Mísseis superfície-ar SA-2

Os Wild Weasels eram os primeiros a entrar na arena de combate e os últimos a sair

O míssil de superfície-ar soviético SA-2 (SAM) ameaçou parar as operações aéreas sobre o Vietnã do Norte. Alguns diziam que a Aviação de Ataque tinha se tornado obsoleta.

Para suprimir e destruir essa ameaça, a Força Aérea dos Estados Unidos respondeu com a coragem e a habilidade dos Wild Weasels (Doninhas Selvagens), que voaram algumas das missões mais perigosas no Sudeste Asiático.

Após o início da Operação Rolling Thunder em março de 1965, os comunistas começaram a construir sites SAM de SA-2 no Vietnã do Norte. Os Estados Unidos primeiro tomaram consciência do SA-2 em meados da década de 1950, mas ainda não tinham táticas especializadas para destruí-lo. Além disso, a política dos EUA no Sudeste da Ásia complicou muito o problema. Os locais de SAM do Vietnã do Norte estavam inicialmente fora dos limites para o ataque, principalmente devido aos temores de escalar a guerra se os técnicos soviéticos que construíram e ajudaram a operar esses sites fossem mortos. Alguns também pensaram ingenuamente que os vietnamitas do norte não disparariam os SA-2 se os Estados Unidos ignorassem os sites.

Em 24 de julho de 1965, um SA-2 derrubou um F-4C da USAF, o primeiro de 110 aviões que a USAF perdeu para os SAMs no Sudeste Asiático. Mesmo após as perdas iniciais para SAMs, a USAF não conseguiu destruir os mísseis SA-2 atacantes em seus locais de armazenamento nos santuários em Hanoi e Haiphong. Em vez disso, eles usaram forças para atacar os sites ativos praticamente um a um, um método particularmente ineficiente e perigoso.

Os primeiros Wild Weasel empregavam o North American F-100F Super Sabre biplace para as arriscadas missões de detectar e atacar sites SAM no Vietnã

O SA-2 também causou outros problemas sérios. Enquanto voavam baixo para evitar SAMs, as aeronaves eram mais vulneráveis ​​ao mortal fogo de artilharia antiaérea (AAA ou “Triple A”) — na verdade, a AAA derrubou dois terços das aeronaves americanas perdidas no Sudeste Asiático. Mesmo que os SA-2 não derrubassem uma aeronave, as aeronaves de ataque eram forçadas a lançarem suas bombas cedo demais ou a fazer um lançamento impreciso.

Três dias após o primeiro abate por SA-2 sobre o Vietnã do Norte, a USAF atacou dois sites de SAM. Dos 46 aviões F-105 empregados nesse ataque, seis foram derrubados e muitos mais foram danificados pela AAA. Além disso, descobriu-se que ambos os sites eram abandonados (o inimigo tinha movido os mísseis e radares para outros sites). Outros ataques convencionais anti-SAM melhoraram um pouco — alguma resposta para o SA-2 foi desesperadamente necessária.

Um SA-2 com seu caminhão de reboque

O míssil superfície-ar SA-2

Desenvolvido em meados da década de 1950, o S-75 Lea / V-750 Dvina foi o primeiro míssil soviético superfície-ar. Os soviéticos usaram esta arma para derrubar o U-2 de Francis Gary Powers sobre a URSS em 1960 e o U-2 do Major Rudolph Anderson sobre Cuba em 1962. O míssil era mais conhecido pela designação SA-2 da OTAN. Os soviéticos começaram a exportá-lo para muitos países em todo o mundo em 1960, e muitos permanecem em uso no século 21.

O Vietnã do Norte começou a receber o SA-2 pouco depois do início da Operação Rolling Thunder na primavera de 1965. Com a ajuda soviética, eles construíram vários sites bem camuflados, movendo regularmente os SA-2 e seus equipamentos entre eles. Os vietnamitas do norte também equiparam os sites de SA-2 com artilharia antiaérea (AAA), tornando-os ainda mais perigosos de atacar.

O SA-2 não operava sozinho, mas como parte de um sistema completo. Um site típico de SA-2 no Vietnã do Norte tinha seis mísseis em lançadores, camionetas de controle e suporte, um radar de aquisição “Spoon Rest” e um radar de orientação “Fan Song”.

Radar de orientação Fan Song
Radar de aquisição Spoon Rest

O radar “Spoon Rest” detectava aeronaves invasoras com longo alcance (até 70 milhas), fornecendo dados de localização ao computador do sistema.

O radar de orientação “Fan Song” realizava duas funções: aquisição de alvo e orientação de mísseis. Ele adquiria até quatro alvos antes de disparar. Após o lançamento, guiava até três SA-2 contra um alvo. (Os vietnamitas do Norte, às vezes, colocavam os radares afastados dos lançadores de mísseis para tornar o site mais difícil de destruir).

O míssil SA-2 tinha um foguete “booster” de combustível sólido que o lançava e acelerava durante seis segundos. Enquanto estava em fase de impulso, o míssil não recebia orientação. Durante o segundo estágio, SA-2 era guiado e um foguete de combustível líquido o impulsionava para o alvo.

Como o radar funciona
O Radar (Radio Detection And Ranging) envia ondas de rádio, que atingem um objeto e refletem de volta para um receptor de radar. Muitas informações podem ser obtidas calculando-se o tempo e o ângulo das ondas de rádio refletidas.

O radar básico pode simplesmente indicar a presença de um objeto a várias milhas de distância, enquanto os radares mais avançados podem fornecer velocidade, altitude e direção de uma aeronave. A informação do radar pode ser usada de várias maneiras, incluindo o alerta antecipado de um ataque, dirigindo caças defensivos, orientando o fogo de artilharia antiaéreo e os mísseis guiados (incluindo SAMs).

Batalhão completo de SA-2

O lançador do SA-2 (S-75 Lea / V-750 Dvina)
O lançador reutilizável SA-2 girava 360 graus e tipicamente elevava o míssil entre 30 e 60 graus para o lançamento. As rodas removíveis permitiam que o lançador fosse movido rapidamente. Na verdade, as tripulações dos SAM norte-vietnamitas podiam preparar e mover um site em cerca de quatro horas.

Uma capacidade vital dos Wild Weasels foi a habilidade de identificar e atacar imediatamente um site ativo. Antes disso, o inimigo, muitas vezes, movia um site no momento em que uma força de ataque era designada para atacá-lo.

FICHA TÉCNICA
Alcance: mínimo de 5 milhas; alcance máximo efetivo cerca de 19 milhas; alcance máximo oblíquo de 27 milhas;
Teto: até 60.000 pés (18.480 metros);
Cabeça de guerra: 130,7 kg (288 lbs) de explosivos de fragmentação;
Velocidade: Mach 3.5;
Peso: 2.202 kg (4.850 lbs).

VEJA NA SEGUNDA PARTE: As primeiras missões Wild Weasel

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Leandro Costa

Eu me atrevo à dizer que os operadores de SA-2 vietnamitas eram melhores do que os próprios soviéticos. Eles tinham pleno conhecimento das variadas formas com as quais poderiam guiar seus mísseis até o alvo e desenvolveram diversas táticas operacionais (inicialmente com, mas posteriormente sem ajuda soviética) para melhor empregarem seus mísseis, sobre como tentar quebrar a interferência eletrônica das aeronaves americanas. A vantagem deles é que invariavelmente viam os resultados de seu trabalho, ou seja, se adotavam uma nova tática eles saberiam se deu certo se abatessem aeronaves americanas. . Por outro lado, os tripulantes dos EKA-3B da USN… Read more »

Leandro Costa

OBS.: Um livro excelente para acompanhar o duelo travado entre as equipes de operação dos sites de SA-2 no Vietnã e os EWO (Electronic Warfare Officers) da USAF está no livro “The Eleven Days of Christmas: America’s Last Vietnam Battle” por Marshall L. Michel III. Vale a leitura.

_RR_

Leando Costa, . Longe de mim desdenhar dos vietnamitas ( os caras da anti-aérea fizeram um trabalho, e merecem sim admiração ), mas observemos que a tarefa deles era bastante facilitada pela forma como os americanos lutaram no conflito. . Primeiramente, haviam consideráveis restrições de como engajar. Salvo melhor juízo, uma unidade de tiro somente poderia ser atacada caso esta atacasse primeiro. Desnecessário dizer o tipo de “problema” no qual os americanos estavam mergulhados… . Repetição de estratégias, de rotas, ataques com forças muitas vezes insuficientes, inteligência desatualizada e deficitária ( que os faziam atacar alvos inúteis mais de uma… Read more »

_RR_

Em tempo: bom artigo.

Leandro Costa

RR, era assim, principalmente no início lá entre 1965 e 1966, mas já em 1967 as restrições eram afrouxadas de tempos em tempos. Existiam maneiras de se burlar algumas das regras de engajamento de Washington. Não era sempre que altitudes, rotas e e até carga bélica eram ditadas por McNamara e seus asseclas, mas apenas para alvos aonde havia uma maior densidade populacional ou imaginava-se que haveriam acessores soviéticos ou chineses. Por isso que inicialmente os sítios de SAMs e aeródromos não eram atacados. . No caso dos SAMs, por exemplo, se havia o desejo de atacar determinado alvo e… Read more »

Leandro Costa

Bem bolado. Bom saber disso 🙂

_RR_

Caro Leandro Costa,
.
Desconhecia essa do “pesqueiro soviético”…! Li em um artigo especializado que era comum ativarem os ECM fora do espaço aéreo vietnamita, mas para efeito de teste do equipamento. E isso dava o alerta aos vietnamitas… O mais, faz todo o sentido. Não havia lógica utilizar o ECM o tempo todo. Até porque, poderia dar dicas preciosas aos assessores soviéticos, que certamente estavam presentes; levando informações preciosas que poderiam resultar em ‘contra contra medidas’…
.
Grato pelas demais informações.
.
Saudações.

ScudB

Amigo _RR_! Foram 17 navios “espiões” – “Sarychev”, “Gidrograf” , “Peleng” , “Derbi” , “Aneroid” (o que lembro agora) em total de quase 100 missões (cada no período de 3-4 meses).Os yankees sabiam da presença deles e estavam bem acostumados. Em relação dos “usuários” de SA-75M temo que amigo Leandro não lembra os nomes dos oficiais com maiores números dos aviões americanos abatidos.Caso contrario não ia sugerir uma coisa dessas.Os vietnamitas foram bons alunos. Muito melhores que os árabes , por sinal..Mas o comando e missões mais difíceis inclusive possível recuperação das baterias (conforme estatística , em media bruta ,… Read more »

Leandro Costa

Até onde eu sei, as missões mais difíceis foram mesmo durante as Linebackers. Não haviam oficiais soviéticos no comando das baterias individuais. Poderiam haver oficiais soviéticos nos centros de controles gerais, que designavam ‘alvos individuais’ às baterias de SAMs, mas quem ficava dentro dos trailers de radares, fazendo aquisição dos alvos e ditando as táticas à serem empregadas para engajamento das formações americanas eram tão somente Vietnamitas.

mauricio matos

Tenho um filme que retrata bem esse duelo Intruder A6 com Danny Clover e Willen Dofoe

_RR_

Grande ScudB…!
.
Bacana saber.
.
Saudações!

André Bueno

Ótimo artigo e comentários.

ScudB

Amigo Leandro! Sua informação é incompleta. Em cada momento , cada período de 1 ano (aprox) existiam tanto oficiais como soldados e sargentos soviéticos (mais de 6mil oficiais de alta patente) por lá operando os complexos SA-75M. Os resultados foram analisados quase que em tempo real e as táticas sugeridas aplicadas on-site (como no caso de Wild Weasels e ajustes de frequência de resposta). Os vietnamitas simplesmente não podiam mudar de forma “inteligente” o hardware .Os “melhoramentos” que eles inventavam quase sempre davam errado.Exemplo : desligamento do sistema de autodestruição do míssil basicamente transformava um V-750V(11DU) em míssil balístico com… Read more »

Leandro Costa

ScudB, obrigado pelas infos à mais! Na verdade, se puder depois mandar essas fontes para mim, eu apreciaria MUITO, justamente para não deixar nada incompleto nos meus estudos particulares. Me faltam fontes que eu goste do lado soviético/chinês, e tenho uma ou outra interessante do lado Norte-Vietnamita. Mas de fato, ainda acredito que não havia nenhum soviético manejando baterias individuais de mísseis durante as Linebackers I e II. Vou dar uma rechecada nas minhas fontes, mas acredito sim que haviam oficiais e provavelmente especialistas nas reuniões dos comandantes de baterias e revisando as fitas dos engajamentos. Se reuniam praticamente todos… Read more »

Leandro Costa

Ah, sim, até onde sei, os norte-vietnamitas não faziam adaptações ao Hardware em si. Mas utilizavam o que havia de disponível, com a quantidade possível de saltos de frequência e métodos de lançamento diferenciados, como lançar os mísseis sem guiagem para depois iniciar a guiagem à meio caminho. Também conseguiram observar os padrões de determinadas aeronaves para que soubessem o momento mais vulnerável das mesmas, o que no caso dos B-52 era justamente na inútil PTT (Post-Target Turn) quando a assinatura radar do B-52 ficava imensa devido à total perda da ECM, e por aí vai. . É uma leitura… Read more »

ScudB

Amigo Leandro! As informações da época USSR são bem picadas e fracionadas.Na maioria dos casos estou caçando elas nos fóruns cruzando dados e relatos.Assim sabemos que primeiro avião abatido pela SA-75 deve ser considerado RB-57D (e não U2) e comandava a operação um ucraniano (Victor Slusar). Ja os primeiros F-4 abatidos em Vietnã estão na “consciência” dos sub-coronéis soviéticos F. Ilyinyh e V. Mozhaev (mesmo que oficialmente nos documentos constam Nguyen Bam Thak and Nguyen Van Nyanem). Estou catando os links nos fóruns (usando tradutores e cruzando números). E assim por diante.. Achando algo consistente e sistematizado vou avisar Você… Read more »