Rússia vai lançar novo turboélice regional para 64 passageiros

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IL-114-300

IL-114-300

Trata-se do terceiro avião civil criado pela Rússia desde a dissolução da União Soviética. O IL-114-300 terá capacidade para 64 passageiros e será uma excelente opção para rotas regionais. A Corporação Estatal Rostec começará a testar o novo turbopropulsor da aeronave

Moscou, 2 de Outubro de 2017 – A Rússia se prepara para o lançamento de sua terceira aeronave civil desde a dissolução da União Soviética. Após o Sukjoi Superjet 100 (SJJ-100) e o MC-21, espera-se pela chegada do novo IL-114-300. O avião terá capacidade para 64 passageiros e percurso de 2.000 km, sendo considerado uma excelente opção para rotas regionais. A Corporação Estatal Rostec, maior conglomerado industrial da Rússia, iniciará os testes do motor TB7-117CT que será usado no novo modelo.

O IL-114-300 representa mais um passo na conversão sistemática das tecnologias militares russas para a aviação civil. A aeronave tem potencial para países que se concentram no desenvolvimento do tráfego aéreo local e regional.

O novo modelo aproveitará a infraestrutura desenvolvida para o SSJ-100, primeiro avião civil já lançado no mercado pela Rússia. Contará também com o modelo de fuselagem estreita de curto e médio alcance do MC-21, cuja produção em massa deve ocorrer até o final de 2017. Toda a infraestrutura já criada para o SJJ-100 e o MC-21 – incluindo armazéns, centros de treinamento, logística, parceiros globais, além de centros de manutenção técnica e bases para reposição de peças – também será utilizada pelo IL-114-300.

A construção do IL-114-300 e o primeiro teste de voo devem ocorrer em 2018. A certificação do motor TB7-117CT deverá ocorrer até 2020. A produção em série começará em 2021. Até 2022, a meta de produção é de 12 aeronaves ao ano.

TB7-117CT

A Importância do Motor TB7-117CT

“Após as provas já realizadas com o motor PD-14 (o mais moderno da Rússia), entre outros, agora temos um motor a mais. O início de testes do TB7-117CT representa um passo importante para a Rússia e para a estratégia do Cluster de Aviação da Corporação Estatal Rostec – que prevê a convergência de tecnologias militares para uso civil. Acreditamos que a construção de motores é um elemento-chave na esfera de aviação e posicionará a Rússia como um parceiro potencial no mercado global – inclusive com um produto altamente competitivo, tanto em preço quanto no ponto de vista de manutenção e serviço pós-venda”, ressalta Anatóly Serdiukóv, diretor industrial do Cluster de Aviação da Corporação Estatal Rostec.

O motor TB7-117CT poderá ser instalado em aeronaves civis e militares. É uma modificação do modelo ТВ7-117СМ que conta com características técnicas e de voo ainda mais amplas e modernas. A potência de decolagem é de 3.000 libras/segundo e de contingência é de 3.600 libras/segundo. Os motores tracionam um par de hélices AB112 (projetadas pela empresa “NPP Aerosila”), permitindo que a potência e o impulso frontal tenham maior performance (decolagem).

Motor ТВ7-117СТ sendo testado no IL-76

O TB7-117CT possui um sistema de controle automático que coordena o funcionamento do motor e da hélice do avião. Esse controle, em conjunto, permite usar o poder do motor e da hélice com capacidade total, aumentando a eficiência de propulsão. Em particular, esse progresso também permite elevar a capacidade de carga da aeronave e reduzir o tempo de início da decolagem.

É importante destacar que o motor TB7-117CT é produzido inteiramente com peças e componentes russos. Estão previstos 20 voos de testes que irão ocorrer no laboratório de voos IL-76ll. Serão avaliadas todas as velocidades e alturas necessárias para o IL-114-300. Uma vez que estes testes sejam aprovados, o motor já poderá ser implementado no avião.

O motor TB7-117CT também será usado no avião de transporte militar IL-112B, permitindo que a aeronave voe com até 5 toneladas de carga máxima, capacidade para acomodar 44 passageiros e percorrer uma distância de 2.400 quilômetros. Espera-se que a produção em série do IL-112B comece em 2019 na planta PAO VASO. A meta de produção é de 12 aeronaves ao ano.

O motor ТВ7-117СТ sendo testado no IL-76

Sobre a Rostec
A Corporação Rostec foi fundada em 2007 para apoiar a pesquisa, o desenvolvimento, a fabricação e a exportação de produtos industriais de alta tecnologia para o uso civil e militar. É um conglomerado estatal da Federação da Rússia que detém aproximadamente 700 empresas, incluindo 11 holdings que formam o complexo militar-industrial e três grupos empresariais que atuam na indústria civil. Conta ainda com o controle direto de 80 companhias e marcas de renome mundial em seu portfólio, como a AVTOVAZ, KAMAZ, Consórcio Kalashnikov, Helicópteros da Rússia, VSMPO-AVISMA e Uralvagonzavod entre outras.

A companhia está presente em 60 entidades constituintes da Rússia e exporta sua produção para mais de 70 nações. A receita da Rostec em 2016 foi superior a 1,266 trilhão de rublos, enquanto o lucro líquido consolidado totalizou 88 bilhões de rublos. O Ebitda atingiu 268 bilhões de rublos. De acordo com a estratégia da Rostec, a tarefa principal da companhia é garantir o domínio tecnológico da Rússia no mercado global de alta competitividade. Entre as metas-chave da empresa, destaque para a integração entre as novidades tecnológicas e a digitalização da economia da Rússia. www.rostec.ru/en/

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Ivanmc

A Rússia atuando forte não só na aviação militar como na comercial também. Bela matéria.

Rinaldo Nery

Impressionante a espionagem industrial. A EMBRAER acabou de lançar a mesma idéia baseada na plataforma E170.

Gustavo

Interessante a utilização de projetos anteriores para criar essa avião. Parece que a Embraer também estaria interessada em lançar turboélices, acho que ainda tem um bom mercado para esse tipo de avião.

Mas o que mais me chamou atenção foi o número de 700 empresas sob essa estatal! O que uma lava-jato na Russia não descobriria…

Ypojucan

No excelente livro do Historiador Piotr Butovsky sobre a aviação militar russa em dois capítulos, esses dois aviões citados pelo texto e que serão motorizados pelo propulsor TB7-117CT (o Il-114-300 e o Il-112B), são a vistos com grande expectativa pela VKS, pois ambas as aeronaves substituirão várias aeronaves do período soviético ou que posteriormente vieram a ser fabricadas em parceria com a Ukrania. Dessa forma, os Il-112B substituirão os AN-24/26/30 e os Il-114-300 deverão substituir várias versões dos Il-18/20/22 (existem versões propostas para ELINT/SIGINT/COMINT e Patrulha Marítima&Busca e Salvamento) e também os maios novos An-140. O potencial civil dessas aeronaves… Read more »

Ypojucan

Caro Cel. Nery, não se trata de espionagem industrial, já que a primeira versão dos Il-114 foi concebida ainda na extinta URSS. Acontece que após o fim da União Soviética, a industria de aviação civil praticamente acabou na Russia e Ukrania e sendo assim, aviões como o Il-114, An-140 venderam muito pouco. Com as rusgas entre a Russia e a Ukrania e principalmente com as sanções dos países ocidentais, a Russia passou a reavaliar o potencial de voltar a produzir vetores que surgiram no fim do período soviético, entre eles, só para ficar em alguns MIG-31(não foi adiante), MIL-14 (não… Read more »

Walfrido Strobel

O Il-114 voa desde 1990, um protótipos está assim, parado a anos.
Hoje com a briga com a Ucrânia cada país voltou a tocar seus projetos totalmente independente do outro.
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Gustavo

A Embraer cogitou e já tem gente na frente, tem que ver se ainda é valido esse esforço.
Particularmente já achava difícil tirar o mercado das mãos dos ATR e etc, não sei se vale o risco.

Walfrido Strobel

A Russia abandonou o Il-114 depois de 14 unidades produzidas e optou pelo An-140 ucraniano que usava motores Klimov e aviônicos russos, agora voltam ao desenvolvimento da nova versão do Il-114.
Este é um An-140 da Força Aérea Russa.
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WFonseca

Ivanmc – 03/10 – 15:39
Não sei o que você chama de forte atuação da Rússia na aviação civil, visto que até agora, nenhuma, eu disse nenhuma, aeronave civil deles fez sucesso. Mercado deles ficou restrito a consumo interno, Cuba, Irã e partes da África e olha que chegam a custar um terço do valor cobrado por semelhante aeronave fabricada por Embraer ou Bombardier. Nem aéreas russas compram modelos locais quando podem ir de Airbus. Interessante ver como um país que domina completamente as etapas da aviação militar não consegue passar parte desta expertise para o setor civil.

Clésio Luiz

Então a proposta da Embraer é baseada no 170? Interessante. Imagino que irão dotá-lo de novas asas pelo menos.
.
Se forem adiante, a Embraer será provavelmente a única empresa que utilizou uma fuselagem de turboélice como base para um jato (EMB-120 e EMB-145) e depois fez o contrário (EMB-170 e EMB-xxx).

Juliano Bitencourt

A diferença de sofisticação na aviação militar pode não fazer tanta diferença, compensa-se com “rusticidade”. Mas na aviação civil faz TODA a diferença. A Rússia é uma economia socialista que se baseia em capitalismo de estado. Tudo é estatal. Taí a diferença.

donitz123

Rinaldo Nery 3 de outubro de 2017 at 15:45
.
Os russos estão falando desse Il-114 há muito tempo, muito antes da Embraer sonhar em voltar a fabricar turboélices regionais.

Juliano Bitencourt

Gostaria que me citassem uma empresa bélica Yankee estatal. Lockheed Martin? Boeing? Raytheon? Northrop Grumman? General Dynamics? L-3 Communications? United Technologies?
Ou européia. BAE Systems? Airbus? Leonardo? Naval Group? Thyssen Krupp? MBDA?

Walfrido Strobel

Juliano ja começou com o besteirol de Empresa Estatal X Empresa Privada, o lado “verde” da trilogia está completamente contaminado por este tipo de conversa.
Espero que o Aéreo que é hoje um dos melhores blogs sobre a aviação, se não for o melhor, não entre nesta linha e se mantenha mais ligado ao assunto Aviação, sem se perder em “ideologias”.

Rinaldo Nery

Obrigado pelas informações sobre o 114. Desconhecia. Mas parece com a proposta da EMBRAER.

André Bueno

Não vai ficar muito pesado usando a fuselagem do 170?

Wellington Góes

Eu já penso que o mercado de aviação regional com turboprop é ainda mais democrática, que tem espaço e mercado para mais fabricantes, daí valer à pena tais investimentos em novos projetos por mais fabricantes. . O atual duopólio entre ATRs e Dash-8 (Bombardier) não é uma boa ao mercado internacional de aviões regionais. É claro que nem todos os projetos serão um sucesso de vendas, mas isto deve ser o mercado quem deve decidir sobre quem terá ou não sucesso. É bem melhor às companhias ter a disposição três, quatro ou cinco alternativas para compor sua frota, do que… Read more »

Karl Bonfim

Os russos não tem a tradição e a confiabilidade que o Brasil e a EMBRAER tem nos mercado mundial da aviação comercial, por mais incrível que isso possa parecer. Ainda mais com os embargos dos europeus e americanos aos produtos de origem russa, por causa da Ucrânia e da Síria. Se a EMBRAER realmente fizer um turbo hélice regional, com a tradição e confiabilidade que ela tem no mercado, vai ser batata, vai vender igual pão quente de manhã sedo na padaria…

Thiago Garcia.

Não minha opinião não afeta em nada os planos da Embraer. Russos, assim como chineses não têm tradição nem confiança no mercado mundial, terão que focar no mercado interno.
No mais, é um tiro no pé da Rússia não optar por um motor americano ou europeu, faria toda a diferença para o produto deles emplacar no ocidente.

Mauricio R.

O avião a ser batido pelo suposto turbo hélice Embraer, não são nem o Dash-8/Q-400 ou o IL-114 modernizado, mas o ATR-72.
Hoje a ATR é dona de 70% desse mercado.
E para apimentar a disputa, a Bombardier acaba de vender os primeiros Q-400 de 90 pax, na Índia.

Caerthal

O avião da EMB terá que ser bem maior para ser competitivo com o super econômico ATR-72. Quanto a ambição russa esta se extingue no conceito de ser produzido inteiramente com peças locais. Não tem como ser a opção preferida em um mercado que tenha liberdade de escolha.

Projetar uma aeronave civil segundo regras modernas e ocidentais bem difícil. Reparem como a Rússia, China e Japão, que tem mostrado inovações muito interessantes nas aeronaves militares, patinam nos projetos civis (grandes atrasos, problemas de performance, no limite desistência em buscar uma certificação ocidental).

Carlos Alberto Soares

12 unidades por ano ?

Walfrido Strobel

A Embraer e a Ilyushin tem objetivos completamente diferentes e cada um tem seu mérito. A Embraer faz um avião para exportar ao gosto do cliente com todo o recheio importado dos produtores mais conceituados, coisa que não interessa aos russos fazer neste avião. A Ilyushin faz um avião para mercado interno e clientes tradicionais com todo o recheio russo, coisa que a Embraer nunca vai fazer, pois nem temos componentes brasileiros ou mercado interno que justifique isso. Os russos ja deram um grande passo com o Sukhoi Superjet que conseguiu a certificação na Europa(EASA) e vamos ver como vai… Read more »

sergio ribamar ferreira

Competição entre empresas é muito bom. Pesquisa, aperfeiçoamento, custo-benefício, geração de empregos, novas tecnologias. Que vençam os melhores. Mercado ainda é promissor. Embraer vai comendo pelas beiradas e adquirindo potencial. Gosto disto. Desenvolvimento industrial, tecnológico, e social tudo a base do conhecimento, da pesquisa. Almejo um país desenvolvido para o nosso em tudo. Não superpotência. Desenvolvido e justo quer em impostos, tributos, Educação, Saúde, Infraestrutura, Defesa(dissuasão). Poder escolher onde estudar se na pública ou privada, tendo o trabalhador de escolher o que é melhor para si e família. Não dando em migalhas ou bolsas para se manter o status do… Read more »

Clésio Luiz

Eu estava dando uma olhada na concorrência e aparentemente todo mundo usa alguma versão do PW 100 series, que vai de 2000 a 5000 SHP. A P&W se gaba de ter 89% desse mercado, então acho difícil a Embraer escolher outro motor para a sua aeronave.

Juliano Bitencourt

Se a Russia não jogar sujo, esse turboelice não tem a menor chance contra um provável turboelice by Embraer. Concordo com Karl Bonfim e Caerthal, os russos e as cópias(ou semicópias) chinesas não farão frente.

Ricardo Da Silva

Walfrido Strobel 3 de outubro de 2017 at 16:40

A Antonov é da Ucrânia, as relações não estão sendo muito amigáveis entre os dois.

HMS TIRELESS

Esse projeto me parece mais pragmático e realista pois é um aparelho voltado para as necessidades russas e os mercados tradicionais.

Ricardo Da Silva

E nesse caso a Antonov segue perdendo em seu principal mercado, o Russo.
Parece que a Antonov já se encontra em vias de entrar em falência.
Seria interessante um post sobre esse tema.

Caerthal

Clésio,

O projeta da Embraer depende de uma nova geração de turbohélices, de potência entre 5-8 mil hp, com alta tecnologia e mais eficiência energética. Se entrasse no segmento de 2,5-3,5 mil hp aí então daria motivos para aquela pessoa falar em +1.

Em um segmento acima (100-120 passageiros), com motores mais modernos, hélices de 8 pás, fly-by-wire e interior muito mais espaçoso a Embraer apresentaria um produto realmente diferenciado. A dúvida refere-se ao tamanho de mercado.

Walfrido Strobel
Walfrido Strobel

A ATR ainda não partiu para um modelo maior por causa da Airbus.
Veja esta entrevista com seu CEO.
. https://leehamnews.com/2015/03/03/ceo-interview-atr-chiefs-says-no-90-seater-without-airbus-support/

donitz123

Russos e canadenses chegaram a negociar uma linha de montagem do Q400 na Rússia mas os eventos na Ucrânia colocara um fim no acordo.
.
Consideraram depois disso fabricar o chinês MA700 ou então desenvolver o jato de 50 lugares denominado Tupolev Tu-324 .
Por fim resolveram revisar totalmente o Il-114 e relança-lo.

Fábio Mayer

Os Bandeirantes e Brasilia continuam por aí, prestando bons serviços e mostrando o quanto a EMBRAER pode produzir com capacidade e qualidade. Se há mercado (e há) não penso que a empresa brasileira deva deixar de aventá-lo, capacitação técnica ela tem para voltar a competir nessa área.

Gustavo

O mercado de até 80 passageiros já está saturado, pelos ATR e Bombardier. Se a Embraer entrar, vai brigar com 2 empresas consolidadas e ainda enfrentar a Russia no futuro. Se o caixa permitir a aventura, mandar ver. Eu acho arriscado.
Pois, acima de 80 passageiros a aviação regional já começaria a ser mais voltada para os jatos do que turboélices. Uma vez vi a entrevista de um piloto Brasileiro no ATR-72 e ele me disse exatamente isso.

Curiango

Concordo com vc Gustavo acima de 90 lugares é tiro no pé.

Augusto

Pelo que entendi o principal mercado para o IL-144 é o militar sendo o civil apenas para excedente. Quanto a um concorrente do ATR é só ter preço e qualidade no mesmo nível que vão achar compradores, o que eu acho é que com a chegada de mais aeronaves e empresas concorrentes no mercado de 100-150 passageiros além da principal concorrente a Embraer que diversificar para continuar tendo lucro.

Luiz Trindade

É muito interessante ver os russos lançarem o IL-114-300. O grande problema que os perseguem é sua logística em pós venda que é péssimo! Se e somente se os russos melhorarem isso, ae sim vou começar a crer que talvez eles sejam um concorrente forte para o ATR 42/72 lugares bem como para Embraer. Mas tudo vai depender de eles resolverem esse problema nevrálgico!