Compra do Gripen pelo Brasil poderá diminuir custos para a Suécia

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Gripen NG- foto Saab

Segundo extensa reportagem do site Defense News publicada nesta quinta-feira, 19 de dezembro, a venda pendente de 36 caças Gripen E ao Brasil terá o efeito secundário de reduzir os gastos da própria Suécia na compra de 60 jatos do tipo. Essa economia vai decorrer do risco ser espalhado, assim como dos custos globais de desenvolvimento e entrega do Gripen E. As reduções no custo serão repassadas ao núcleo do orçamento das Forças Armadas da Suécia, de acordo com autoridades governamentais suecas.

A ministra da Defesa da Suécia, Karin Enström, disse que negociações para finalização do acordo, entre a Saab e a Força Aérea Brasileira (FAB) têm o potencial de se tornar a “maior de todas” as exportações de defesa da Suécia. O valor estimado do acordo é de 4,5 bilhões de dólares. Segundo a ministra, “ter um segundo parceiro internacional no projeto de desenvolvimento do caça Gripen representa algo extremamente positivo para nós. Significará maior valor em sinergia e na divisão de custos. Deixará disponíveis mais recursos para as Forças Armadas da Suécia canalizarem para suas operações mais importantes.” Ela disse também que não haverá pressa para finalizar o acordo, o que pode levar 12 meses ou mais.

Nesta quinta-feira, a decisão brasileira de substituir sua envelhecida frota de Mirage 2000 pelo Gripen E teve um impacto dramático e instantâneo nas ações da Saab, que valorizaram-se 27% em Estocolmo, acrescentando 350 milhões de dólares ao valor de mercado da companhia.

Atualmente, a Suíça é o único parceiro internacional no desenvolvimento do Gripen E. O Governo Suíço pretende adquirir 22 aeronaves por 3,3 bilhões de dólares, ainda que a oposição política à aquisição tenha levado a um referendo, que deverá decidir a coompra em maio de 2014. Um acordo com o Brasil cimentaria o futuro do desenvolvimento do Gripen E para além de 2025, afirmou Peter Hultqvist, chefe do Comitê de Defesa do Parlamento Sueco.

Gripen E nas cores da Força Aérea Suíça - ilustração Saab

Segundo Hultqvist, “apesar do papel do parceiro suíço ser importante, tudo pode acontecer na política e, dependendo do resultado do referendo de 2014, o programa do Gripen E poderia ficar sem um grande parceiro internacional. Um acordo finalizado com o Brasil ajudaria o desenvolvimento do jato e a atrair novos compradores internacionais.” O parlamentar também se surpreendeu com a decisão brasileira tomada agora, pois já se esperava que a presidente Dilma Rousseff só se decidisse após as eleições presidenciais de 2014 ou depois que a economia do país melhorasse. Ainda assim, “houve uma percepção na Suécia de que a Saab estava se sobressaindo a seus competidores nos últimos seis meses, pois o ‘fator NSA’ pode também ter ajudado a Suécia”, disse Hultqvist.

Em janeiro, o Parlamento Sueco aprovou a compra de 60 caças Gripen E/F* a um custo de 9 bilhões de dólares, havendo um a cláusula de cancelamento do pedido, sem penalidades, caso um parceiro internacional não fosse encontrado para pelo menos 20 caças Gripen E. A decisão brasileira significa que a Saab precisará aumentar tanto a escala de produção quanto de mão de obra, segundo Lennart Sindahl, presidente da Saab Aeronautics. O valor final do negócio só estará claro quando as negociações estiverem avançadas e todos os aspectos da oferta da Saab, que forma um documento de 3.600 páginas, forem acordados, disse o executivo.

Gripen na linha de produção - foto 3 Saab

O documento da Saab cobre uma ampla gama de cooperações, que vai além da entrega do Gripen E. Há propostas sobre compensações comerciais, produção e montagem de partes do Gripen e de seus sistemas no Brasil, assim como uma colaboração em mercados globais entre a Saab e a indústria brasileira, liderada pela Embraer. Tudo isso tem destaque na oferta da empresa.

O Governo Sueco espera que a maior parte da montagem do Gripen E continuará nas instalações da Saab em Linköping. Sindahl disse que “o que exatamente acontecerá é algo a ser decidido nas negociações. Algumas partes serão produzidas na Suécia, outras no Brasil. As partes produzidas no Brasil também poderão ser produzidas para o mercado global, e não vemos isso como algo que afete a produção na Suécia. Trata-se de um modelo de produção que já usamos em muitos outros casos.”

Cronograma Gripen E - apresentação Saab via Flightglobal

Incrementando o ciclo produtivo, a Saab seria capaz de entregar os primeiros 12 caças Gripen E ao Brasil em 2018. As entregas para a Força Aérea Sueca começariam no mesmo ano, estendendo-se até 2027. Petter Lahm, analista da indústria, afirma que a Suécia está totalmente preparada para dar mais peso (à proposta) para amaciar as coisas rumo a um contrato final.

Segundo Lahm, “o fato de que o império industrial sueco Wallenberg ser o principal dono da Saab, cria todas as oportunidades possíveis de se agregar valor entre indústrias na Suécia e no Brasil. Esse acordo vai aproximar esses dois grandes países, nos aspectos políticos e industriais. Também poderemos ver empreendimentos específicos da Saab com a Embraer para, talvez, desenvolver em conjunto o modelo biposto Gripen F ou colaborar no desenvolvimento do avião de transporte KC-390 da empresa brasileira, visando o mercado internacional.”

KC-390 em pista semipreparada - ilustração Embraer

FONTE: Defense News (tradução e edição do Poder Aéreo a partir de original em inglês)

IMAGENS: Saab e Embraer

*NOTA DO EDITOR: mantivemos a citação ao Gripen E/F como foi feita na matéria do site Defense News, mas acreditamos se tratar de um equívoco da reportagem citar o modelo F a0 falar dos 60 caças autorizados pelo Parlamento Sueco. Nota da própria Saab  de ontem, anunciando contrato de produção para os 60 caças Gripen de nova geração destinados às Forças Armadas da Suécia, cita apenas o modelo E, monoposto, como aliás vem sendo o caso em diversos anúncios anteriores. Veja primeiro link da lista abaixo, que também dá acesso à nota original, em inglês.

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GHz

Segundo a matéria, a encomenda sueca seria então de ambas as versões “E” e “F”, e não apenas “E”, como se estava falando.

Contudo, fica claro que o “F” ainda está por ser desenvolvido (provavelmente em conjunto com a Embraer).

Ozawa
rommelqe

Prezados,
Observação relativa à manchete da Defense News: ainda bem. Claro que a Suécia será altamente beneficiada com a entrada do Brasil no programa Gripen NG. E vice-versa, ainda considero o BRASIL o maior beneficiado nesta relação.

No que diz respeito à versão F biposta, considero a mesma INDISPENSÁVEL (externei as minhas razões no tópico `caça tampão`). Porem gostaria de reiterar um comentário já feito pelo Nunão: nos RFP`s da COMPAC e demais requisitos do F-x2 entendo que desde sempre a FAB pensou em 8 aeronaves bipostas. Ou não?