Por Giovanni de Briganti

PARIS – O desenvolvimento do radar de varredura eletrônica Captor-E para a aeronave de combate Eurofighter está atrasado 13 meses, e há um “risco muito alto” de que perderá a data de entrega inicial no final de 2018, de acordo com um relatório do Ministério da Defesa alemão divulgado no final de março.

Além disso, a participação da Alemanha no custo do desenvolvimento de radares aumentou em € 585 milhões em comparação com a estimativa inicial, afirma o relatório.

“A aceitação e a entrega das aeronaves Block 25 continuarão a sofrer atrasos devido a fraquezas na demonstração do novo computador “front-end” revelado em 2017”, diz o relatório.

Os atrasos são devidos a dificuldades imprevistas no desenvolvimento de software, a uma divergência contínua entre a Alemanha e o Reino Unido sobre a função principal do radar e à aprovação tardia de um novo computador “front end”. Além disso, a “disponibilidade limitada de componentes [de radar] para produção pode atrasar adicionalmente a entrega”, diz o relatório.

“De acordo com as estimativas atuais do setor, o plano de desenvolvimento pode continuar sendo seguido, mas agora com um risco muito alto de desenvolvimento de software”, acrescenta.

Mas os parceiros industriais do Eurofighter, assim como o próprio consórcio Eurofighter, dizem que não há demora e que o programa está dentro do cronograma.

“O programa de desenvolvimento de radar Captor-E (E-Scan) para o Eurofighter Typhoon continua nos trilhos, com vários voos, com o radar ligado e desligado, tendo agora ocorrido como parte do programa de atividade programado”, disseram a BAE Systems, Leonardo e Eurofighter GmbH em uma declaração conjunta em 6 de abril em resposta ao nosso pedido de comentário. A Airbus concordou separadamente.

“O equipamento de radar Captor-E e o sistema de armas serão incrementados para permitir que a capacidade necessária (padrão P3E) esteja disponível para as primeiras entregas à Força Aérea do Kuwait”, acrescentou o comunicado conjunto.

A Eurofighter Jagdflugzeug GmbH, uma empresa alemã sediada em Hallbergmoos, perto de Munique, é a contratada principal do programa Eurofighter e a BAE Systems é o parceiro industrial britânico, bem como o comprador de radar em nome da Eurofighter GmbH.

A divisão de aeronaves Leonardo é a parceira industrial italiana da Eurofighter, enquanto a divisão Airborne & Space Systems é a principal contratada do consórcio Euroradar que está desenvolvendo o radar Captor-E AESA.

Desenvolvimento de software “com risco muito alto”

Um atraso de entrega de 13 meses interromperia as entregas do Eurofighter ao Kuwait, que é o cliente de lançamento do radar de escaneamento eletrônico Captor-E do Eurofighter. As entregas para o Kuwait foram originalmente planejadas para começar no último trimestre de 2019, de acordo com uma declaração do Ministério da Defesa do Kuwait, mas já foram adiadas para o final de 2020, segundo um comunicado de 12 de dezembro de Leonardo.

O relatório também revela que um grupo de trabalho composto por representantes nacionais, indústria e a Agência de Gestão Tornado e Eurofighter da OTAN (NETMA) foi estabelecido para conciliar uma grande divergência dentro do programa: “Considerando que a prioridade da Alemanha é a melhoria da capacidade ar-ar/ar-solo, a prioridade do Reino Unido é a guerra eletrônica”, disse um porta-voz do Ministério da Defesa alemão em 4 de abril.

Primeira entrega de radar no final de 2018 “com risco muito alto”

“No entanto, para ambos os recursos, é necessário um receptor multicanal”, disse o porta-voz do ministério alemão, e ele ainda não obteve o certificado de aeronavegabilidade.

“Para salvaguardar os interesses alemães em termos de demanda, custos e políticas industriais, a curto prazo, uma solução de compromisso possível está sendo preparada por um grupo de trabalho”, afirma o relatório.

“Devido aos atrasos na aprovação do novo computador front-end”, a entrega do primeiro radar de produção até o final de 2018 parece improvável.

O computador “front-end” controla o Utility Control System e uma nova versão foi introduzida por razões de obsolescência. Mas “se a certificação de aeronavegabilidade do computador não for concedida a tempo, o novo computador não poderá ser instalado, atrasando ainda mais o programa”, disse o porta-voz do MoD alemão.

“A mitigação e possíveis atrasos estão atualmente sob investigação por parte da indústria, em contato próximo com a NETMA e as nações parceiras do Eurofighter”, acrescentou o porta-voz, mas não foi definido prazo para o envio de relatórios.

Apesar dos contínuos atrasos, os primeiros testes de voo do radar AESA começaram em março, como previsto, disse o porta-voz. O radar foi montado na aeronave de teste IPA 8 do programa para esses testes.

Planos de crescimento alemães

A Alemanha encomendou um total de 143 aeronaves Eurofighter nos Tranches 1, 2 e 3A e, até o final de 2017, 129 foram entregues.

“A tecnologia do radar AESA com receptor multicanal, no futuro, melhorará a capacidade operacional do Eurofighter, permitindo o uso simultâneo dos modos ar-ar e ar-solo. Além disso, com o radar AESA, o valor acrescentado operacional das modernas armas ar-ar é aproveitado”, afirma o relatório.

A decisão de equipar todos os Eurofighter (aeronaves Tranche 2 e 3a) com o radar AESA, incluindo um equipamento receptor multicanal, também fortalecerá a posição da Alemanha no programa Eurofighter de quatro países, observa o relatório.

Finalmente, o relatório observa que, desde que o programa Eurofighter foi aprovado pelo Bundestag, acumulou 149 meses de atraso e que seu custo para a Alemanha aumentou em 6,6 bilhões de euros em relação às estimativas iniciais.

O contrato de desenvolvimento de € 1 bilhão para o radar de varredura eletrônica Captor-E do Eurofighter foi concedido em 19 de novembro de 2014 à Eurofighter Jadgflugzeug GmbH pela NETMA – Eurofighter e Tornado Management Agency – em nome dos governos do Reino Unido, Alemanha, Espanha e Itália (Foto do MoD do Reino Unido)

FONTE: Defense-Aerospace.com

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Robsonmkt

Não sabia que o radar AESA ainda não está operacional nos Typhoon. Frente aos demais caças ocidentais da atualidade, é uma baita limitação.
Se não correrem, até o Gripen E/F que está na fase de protótipo e/ou pre-série, irá ultrapassa-lo.

Rui Chapéu

E ainda sonham em fazer outro projeto de caça europeu de 6 geração….

Quando terminarem os EUA vão estar na 8 geração e a china na 7 indo pra oitava…

Clésio Luiz

Matutando agora, acho que o fator principal da shortlist da FAB para o FX-2 era a disponibilidade de um radar AESA no candidato. Só assim para justificar caças de 3 categorias de peso (leve, médio, pesado) na shortlist.

Voltando ao Typhoon, alguém sabe dizer se esse radar tem a mesma característica do Gripen E, onde a antena do radar rotaciona ao invés de articular para os lados?

Walfrido Strobel

Ele articula para os lados e para cima e para baixo, estes AESA articulados ou giratórios matam a principal vantagem dos primeiros AESA que era não ter a problemática articulação dos convencionais, pelo menos nos AESA a articulação não fica acionada o tempo todo como os convencionais que só funcionam com o movimento e são uma causa de problemas na manutenção, pois só funciona com a movimentação, se parar de se movimentar não faz a varredura.
Nos AESA a varredura continua sendo feita dentro de um angulo mesmo sem movimento do radar.
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Rui chapéu

Vc sabe me explicar porque não fazem um aesa no formato de um cone, tipo o bico da caça?

Acredito eu que esse formato não iria precisar nada móvel nele… Ao menos não faria sentido.

Existe alguma implicação técnica para não fazerem assim?

Nonato

A sugestão dele é o radar não ser um disco/placa, mas ser da forma do nariz para ter elementos virados para todos os lados sem necessidade de girar mecanicamente.

Ederson

Rui chapéu 9 de Abril de 2018 at 19:34: A resposta para sua pergunta esta na física, mais precisamente na física da terceira série do segundo grau, quando estudamos ponto de foco, quer seja de um espelho ou de ondas de rádio. O conceito radar se resume em emitir um sinal e recebe-lo novamente, caso seja refletido por algum objeto… Uma antena em formato de “cone”, emitiria um sinal que se refletido por algum objeto, não seria refletido novamente para a antena, (devido ao ângulo da emissão que é refletido no mesmo ângulo…)… E o pior, esta antena em formato… Read more »

Groo_SP

Parece que o suporte rotaciona mas a antena não.
https://www.youtube.com/watch?v=pmKZTJgS4sM

Ederson

Pode até ser que este mecanismo da mais manutenção quando comparado a antena “fixa”, mas é muito provável que seu ângulo de cobertura seja bem maior…
Eu gostei, pois não acredito que no nível tecnológico atual, não se consiga desenvolver tal mecanismo com um grau adequado de disponibilidade.

Marcelo

Os Typhoon tem AESA, esta materia refere-se a uma variação melhorada …

Walfrido Strobel

Que eu saiba este é o primeiro AESA que vai ser colocado nos Eurofighter, foi estudado desde 2010, contratado em 2014 e deveria entrar em uso agora em 2018, se não estivesse atrasado.
. https://www.defensenews.com/global/europe/2014/11/20/eurofighter-nations-sign-eur1-billion-development-deal-for-aesa-radar/

Jean-Marc Jardino

Os Typhoon nao possuem AESA, nenhuma variacao dele. Eurpeu que possue AESA operacional, somente o Rafale.

Mauricio R.

Somente algumas das Le Jacas dispõe de um radar com antena AESA, algo com 80, a maioria, uns 120, usa um radar PESA.
A fonte é a mesma, mas em outra notícia.

Alexandre Galante

Os Typhoon não têm AESA, esse será o primeiro.

Nonato

Então é uma grande desvantagem.
Se bem que quais caças ocidentais e russos dispõem de radar aesa?
O gripen NG terá. Não existe ainda.
Os F 15, 16 e 18 originalmente não tinham e, provavelmente, a maioria desses em operação não tenham…
Acho que SU 27 e 30 também não tinham…

Nonato

Talvez em condições normais mantenham só o giro eletrônico e no caso de guerra mesmo utilizem esse modo mecânico para aumentar o ângulo de visão.

Theo Gatos

Aos amigos editores, veos na frase não seriam voos?
.
“…Eurofighter Typhoon continua nos trilhos, com vários veos, com o radar ligado e desligado, tendo agora…”
.
Sds

Jean-Marc Jardino

Unico aviao europeu que possue radares AESA operacionais sao os Rafales.

Wellington Góes

Justamente, daí porque o avião da Dassault é considerado o caça da Europa Ocidental mais capaz no momento.

Rommelqe

Neste video que o Groo postou – obrigado! – ha, aparentemente, quatro posições estabilizadas possiveis em relaçao ao eixo longitudinal e um plano transversal à base. É como se existissem quatro opçoes de campo de varredura mecanica, sempre lembrando que cada unidade emissora/receptora nos AESA tambem pode ser posicionada inividualmente. Fazendo uma analogia ao simbolo * (asteristico) em baixo relevo da cobertura (provisoria) na cor laranja, dos quatro eixos, os dois de mediçao efetiva sao os eixos vertical e horizontal (sinal grafico de soma +) e os eixos inclinados (sinal grafico de multiplicação x) representam apenas posiçoes transitorias entre duas… Read more »

Mateus Lobo

O Raven ES-05 teve participação da Saab/Ericsson no projeto, ele é basicamente um Vixen 1000 com melhorias desenvolvidas para o NORA. Foi uma forma mais rápida da Saab ter um radar AESA disponível.

Rommelqe

Obs: vide postagem do Aereo “Selex ES recebe contrato para fornecer radares Raven ES-05 ao Gripen NG”

Rommelqe

Obs 2: vide tambem a postagem do Aereo “Vídeo sobre tecnologia dos radares AESA da Selex para Gripen e Typhoon”, com a colaboração do Baschera

Luís Henrique

Rui Chapeu, O colega Ederson explicou muito bem o motivo. Apenas gostaria de adicionar outro conceito. Temos o radar AESA tradicional, que é bem superior ao radar mecânico, porém possui limitação de rastreamento nos limites de visada. Exemplos: radares do F-22, F-35, Rafale, Super Hornet. A SAAB e a Eurofighter se interessaram em um sistema rotativo mecânico, que gira a antena AESA, ampliando assim os ângulos de varredura. Vantagens: praticamente dobra os ângulos de varredura. Desvantagens: aumenta manutenção e as atualizações ficam um pouco mais lentas, creio eu, devido ao tempo necessário para a rotação. A Sukhoi desenvolveu algo diferente… Read more »

Gilberto Rezende

Ué não tem um incansável aqui comentando que o atraso é culpa dos intransigentes e irascíveis franceses???
Só Que Não, sempre os ingleses é que inventam e atrasam a vida dos europeus… A telecomando yankee…

Tomara que o projeto Eurofighter II fique só entre os franceses e alemães, sem Britânicos para tumultuar o serviço…

HMS TIRELESS

Como havia dito anteriormente não foi adentrar no “argumento” de conspiração norte-americana pois se tratam de meras alegações sem correspondência com a realidade mas sim mero discurso palanqueiro ideológico para consumo de determinada categoria de comentaristas sempre deslocados da realidade. Quanto ao cerne da questão me parece que os britânicos estão certos tendo em vista o crescimento da ameaça proporcionada pela guerra eletrônica nos cenários atuais e futuros. E embora qualquer pessoa sensata não vá dar crédito às invencionices publicadas pela famigerada Sputnik tais como aquela do Destroyer paralisado no Mar Negro por um Su-24 é preciso reconhecer que os… Read more »

Mercenário

Ao fim e ao cabo quem adquire o maior número de unidades, seja de aeronaves, seja dos armamentos, é o Reino Unido. Portanto, tem razão em buscar suas preferências de desempenho do sistema de radar.

Wellington Góes

É por estas e outras que não dou bola para certos comparativos, dando como existente, aparelhos que ainda estão sendo projetados e desenvolvidos. É por isto que não se pode acreditar em toda essa propaganda “Super Trunfo” em torno do Gripen E/F. A FAB e a COPAC, ao invés de quererem dar o passo maior do que a perna, deveriam ter ido com mais cautela. Não existe projeto que não atrase, daí porque deveriam ter usado a premissa de optar por uma aeronave já operacional. Tudo aquilo que se aprende com o que já existe, se replica e aperfeiçoa num… Read more »

Rommelqe

Obrigado Mateus.
Alguem sabe dizer se o aviao IAR- 99 romeno ja decolou com o Vixen?

Walfrido Strobel

Que eu saiba o demonstrador ainda não voou, será um IAR-99 convertido que vai gerar um estudo do novo avião de instrução e ataque leve.
Esta é uma maquete mostrando a disposição dos componentes:comment image

Juvenal Santos

Os bicos do F-22 e do F-35(minúsculo) são muito menores e eles tem AESA desde sempre, não é por causa do formato pequeno do bico, mas sim por que os EUA estão anos-luz à frente de qualquer um em termos de miniaturização e domínio tecnológico; esse AESA do Typhoon é o primeiro com décadas de atraso, os europeus ficaram pra trás e ainda colocam o prato do radar em plataformas mecânicas, o que justamente era para ser evitado. Os Russos detém a tecnologia, aliás, são mestres em tudo que se possa imaginar, mas os deles são grandes demais, só cabem… Read more »