Treinamento de guerra aérea lembra caças duelando no ar, bombas, mísseis, velocidades supersônicas. Mas o que acontece na arena de combate é resultado de decisões tomadas em terra, com base nos objetivos, estratégias, inteligência e até impactos nos meios de comunicação. É esse o objetivo da CRUZEX C2 2012: treinar os Comandantes de uma guerra aérea. C2, no caso, é uma referência à “Comando e Controle”, dois dos maiores desafios em um conflito moderno.

Diferentemente das cinco edições anteriores, a CRUZEX deste ano não terá aeronaves – todo o treinamento acontecerá de forma virtual. Ao contrário do que pode parecer, no entanto, este nova forma de conduzir o exercício proporciona melhores condições de treinamento. “No modelo virtual não há limite de meios. Ou seja, é possível colocar um número praticamente ilimitado de aeronaves voando. Isso torna o exercício muito mais flexível, trazendo novos desafios para as equipes de C2”, afirma o Major Brigadeiro Antônio Carlos Egito, diretor da CRUZEX C2 2012.

No modelo Comando e Controle, todas as missões aéreas são virtuais e servem apenas para gerar os eventos necessários para o andamento do exercício. Para tornar o ambiente virtual mais parecido com uma guerra real, há ataques inimigos e planejamento de missões inesperadas. Além disso, são introduzidas no cenário simulado variáveis presentes em conflitos reais, como campos de refugiados, problemas humanitários e restrições políticas. No modelo virtual, é possível treinar até as reações dos Comandantes no caso de fracasso em missões, aeronaves derrubadas ou acidentes. O resultado de cada missão também interfere no objetivo da manobra seguinte.

“Uma ordem dada de forma propositadamente errada, se não for revisada, pode levar a uma falha na missão. Todos esses detalhes têm que ser percebidos pelas equipes que participam da estrutura de Comando e Controle. A intenção é fazer com que as células decisórias trabalhem mais”, afirma o Coronel Antônio Lorenzo, coordenador do Exercício. A Força Aérea da Coalizão simulada terá toda a estrutura semelhante à empregada pela OTAN, com um Comandante e Chefes de setores como Inteligência, Operações, Planejamento, Logística e Comunicação, dentre outros.

Todo o “Ciclo Decisório” acontece exatamente como ocorreria em um conflito real: as equipes têm que combinar estratégias e capacidades para executar cada missão de ataque ou defesa. Além de escolher alvos estratégicos, terão que definir como atacá-los, superando as defesas do país inimigo. As informações iniciais, simuladas, são fornecidas pela Direção da CRUZEX e os voos das unidades aéreas também acontecem somente em simulação. No meio dessas duas fases, os processos de tomada de decisão são reais.

A guerra aérea simulada acontece a partir de um conflito fictício envolvendo a invasão do país Amarelo por tropas do país Vermelho e a posterior intervenção de uma coalizão liderada pelo país Azul. O cenário criado é muito parecido com conflitos recentes, como os que aconteceram nos Balcãs e no Oriente Médio nos anos 90. As forças aéreas aliadas têm que operar de forma coordenada, como em missões autorizadas pelas Nações Unidas. Desde as reuniões de planejamento até a discussão dos resultados de cada missão, a CRUZEX é conduzida de acordo com procedimentos adotados pela OTAN.

CRUZEX chega aos dez anos como marca no treinamento da Força Aérea Brasileira

A história dos exercícios simulados no Brasil se divide entre antes e depois de 2002. Naquele ano, nos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, foi realizada a primeira edição do Exercício Cruzeiro do Sul, a CRUZEX I, que contou com a participação de cerca de 50 aeronaves das Forças Aéreas do Brasil, Argentina, Chile e França.

A novidade não era os F-5E da FAB, ainda antes das modernizações, combaterem de forma simulada os Mirage 2000 franceses – exercícios semelhantes já haviam acontecido na década de 90. A diferença é que pela primeira vez o Brasil organizava um exercício onde as ações de Comando e Controle tinham destaque. Ainda sem seus E-99, a FAB via os E-3 da Força Aérea Francesa cumprirem o papel de centros de controle no céu, uma novidade que hoje, dez anos depois, faz parte do dia-a-dia das operações brasileiras.

Entre muitos acertos e erros no mundo simulado – e também no mundo real – a CRUZEX trouxe ensinamentos e mostrou a necessidade de uma nova edição, repetida já em 2004. Dessa vez, o cenário mudou: do Sul, a CRUZEX II aconteceu no Nordeste, e a Base Aérea de Natal se tornou ponto principal de apoio para os caças do Brasil, França, Argentina e Venezuela.

“A operação foi evoluindo a cada edição e, aos poucos, foram inseridas outras aviações, equipamentos e novos cenários no exercício. Também foram incluídas missões SAR (busca e resgate), reconhecimento eletrônico, transporte de tropa e resgate de não combatentes”, explica o Major-Brigadeiro Antônio Carlos Egito, Diretor da CRUZEX C2 2012. No caso da CRUZEX II, pela primeira vez, helicópteros foram envolvidos em um cenário fictício que incluiu o treinamento de resgate em ambientes hostis (C-SAR).

Em 2004, a FAB estreava na CRUZEX seus E-99 (na época ainda designados R-99A), ao lado de modelos que hoje já não voam mais, como os F-103 Mirage e AT-26 Xavante. Já a Venezuela trouxe seus F-16 e Mirage 50. A Argentina mais uma vez trouxe seus A-4AR e os franceses seus Mirage 2000C/B/N. Além das Bases de Natal, Recife e Fortaleza, as cidades de Campina Grande (PB) e Mossoró (RN) também serviram como bases de desdobramento.

Dois anos depois, a CRUZEX III tinha um novo cenário: o Centro-Oeste. Sete países iriam participar com aeronaves: Argentina, Brasil, Chile, França, Peru, Uruguai e Venezuela. Lamentavelmente, um A-37 da Força Aérea do Peru caiu em Porto Velho (RO) no deslocamento para Anápolis (AN), e o país andino cancelou a participação de suas aeronaves. O mesmo modelo, no entanto, entrou em ação nas cores uruguaias.

O destaque dessa edição foi a estrutura de barracas montada em Anápolis (GO), onde funcionava a sede da Força de Coalizão simulada. Pela primeira vez, a FAB também empregou seus caças F-5EM, modernizados, que simulavam combates além do alcance visual (BVR) com mísseis Derby. Outra marca da renovação da frota foi o emprego dos turboélices A-29 Super Tucano.

As CRUZEX IV e V, em 2008 e 2010, marcaram a volta para o Nordeste. Na IV, o Brasil pela primeira vez utilizou seus F-2000, modelos semelhantes aos empregados pela França. Já na V, os franceses voaram pela primeira vez por aqui os seus caças Rafale, um dos modelos mais modernos empregados hoje no mundo. Os Estados Unidos também participaram pela primeira vez em 2010, com caças F-16.

FONTE: Cruzex C2 2012

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thomas_dw

em outras palavras, a CRUZEX foi cancelada neste ano, pois este tipo de treinamento pode ser feito a qualquer momento, dia sim, dia nao .

Quando a CRUZEX e´realizada, o principal beneficio e´a interacao entre as unidades.

Agora, ne vamos mais para a RED FLAG nem temos mais a CRUZEX.

HRotor

O importante é ser em Natal, onde todo mundo fica feliz…

Fernando "Nunão" De Martini

Thomas, Até onde sei não houve cancelamento algum do que estava planejado para este ano. Houve uma decisão de mudar a periodicidade da Cruzex tomada já à época da quinta edição, no final de 2010, e dividir em duas fases. Ao menos isso foi dito pelo comandante do COMGAR, tenente-brigadeiro Burnier, à época, sobre as mudanças para as edições futuras: “A primeira grande mudança a ser introduzida é a periodicidade do exercício, passando-se a realizá-lo a cada três anos, de forma a permitir que os outros parceiros na América do Sul façam seus exercícios nos intervalos. A segunda ideia é… Read more »

thomas_dw

Mesmo assim, parece que a FAB perdeu o interesse pela CRUZEX – mais um exercicio de redução de custos com certeza, quanto ao RED FLAG, este parece que vai voltar a ser de uma vez a cada 10 anos.