spec_kc390_abril_09-1

vinheta-especial Durante a divulgação das negociações entre Brasil e França para a venda de caças Rafale, uma das informações que “vazou” foi a eventual aquisição de dez aeronaves de transporte KC-390 pela França.

O KC-390 ainda é um projeto que não saiu da prancheta, mas conta com forte apoio do Comando da Aeronáutica. Inclusive, este mês a Embraer deverá receber a primeira parcela dos recursos da FAB para o desenvolvimento do programa.

A FAB já se comprometeu a adquirir entre 22 e 30 aeronaves. Mas esta quantidade ainda não é suficiente para que o programa fique no “azul”. Por este motivo, tanto a FAB como a Embraer procuram parceiros ou compradores externos. Dentre as hipóteses levantadas até o momento, países como Chile e Colômbia foram citados. Uma eventual “ajuda” da França seria muito bem vinda. Inclusive, alguns veículos de comunicação já se adiantaram e publicaram o interesse francês não apenas na aquisição de alguns aviões, mas também no desenvolvimento do programa.

Mas será que as Forças Armadas da França realmente necessitam desta aeronave? A indústria aeroespacial francesa tem interesse em participar do projeto? São perguntas complexas e que exigem análises mais profundas do que o exposto aqui. Mas vamos aos fatos.

A aviação de transporte da Força Aérea Francesa

Em relação à Força Aérea Francesa o grosso do transporte tático é executado pelos C-160 Transall e é exatamente este modelo que necessita de um substituto urgente. O Transall é um projeto franco-alemão que surgiu no final da década de 1950. Sua configuração é semelhante ao Alenia G 222, mas com uma capacidade de carga ligeiramente maior (16 toneladas) e um alcance máximo de 1850 km.


FOTO: Flickr

A França adquiriu 50 exemplares entre 1967 e 1972. A linha de montagem foi reaberta em 1981 somente para atender às necessidades francesas e outros 29 aviões foram fabricados. Aproximadamente 65 aeronaves deste modelo continuam em serviço em quatro esquadrões diferentes (um deles inclusive atua como reabastecimento aéreo).

Além dos velhos Transall, a Força Aérea Francesa possui cerca de 14 C-130H Hecules, com capacidade de carga maior que os C-160 (capacidade em torno de 20 toneladas) e vinte CN235 (aproximadamente 6 toneladas de carga paga).

O substituto

O substituto natural dos C-160 é o Airbus A400M. Embora seja uma aeronave de outra categoria (37 toneladas de carga paga), ela atende aos novos requisitos da Força Aérea Francesa. Na visão dos franceses, as missões táticas mais curtas podem ser perfeitamente cumpridas por aviões com menor capacidade, como é o caso do CN 235. Já as missões táticas que exigem um raio de ação maior e capacidade de carga elevada serão cumpridas pelos A400M. Este, inclusive, terá capacidade de executar missões estratégicas, uma vez que o raio de ação de 6.000 km (com 20 toneladas de carga paga) permite que o mesmo faça voos intercontinentais, atingindo o norte dos EUA ou o Afeganistão a partir da base de Orléans (sede atual de um esquadrão de C-130 e dois esquadrões de C-160).

a-400m_foto-airbus
IMAGEM: Airbus

Ao que tudo indica, o futuro do “Commandement de la Force Aérienne de Projection” (CFAP), unidade da Força Aérea Francesa responsável pelo setor de transporte militar, será a operação de somente dois modelos de avião: o CN 235 e o A400M.

Onde se encaixa o KC-390?

Esta é uma pergunta interessante. Analisando o nicho de mercado do projeto da Embraer, o mesmo ocupará a faixa de aeronaves militares de transporte tático entre 5 e 20 toneladas. Nesta faixa encontramos o CN 235, o C-160 e o C-130, todos em atividade na Força Aérea Francesa.

Os CN 235 são de construção recente e permanecerão ainda por muitos anos em atividade. É possível até que outros exemplares sejam encomendados. Como era desejo inicial da França, os C-160 serão substituídos num primeiro momento e os C-130 mais futuramente por uma aeronave de maior capacidade, o A400M.

Como visto acima, a França terá uma aeronave com capacidade para até seis toneladas (o CN 235) e outra para até 37 toneladas (o A400M). Faltaria uma aeronave intermediária entre estes dois extremos e esta aeronave poderia ser o KC-390. A questão principal é saber se uma aeronave intermediária seria realmente necessária na visão dos estrategistas militares franceses. A relação custo/benefício seria favorável para a operação de um terceiro avião de transporte (no caso o KC-390)?

E a indústria francesa?

Realmente existe um mercado para aeronaves de transporte tático entre 5 e 20 toneladas. É exatamente este mercado que a Embraer está de olho. Segundo dados levantados pela própria empresa, existem aproximadamente 700 aeronaves que deverão ser substituídas nos próximos anos. Um mercado nada desprezível. Acontece que outras companhias também já fizeram estes mesmos cálculos e a França tem conhecimento disso. Porém, a indústria europeia em geral (com exceção do leste europeu) não possui um produto novo e moderno para atender este mercado (o C-27J é uma evolução do G.222 e não um novo conceito).

A associação da indústria aeroespacial francesa com a Embraer para o desenvolvimento do KC-390 possui possibilidades concretas. O KC-390 já possui um comprador (o Brasil) e um mercado promissor. Portanto, a aquisição do KC-390 pela Força Aérea Francesa, mesmo que os estrategistas franceses não julguem necessário, poderia atuar como um novo “garoto propaganda” para o projeto da Embraer e gerar lucros para as empresas francesas que participarem do programa.

Subscribe
Notify of
guest

24 Comentários
oldest
newest most voted
Inline Feedbacks
View all comments
Wilson Johann

Em minha opinião, o A-400M tera um custo de operação muito superior ao KC-390, o que os afasta como concorrentes (além do volume de carga). Isso me faz considerar que o KC-390 é uma opção bastante interessantes também para qualquer futuro operador do A-400M, que seria de emprego dispendioso e caro para cargas inferiores a 20 ton.

Abraços!!

Fred

Wilson,

Acho que são classes diferentes de aviões, não?

Tomcat

Totalmente diferentes, como informa o próprio texto da matéria

Wilson Johann

Fred,

Claro que são. Por isso consideros que não são concorrentes entre si, mas complementares um ao outro.

Abraços!!

Angelo Nicolaci

Acho que o KC-390 completaria a equação

Flavio

Ótimo artigo, parabens

RL

O KC390 se encaixa em qualquer lugar no mundo.

Ao meu ver, na Força Aerea da França ele também tem espaço, assim como na Sueca, na Americana e onde haja a necessidade do mesmo.

Concorrentes? Existem para tudo e em todo lugar.

No processo do FX-2 com a escolha do Rafale e aquisição de KC390 para a França, ambos paises serão beneficiados e eu acredito que apesar do “Samba” que esta acontecendo, o processo final ficará desta forma mesmo.
Brasil feliz e contente com Rafales e França feliz e contente com o KC390.

dumont

a possibilidade de atuar como avião de carga e avião tanque, alem da performance inerente ao jato coloca o KC em vantagem sob varios aspectos. Isso em relação ao C160 pq o KC vai custar de 20 a 30 miUS$ menos que o A400 (ok, com menos carga paga)

Como ponto negativo tem a provavel degradação das condições de operação em pistas não preparadas.

Harry

Caros

São 65unid. do C-160 atualmente a serem substituídos
65 X 16 T. = 1.040 T.

Hora se os franceses comprarem 12unid. do A400M
12 X 37 T. = 444 T.

Pode aumentar o pedido para 30 Unid. KC-390
32 X 19 T. = 608

444+608=1.052 T. Podem ir aumentando o pedido. HE, HE,
Abs

Athos

Que isso, o articulista é burro mesmo.

Ele apresenta a maior vantagem do 390 como dúvida.
Qual seria ela? Ele mesmo diz.
Existem aeronaves com capacidade de carga até 10 e acima de 40. O 390 fica entre estas aeronaves e é por isso que a Embraer decidiu projeta-lo.

Isso é um nicho de mercado SEM CONCORRENTES.

OOooo mulinha!

eduardo

Harry,
A França encomendou 50 A400M e não apenas 12.
Além do mais, devemos considerar que a França não é o Brasil. Lá os militares terão de aprovar a compra…

Flower Flap

Athos,

O KC-390 está exatamente na faixa de mercado do C-130J, que aliás tem um considerável backlog de encomendas, ao contrário de ac da Embrear.
Um possível concorrente será o MTA indiano-russo, que aliás larga c/ mto mais encomendas.
A aeroanve de transporete tático da Embrear, está longe de não ter concorrentes.

Harry

Caro Eduardo isso da 1.850 T. quase dobra o capacidade dos 65 c-160 a serem substituidos.

É dez e olhe lá, He, He

bittencourt

Creio que os motores do 390 da embraer poderia ser o CFM do consorcio Françes.

Lucas

Se como estão comentando o preço dos Rafale F3 poderá cair até 40% e a França ainda encomenda alguns KC-390, acho que é um ótimo negócio, já a preocupação com a montagem de caças aqui, acho muito superficial, tudo pode ser negocidado, além do mais a Dassault esta com a corda no pescoço, o Brasil comprando estes aviões, de certa forma ameniza sua situação, por isto, se o nosso governo pressionar ainda mais pode tirar mais proveito da situação, mas vejamos uma coisa, estamos exigindo demais, é a mesma coisa que a Colômbia queira comprar 50 Super-Tucanos, com TT total… Read more »

bulldog

Muito mais fácil vender os KC do que super tucanos. Os hércules estão de saída em muitos países mundo afora… é um nicho perfeito para novos projetos. Muito se fala de querer vender o Rafale na AL, mas quais países da AL teriam dinheiro pra operar o Rafale…o Brasil que não se iluda… equipar a FAB sim…vender “Rafales BR” acho muito, muito difícil. Já o KC tem futuro. Talvez uma coisa compense a outra, por isso a vontade de “amarrar” as duas.

[…] de determinar o início das negociações com a Dassault, o texto trouxe o compromisso de compra, pela França, de dez aviões de transporte militar KC-390, que está sendo projetado pela Embraer como uma das opções para a substituição dos americanos […]

Leandro Mello

Concordo com o bulldog.

Só discordo sobre o Rafale. Se o Brasil operá-lo e vier a ter pelo menos 72 desses, com certeza o preço dele cairá, tanto em custo de manutenção quanto em custo de novos caças Rafales.

RodrigoBR

É óbvio que a intenção francesa é participar do projeto para depois lucrar sua parcela nas vendas do KC-390 no futuro. E de quebra ainda vai adquirir muito mais barato para Força Aérea Francesa.

O interesse da França no projeto também é um bom sinal de que o projeto realmente será lucrativo e que a EMBRAER acertou.

João Curitiba

Seria excelente a França participar do desenvolvimento do KC390, desde que mais e mais componentes de origem francesa passe a integrar a aeronave. Diminuiria em muito um possível embargo por parte dos EUA.

Mauricio R.

O KC-390 somente decola se e qndo for selecionado substituto do Hercules, pelos americanos.
Até lá vai ter a sina do G-222, vende 3 alí, 6 lá, 4 acolá e assim vai.
A França não está procurando parceria alguma, simplesmente ofereceu uma gorjeta.
Seu projeto é o A-400M, enquanto esse estiver atrasado a necessidade será coberta ou pelo leasing de C-130J, já existente e em franca operação na Europa, ou pelo retrofit de C-160 e não por uma aeronave que não voará antes de 2015 p/ ser entregue lá por 2017-20.

[…] especialista em defesa do Instituto de Relações Internacionais Estratégicas (Iris), de Paris, o KC390 tem espaço. “Há um mercado para disputar na Europa no segmento de aviões de transporte. Se será […]

BRpt

Eu não entendo _________nenhuma de avião. O que eu sei é que temos que estar preparados para qualquer tipo de agressão. O brasil já é uma potência e tem que mostrar ao mundo suas garras. Vamos construir submarinos nucleares e bombas também. Eu não aguento mais o brasil ser chamado de 3 mundo, país bananeiro etc. Pelo amor de DEUS , vamos mudar isso. Parabéns a Embraer.

Godoy

Eu sei que o KC 390 é lucro certo, só que acho errado comprar os Rafales, estamos precisando de conhecimento e não de um avião pronto, ja provamos que somos capazes como no caso dos submarinos alemães que nossos tecnicos melhoraram, podemos adquirir mto mais tecnologia por mto menos custo e fazendo tudo na pática com o SAAB gripen.