Ser piloto
Por Francis Gary Powers, famoso piloto da USAF, derrubado na Rússia em 1960
Existem dois tipos de pilotos, aqueles que levam em seu sangue a necessidade de voar, pelas mesmas razões que precisam dormir, comer ou respirar, e aqueles que o fazem apenas pela tarefa, por obrigação ou por não ter outra alternativa. Esses últimos normalmente chegam à profissão por acaso ou outra forma não planejada. Os primeiros frequentemente tem a inquietude desde pequenos, quando viam nos aviões algo notável, místico, sublime, talvez muitos destes começaram desde pequenos a construir modelos de aeroplanos, ou acumulando fotos e pôsteres ou qualquer outra coleção com motivos aéreos. Conheciam as especificações e dados de qualquer avião com riqueza de detalhes.
Quando crescem e têm a sorte de realizar seu sonho de criança, desfrutam plenamente do seu trabalho e sentem-se os homens mais sortudos do planeta.
Os pilotos são uma classe à parte de humanos, eles abandonam todo o mundano para purificar seu espírito no céu, e somente voltam à terra depois de receber a comunicação do infinito. Esse grupo conhece a diferença entre voar para sobreviver e sobreviver para voar. A Aviação os ensina orgulho como também humildade e apesar de que voar é uma magia, eles caem voluntariamente vítimas de seu feitiço. Quando estão na terra, durante dias ensolarados, observam continuamente o firmamento com saudades de estar ali, durante dias chuvosos e nublados revêem os procedimentos de voo em suas mentes. O piloto sabe que o melhor simulador de voo está em si mesmo, em sua imaginação, em sua atitude, porque a mente do piloto está sempre acessível a elementos novos e compreende que para voar é preciso acreditar no desconhecido.
No mais, os pilotos são homens lógicos, calmos e disciplinados, que pela necessidade precisam pensar claramente, de outra maneira se arriscam a perder violentamente a vida ao sentar-se na cabine. O verdadeiro piloto não amarra seu corpo ao avião, pelo contrário, através do arnês ele amarra o avião em suas costas, em todo seu corpo. Os comandos da aeronave passam a ser uma extensão de sua personalidade, essa simples ação une o homem ao aparelho na simetria de uma só entidade, numa mistura única e indecifrável, cada vibração, cada som, cada cheiro tem sentido e o piloto os interpreta apropriadamente.
Não há duvida de que o motor é o coração do avião, mas o piloto é a alma que o governa. Os pilotos não vêem seus objetos de afeição como máquinas, ao contrário, são formas vivas que respiram e possuem diferentes personalidades, em alguns momentos falam e até riem com eles.
Esses seduzidos mortais percebem os aviões com uma beleza incondicional, porque nada estimula mais os sentidos de um Aviador que a forma esquisita de uma aeronave, não podem evitar, estão infectados pelo feitiço, e viverão o resto de suas vidas contemplados pela magia de sua beleza.
Para o piloto perceber um avião é como encontrar um familiar perdido, uma e outra vez.
Quando o destino trágico mostra sua inexorável presença e vidas se perdem em acidentes a essência do piloto se entristece pelo acontecido, mas não poderá evitar, talvez por infinitesimal segundo, que a sombra de seu pensamento volte aos aparelhos, e um golpe de afeição pelo amigo caído seja inevitável.
Para o Aviador o som dos pistões é uma bela sinfonia, o som de um jato a síntese da força. Aviões perigosos não existem, somente não são pilotados adequadamente, para eles os aeroportos são altares ao talento humano. Ali se realizam diariamente os desafios e os milagres frente às energias da natureza e a força da gravidade. São lugares sagrados, onde o ritual de voar se exalta e se glorifica, de onde caminhos e fronteiras se encontram e o mundo fica pequeno, nos que se chora de alegria e também de tristeza, onde nascem esperanças e sucumbem ideais, onde o som do silêncio habita as lembranças.
No ar o piloto está em seu elemento, em sua casa, ao que pertence, é ali que ele se liberta da escravidão que o sujeitam na terra. É um dom de Deus que ele aceita com respeito e alegria. Este privilégio lhe permite escalar as prodigiosas montanhas do espaço, e alcançar dimensões no firmamento que outros mortais não alcançarão. Este presente permite apreciar a perfeição do criador e o absurdamente pequeno humano.
Permite-lhe igualmente reconhecer que ninguém há visto a montanha dali, como sua sombra do céu. Distinguir uma pessoa que deu sua alma à Aviação é fácil, em meio à multidão quando um avião passa seu olhar volta-se imediatamente ao firmamento buscando-o e não descansará até que o veja. Não importa quantas vezes haja visto o mesmo avião, é preciso vê-lo novamente, é algo inconsciente e espontâneo. Os pilotos talvez possam explorar os elementos físicos do voo, mas descrever o que ocasiona sua existência é impossível porque explicar a magia de voar está além das palavras.
COLABOROU: Milton Oliveira
Simplesmente maravilhoso esse vídeo. Realmente um vídeo que mexe com vc.
Jag, ainda estou emocionado desde que vi este vídeo !
Cara, Chorei!
Quer reconhecer um piloto? nossa essa foi perfeita! já parei váááárias vezes no semaforo, no meio da pista para ver um passar!
Tem muito piloto aqui no Poder Aéreo…
O que falta em palavras no texto as imagens completam.
Se não me engano foi Richard Bach quem escreveu: “Voar é um estado de espírito”. E não creio que mencionava algo sobrenatural.
O espírito de “voar” é sublime.
Parabéns ao video e principalmente a máxima, ” Quem não pode ou sabe dar o show, resta aplaudir”, e daqui vai meu aplauso a estas belas imagens e pricipalmente ao espírito de liberdade e profissionalismo.
[ ]’s
Bah…sensacional…quantas vezes me vi em pleno Olímpico, admirando a passagem de um Boeing/Airbus enquanto as demais 30.000 pessoas nem sequer sabiam que havia um avião sobre suas cabeças…
Excelente.
Bela homenagem à parcela dos leitores que exercem ou exerceram ou vivenciam esta atividade!. Como um destes: obrigado!
Há outra forma de dividí-los entre si: os velhos e os audazes.
Algum dia falarei sobre isto, quando for oportuno!
Que belo poema!!!!!
Muito bonito realmente. Para a maioria das pessoas, creio eu, os aviões são apenas um veículo. Mas para algumas pessoas, eu incluído, são muito mais… e esse vídeo descreveu justamente este sentimento.
Se alguém tinha alguma dúvida sobre a manobrabilidade do Mirage 2000, é só assistir o vídeo.
Eles buscam os céus!
Sem palavras… Muito lindo
Mudando de saco para mala: a solução aerodinâmica da ponta da asa do U-2 é a mesa do Heinkel 163.
Cenas do filme “Os Cavaleiros do Céu”. Junto com a narração, ficou ótimo. Poderia ter deixado a trilha sonora do filme, ia ficar ainda mais bacana.
Muito bom! Fantástico mesmo e emocionante… Impossível não se tocar, se você ama a aviação…
A história de Powers virou filme e para interpretar a personagem principal escolheram o ator Lee Majors (outro filme que vale a pena ver).
Powers morreu em um acidente aéreo em 1977 por pane seca!
Simplesmente perfeito! Vejo todos os dias esse vídeo e nunca me canso.