Segundo jornal, caças não estarão na agenda do encontro de Dilma com Obama

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EUA e Brasil buscam intensificar negócios – Vice-secretário diz que o Departamento de Estado vai ajudar companhias americanas e brasileiras a fazerem investimentos

 

Cientes do impossível diálogo sobre livre comércio, os Estados Unidos envolveram o Brasil na sua “diplomacia de empregos” de forma singular. Washington vê hoje o Brasil como uma fonte de investimentos produtivos, como mercado em expansão para as suas exportações de manufaturas e como futuro provedor de petróleo e gás. Longe das mesas de negociações comerciais, pretendem estimular contratos de negócios e investimentos recíprocos com base no arcabouço de cooperação econômica estabelecido no ano passado.

“Vamos usar os instrumentos do Departamento de Estado, que são nossa embaixada e nossos consulados no Brasil, para ajudar as nossas companhias a venderem seus produtos no mercado brasileiro e para criar a atmosfera para o investimento nos EUA”, afirmou o Thomas Nides, vice-secretário de Estado, em entrevista exclusiva.

A presidente Dilma Rousseff será recebida na Casa Branca no próximo dia 9 de abril nesse contexto de ansiedade dos EUA em gerar empregos domésticos por meio da maior conexão entre as duas economias. A base da relação econômica bilateral de longo prazo foi desenhada em março de 2011, em Brasília, quando Dilma e o presidente americano, Barack Obama, assinaram o memorando de cooperação econômica e o diálogo estratégico sobre energia. O desafio, agora, será desdobrar esses acordos em contratos no setor privado.

O Brasil tem sido tratado como um “aliado” por Washington, ciente das divergências em vários campos diplomáticos. Mas, curiosamente, ainda não é chamado por Washington como “parceiro”, em sentido mais amplo, a exemplo da também emergente Índia e dos países da Parceira Transatlântica, a prioridade de sua política comercial.

Para Nides, o crescimento do comércio do investimento bilateral será crucial na relação Brasil-EUA. O País é o oitavo maior parceiro comercial dos EUA e gerador de um de seus raros superávits, de US$ 8,1 bilhões em 2011, segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex). No ano passado, as exportações de bens brasileiros ao mercado americano cresceram 33,6%, e as importações de produtos Made in America, 25,6%.

O déficit para o Brasil no comércio bilateral incomoda. Washington desconversa, valendo-se das cifras recordes das trocas e da corrente de comércio expressiva, de US$ 59,7 bilhões no ano passado.

O contrato para a venda de 36 caças Super Hornet, da Boeing, para a Força Aérea Brasileira, continua a ser um objetivo prioritário para os EUA. Mas ainda está guardada na gaveta da presidente Dilma. O tema deverá ser excluído da agenda paralela da visita de Dilma a Barack Obama, segundo o embaixador dos EUA em Brasília, Thomas Shannon.

Investimentos

Nides mostrou-se entusiasmado com as oportunidades de investimentos brasileiros nos EUA, recentemente engrossadas com a construção de uma fábrica da Embraer na Flórida. Apesar da orientação da política fiscal de Obama de pressionar as multinacionais americanas a repatriar parte de seus investimentos no exterior, o vice-secretário de Estado acredita haver condições para um “equilíbrio” no caso brasileiro.

“Queremos criar uma atmosfera para sublinhar que o investimento brasileiro é bem-vindo nos EUA, seja ele no setor manufatureiro, imobiliário ou em outros setores”, afirmou.

O turismo brasileiro nos EUA, entretanto, alimenta maior entusiasmo no Departamento de Estado. Esse fluxo tem sido determinante para a recuperação econômica da Flórida, o principal destino. Desde o ano passado, lembrou Nides, o governo americano tomou uma série de medidas para facilitar e acelerar a emissão de vistos. Mas a isenção desse documento não está nos seus planos. Cada visto custa US$ 100, o que significou uma receita própria de, pelo menos US$ 8,6 milhões para o Departamento de Estado. “Não estamos fazendo dinheiro com isso”, afirmou.

Subsídios ao algodão

Embora a seara comercial tenha sido limpa da controvérsia sobre a tarifa adicional ao etanol brasileiro e os cortes de subsídios agrícolas pelos EUA sejam inevitáveis por razões fiscais, novos ruídos podem surgir em torno do contencioso sobre as subvenções americanas ao algodão. Mas a nenhum dos lados interessa arruinar a visita presidencial com tal atrito.

A prosperidade dos nossos países não é dada pelo poderio militar, mas pela situação econômica. O Brasil sabe muito bem disso. Sua economia melhorou dramaticamente nos últimos anos, e seu prestígio no mundo aumentou, o que torna o País um caso a ser estudado por nós”, afirmou Nides.

FONTE: Estadão FOTO: USN (Marinha dos EUA)

Colaborou: DrCockroach

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Daglian

Ser tratado como aliado e não parceiro é fácil de entender. É só analisar a posição anti-americana do Itamaraty, apoiando o Irã, entre outras coisas.

Mas fiquei decepcionado por não discutirem o FX-2 lá. Paciência, vê-se claramente que não é, nem de longe, uma prioridade do governo.

Mauricio R.

Pior, mto pior, pois a ausência deste tema na agenda, revela o dirigismo que envolve a compra dessas aeronaves; pelo governo brasileiro.

Guilherme Poggio

Seria uma boa chance para o Brasil. Mesmo que não fechem com os EUA, só o fato de mencionar que está “avaliando” a proposta deles já forçaria uma redução do preço dos outros concorrentes.

uitinaxavier

A verdade é que tanto Brasil quanto EUA tem coisas mais importantes pra negociar na relação entre os dois países tanto na agricultura, industria e outras coisas do que compra de caças, aliada a pouca vontade do governo brasileiro com o desdem americano quanto ao assunto.

Clésio Luiz

Eu vi um relatório que diz que a Austrália pagou cerca de 38 mil dólares australianos por hora de voo, no primeiro ano de operação do Super Hornet. O valor da hora de voo caiu para 22 mil dólares australianos agora no terceiro ano de uso. Isso é interessante porque reflete os valores de uma frota semelhante ao que o Brasil pretende comprar, e não as centenas de caças que a USN possui. Esses valores também vão de encontro com outra linha de pensamento que eu tinha. Peso custa dinheiro. Um caça da categoria pesado como o Super Hornet (14… Read more »

Guilherme Poggio

Clésio

Interessantes informações estas que você trouxe sobre a hora de voo do SH da RAAF. Já dá para tirar uma base de quanto sairia operar 36 caças da oferta sueca e da oferta francesa.

Clésio Luiz

O relatório pode ser baixado nessa página aqui: http://www.aspi.org.au/publications/publication_details.aspx?ContentID=294&pubtype=3

Cliquem em Download PDF

Os custos estão na página 92 do documento. No leitor de PDF é a página 103.

Recapitulando, no ano fiscal de 2009-2010, o custo da hora de voo do Super Hornet foi de 39.300 dólares australianos, o que dá aproximadamente 42.000 dólares americanos (segundo o Google). Em 2010-2011 foram 29.500 AUD (31.600 USD) e em 2011-2012 foram 22.900 AUD (24.500 USD).

Enquanto isso, o F/A-18A custou para os australianos em média 10.500 AUD (11.260 USD), mas em 2011-2012 o custo disparou para 14.400 AUD (15.450 USD).

DrCockroach

Eh estranho nao estar na agenda, seria porque: 1) O Obama nao pediu a inclusao? Dificilmente seria o caso pois ele certamente quer, embora nao tenha ajudado muito, vender os SHs; 2) Por que a Dilma nao aceitou o tema na agenda? a) seria muito estranho ela nao aceitar discutir o SH, que mal tem em escutar propostas? Faria sentido excluir da agenda temas sensiveis, por exemplo: se o Obama pedisse p/ incluir na agenda a questao dos direitos humanos, em particular mulheres, nas penitenciarias brasileiras. A chancelaria brasileira poderia responder que nao haveria encontro caso o tema fosse tocado.… Read more »

Vader

Clésio Luiz disse: 25 de fevereiro de 2012 às 18:40 O curioso desses números que você apresentou Clésio, é que o preço da hora voada caiu 43% de um ano para outro, se minhas contas de padaria não estão erradas. 43% de queda em UM ANO! O que nos leva a pensar o que pode haver ocorrido, já que o preço do petróleo se manteve razoavelmente estável no período. Estaria a RAAF fazendo o milagre da multiplicação das horas-vôo? Ou o custo inicial de operação de uma aeronave de alta performance seria naturalmente mais caro no princípio, com uma séria… Read more »

Clésio Luiz

O que eu achei interessante desse relatório é que ele mostrou que custo de hora de voo não é algo constante, como os meios de comunicação vinham divulgando. Nós nos acostumamos a ver dados como a FAB gastar 4.500 dólares com o F-5, a França prometendo 10.000 euros no Rafale, não sei quem falando em 10.000 dólares para o SH. E o porque da variação? Acho aviões obedecem às mesmas curvas de manutenção que eu vi no meu curso de mecânica industrial. No começo da vida útil de um maquinário, as probabilidades de defeito são muito altas. Depois essa curva… Read more »

Nautilus

Até parece que caças não farão parte da conversa entre Obama e Dilma…