Para demonstrar o potencial de um CDC (Centro de Desenvolvimento de Capacidades) como uma ferramenta para o Brasil, assim como os sistemas que podem ser desenvolvidos com sua ajuda, foi simulado o uso de um sistema de comando e controle no combate a uma ameaça assimétrica

Um veículo suspeito se aproxima perigosamente do perímetro de segurança de um aeroporto. Um controlador aéreo avançado, em terra, identifica a ameaça como terrorista. Todo o cenário é visto em um centro de comando e controle a milhares de quilômetros dali, onde várias telas mostram tanto o mapa das forças terrestres envolvidas na segurança externa do aeroporto, como também imagens geradas pelo controle do espaço aéreo e por um caça Gripen em patrulha sobre a área. Em tempo real, informações de vários sistemas de origens diferentes são trocadas num link seguro, a ordem é dada e o caça destrói a ameaça terrestre com um míssil ar-solo.

A simulação acima, chamada “Projeto de comando e controle conjunto”, foi feita na tarde de quinta-feira passada pela Saab, no evento promovido pelo Centro de Pesquisa e Inovação Sueco-Brasileiro (CISB) para apresentar a ferramenta “Centro de Desenvolvimento de Capacidades”(CDC – Capability Development Centre). Os eventos do CISB fizeram parte da agenda do “Open Innovation Seminar” realizado no Grand Hyatt Hotel da cidade de São Paulo entre 23 e 25 de novembro.

Apesar da simulação ser de um sistema de comando e controle, o CDC não é exatamente um sistema do tipo, ou mesmo um pacote fechado dessa categoria de sistemas que se pretenda oferecer ao Brasil. Segundo a Saab, o CDC é uma ferramenta que permite desenvolver sistemas próprios que permitam a troca de informações entre sistemas civis e militares de procedências diferentes. A ferrramenta CDC, que já é utilizada na Suécia e na África do Sul, permite tanto o desenvolvimento local desses sistemas (como, por exemplo, de comando e controle e planejamento de contingências) como a própria apresentação de suas potencialidades a clientes e futuros operadores, para que possam trabalhar em conjunto no seu desenvolvimento.

Para entender melhor como funciona, voltemos à simulação de operação aérea contra uma ameaça assimétrica descrita brevemente no início desta matéria (afinal, esse é um assunto costuma agradar mais aos leitores de um site como o Poder Aéreo). A operação era simulada, mas o fato de se estar sendo coordenada a milhares de quilômetros de distância era real, segundo a equipe que apresentou o CDC (liderada pelos representantes Johan Swart e Jakob Turnikov, da Saab).

A foto logo acima, à esquerda, mostra sistemas de procedências diferentes que estavam sendo conectados em tempo real, entre a Suécia e o Brasil, e que eram mostrados em telas de apresentação cujas imagens podiam ser compartilhadas num país e no outro. A foto da direita mostra a conectividade dos sistemas civis e militares que estavam sendo simulados a partir de computadores no Brasil e na Suécia. É a tela central que pode ser vista na foto que abre esta matéria. As outras quatro telas maiores vistas na foto de abertura, duas à esquerda da central e duas à direita, são mostradas em mais detalhes nas fotos abaixo.

A foto da esquerda mostra as duas telas que eram geradas por sistemas instalados na Suécia: mais à esquerda, a que simulava o controle do tráfego aéreo e, mais à direita, a de um simulador de caça Gripen “em voo”.

No Brasil, eram geradas as imagens das telas mostradas na foto à direita. A tela da esquerda é do sistema que gerava as ameaças da simulação e a da direita era do controle das forças terrestres envolvidas na segurança de um aeroporto. No caso, um dos aeródromos da cidade Sueca de Linköping, a mesma que o autor desta matéria “sobrevoou”, no dia anterior, com o simulador do Gripen que foi trazido pela Saab ao seminário – clique aqui para acessar matéria a respeito.

Numa tela menor, mais à esquerda das cinco telas grandes instaladas na sala, era mostrado em tempo real um outro integrante da equipe, em uma sala em Estocolmo (foto abaixo, à esquerda). Ele interagia com os apresentadores no Brasil e, no momento em que foi autorizado o “ataque” do Gripen que orbitava a área simulada do aeroporto, assumiu os controles do simulador da aeronave instalado no fundo de sua sala na Suécia (clique na imagem para ampliar). Todas as telas com as imagens eram compartilhadas no Brasil e na Suécia, sendo de sistemas de procedência diferentes conectados para a apresentação do CDC. Mas vale ressaltar que o sistema trabalha numa arquitetura em que os outros sistemas conectados, representando também organizações de defesa civil, bombeiros etc, fornecem dados ao comando e controle simulado pelo CDC, e este distribui as informações conforme o nível de segurança permitido a cada usuário: por exemplo, os bombeiros não precisam receber as informações compartilhadas pelo caça.

Vale ressaltar mais uma vez que, apesar de representar uma sistema de comando e controle empregado numa situação de combate a uma ameaça assimétrica, a ferramenta CDC pode ser usada para diversas finalidades, desde o desenvolvimento local ou conjunto de um sistema do tipo comando e controle para a segurança de eventos ou realização de operações militares, até de defesa civil, reuniões de planejamento entre universidades e indústrias separadas por milhares de quilômetros, apresentação para clientes e usuários de futuros sistemas, entidades governamentais etc. Está nos planos da Saab e do CISB o investimento para instalação do CDC no Brasil, na mesma cidade paulista de São Bernardo do Campo onde o CISB funciona desde que foi inaugurado, em maio deste ano.

Segundo informações fornecidas pelo diretor do CISB, Bruno Roldani, está previsto um investimento de 10 milhões de reais em infraestrutura para o CDC, numa parceria envolvendo a Saab, a prefeitura de São Bernardo do Campo e a Universidade Federal do ABC. Em cinco anos, está prevista a injeção de um total de 50 milhões de reais no CISB, para promover trabalhos conjuntos entre os governos e as indústrias e academias do Brasil e da Suécia. Ficou claro que uma grande oportunidade para usar a ferramenta do CDC seria o desenvolvimento conjunto de soluções para a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, além de outros usos que interessem ao Governo Brasileiro – a apresentação descrita no alto da matéria chegou a ser feita duas vezes naquela tarde, aproveitando uma rara oportunidade de juntar representantes de várias entidades governamentais na mesma sala para conhecer o CDC.

E foi para mostrar oportunidades ligadas a esses eventos que foram apresentadas, também, as experiências da África do Sul com o seu CDC (instalado no país dentro de um contexto de cooperação entre suecos e sul-africanos que incluiu a aquisição do Gripen pela Força Aérea da África do Sul), e que foi usado como ferramenta para planejar e desenvolver soluções e sistemas de comando e controle para a Copa de 2010, realizada no país.

A experiência sul-africana com o CDC será mostrada na segunda parte desta matéria, amanhã.

NOTA DO EDITOR: o objetivo desta série de matérias mostrando algumas das apresentações realizadas no “Open Innovation Seminar” de São Paulo (para o qual fomos a convite da Saab) é colocar o leitor do Poder Aéreo “por dentro” do que é discutido e apresentado em eventos que focam em parceiras entre outros países e o Brasil, na área de Pesquisa e Desenvolvimento, Ciência e Tecnologia. Eventos ligados principalmente ao setor aeroespacial e para os quais apenas uma pequena parcela dos milhares de leitores deste site tem acesso.

Foi o caso, também, do III Fórum de Inovação e Tecnologia França-Brasil, em que estivemos presentes ao painel “Novas Parcerias e Transferência de Tecnologia Aeronáutica e Espacial” a convite da Thales / Omnisys. São assuntos como esses que queremos continuar a divulgar e promover a discussão, nos três sites e na revista Forças de Defesa, como mais um dos diferenciais na nossa linha editorial. Para ver outras matérias já publicadas sobre esses eventos, clique nos links a seguir. Boa leitura a todos.

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Clésio Luiz

Projetos militares envolvendo os franceses vem desde os tempos da Primeira Guerra Mundial, senão antes. Acho que já compramos material de todos os grandes fornecedores, como Alemanha, Grã Bretanha, França e após a Segunda Guerra, compramos quase tudo dos EUA. Em tempos recentes compramos material de Israel e Rússia.

Nunão, o Brasil chegou a comprar algo dos soviéticos, durante a Guerra Fria?