barragens”, em tradução livre), usando uma “bomba quicadora” criada por Barnes Wallis, e lançada de bombardeiros quadrimotores Avro Lancaster especialmente adaptados para a missão.

ANTECEDENTES

Ainda antes da Segunda Guerra Mundial, o Ministério da Aeronáutica Britânico havia identificado o altamente industrializado Vale do Ruhr alemão, e especialmente suas barragens, como importantes alvos estratégicos. Além de fornecer energia hidrelétrica e água para a produção de aço, eles forneciam água potável para a população e água corrente para o sistema de transporte de canais. Os cálculos indicaram que ataques com grandes bombas poderiam ser eficazes, mas exigiriam um grau de precisão que o Comando de Bombardeiros da RAF não tinha sido capaz de atingir ao atacar um alvo bem defendido. Um único ataque surpresa poderia ter sucesso, mas a RAF não possuía uma arma adequada para a tarefa nem uma doutrina adequada de como atacar esse tipo de alvo.

A missão então surgiu da ideia de uma bomba projetada por Barnes Wallis, designer chefe assistente da fabricante aeronáutica Vickers. Wallis havia trabalhado nos bombardeiros Vickers Wellesley e Vickers Wellington e, enquanto trabalhava no bombardeiro pesado Vickers Windsor, ele também começara a trabalhar, com o apoio da Marinha Real inglesa, em uma pesada bomba antinavio, embora a destruição de barragens fosse logo considerada.

A princípio, Wallis queria lançar uma bomba de 10 toneladas de uma altitude de cerca de 12.200 m, parte do conceito de “bomba de terremoto” (que destruiria um alvo mais pela onda de choque do que a explosão propriamente dita). Nenhum avião bombardeiro na época era capaz de voar a uma altitude tão elevada ou de carregar uma bomba tão pesada. Uma carga explosiva muito menor seria suficiente se explodisse contra a parede da barragem sob a água, mas as barragens alemãs eram protegidas por pesadas redes de torpedos para impedir o lançamento de uma ogiva explosiva pela água.

Wallis então concebeu uma bomba de formato cilíndrico pesando 4.100 kg, equivalente a uma carga de profundidade gigante armada com uma espoleta hidrostática, mas projetada para receber rotação de 500 rotações por minuto (RPM). Lançada a 18 metros de altura e com uma velocidade de 390 km/h, a bomba passaria quicando pela superfície da água, como uma pedra lançada em um lago, antes de atingir a parede da barragem. O giro residual submergiria a bomba, que ao chegar ao fundo detonaria sua carga e faria o alvo entrar em colapso. Essa bomba foi chamada de “Upkeep” (“Manutenção”, em tradução livre).

A bomba Upkeep em um Lancaster

PREPARAÇÃO E TREINAMENTO

Os testes da nova arma incluíram a explosão de uma barragem modelo de gesso de uma barragem alemã no Building Research Establishment, Watford, em maio de 1942, e o rompimento de uma barragem desativada no País de Gales, em julho do mesmo ano. Ambos os testes tiveram relativo sucesso, que motivou o Comando da RAF a autorizar a missão, mesmo com a objeção do Marechal Sir Arthur Harris, chefe do Comando de Bombardeiros da RAF, que era contra ao ataque, pelo alto risco e desperdício de homens e materiais, como os preciosos Lancasters.

Ao mesmo tempo, Roy Chadwick, designer-chefe da Avro, fabricante do Lancaster, adaptou a aeronave para lançar a nova bomba, removendo a torre central (dorsal) para reduzir o arrasto, aumentar a velocidade e economizar combustível, tendo em mente que uma arma grande e desajeitada seria suspensa abaixo da fuselagem. Ele também trabalhou no projeto e instalação de controles e equipamentos para o transporte e liberação da bomba em conjunto com Barnes Wallis. Em fevereiro de 1943, o Comando da RAF ordenou que trinta Lancasters fossem alocados para a missão e a data da missão foi marcada para maio do mesmo ano, quando os níveis de água seriam mais altos e as brechas nas barragens causariam o maior dano. Os engenheiros então correram contra o tempo para aprontar as aeronaves.

A operação foi entregue ao Grupo Nº 5 da RAF, que formou um novo esquadrão para realizar a missão das barragens. Foi inicialmente chamado de Esquadrão X, pois a rapidez de sua formação ultrapassava o processo da RAF para nomear esquadrões. Liderados pelo Wing Commander (Comandante de Ala) Guy Gibson, de 24 anos, um veterano de mais de 170 missões de bombardeio e caça noturno, vinte e uma equipes de bombardeiros foram selecionadas dentre cinco esquadrões do grupo. As equipes incluíam pessoal da RAF de várias nacionalidades, membros da Força Aérea Real Australiana (RAAF), Força Aérea Real Canadense (RCAF) e Força Aérea Real da Nova Zelândia (RNZAF). O esquadrão era baseado na base da RAF em Scampton, cerca de 8 km ao norte de Lincoln, East Midlands.

Lancaster do 617 Squadron praticando o lançamento da bomba ‘Upkeep’ na área de treinamento Reculver, em Kent

Os alvos selecionados foram a barragem de Möhne e Sorpe, as principais barragens da área industrial do Ruhr, com a barragem de Eder no rio Eder, que alimenta Weser, como alvo secundário. A perda de energia hidrelétrica era importante, mas a perda de água para a indústria, cidades e canais teria maior efeito e havia potencial para inundações devastadoras se as barragens quebrassem.

As aeronaves modificadas foram denominadas Avro Lancaster Mk. IIIB Special (provisionamento tipo 464). Para reduzir o peso, grande parte da blindagem interna foi removida, assim como a torre superior. As dimensões da bomba e sua forma incomum significavam que as portas do compartimento da bomba tinham que ser removidas e a bomba pendurada parcialmente abaixo da fuselagem. Foi montada em dois suportes semelhantes a muletas e, antes de cair, era girada até a velocidade necessária de lançamento por um motor auxiliar elétrico.

Uma missão de ataque a uma altitude tão baixa e a uma alta velocidade exigia equipes altamente especializadas e preparadas. Iniciou-se um intenso treinamento noturno e de baixa altitude. Havia também problemas técnicos a serem resolvidos, sendo o primeiro determinar quando a aeronave estava a uma distância ideal do alvo. As barragens de Möhne e Eder tinham torres em cada extremidade. Um dispositivo de mira especial com duas pontas, fazendo o mesmo ângulo que as duas torres na distância correta da barragem, mostrava quando liberar a bomba. (O documentário da BBC “Dambusters Declassified”, de 2010, afirmou que o dispositivo de mira com duas pontas não foi usado devido a problemas relacionados à vibração e que outros métodos foram empregados, incluindo um comprimento de corda amarrado em um laço e recuado centralmente para um ponto fixo como uma catapulta).

O segundo problema foi determinar a altitude da aeronave, já que os altímetros barométricos em uso na época não tinham precisão suficiente. Dois holofotes foram montados, um embaixo do nariz da aeronave e o outro embaixo da fuselagem, para que, na altura correta, seus raios de luz convergissem na superfície da água. As equipes praticaram no reservatório Eyebrook, perto de Uppingham, Rutland; Reservatório de Abberton perto de Colchester; Reservatório de Derwent; e Fleet Lagoon na praia de Chesil. A bomba de Wallis foi testada pela primeira vez nos reservatórios de Elan Valley.

ORGANIZAÇÃO DA MISSÃO

O esquadrão recebeu as bombas no dia 13 de maio, após os testes finais em 29 de abril. No dia 15 de maio, em uma reunião, Gibson e Wallis informaram a quatro oficiais-chave: os dois comandantes de voo do esquadrão, o Squadron Leader (Líder do Esquadrão) Henry Maudslay e o Squadron Leader H. M. “Dinghy” Young; O auxiliar de Gibson para o ataque de Möhne, Flight Lieutnant (Tenente de Voo) John V. Hopgood; e o líder do esquadrão de bombardeios, Flight Lieutnant Bob Hay. O resto das tripulações foi informado em uma série de instruções no dia seguinte, que começou com uma reunião com pilotos, navegadores e bombardeadores.

617 Squadron (Dambusters) em Scampton, Lincolnshire, 22 de julho de 1943

O esquadrão foi dividido em três formações:

  • A formação número 1 foi composta por nove aeronaves em três grupos (listados pelo piloto): Gibson, Hopgood e Flight Lieutnant H. B. “Micky” Martin (um australiano que servia na RAF); Young, Flight Lieutnant David Maltby e Flight Lieutnant Dave Shannon (RAAF); e Maudslay, Flight Lieutnant Bill Astell e o Pilot Officer (Oficial Piloto) Les Knight (RAAF). Sua missão era atacar a barragem de Möhne; qualquer aeronave com bombas restantes atacaria a de Eder.
  • A formação número 2, era composta de cinco aeronaves, pilotadas pelo Flight Lieutnant Joe McCarthy (norte-americano que servia na RCAF), Pilot Officer Vernon Byers (RCAF), Flight Lieutnant Norman Barlow (RAAF), Pilot Officer Geoff Rice e o Flight Lieutnant Les Munro (RNZAF), deveria atacar a barragem de Sorpe.
  • A formação número 3 era uma reserva móvel composta por aeronaves pilotadas pelo Flight Sergeant (Sargento de Voo) Cyril Anderson, Flight Sergeant Bill Townsend, Flight Sergeant Ken Brown (RCAF), Pilot Officer Warner Ottley e Pilot Officer Lewis Burpee (RCAF), decolando duas horas mais tarde, já na madrugada do dia 17 de maio, para bombardear as represas principais ou atacar três represas secundárias menores: a Lister, a Ennepe e a Diemel.

Duas equipes não conseguiram efetuar a missão devido a doenças de seus pilotos, e sua participação foi abortada.

A sala de operações da missão ficava no QG do Grupo 5 em St. Vincents Hall, Grantham, Lincolnshire. Os códigos de missão (transmitidos em código morse) eram: “Goner”, significando ‘bomba lançada’; “Nigger”, significando que a Möhne tinha sido rompida; e “Dinghy”, o que significava que a Eder tinha sido rompida. Nigger era o nome do cachorro de Gibson, um labrador retriever preto que havia sido atropelado e morto na manhã do ataque. Dinghy era o apelido de Young, uma referência ao fato de que ele havia sobrevivido duas vezes a aterrissagens no mar, onde ele e sua tripulação foram resgatados do bote de borracha inflável da aeronave.

OS ATAQUES

As aeronaves utilizaram duas rotas, evitando cuidadosamente concentrações conhecidas de artilharia antiaérea, e foi programada para atravessar a costa inimiga simultaneamente. A primeira aeronave, a da formação número 2 e a rota norte mais longa, decolou às 21h28min de 16 de maio. O bombardeiro de McCarthy sofreu pane e ele decolou na aeronave reserva 34 minutos atrasado. A formação número 1 decolou em grupos de três em intervalos de 10 minutos, começando às 21h39min. A formação da reserva não começou a decolar até 00h09min de 17 de maio.

A formação número 1 entrou na Europa continental voando baixo, a cerca de 30 metros de altura, para evitar o radar alemão, entre Walcheren e Schouwen, sobrevoou a Holanda, contornou as bases aéreas de Gilze-Rijen e Eindhoven, contornou as pesadas defesas do Ruhr e virou para o norte para evitar Hamm antes de virar para o sul e seguir para o rio Möhne. A formação número 2 voou mais ao norte, cortando Vlieland e cruzando o lago IJsselmeer antes de entrar na primeira rota perto de Wesel e depois voar para o sul, além do Möhne, até o rio Sorpe.

As primeiras baixas foram sofridas logo após chegar à costa holandesa. A formação número 2 não se saiu bem: a aeronave de Munro perdeu o rádio e merulhou sobre o IJsselmeer, enquanto Rice voou muito baixo e atingiu o mar, perdendo sua bomba na água; ele se recuperou e voltou à base. Após a conclusão do ataque, Gibson simpatizou-se com Rice, dizendo que ele também quase havia perdido sua bomba no mar.

Barlow e Byers atravessaram a costa em torno da ilha de Texel. Byers foi abatido por tiros logo depois, colidindo com o Waddenzee. Os aviões de Barlow atingiram postes de eletricidade e caíram 5 km a leste de Rees, perto de Haldern. A bomba foi lançada para longe do acidente e foi examinada intacta por Heinz Schweizer. Apenas o bombardeiro atrasado pilotado por McCarthy sobreviveu para atravessar a Holanda. A formação número 1 perdeu o bombardeiro de Astell perto da aldeia alemã de Marbeck quando seu Lancaster atingiu cabos elétricos de alta tensão e colidiu com um campo.

A formação número 1 chegou ao lago Möhne e a aeronave de Gibson (G para George) fez a primeira corrida, seguida por Hopgood (M para Mãe). A aeronave de Hopgood foi atingida por uma explosão, enquanto fazia seu nível mais baixo e foi atingida pela explosão de sua própria bomba, caindo pouco depois quando uma asa se desintegrou. Três tripulantes abandonaram a aeronave com sucesso, mas apenas dois sobreviveram. Posteriormente, Gibson voou com sua aeronave através da barragem para afastar a artilharia antiaérea (flak) da corrida de Martin. Martin (P de Popsie) bombardeou o terceiro; sua aeronave foi danificada, mas fez um ataque bem-sucedido. Em seguida, Young (A para a Apple) fez uma corrida bem-sucedida e depois dele Maltby (J para Johnny), quando finalmente a barragem foi rompida. Gibson, acompanhado por Young, levou Shannon, Maudslay e Knight para o Eder. No ataque à barragem de Möhne, um dos bombardeiros fez a narração contínua dos acontecimentos, sendo captado pela base através de um receptor VHF.

O vale de Eder estava coberto por nevoeiro intenso, mas a barragem não era defendida com posições antiaéreas, pois a difícil topografia das colinas circundantes tornava praticamente impossível um ataque. Com uma aproximação tão difícil, a primeira aeronave, a de Shannon, fez seis corridas antes de fazer uma pausa. Maudslay (Z para Zebra) tentou uma corrida, mas a bomba atingiu o topo da barragem e a aeronave foi severamente danificada na explosão. Shannon fez outra corrida e jogou com sucesso sua bomba. A bomba final da formação, da aeronave de Knight (N para Nut), rompeu a barragem.

A represa de Sorpe era a mais difícil de ser destruída. Era uma enorme barragem de terra, diferentemente das duas barragens de concreto e aço que foram atacadas com sucesso. Devido a vários problemas, apenas três Lancasters chegaram à represa de Sorpe: Joe McCarthy (em T para Tommy, uma aeronave atrasada da segunda onda) e depois Brown (F para Freddie) e Anderson (Y para York), ambos da terceira formação. Esse ataque diferiu dos anteriores de duas maneiras: a bomba “Upkeep” não foi acionada e, devido à topografia do vale, a aproximação foi feita ao longo da extensão da barragem, não em ângulo reto sobre o reservatório.

O avião de McCarthy estava sozinho quando chegou à represa de Sorpe às 00h15min e fez nove tentativas de bombardeio antes de o navegador George Johnson estar satisfeito. A bomba “Upkeep” foi lançada na décima corrida. A bomba explodiu, mas quando ele girou seu Lancaster para avaliar os danos, descobriu-se que apenas uma seção da crista da barragem havia sido explodida; o corpo principal da barragem permaneceu.

A barragem de Möhne depois do ataque

Três das aeronaves reservas foram direcionadas para a barragem de Sorpe. Burpee (S de Sugar) nunca chegou e mais tarde foi determinado que o avião havia sido abatido enquanto passava pelo campo de pouso de Gilze-Rijen. Brown (F de Freddie) chegou à represa de Sorpe: no nevoeiro cada vez mais denso, após sete corridas, Brown resolveu então lançar dispositivos incendiários em ambos os lados do vale, o que fez causar um incêndio que subsequentemente levantou o nevoeiro o suficiente para lançar um golpe direto na oitava corrida. A bomba explodiu, mas não conseguiu romper a barragem. Anderson (Y de York) nunca chegou por ter sido atrasado por danos à sua torre traseira e denso nevoeiro, o que impossibilitou suas tentativas de encontrar o alvo. Os dois bombardeiros restantes foram enviados para alvos secundários, com Ottley (C de Charlie) sendo abatido a caminho da represa de Lister. Townsend (O de Orange) finalmente jogou sua bomba na represa de Ennepe sem prejudicá-la.

Há evidências de que Townsend pode ter atacado a represa de Beverly por engano, e não a represa de Ennepe. O Diário de Guerra da equipe naval alemã informou que a barragem de Bever foi atacada quase ao mesmo tempo que a barragem de Sorpe. Além disso, diz-se que as autoridades responsáveis pela barragem de Bever recuperaram os restos de uma “mina”; e Paul Keiser, um soldado de 19 anos em licença em sua casa perto da represa de Bever, relatou um bombardeiro fazendo várias aproximações à barragem e depois soltando uma bomba que causou uma grande explosão e chamas.

A barragem de Möhne depois do ataque, vista de outro ângulo

Townsend relatou posteriormente dificuldade em encontrar sua barragem e, em seu relatório pós-ataque, ele reclamou que o mapa da barragem de Ennepe estava incorreto. A barragem de Bever fica a apenas 8 km a sudoeste da barragem de Ennepe. Com a névoa da manhã que enchia os vales, seria compreensível que ele tivesse confundido os dois reservatórios.

No caminho de volta, voando novamente no nível das copas das árvores, mais dois Lancasters foram perdidos. A aeronave danificada de Maudslay foi atingida por flak perto de Netterden, e a de Young (A para a Apple) foi atingida por flak ao norte de IJmuiden e colidiu com o Mar do Norte, na costa da Holanda. No voo de retorno sobre a costa holandesa, alguns disparos alemães voltados para a aeronave foram tão baixos que estilhaços foram vistos ricocheteando no mar.

Onze bombardeiros começaram a aterrissar em Scampton às 03h11min, com Gibson retornando às 04h15min. O último dos sobreviventes, a aeronave de Townsend, aterrissou às 06h15min. Foi o último a pousar porque um de seus motores foi desligado depois de passar pela costa holandesa, diminuindo sua velocidade. O Marechal Harris estava entre os que saíram à pista para cumprimentar a última tripulação a pousar.

APÓS O ATAQUE

Três tripulantes da aeronave de Hopgood saltaram de paraquedas, mas um morreu mais tarde por ferimentos e os outros foram capturados. Um tripulante no avião de Ottley sobreviveu ao acidente. No total, portanto, 53 dos 133 tripulantes aéreos que participaram do ataque foram mortos, uma taxa de baixas de quase 40%. Treze dos mortos eram membros da RCAF e dois pertenciam à RAAF.

Dos sobreviventes, 34 foram condecorados no Palácio de Buckingham no dia 22 de junho, com Gibson condecorado com a Victoria Cross (VC). Entre as condecorações entregues, foram concedidas cinco Distinguished Service Orders, dez Distinguished Flying Crosses, duas Conspicuous Gallantry Medals e onze Distinguished Flying Medals.

Após uma turnê de relações públicas nos Estados Unidos, e o tempo gasto trabalhando no Ministério da Aeronáutica em Londres e escrevendo o livro publicado como “Enemy Coast Ahead”, Guy Gibson voltou ao combate e foi morto durante uma missão voando um caça-bombardeiro de Havilland Mosquito em setembro de 1944.

O Esquadrão Nº 617 da RAF continuou operacional até depois do final da guerra, realizando ataques especiais, sendo uma de suas missões mais famosas foram o ataques ao encouraçado alemão Tirpitz (“Operação Paravane”, “Operação Obviate” e a “Operação Catechism”), usando as poderosas bombas “Tallboy” e “Grand Slam”, de cinco e dez toneladas de peso, respectivamente, que fizeram afundar a poderosa belonave alemã em novembro de 1944. Após operar diversos tipos de aeronaves durante a Guerra Fria, o esquadrão foi reativado em 2018 para operar o Lockheed Martin F-35B que estão entrando em operação na RAF.

CONSEQUÊNCIAS

Como resultado da missão, as barragens de Möhne e Edersee foram rompidas, causando inundações catastróficas no vale do Ruhr e em aldeias no vale do Eder; a barragem de Sorpe sofreu apenas pequenos danos. Duas usinas hidrelétricas foram destruídas e várias outras danificadas. Fábricas e minas também foram danificadas e destruídas. Estima-se que 1.600 civis – cerca de 600 alemães e principalmente mil trabalhadores escravos soviéticos – morreram, muitos afogados com as inundações após os ataques. Apesar dos rápidos reparos dos alemães, a produção não voltou ao normal até setembro. Após os ataques a Alemanha reforçou suas defesas em barragens e represas, retendo em solo alemão muitas armas que poderiam estar na frente de batalha.

Em 1977, o artigo 56 da emenda do Protocolo I às Convenções de Genebra proibiu ataques a barragens “se esse ataque puder causar a liberação de forças perigosas das obras ou instalações e consequentes perdas graves entre a população civil”. No entanto, há uma exceção se “ele for usado para outras funções que não sua normalidade e no apoio regular, significativo e direto às operações militares e se esse ataque for a única maneira viável de encerrar esse apoio”.

Entre várias menções culturais dessa impressionante missão (inspirou George Lucas e sua equipe a fazer a cena do ataque à Estrela da Morte em “Star Wars, de 1977, por exemplo) recentemente foi anunciado a produção de um filme sobre os ataques, baseado no filme de 1955 “The Dam Busters”. Produzido e dirigido por Peter Jackson (“Senhor dos Anéis”, entre outros), o filme ainda não tem data para estrear.


*Professor de História no Estado do Ceará e da Prefeitura de Fortaleza, Historiador Militar, entusiasta da Aviação Civil e Militar, fotógrafo amador. Brasiliense de alma paulista, reside atualmente em Fortaleza-CE. Articulista com artigos publicados em vários sites sobre Defesa.

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Tomcat

Matéria excelente! Não conhecia essa história.

Marcos

Vídeo para quem ficou curioso

https://www.youtube.com/watch?v=8zBp1NCbAr0

Edmundo

…(Comandante de Ala) Guy Gibson, de 24 anos, um veterano de mais de 170 missões de bombardeio e caça noturno…

Tio Velho Comuna

Excelente matéria! Conhecia pouco sobre essa operação inglesa que foi um feito heroico formidável! As baixas aliadas em bombardeiros e tripulações eram pesadíssima já que a artilharia anti-aérea e os caças alemães até 1944 cobravam um preço alto! Se os nobres camaradas aceitam uma sugestão, gostaria de solicitar que escrevam uma matéria sobre a operação ‘chariot’, também da Segunda Guerra; foi também uma operação memorável; porém, no âmbito naval: https://www.warhistoryonline.com/world-war-ii/8-facts-greatest-raid-st-nazaire-raid.html#targetText=On%2028%20March%201942%2C%20British,Nazaire%20in%20German%2Doccupied%20France.

Salim

Esses caras eram muito macho e com equipamento que tinham eram extremamente bons no que faziam.

Antoniokings

Se não me engano, teve um filme sobre essa Operação.

MARCOS ANTONIO LOPES DA SILVA

Eu assisti um filme a muitos anos atrás e se chamava ESQUADRÃO MOSQUITO. E se tratava justamente dessa história aí! Eu era adolescente ainda quando assisti ao filme! Acho que era um filme da década de 70!

Antonio Renato Arantes Cançado

Esquadrão Mosquito trata de outro assunto…

Marcos R.

Tem o clássico Dambusters labaredas do inferno de 1955 sobre esse episódio:
https://centralmovies.network/filmy.php?movie=13210#magelo-player

Junior

Tem um documentário antigo sobre esse evento, quem narra são veteranos da operação, vou ver se acho e posto aqui, mas realmente e algo digno de ser lembrado.

Cristiano GR

Muito interessante, mas o estrago feito ao inimigo foi pequeno em relação ao custo militar humano e de equipamentos perdidos.
O grande trunfo do ataque foi a posterior enfraquecida dos equipamentos e de pessoal alemão na frente de batalha para proteger as barragens.

Antonio Renato Arantes Cançado

Verdade. Estrategicamente, não teve efeito nenhum.

Defensor da liberdade

Essa barragem tem no Call of Duty. Nostalgia de quando joguei. Deveriam remasterizar ou recriar os antigos cods.

Mazzeo

Galante, a quarta foto não é de um Avro Lancaster Mk. IIIB Special, mas sim de um De Havilland Mosquito B. Mk. IV do 618 Squadron.
O Mossie usava uma versão pouco diferente, com duas “bombas saltadoras” em tandem, chamadas de Highball.
Tem um documentário do Imperial War Museum no Youtube chamado Highball Project Background, bem legal de ver.

Parabéns por divulgar essa e outras histórias da WWII.

Marcos Cooper

Cara,só tem Lancasters nessas imagens…

Mazzeo

Observe o horário da minha postagem. alias a imagem era um fotograma do documentário que listei acima. A imagem foi retirada.

Antonio Renato Arantes Cançado

Não entendi os ‘dislikes’…

Mazzeo

Lembrando Tambem que os Mossies Highball foram feitos para atacar o Tirpitz, mas não conseguiram o intento

Lúcio Sátiro

Um crime de guerra covarde, inominável. Explodir uma barragem e jogar toneladas de água sobre uma população civil indefesa é uma perversidade

Marcelo Danton

EXATO! E covarde, pois a pretensa alegação de que bombardearam Londres é diferente quando se mata pessoas na surdina. Para se ter uma ideia, comparem com brumadinho. COVARDES! Mas anglo-saxões são assim mesmo. Catapultavam doenças em seus inimigos encastelados e nos índios norte americanos. Dizimaram 5 milhões de BIsões só para vencer os Dakotas (Cavalo louco e Touro Sentado)

Marcelo Danton

E os 11 tupiniquis aqui se regojizam. Triste hipocrisia.

Antonio Renato Arantes Cançado

Na boa, vcs estão falando sério? Nasceram assim, ou fizeram curso?

Antonio Renato Arantes Cançado

Na boa, vcs estão falando sério? Nasceram assim, ou fizeram curso?

LucianoSR71

Outro efeito foi atingir terras cultivadas que levaram um bom tempo p/ voltarem a ter a mesma qualidade de antes da inundação.
Sir Barnes Neville Wallis desenhou o bombardeiro Wellington c/ uma estrutura geodésica que o tornava mais leve e ao mesmo tempo capaz de resistir muito bem a severos danos. Ao saber das numerosas perdas dos tripulantes nessa famosa missão, ficou extremamente chocado e se sentiu culpado por isso, já que sua bomba viabilizou esse ataque.
Sugiro o site abaixo, tem muita coisa interessante que ele criou:
http://www.sirbarneswallis.com/

Jeferson

Fiquei impressionado com esta operação quando li o livro Dambusters, da antiga editora Flamboyant, claro que encontrei este livro na época de adolescente quando era um verdadeiro “rato de sebo”, percorria todo o centro de Porto Alegre e conhecia todas as livrarias que vendiam livros usados, esta operação foi realmente impressionante. O esquadrão após esta operação, aos poucos foi sendo convertido para bombardeio de sinalização, indo na frente do ataque principal para sinalizar o alvo com bombas de sinalização para marcar com precisão os alvos, para tanto eles usavam uma combinação de Mosquitos e Lancasters, logo após isto, também surgiu… Read more »

marrua113

Tinha um kit Revell com este tema, lembro até hoje da capa da caixa do modelo, que as caixas com os desenhos dos kits Revell era uma espetáculo à parte. A trilogia está acertiva em fazer matérias da II guerra, muita informação. Parabéns !!!

Sidy

Aqueles que montaram kits da Revell Brasil no passado com certeza se lembram deste avião, que foi lançado aqui como um kit na escala 1/72. Ótimas lembranças e uma matéria muito interessante, parabéns.

Mairton Melo

Esse kit ainda é produzido, mas pela Revell Alemã. É um ótimo kit, tenho um que, qualquer dia desses, vou montar e fazer um video da montagem para publicar lá no canal.

Mairton Melo

Esse kit ainda existe!!! Eu tenho um deles! Qualquer hora vou montar e fazer um vídeo da montagem lá no meu canal (https://www.youtube.com/c/toyhobby)

Denis

Incrível! Eu lia a matéria e achava parecido com a cena de Star Wars, até ler o parágrafo que fala que a cena foi inspirada no fato. Lucas conseguiu transmitir bem o sentimento desta batalha.

Quanto à batalha real, dá um misto de orgulho e tristeza pelos bravos mortos em batalha. Paz às suas almas.

Ozawa

Outros ecos da História:

Pouco tempo depois desse ataque memorável da RAF, em 1951, durante a Guerra da Coréia, aeronaves Skyraiders do esquadrão de ataque VA-195 da USN, então conhecido como “Tigres”, desativaram após diversas tentativas frustradas anteriores a barragem fortemente defendida de Hwacheon, na Coréia do Norte, recebendo, a partir de então, o apelido de “Dambusters”, em alusão ao mítico esquadrão nº 617 “Dam Busters” da RAF …

O VFA-195 Dambusters voa ainda hoje com o Super Hornet F / A-18E.

Hermes

Foi o último ataque aéreo com torpedos contra alvo de superfície da da história.

Heitor

Pessoal, uma pergunta off-topic. Quem puder responder, obrigado rsrs

Os SU-30 venezuelanos têm AESA? Se não tiverem, então os Gripen terão grande vantagem, não?

Fernando "Nunão" De Martini

Su-30 da Venezuela não tem AESA.

Tomcat4.0

Impressionante, cada história que retrata os acontecimentos desta ou outras guerras e conflitos, só nos mostra o quanto somos adaptáveis e práticos, principalmente em momentos como este narrado.

Mairton Melo

Em situações como aquela, onde os ingleses passaram por sua hora mais escura (e mais honrosa), eles conseguiram alcançar feitos incríveis, ainda mais em condições tão adversas como as que viviam. Essa missão e muitas outras demonstram isso.
Embora, é claro, muitas missões foram coroadas por um fracasso retumbante… Mas, faz parte do jogo. Não dá para ganhar todas numa guerra.

Rodrigo Maçolla

Conhecia essa missão mais não com todos estes detalhes, Só tenho um comentário a fazer: Impressionante !!! excelente matéria

Mairton Melo

Grande Luiz!!! Parabéns pelo artigo!
A Segunda Guerra é recheada de operações incríveis e essa foi, seguramente, uma das 10 mais influentes, impactantes e perigosas de todas as operações aéreas.
Em casa tenho um kit Revell de um Lancaster com essa “bombinha” aí. Qualquer hora monto o kit para homenagear o grande feito que os combatentes nessa missão fizeram.

Nilton L Junior

É na adversidade que se revela os corajosos.

Saldanha da Gama

Belíssima reportagem e a história serve para aprendermos com os erros do passado, para não os repetirmos no futuro e que o Brasil cuide bem de sua Itaipu, belo monte, ilha solteira…..

Pedro

Nao sei se eh devido a ter um filme em produção que se inicia um trabalho de marketing que tem por mostrar que tal atividade foi algo de realmente impacto, mas lembro qdo li sobre esse ataque em livros da IIGM mais antigos, todos eram bem enfáticos ao afirmar que o ataque, realmente foi de grande coragem, profissionalismo e um excelente projeto para um problema distinto e dificil, mas que teve um impacto minimo na IIGM e esse atraso produtivo se deu muito mais pelos escravos do leste europeu mortos do que os efeitos nas barragens. Nao a toa que… Read more »

Marcelo Danton

Não conheciam a história porque se igualaram aos Alemães que bombardearam Londres. Ai não dão a publicidade devida. Real Objetivo! MATAR CIVIS afogados, doenças ou de sede.
1 anos depois os V2 voltaram a assolar Londres com ampla publicidade comoventes das mamães correndo com os filhos para os abrigos..ao contrario da “surdina” da águas. Qual o método PIOR?!

EduardoSP

Não se fazem omeletes sem quebrar ovos. A dor e o sofrimento das guerras nunca foi limitado aos militares. Sempre, em todas as épocas, afetaram civis e indefesos, pois a violência uma vez desencadeada é difícil de controlar. Por isso guerras devem ser evitadas.

JuggerBR

Era alvo militar, afetar a produção de armas alemãs. Não se discute se morreram civis.

Marcos Cooper

Ao contrário do que muitos aqui pensam,essa é uma história conhecidíssima!
Os ingleses nunca a esconderam por acharem que era vergonhosa.

Antonio Renato Arantes Cançado

E por quê seria?

CARLOS BONASSER

ANGUSTIANTE…MARAVILHA.

Sergio Prado

Já li sobre esta história no livro “BOMBARDEIRO LANCASTER” da coleção “ARMAS” número 24 da editora RENES. A história é realmente espetacular. Do desenvolvimento da arma até o dia do ataque.
Tempos em que coragem não era escolha e sim necessidade de sobreviver.

Corsádio-DF

Excelente artigo. Eu conhecia sobre a história, mas você trouxe detalhes impressionantes. Parabéns pelo artigo.

Kelber França Utagori de Oliveira

Eu ja conhecia essa missao pq eu montei uma maquete d um lancaster com essa configuração acho q eu tinha uns 10 anos.

João Adaime

Vale destacar que a Força Aérea Brasileira fez manobras parecidas com estas, entre as montanhas da Itália, com seus Republic P-47 Thunderbolt do 1st Brazilian Fighter Squadron (1st BFS), nome código Jambock. Manobras não seguidas pelos seus colegas norte americanos. Bombardeios entre montanhas ficavam só pros brasileiros.

Flavio junior

Será? . Pesquise . Você vai constatar que isso não é verdade . Além do que , você contatará que nenhum P47 pilot, colidiu seu avião com uma chaminé. Pelo menos não na Itália.

Renato de Mello Machado

Li sobre essa operação nos “livrinhos” da editora Renes, História Ilustrada da segunda guerra.Só não lembro se teve um livro dedicado a essa operação ou se foi,no livro dedicado ao bomb.Lancaster.

LucianoSR71

Comprei muitos livros dessa coleção em sebos, mas não lembro de ter visto um dedicado a essa operação então fiquei curioso, pesquisei e encontrei uma relação de toda a coleção, espero que não fique barrado o link:
https://trade.nosis.com/pt/EDITORA-RENES-LTDA/Sites/3665516/315/p/s

JAIBE PITZER

meus parabéns ao Luiz Reis, a história é fantástica assim como sua narrativa, muito bem escrito, parecia que eu estava assistindo um filme de tão detalhado que foi o texto.

Hermes

“A bomba foi lançada para longe do acidente e foi examinada intacta por Heinz Schweizer.”
Os alemães chegaram a produzir cópias em engenharia reversa da bomba, mas seus testes não foram bem sucedidos por não compreenderem a necessidade do motor elétrico girar a bomba a 500 rpm antes do lançamento, seja por que o motor não foi recuperado dos destroços ou por que não ligaram a peça à necessidade de já prover rotação do artefato antes do lançamento.

Joli le Chat
Rinaldo Nery

A revista Força Aérea já publicou matéria sobre o tema.

zézão

Enquanto isso temos forca aérea que não conta com aviões REVO e seus caças-bombardeiros apodrecem dentro de caixotes…

Haroldo

O texto apresentado, está mais esclarecedor que o filme, que Eu vi.
Muito bom o artigo

Haroldo

Obrigado