Dia da Aviação de Reconhecimento

A conquista das cotas mais elevadas do terreno sempre foi objeto de desejo dos comandantes ao longo da história militar. Além de proporcionarem claras vantagens táticas e até estratégicas, dependendo do contexto, o domínio das elevações propiciava aos exércitos ampliarem sua visão acerca do inimigo, o que possibilitava elaborar planejamentos mais precisos, além de proteger as tropas contra eventuais ataques.

Entretanto, durante a guerra do Paraguai, devido às características planas da topografia do teatro de operações, as forças da tríplice aliança recorriam apenas aos mangrulhos, que nada mais eram do que postos de vigilância artificiais, no formato de torres, para proporcionar um maior alcance de observação das forças inimigas.

Mesmo com a utilização dos mangrulhos, nossa capacidade de reconhecimento era extremamente limitada. Isto foi um dos principais fatores que levaram as divisões do comando aliado a sofrerem uma humilhante derrota em Curupaiti, levando os aliados a pagarem um altíssimo preço em vidas humanas.

Após essa retumbante derrota, o governo brasileiro atribuiu o comando das operações para Luís Alves de Lima e Silva, o então Marquês de Caxias, que, tão logo assumiu o cargo, procurou sanar uma série de deficiências de nosso exército e, dentre elas, a capacidade de realizar missões reconhecimento. Caxias recorreu ao que havia de mais moderno à época e adquiriu dois balões dos EUA que realizaram ao todo 20 missões de reconhecimento, sendo o primeiro voo executado em 24 de junho de 1867, data escolhida para comemorar o dia da aviação de reconhecimento.

As missões realizadas pelos balões de Caxias possibilitaram que os aliados estudassem as melhores vias de acesso para Tuiuti e Tuyu-cuê. Foram estes aeronautas que descobriram as linhas de trincheiras contínuas entre Tuiuti e Humaitá e, ainda, retificaram nossas cartas topográficas da área de litígio, além de monitorarem, constantemente, as intenções da cavalaria inimiga.

Dessa forma, os reconhecimentos permitiram a Caxias atacar, com sucesso, Humaitá e desbordar Curupaiti, sendo seus feitos imortalizados na força aérea brasileira através do leão vermelho presente na heráldica do 1º/10º GAV, cuja origem remonta o brasão do duque de Caxias.

Fiel às lições do passado, mas de olho nas demandas da moderna guerra aérea, o comando da aeronáutica realizou, nos últimos anos, vultosos investimentos no intuito de adquirir modernos sensores de reconhecimento com o fito de alimentar, diuturnamente, nosso vital ciclo de comando e controle, fornecendo informações precisas, de modo a auxiliarem a tomada de decisões, seja de uma força aérea componente ou de um comando conjunto.

Assim, a aquisição do pod Reccelite elevou ao estado da arte a capacidade do esquadrão poker de cumprir missões em ambientes hostis, possibilitando que as equipagens de RA-1 atuem no teatro de operações, realizando reconhecimento tático de altíssima resolução e de modo “stand off”, ou seja, fora do alcance das defesas inimigas.

No 1º/6º GAV, a substituição das antigas câmeras analógicas pelo sistema aerofotogramétrico digital ADS-80 representou um salto qualitativo em termos de agilidade no processamento de imagens, além da superioridade de resolução do sensor, que, aliada à implantação do equipamento DR-3000 nos R-35AM, inseriu o esquadrão carcará no seleto grupo de unidades com capacidade de realizar missões de inteligência de sinais.

O programa de modernização dos R-99 do 2º/6º GAV possibilitará a manutenção de nossa capacidade de realizar reconhecimentos de cunho estratégico, através da utilização do radar de abertura sintética (SAR), pois, além de possibilitar a realização de sensoriamentos a grandes distâncias, este sensor não sofre influências de coberturas de nuvens. Dessa maneira, o esquadrão guardião tornou-se o mais qualificado para vigiar nossas riquezas da Amazônia, devido sua grande autonomia e gama de sensores.

A recente criação do 1º/12º GAV e a sedimentação da doutrina de operação das aeronaves remotamente pilotadas (ARP) revelaram novas perspectivas e capacidades para a aviação de reconhecimento. O profissionalismo de nossos militares e a flexibilidade de nossa doutrina de emprego possibilitaram que, em menos de um mês, a nova aeronave remotamente pilotada, Hermes 900, fosse recebida e posta em operação, sendo seu sofisticado sensor embarcado Skyeye empregado em missões reais em prol da segurança da copa do mundo FIFA 2014.

Portanto, é com muito orgulho que, neste dia 24 de junho, a força aérea brasileira parabeniza e presta sua homenagem aos seus pilotos, técnicos de informações de reconhecimento, fotointérpretes, mecânicos e pessoal de apoio que compõem nossas unidades de reconhecimento e, também, àqueles que um dia escreveram a história da gloriosa aviação de reconhecimento.

A Força Aérea Brasileira confiou o que há de mais moderno aos seus homens e mulheres, para que possam cumprir com êxito sua missão, pois sabemos que vocês serão os primeiros e os últimos no campo de batalha e, lembrem sempre, que a nação entregou-lhes a nobre tarefa de serem: “da pátria os olhos, na guerra e na paz”.

Ten Brig Ar Nivaldo Luiz Rossato
Comandante-Geral de Operações Aéreas

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Rinaldo Nery

Parabéns a todos os Pilotos de Reconhecimento no seu dia!
¨Da Pátria os olhos! Selva! ¨

Guardião 03

Clésio Luiz

Caro Rinaldo Nery, gostaria que você tirasse uma dúvida minha, se possível: câmeras infravermelhas são capazes de ver atraves de nuvens ou fumaça, ou isso é exclusividade de radares?

Rinaldo Nery

No caso da fumaça, só as fontes de calor. Através de nuvens, negativo.

Oganza

Parabéns Aviação de Reconhecimento.
Tão negligênciada e não menos importante.

Meus Parabéns.

Mas eu gostaria de saber:

Em tempos de tanto discurso anti-americano, por que diabos se coloca uma água de cabeça branca (o animal síbolo americano) na arte comemorativa? rsrsrs

Podiam pelo menos colocar um Harpia… com seus penachos ericidaos… ao menos é tupiniquim, sem falar que é a maior águia do mundo.

É como eu sempre digo e repito: Se estagiários de comunicação de nossas FFAA são uma graça. 😀

Sds.

Rinaldo Nery

Oganza, o símbolo não foi criado por nenhum ¨estagiário¨. Existe desde que o 1°/10° GAV era sediado em Cumbica.
A bolacha do 2°/6° GAV contem a harpia. Essa bolacha, sim, foi criada pela assessoria de comunicação da CCSIVAM, e venceu um concurso onde concorreram 47 bolachas, em 1999.

Oganza

Oi Rinaldo,

mas eu estou falando dessa arte ai de cima, ela está com uma águia cabeça branca…. 🙁

e acho muuuito bom de verdade que na bolacha seja a harpia, que por sinal é um animal absurdamente impressionante quando visto ao vivo e a 2 metros de distância… realmente mete medo.

Sds.

Rinaldo Nery

Mas o símbolo da Aviação de Reconhecimento é esse mesmo: a águia com a cabeça branca. Quem bolou, não sei.

Oganza

Rinaldo,

mas podia ser uma harpia na arte ai de cima não podia…. ? Ahhh vai… rsrs 🙂

Ps.: e nossa harpia tem a cabeça branca… com leve acinzetado rsrsrsrs

http://veja.abril.com.br/blog/sobre-imagens/files/2012/08/JMR_harpia-HOME.jpg

Grande Abraço.