Os primeiros F-4 no Sudeste Asiático eram pintados de cinza, mas em 1966 eles foram camuflados como o Phantom que aparece na parte inferior da fotografia (Foto da Força Aérea dos EUA)

Míssil superfície-ar SA-2, exibido na Galeria da Guerra do Sudeste Asiático no Museu Nacional da Força Aérea dos Estados Unidos em Dayton, Ohio

A implantação de SAMs (Surface to Air Missiles) pelo Vietnã do Norte forçou os pilotos americanos a fazer escolhas difíceis: abordar alvos em altitudes mais elevadas (para evitar o fogo antiaéreo) e se tornar presa de SAMs, ou voar muito baixo para evitar mísseis e se tornar alvo de artilharia antiaérea. Devido a táticas alteradas e ao aumento do uso de bloqueio eletrônico contra radar, o registro de mortes por SAM diminuiu ao longo do tempo. A sombria taxa de sucesso dos mísseis caiu de 30 lançamentos para um kill, para menos de um kill por 50 mísseis lançados.

A natureza da escalada gradual do conflito deu tempo a Hanoi para se adaptar à situação. Em 1967, o Vietnã do Norte havia formado cerca de 25 batalhões de SAM (com seis lançadores de mísseis cada) que se movimentavam entre aproximadamente 150 sites. Com a assistência da União Soviética (URSS), os vietnamitas do norte também rapidamente integraram um alerta antecipado ao sistema de radar de mais de 200 instalações que abrangeu todo o país, rastreando as invasões dos EUA e, em seguida, coordenando SAMs, baterias antiaéreas e MiGs para atacá-los. Durante 1967, as perdas dos EUA totalizaram 248 aeronaves (145 da USAF, 102 da US Navy e uma do Marine Corps).

Feita sobre o Vietnã do Norte em janeiro de 1967, esta fotografia ilustra a dificuldade de detectar visualmente um site SAM. Wild Weasels usavam equipamentos eletrônicos especializados para encontrar os SAM. As setas vermelhas no closeup apontam para os seis lançadores de SA-2 (Foto da Força Aérea dos EUA)

Para sobreviver nesta zona de defesa aérea cada vez mais letal, os Estados Unidos tiveram que adotar táticas mais novas e mais especializadas. Os ataques em larga escala, conhecidos como “force packages” na Força Aérea e “Alpha strikes” de porta-aviões pela Marinha, receberam inúmeras aeronaves de suporte para proteger os caça-bombardeiros. Passaram a atuar primeiro nas áreas alvo as missões especializadas denominadas de “Iron Hand”, para supressão de artilharia antiaérea. Estas consistiam em equipes de caçadores/matadores (Hunter/Killers) de jatos F-100 e depois F-105 batizados de Wild Weasel (Doninhas Selvagens), equipados com equipamentos eletrônicos sofisticados para detectar e localizar as emissões associadas aos radares de busca e direção de tiro dos SAM.

Um site SAM de SA-2 sendo atacado por bombas cluster de fragmentação
Um dos jatos F-100F Super Sabre convertidos para missões Wild Weasel, na Eglin AFB, 1965

Os Wild Weasel também usavam equipamentos de contramedidas eletrônicas (ECM) para se protegerem. Eles realizavam ataques de supressão de antiaérea e levavam mísseis anti-radiação AGM-45 Shrike (outro desenvolvimento da Marinha), que perseguia os sistemas de radar dos SAMs. O SA-2 tinha maior alcance do que o Shrike, mas se o Shrike fosse lançado e o operador do radar continuasse com seu sistema emitindo, o míssil americano seguia o sinal de radar até atingir sua fonte. Teve início então um jogo de gato e rato sofisticado entre os operadores de radar norte-vietnamitas e os pilotos Wild Weasel.

Dupla Wild Weasel de F-105 Hunter/Killer

Em seguida vieram as missões onde os aviões de ataque com bombas eram protegidos por caças de escolta (Combat Air Patrol ou MIGCAP) e aeronaves de bloqueio eletrônico para degradar a performance dos radares inimigos. Novos dispositivos ECM foram rapidamente implantados para proteger as aeronaves dos ataques dos mísseis, mas continuaram sujeitos a freqüentes avarias por causa das condições climáticas no Sudeste Asiático. Também foram incluídas nas missões os aviões-tanque KC-135 e os helicópteros de Busca e Salvamento de Combate (CSAR), que eram, por sua vez, protegidos por aviões A-1 Skyraider.

Os elementos de uma força de resgate da USAF para tripulações abatidas no Vietnã: Douglas A-1E e A-1H/J Skyraider, Lockheed HC-130P Hercules e helicóptero Sikorsky HH-3E Jolly Green

A partir de meados de 1966 até o final de 1967, o Presidente Johnson continuou a divulgar os alvos sensíveis, um por um, aos generais, tentando simultaneamente aplacar os pacifistas no Congresso e dentro de sua própria administração com cortes periódicos e iniciativas de paz tímidas. No final, este curso errático não satisfez ninguém e fez pouco para alterar o curso da guerra.

A natureza dos alvos e os riscos envolvidos nos ataques (e re-ataques) começaram a ter um impacto. O chefe das operações navais David McDonald informou aos seus co-chefes depois de uma viagem ao Vietnã do Sul, em setembro de 1966, que as tripulações da Rolling Thunder estavam irritadas com o processo de direcionamento e que criticaram a campanha devido a “diretrizes que exigiam ataques aéreos repetitivos que pareciam feitos mais do que qualquer outra coisa para beneficiar os artilheiros inimigos”. Durante o ano de 1967, o segundo ano completo das operações da Rolling Thunder, 362 aeronaves americanas foram perdidas no Vietnã do Norte (208 da USAF, 142 da US Navy e 12 do Marine Corps).

Bombas do USAF atingem o campo de aviação de Phuc Yen a noroeste de Hanoi, 1967. (foto da Força Aérea dos EUA)

A ameaça dos MiGs

A Rolling Thunder chegou ao último estágio de sua evolução operacional em 1967 e 1968. O objetivo principal do esforço aéreo americano nos pacotes de rotas superiores do Vietnã do Norte foi lentamente direcionado para impedir o fluxo de suprimentos e material e a destruição desses segmentos da infra-estrutura do norte que apoiava o esforço militar. Embora a maioria das perdas de aeronaves dos EUA continuasse a ser infligida por fogo antiaéreo, os F-105 da Força Aérea dos EUA e A-4 Skyhawks da US Navy encontravam-se cada vez mais com SAMs e MiGs. Os caças dos norte-vietnamitas também se tornaram um problema particular por causa da falta de cobertura de radar na região do Delta do Rio Vermelho, o que permitia que os MiGs surpreendessem as forças de ataque. Os aviões de alerta aéreo antecipado tinham dificuldade em detectar os caças em baixas altitudes e as próprias aeronaves eram difíceis de se detectar visualmente.

Um MiG-21PF da VPAF (Vietnam People’s Air Force) armado com mísseis, pousa usando seu paraquedas de frenagem

Enquanto os F-105 conseguiram 27 vitórias aéreas, a proporção de kills estava perto da paridade. Em 2 de janeiro de 1967, os americanos fizeram uma surpresa para os MiGs quando lançaram a Operação Bolo. Caças F-4 Phantoms, usando os mesmos sinais de chamada de rádio, direção de aproximação, altitude e velocidade que um voo típico de F-105 carregados de bombas, atraíram um grupo de MiG-21 que pensavam que iriam encontrar presas fáceis. O resultado foi que sete MiG-21 foram derrubados dentro de 12 minutos sem nenhuma perda nos EUA.

Os primeiros F-4 no Sudeste Asiático eram pintados de cinza, mas em 1966 eles foram camuflados como o Phantom que aparece na parte inferior da fotografia (Foto da Força Aérea dos EUA)

No final do ano, os EUA lançaram sua tentativa mais intensa e sustentada de forçar o Vietnã do Norte às negociações de paz. Quase todos os alvos na lista dos Chefes Conjuntos (Joint Chiefs) foram autorizados para o ataque, incluindo os aeródromos que anteriormente estavam fora dos limites. Apenas o centro de Hanoi, Haiphong e a fronteira da China permaneceram proibidos de atacar. Um grande esforço foi feito para isolar as áreas urbanas, derrubando pontes e atacando LOCs (Lines of Communications). Também foram atingidos o complexo de aço Thai Nguyen, usinas de energia térmica e elétrica, instalações de reparo de navios, trilhos e armazéns. Os MiGs entraram na batalha em massa, já que sua capital estava ameaçada e os taxas de mortalidade (kill ratio) caíram para um avião dos EUA perdido por cada dois MiGs. Em 1968, os MiGs foram responsáveis por 22% das 184 aeronaves americanas abatidas (75 da USAF, 59 da US Navy e cinco do Marine Corps). Como resultado, foram autorizadas as operações contra os últimos aeródromos do Vietnã do Norte, que anteriormente estavam além do limite para atacar.

Ataque da USAF à fábrica de aço Thai Nguyen no norte de Hanoi, 1967. (Foto da Força Aérea dos EUA)

Apesar dos melhores esforços de interdição da Rolling Thunder, no entanto, a NLF e o PAVN lançaram sua maior ofensiva até aquele momento na guerra em 30 de janeiro de 1968, atingindo todo o Vietnã do Sul durante o feriado do ano novo lunar. A Ofensiva do Tet terminou como um desastre militar para o Vietnã do Norte e seus aliados da NLF, mas também afetou negativamente a opinião pública dos EUA, o que, por sua vez, afetou a vontade de Washington. Felizmente para o Vietnã do Norte, muitos defensores dos bombardeios dos EUA (incluindo o Chief of Staff da Força Aérea McConnell) não queriam arriscar a aeronave capaz de entregar uma grande carga de bombas em mau tempo — o B-52. Sem ele, havia pouco que poderia ser feito no norte em resposta à Ofensiva do Tet, já que o mau tempo minimizava as operações de combate até o início de abril.

VEJA NA QUARTA PARTEo legado da Rolling Thunder

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Guizmo

Que belo relato, parabens.

Clésio Luiz

Como diria a propaganda de pneus: potência não é nada sem controle. De pouco adiantou ter uma potente força aérea se você não a controla da maneira correta.
.
Felizmente para os americanos, as lições do Vietnam foram aprendidas e aplicadas com efeito na Guerra do Golfo.

Rodrigo

Muito pouco a acrescentar depois do Clésio, a não ser perceber um crime de responsabilidade por parte da administração dos EUA

Antonio de Sampaio

Me lembro de uma entrevista, onde um general ou algo assim reclama com um repórter, dizendo que a imprensa, basicamente as imagens da guerra do Vietnã exibidas todas as noites ao povo americano, é que fizeram eles perderem a guerra, e que se a imprensa tivesse feito esse tipo de cobertura na segunda guerra mundial, eles teriam perdido a guerra.
O jornalista respondeu que se a imprensa americana tivesse feito o mesmo tipo de cobertura durante a segunda guerra mundial, o povo americano apoiaria ainda mais seus soldados, e eles teriam vencido a guerra mais rápido.

Plamber

Não tem nem como comparar essa guerra com a do golfo, é loucura.

Situações diferentes, ambientes [MUITO] diferentes, clima [MUITO] diferente, fronteiras diferentes, aliados diferentes, épocas diferentes, armamentos diferentes, e a lista segue, só vamos descobrir se eles aprenderam algo mesmo no dia em que realizarem um mano-a-mano fora do enorme parque de diversões deles que é o oriente médio.

Na guerra do golfo quase tudo estava a favor do EUA…

PS: Não sou clubista, não torço nem para Rússia e nem para EUA, apenas sei analisar as coisas da de forma devida, só!

EParro

Naquela época, a impressão de quem estava de fora e bem longe da “coisa toda” era que se uso dos B52 tivesse acontecido um pouco antes e perseverado com um pouco mais de estratégia e menos de “politicagem”, acredito que hoje haveria um Vietnam do Sul, provavelmente muito parecido com a Coreia do Sul.

Bille

A guerra é a continuação da política por outros meios. Tanto foi que um dos objetivos da guerra do Vietnam era fazer o norte negociar a paz. Até aí tudo bem. Agora, o presidente saindo do estratégico e se metendo no tático deu nisso. Alvos atacados diversas vezes do mesmo jeito e no mesmo horário, alvos importantes não atacados, regras de engajamento muito engessadas a ponto de não dar aos comandantes em campo a possibilidade de evitar baixas de forma efetiva, fizeram dessa guerra um péssimo negócio pros EUA. Cada um no seu quadrado funcionava melhor. . Tiveram ainda muitos… Read more »

Antonio de Sampaio

Plamber 11 de julho de 2017 at 23:27
Segundo Hollywood, eles venceram no Vietnã, mas só segundo Hollywood.

Jorge F

Tão importante quanto saber como vencer é saber quando desistir. A guerra contra o terror do Bush, só não teve final semelhante pois a mídia foi mais ponderada. Tanto Bush como Obama sabiam que precisavam da mídia a seu favor para a consecução dos objetivos militares a serem alcançados. Não desprezem o quarto poder….

Antonio de Sampaio

Jorge F 12 de julho de 2017 at 11:22 A imprensa norte americana com as exceções de sempre é majoritariamente anti republicana, e era na época em particular, totalmente anti Bush. O problema é que depois dos ataques de 11 de setembro, todo o povo americano se uniu justamente contra o terror, e não podia ser diferente. George Bush aproveitou esse momento, e deu um xeque mate na imprensa esquerdista do país comandada por NY Times, CNN e seus satélites, simplesmente esta imprensa não poderia ser contra Bush, quando ele combatia justamente o que todo o povo do seu país,… Read more »