‘Não me enforquem no primeiro dia’, diz novo ministro da Defesa da Índia

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Rafale - trabalho da equipe de apoio no Aero India 2011 - foto 2 Armee de lair

Ministro Manohar Parrikar pediu tempo para tomar controle do Ministério da Defesa, prometendo transparência, decisões rápidas e atender à política ‘Made in India’ do novo governo Modi, num país que é o maior importador de armas do mundo. Entre as questões urgentes, está a aquisição de 126 caças Rafale

Na segunda-feira, 10 de novembro, Manohar Parrikar tomou posse do cargo de ministro da Defesa da Índia afirmando que decisões rápidas e transparência são suas especialidades. Para o jornal Times of India, o Ministério da Defesa precisa de uma grande dose desses remédios para lidar com uma base industrial de defesa que avança aos tropeços, lacunas nas capacidades operacionais militares, procedimentos de aquisição complicados e marcados por escândalos e, não menos importante, uma divisão entre civis e militares para a qual não se constrói conexões.

Parrikar, de 58 anos, e que até a última semana governava a pequena província costeira de Goa, encarou todas essas questões buscando “desarmar” os jornalistas, ao dizer: “Deem-me uma corda comprida. Não me enforquem logo no primeiro dia.”

Apesar de destacar que possui “exposição e experiência administrativa” no Estado, Parrikar afirmou que precisaria de “tempo” para tomar controle do “importante e delicado ministério” que o primeiro-ministro Narendra Modi lhe confiou. Ele garantiu que pretende garantir uma maior produção local de sistemas de armas, em sintonia com a política “Made in India” de Modi, além de aquisições por meios mais rápidos.

Segundo Parrikar, o ministro que acumulava o cargo de Defesa com o de Finanças*, Arun Jaitley, “apesar das limitações realizou muito trabalho inicial em diversas questões de defesa.” O novo ministro completou: “Estou confiante em avançar nelas com velocidade”.

Comandantes forças aéreas indiana e francesa e Rafale no Garuda V - foto via twitter Dassault

Conhecido por atuar de forma harmônica com o primeiro-ministro Modi, o novo ministro da Defesa disse que Modi foi “claro” sobre “abrir” a produção de defesa: “Tanto quanto possível nós devemos fabricar aqui na Índia. Qualquer país com boas práticas de fabricação, seja na defesa ou em outros setores, cresce economicamente, gerando oportunidades de emprego”, afirmou Parricar. Para o Times of India, tudo isso dará muito trabalho, pois a Índia é hoje o maior importador mundial de material de defesa.

A organização indiana de Pesquisa e Desenvolvimento de Defesa (DRDO), as empresas de defesa do setor público (defence PSUs – Public Sector Undertakings), e as fábricas de material militar apresentam um desempenho lento, e tentativas de encorajar o setor privado para entrar no setor de defesa têm falhado. Essa situação responde, em grande parte, pelo fato da Índia importar 65% de suas encomendas militares.

O novo ministro, que é um engenheiro metalúrgico formado no IIT (Instituto Indiano de Tecnologia) de Mumbai precisa garantir a aprovação do ministro das Finanças Arun Jaitley para bilionários projetos de modernização que estão pendentes. Dentre eles, a construção local de seis novos submarinos furtivos, a aquisição de mísseis guiados anticarro israelenses e, finalmente, a já muito adiada conclusão do projeto MMRCA (avião de combate multitarefa de porte médio) de custo estimado em 20 bilhões de dólares, que visa adquirir 126 caças franceses Rafale para a Força Aérea Indiana.

Manohar Parrikar - imagem NDTV via PTI - Press Trust of India

Desafios para o novo ministro Parrikar: os limites legais para investimentos de empresas estrangeiras de defesa, frente ao sonho ‘Made in India’ de Modi

A NDTV indiana ressaltou esse último ponto em reportagem sobre a posse de Parrikar. A Força Aérea Indiana precisa de pelo menos 39 esquadrões de caça, mas atualmente só tem 32. Recentemente, seu comandante afirmou que a Índia não pode permitir que se atrase mais o acordo com a Dassault Aviation para aquisição dos 126 caças Rafale.

Além disso, a Índia precisa desesperadamente de peças de artilharia, que não são adquiridas desde 1987. Dois novos Corpos de Montanha, cuja missão é impedir eventuais avanços da China para a Índia pelo Himalaia, precisam de canhões leves, de fácil mobilidade nas áreas montanhosas. Além dos submarinos mencionados pelo Times of India, a NDTV ressaltou que a Marinha Indiana precisa de pelo menos 100 helicópteros navais multifunção, além de mais helicópteros utilitários. Só o programa de helicópteros já se aproxima, em custo, a tudo que a Índia teve para gastar no ano passado em equipamentos de defesa. Assim, não bastará ao novo ministro da Defesa priorizar demandas, mas também convencer o Gabinete a liberar mais dinheiro.

O maior desafio para Parricar é o sonho “Made in India” de Narendra Modi, na opinião da NDTV. Nos últimos meses, o primeiro-ministro tem rechaçado praticamente todas as propostas de comprar equipamentos de fabricantes estrangeiros. O Governo Indiano quer que o setor privado do país adquira tecnologia de empresas estrangeiras, formando parcerias na Índia. Nessas parcerias, foi permitida a participação de empresas de outros países em até 49%.

Para o ex-chefe da equipe integrada de Defesa, almirante Shekhar Sinha, é necessário permitir aos fabricantes internacionais de armas que exportem a partir da Índia, para assim viabilizar o investimento deles no país. Ele também tem a opinião de que limites no montante em que podem investir na parceria com empresas locais não vão contribuir para a transferência de tecnologia crítica para estas últimas. Para ambas as questões, seria preciso mudar a lei.

les-deux-rafale-presents-sur-le-salon-aeroindia - foto Armee de lair

FONTE / FOTO DO MINISTRO: Times of India e NDTV (compilação, tradução e edição do Poder Aéreo a partir de originais em inglês)

DEMAIS FOTOS: Força Aérea Francesa e Dassault (em caráter meramente ilustrativo)

*NOTA DO EDITOR: nos últimos meses, desde o início do novo governo Modi na Índia, o cargo de ministro da Defesa era acumulado temporariamente pelo ministro das Finanças Arun Jaitley, enquanto o recém-empossado primeiro-ministro Narendra Modi costurava politicamente a nomeação de ministros para todos os  cargos.

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Zampol

39 esquadrões de caça…
+ 100 helicopteros…

_Pode isso Arnaldo?

Mauricio R.

E o jornal nem mencionou os quase 200 helicópteros de reconhecimento p/ o Exército e a Força Aérea.
As quase 60 aeronaves de transporte, p/ a substituição dos Avros.

eparro

É para quem tem pendengas com Paquistão e China, muito é pouco.