Presidenta, não deixe a ‘bola de neve’ dos caças triplicar de tamanho outra vez

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Numa conta simples e até simplória, porém calcada assustadoramente na realidade, o problema da substituição dos caças da Força Aérea Brasileira (FAB) triplica de tamanho e de custo quanto mais se demora para iniciar sua resolução. E, a não ser que a Aviação de Caça da FAB seja diminuída e muito de tamanho (assim como nossas pretensões geopolíticas), novos adiamentos ou cancelamentos só irão multiplicar o tamanho do problema, dificultando no longo prazo soluções que hoje ainda são viáveis.

F-X lançado em 1997:  12 caças

Quando o Programa F-X foi lançado, no final da década de 1990, o objetivo era substituir os caças Mirage IIIE/B (F-103 na FAB) baseados em Anápolis, cuja baixa era prevista para 2005. O programa visava apenas 12 caças novos, embora pretendesse que o vencedor, em novos lotes a serem adquiridos gradativamente, também substituísse no futuro os jatos F-5.

Havia tempo e tratava-se de um programa relativamente modesto. Sua previsão inicial era de 700 milhões de dólares para 12 aeronaves, embora estimativas do mercado indicassem perto do dobro do valor, conforme a escolha.

Mas os anos passaram e a questão se arrastou, com decisões postergadas por dois presidentes, Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva. A data fatídica da retirada de serviço do Mirage III chegou e, ao invés de uma decisão (que já estaria atrasada), o  ano de 2005 viu o cancelamento do programa F-X e a compra de 12 aeronaves Mirage 2000 usadas, da França, como “caça-tampão”.

F-X2 lançado em 2006:  36 caças (12×3)

Para o Programa F-X2, lançado no ano seguinte do cancelamento do F-X, a “bola de neve” teve que triplicar de tamanho. Isso porque não bastaria apenas substituir os caças de Anápolis (não mais os velhos Mirage III, e sim os menos velhos Mirage 2000), mas também os modelos F-5M mais desgastados.

No início, o programa andou rápido, chegando já em 2008 à seleção de três finalistas. Em setembro do ano seguinte, o ex-presidente Lula chegou a anunciar negociações com um dos três selecionados. Mas lá se vão mais de três anos, sem qualquer definição.

Estimativas indicam que o programa custará perto de 5 a 8 bilhões de dólares por 36 aeronaves, dependendo da escolha.

Quanto mais se adia a decisão, mais a bola de neve cresce. Caso o F-X2 continue em suspenso por muito tempo ou siga os passos do predecessor F-X e seja cancelado, o problema que um dia foi de comprar 12 aeronaves e depois tornou-se uma questão de 36, pode ser triplicado de novo.

F-X3 lançado em (?):  108 caças (36×3)

A conta pode não ser exata, mas é próxima da realidade.

Isso porque, somando os atuais 12 Mirage 2000 (embora a previsão de baixa seja já no final de 2013) com os 57 F-5M (46 em serviço já modernizados e 11 iniciando modernização) e com os 43 A-1M (iniciando modernização), chegamos a 112 jatos da primeira linha da Força Aérea Brasileira – um número muito próximo dos 108 da conta de 36×3. Mesmo com as modernizações, as baixas das atuais aeronaves não vão esperar: é previsto que os primeiros F-5M deixem o serviço em 2017, e gradativamente toda a frota será desativada. Um novo programa teria que levar em conta, desde o início, até mesmo a retirada de serviço dos A-1M, ainda sendo modernizados.

Seria um programa monstruoso, gigantesco, praticamente do mesmo tamanho da recente concorrência indiana (126 caças), cujo valor especialistas indicam que chegará ou até ultrapassará 20 bilhões de dólares. Ou seja, perto de três vezes mais  do que o atual F-X2.

E o pior de tudo: uma compra que terá ainda mais urgência. Os anos passam, os problemas triplicam.

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Vader

As empresas deveriam TODAS elas, sem exceção, não renovar suas propostas para 2013.

Isso sim seria um tremendo de um tapa na cara do gf.

Mas pensando por outro lado pode ser que o gf queira exatamente isso.

Giordani

Vader disse:
12 de dezembro de 2012 às 14:43

Que nada! Isso é o sonho do GF!!! Receber da SAAB e da Boeing um pé na bunda, pois seria a deixa para fechar com a Dassault, pelo valor que lhe convier e do jeito que quiser…

Marcos

Se de fato cancelarem o FX-2 e iniciarem um novo processo, além da quantidade maior de aeronaves, resta saber se o Brasil terá credibilidade lá fora, já que no caso do primeiro cancelamento as críticas foram duríssimas.
Lembrando que LM já não veio para o programa do FX-2.

Nick

Ainda acredito nas possibilidades da Boeing no FX-2. Basta a USAF fazer o certo dessa vez e não melar o LAS caso o ST vença de novo. Isso deverá ocorrer no começo do ano que vem. Claro que os valores são bem diferentes, mas, simbolicamente teria significado. Gripen E/F foi para a Suiça. Rafale? Os franceses devem agradecer aos céus todos os dias pelos Indianos terem indicado seu caça como L1. E o que deveria ser feito? Na minha opinião: A Embraer receber o encargo de projetar, desenvolver e produzir um caça local, de baixo custo, com características furtivas. Não… Read more »

Vader

Marcos disse:
12 de dezembro de 2012 às 15:19

“Lembrando que LM já não veio para o programa do FX-2”

Amigo Marcos, já disse isso aqui alguns milhares de vezes, mas vamos lá: a Lockheed Martin recebeu o RFI da FAB e ofereceu ao Brasil, dentro do âmbito do FX2, o F-16 Block 50/52-Br. Foi desclassificada da “long-list” por falta de transferência de tecnologia, segundo a FAB, junto com o Su-35 e o EF-2000.

Saudações.

Darkman

Na minha opinião se o Fx2 não for anunciado no próximo semestre de 2013, teremos caças tampão, e quem sabe lá na frente teremos o anúncio do novo caça. Caso o anúncio saia no primeiro semestre acredito que a Boeing tenha chance bem grande de levar essa concorrência.

thomas_dw

O Super Hornet sai de proucao em 4-6 anos.

HRotor

Maldita “transferência de tecnologia”, nome bonito para propina/sobre-preço.
Não fosse isso já teríamos os melhores aviões possíveis para nossa realidade e ponto final.

Soyuz

Perfeita a abordagem do blog, isto é bola de neve mesmo e a tendência é esta. Piorar! Se quiserem tirar a aviação de caça da FAB do apagão recomendo estas medidas; 1) Pensar de forma simples e objetiva . Esqueçam transferência de tecnologia. Ela da forma como esta modelada serve para pouca coisa alem de dobrar preços. Coloquem apenas dois itens nos requisitos de transferência de tecnologia. a) Domínio do software nos aspectos de integração de novos armamentos nacionais. ESQUEÇAM ESTA ILUSÃO DE “DOMÍNIO TOTAL DO SOFTWARE”. Na pratica nem a Boeing domina todo o software do SH, nem a… Read more »

glaison

Provavelmente não teremos caças novos por mais uns 20 anos, e sim, nos acostumaremos a viver com produtos usados. Assim como empresas de ônibus de pequenas cidades do interior, que nunca compram novos, e sim aqueles que não são mais usados nas capitais.
Não são a melhor coisa do mundo, mas sendo barato e voando é a conta.

marciomacedo

Soyuz e Nunão, quanta lucidez! E quanto tempo perdido em expectativas vãs.

Groo

Alguém sabe quanto foi que pagamos pelos Mirage 2000 e pela segunda leva de F-5 mais modernização para compararmos com aquisições de outros países?

cesar.mcbs

Prezado Nunão, artigo excelente, realmente. A abordagem foi muito pertinente, inovadora e interessante, mostrando, quase didaticamente, o que infelizmente nossa grande mídia parece incapaz – ou desinteressada – de expor. Os melhores argumentos muitas vezes são so mais simples, até simplórios, como você diz. Caro Soyuz, considero seu comentário sensacional. Você conseguiu resumir diversos aspectos realistas e contundentes que pouco tive oportunidade de ver por aí. Parabéns. Não sei se ambos concordam, mas acho oportuno o complemento sugerido pela ótima pergunta do Groo – que os custos adicionais envolvidos para se ter tampões nunca é desprezível. Aliás, isso já foi… Read more »

Almeida

Clap, clap, clap, bravo! Pro Nunão pelo post e pro Soyuz pelo comentário!

Mas e então, sendo realista agora, o que vai dar no FX-3? F-16 C/D dos EUA, Mirage 2000-9 dos EAU ou Gripen C/D da Suécia? O que mais teria no mercado em condições para a FAB?

Daglian

Almeida,

Mais F-5, talvez?

Luis

Tem os 53 EF2000 T1 da RAF e 28 da Itália, se eles ainda quiserem vendê-los.

Vader

Soyuz disse: 12 de dezembro de 2012 às 18:43 “2) Desçam do palanque. Esqueçam a retórica.” Prezado Soyuz, excelente comentário, mas você esqueceu de quem você está falando? Amigo, são políticos, e pior, populistas esquerdistas do PT, a pior espécie de populista já surgida no mundo. Com todo o respeito, mas rebato a correta assertiva do amigo com um conselho: ESQUEÇA! Essa corja vive e morre pelo palanque, ao ponto de podermos dizer que “nihil est in mundus quod prius non fuerit in palanque”… Sem a politicagem rastaquera eleitoreira, e/ou o jabá, nada sai nem jamais sairá. Não somos governados… Read more »

andre.dadys

Companheiros,

Temos que ver o lado bom disso tudo.
O fortalecimento da indústria nacional é um deles.
Se continuarmos assim, em breve estaremos “caçando” com o 14 BIS modernizados pelos israelenses!
Mais uma conquista brasileira!

Lembrem-se: O nosso governo não mede gastos para fazer economia…

HRotor

Soyuz matou a pau!
Colei seu comentário na minha agenda para ler de vez em quando e me manter lúcido, diante de tanta incompetência aeronáutica nacional.
Sds

Mauricio R.

Se esse suposto “fortalecimento da indústria nacional”, significa privilegiar a Embraer, sou contra!!!
A Embraer só joga contra o Brasil, tem mais é que ser isolada em um canto, cuidando de vender suas aeronaves regionais e executivas; já causou mtos problemas desde qndo foi privatizada.
Qnto ao KC-390, faltam explicações pláusiveis, bastante detalhadas, qnto a sua real utilidade, se comparado as opções existentes no mercado.
O que interessa a Embraer, não é problema do Brasil, empresa privada; que se vire no mercado!!!

Vader

Prezado Nunão, porque o “presidentA”?

Afinal de contas, não é porque a cidadã em questão, do alto de sua sapiência linguística, quer reformar unilateralmente a última flor do Lácio, que o Poder Aéreo precisa aderir a tal bobagem não é mesmo? 😉

Saudações.

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Renato Oliveira

Prezados, neste curto post é possível achar mais coerência e inteligência do que em todo o MD.

Pena que moramos em bananalândia, e para os políticos, que no fim das contas são quem realmente decidem o que vai ser feito ou deixar de ser feito, pensar, ainda mais com inteligência e racionalidade, em qualquer assunto que não seja enriquecimento ilícito e vencer as próximas eleições, é o mesmo que pedir a um elefante que escale um pau de sebo.

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