A-7F foto02No início da década de 1980 a USAF buscava uma aeronave que pudesse substituir o A-7E Corsair II nas missões de interdição do campo de batalha (battlefield air interdiction – BAI).

O então A-10 Thunderbolt II executava bem o papel de aeronave de apoio aéreo aproximado, mas era considerado lento para as missões BAI. Portanto, a USAF passou a buscar outra solução.

Uma boa opção para missões BAI seria o projeto ítalo-brasileiro AMX (então em desenvolvimento), mas naquela época comprar uma aeronave estrangeira para essa missão não passava pela cabeça dos estrategistas dos Estados Unidos.

A-7F foto03

Além disso, havia uma ideia na época que velocidade era a chave da sobrevivência e a USAF colocou como requisito a capacidade de voo supersônico.

Para atender às exigências da USAF  a LTV, fabricante original do Corsair II, passou a modificar a aeronave. O projeto original do Corsair II era uma versão reduzida do supersônico F-8 Crusader. Por ironia do destino o novo Corsair II deveria voltar a ser supersônico como o seu antecessor. Para que isso fosse feito a fuselagem foi alongada para receber um motor turbofan P&W F100-PW-220 com 26.000 lb de empuxo seco.

O aumento da fuselagem ocorreu tanto na frente como atrás da asa. No total, a aeronave ficou 1,22m mais cumprida.Obviamente esse alongamento deixou o Corsair muito mais parecido com o seu antecessor (o Cruzader).

Como reflexo das mudanças, as asas foram reforçadas e novas superfícies de controle foram instaladas. Também foram adicionados pequenos LERX (Leading edge root extension) na rais das asas (ver imagem abaixo). A deriva recebeu um incremento de 25cm e os profundores que possuíam diedro positivo passam a ter diedro negativo (ver imagem acima).

A-7F foto01

O primeiro protótipo do novo Corsair II (modificado a partir de um A-7D), que passou a ser denominado YA-7F, voou pela primeira vez em novembro de 1989 e o segundo em abril do ano seguinte. Logo no segundo voo do primeiro protótipo a barreira do som foi quebrada ao atingir a velocidade de Mach 1,2.

Comparativo A-7D x YA-7F
No desenho acima foram destacadas em vermelho as principais mudanças entre a versão comum do Corsair II e o YA-7F. O desenho apresenta um erro em relação à tubeira.

Mas não foi só a performance que melhorou. Muitos dos sistemas internos foram atualizados para os mais avançados padrões da época como sistema OBOGS (gerador de oxigênio que dispensa a garrafa), sistemas de ataque e navegação, displays da cabina e HUD.

No entanto o projeto foi descartado em favor de mais encomendas de caças F-16, que poderiam executar missões BAI além de outras funções.

O exemplar preservado no Hill Aerospace Museum (S/N 70-1039) é o segundo e último protótipo do projeto. O primeiro encontra-se em exposição na Base Aérea de Edwards.

comparativo A-7E x YA-7F

FOTOS: todas as fotos por Roberto F. Santana

Subscribe
Notify of
guest

22 Comentários
oldest
newest most voted
Inline Feedbacks
View all comments
Delfim Sobreira

Os EUA são recordistas em fazer protótipos que se tornam desperdício de dinheiro como este, o F-16XL, o F-20, entre outros, mas ninguém fala nada.
Mas pra malhar projetos nacionais como o A-29 e o KC-390 tem fila.

Rodrigo Maçolla

Delfim, é verdade, mais eles podem ou melhor no contesto da Guerra fria podiam…, Muito se fazia e ninguém ficava sabendo (opinião publica , contribuinte) Hoje já é bem diferente… na era da internet e de recursos mais escassos é bem mais difícil … Olha as criticas no caso do F-35. Mais falando do avião eu curto muito, o F-8 Crusader e Corsair II, Hoje parece um Design improvável para um caça ou interceptador, mas se projetassem algo do tipo teria assistência do fly by wire, Mais imagina nos anos 50, 60 não tinha nada disso… Lembro que tinha um… Read more »

Gustavo

Rodrigo Maçola, o desenho e um anime japones chamado Area 88 onde o piloto de um cruzader foi recrutado como mercenario, mas alguns episodeos depois ele é abatido e entao o mesmo piloto passou a voar um F-5. A serie é muito bacana!

Hawk

Jogava o Area 88 direto no fliperama e depois no SNES. Nem sabia que era baseado num anime! Valeu a informação Gustavo! Acabei de achar episódios em inglês no Youtube… Já vou olhar….

Rui Chapeu

Delfim Sobreira 21 de julho de 2016 at 10:34

Guerra fria explica muito isso.
Além do mais, olha o exemplo do Kelly Johnson, que devolveu o que sobrou do dinheiro do desenvolvimento do SR-71 pro governo americano.
Presta atenção nesse vídeo, principalmente depois dos 18:00.
https://www.youtube.com/watch?v=mHjhgeyhuKk

Agora compara com nosso almirante Othon que está preso por roubar do governo.
http://www.naval.com.br/blog/tag/othon-luiz-pinheiro-da-silva/

Rodrigo Maçolla

Gustavo, é isso mesmo “AREA 88” o nome tinha me fugido a memória… … valeu por lembrar. Hawk por causa do anime é que saiu o jogo eu também joguei muito no “fliper” esse jogo…. era de menor e ia jogar escondido…. bons tempos

Clésio Luiz

Pois é Rui, essa mesma Lockheed que pagou propina, na mesma época, para políticos na Alemanha e Japão para facilitar a venda do F-104 às forças aéreas destes países.

carvalho2008

Ele pode não ser tão manobravel e arisco como os skyhawk, mas é uma senhora kombi…..tinha a capacidade de carga de armas igual a do F-4 e o alcance igual ao do F-15…..
.
Um gorducho de habilidades….
.
Muitos bons modelos deixaram de entrar em operação mais por contingenciamentos de plano no momento do que de fato alguma deficiencia….
.
Ate hoje lembro dos primeiras conjecturas de qual o avião deveria ser comprado para o nae São paulo e lembro que muitos torciam pelo A-7….

Aldos

Boa noite amigos.

Uma curiosidade que sempre me veio a cabeça, o custo de desenvolvimento e até de construção desses protótipos usados em concorrência são bancados pelo governo ou pelas próprias empresas?

Como vejo no projeto do f-35 são os governos participantes que “bancam” o projeto, prototipo e etc. Mas no caso ele já venceu a concorrência.

Mas nesses casos como no da reportagem em que os prototipos nao foram escolhidos?

Desde já obrigado 🙂

Leandro Costa

Muito bom o texto, de uma aeronave que tornou-se um ícone. Lembro-me bem de quando foi aposentado logo após a Desert Storm. . Roberto, obrigado pelas fotos do outro post e obrigado pela contribuição à este. Mas acho que você trocou as bolas. Num pouso à bordo de NAe’s sempre se mira no terceiro cabo, que é o pouso perfeito. O primeiro cabo que é perigosamente próximo à cabeceira da pista, e consequentemente à popa do navio. Salvo engano a distância entre desastre total (ramp strike) e a enganchada é de menos de um metro. O piloto que pega o… Read more »

Alberto Figueiredo

Boa noite a todos.
Pelo desenho, estrutura, entrada de ar… teria sido esse modelo o pai ou avô do F-16???
Será que olhando para o passado e vermos alguns projetos que não deram certo, hoje não são um sucesso?

Leandro Costa

Não posso considerar o Corsair II como pai ou avô do F-16. Esse tipo de design, na época do projeto do F-8, era bastante comum. Mas certamente podermos ver projetos que não foram para a frente no passado, mas que a tecnologia tornou possível no futuro. Um dos maiores exemplos disso é o B-2, cujos antepassados remontam aos YB-35/YB-49, que por sua vez provavelmente levaram uma influência dos Ho-229 alemães.

carvalho2008

O YA7F foi uma tentativa da Vought tentar pescar uma fatia do mercado para a lacuna que a USAF havia identificado….mas o F-16 levou esta tambem. . Foi uma tentativa de rejuvenecer um projeto antigo… . existiram varias assim…muitos projetos bons…. . Um que acho até hoje sensacional foi o do Skyfox de 1982…. http://www.vintagewings.ca/VintageNews/Stories/tabid/116/articleType/ArticleView/articleId/456/A-Sexy-Beast.aspx . Um trainer Jet que utilizava 70% da fuselagem dos antigos jatos T-33 mas como uma maquiagem e alterações que o tornavam dificeis de distinguir a fuselagem original. . Tecnicamente tão bom que a boeing comprou o projeto e tentou comercializar sem exito….pois as forças… Read more »

Leandro Costa

Um dos meus prediletos ‘would be’ aviões de combate que não foram autorizados era o A-6F Intruder II. Motores de F/A-18 e aviônica completamente nova, que inclusive lhe daria capacidade de disparo de AIM-120’s, bem como ainda mais pilones sob as asas. Cinco protótipos construídos, mas a USN optou pela continuação do desenvolvimento do A-12 Avenger, que por sua vez seria cancelado. Acredito que caso o A-6F tivesse sido produzido, o Intruder estaria em serviço até os dias atuais, conseguindo levar mais carga útil e mais longe do que o Super Hornet.
.
comment image

Leandro Costa

Guilherme, concordo muito. É muito difícil fazermos a comparação dos sistemas que o A-6E introduziram, alguns dos quais encontravam-se entre os primeiros sistemas digitais do Mundo. A quantidade e capacidade da aviônica moderna demandaria um sistema de geração de energia totalmente novo. É bom lembrar que o A-6A com o revolucionário (para a época) sistema DIANE, era todo à válvula. . Hoje em dia é tudo digital, tudo eletrônico, desde o core até o cockpit. Diversos computadores. E carregar geradores como os EA-6 em combate não me parece uma boa 😉 . Mas de vez em quando é bom dar… Read more »

MARCOV

Uma das melhorias propostas pelo A-6F Intruder II era a maior facilidade/menor tempo para substituição de componentes, incluindo a substituição dos motores. Eu também sinto pelos modelos que não vingaram, pois nunca se sabe se as decisões foram/são isentas de pressão de lobbies($).

Leandro Costa

Roberto, de nada. Estamos todos aprendendo alguma coisa por aqui todos os dias. Eu que lhe agradeço e muito pelas fotos e por tirar o tempo para publicá-las.

Mauro Oliveira

Roberto F Santana

Pegar o 3º cabo é o objetivo de um pouso “normal” em porta-aviões

Se eles “catch the third wire” é o mesmo que “pousar redondo”. São quatro cabos, e você é ensinado que se fez certo, pegou o 3º