Construção do VLS deve ser abandonada por falta de verba

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ClippingNEWS-PA Um dos mais emblemáticos programas de desenvolvimento científico e tecnológico do Brasil, a construção do VLS-1 (Veículo Lançador de Satélite), deve ser abandonado. Segundo o vice-diretor do DCTA (Departamento de Ciência e Tecnologia da Aeronáutica), Wander Golfetto, o programa pode não ser concluído por falta de verba, recursos humanos qualificados e dificuldades tecnológicas.

Em audiência pública na terça-feira (26) na Câmara dos Deputados, Golfetto afirmou que há descontinuidade de recursos para o VLS, previstos no Programa Nacional de Atividades Espaciais.

No total, o programa deveria receber cerca de R$ 155 milhões. Segundo ele, até o momento, foram executados R$ 108 milhões.

Segundo Golfetto, o Brasil já teria decidido tirar o pé mais uma vez do VLS. Em vez de mirar no mercado de lançadores de grandes satélites, a ordem agora seria focar no mercado de microssatélites.

“Chegamos à conclusão de que não vale a pena desenvolvermos no país um veículo para satélites geoestacionários. Existem vários concorrentes no mercado e o Brasil não lançará muitos equipamentos deste porte. Nosso foco está mais voltado para o VLM (Veículo Lançador de Microssatélites). É um foguete mais simples, para transportar satélites menores. Acreditamos que ele entra em um nicho de mercado onde não existem lançadores naquela categoria”, disse Golfetto.

O lançamento do VLS-1 passa por diversos percalços desde o acidente na base de Alcântara, no Maranhão, em 2003. A explosão matou 21 importantes técnicos, destruiu instalações e interrompeu o projeto do VLS. Na tentativa de recuperação da base e com o objetivo de explorar o mercado de lançadores de satélites, o Brasil optou por focar na construção de outro foguete, numa fracassada parceria com a Ucrânia, que custou 12 anos e R$ 1 bilhão (dividido entre os dois países). O chamado Cyclone 4 seria maior que o VLS, capaz de lançar cargas mais pesadas como de satélites de telecomunicações (de até 800 kg e numa órbita geoestacionária, a 36 mil quilômetros de distância).

O VLS foi mantido, mas deixado de lado. Estava previsto para 2013, depois 2014, 2015 e agora 2016. Mesmo assim, o teste será em apenas partes do foguete: ele não deve ficar totalmente pronto, segundo estimativas do DCTA.

“Temos o veículo todo reprojetado. Estamos trabalhando em um lançamento de um voo tecnológico, que visa testar a parte baixa do VLS, onde tivemos algumas dificuldades no acendimento do segundo estágio e na separação dos estágios. A análise servirá também para avaliar o sistema de navegação inercial que foi desenvolvido dentro do DCTA. Ele é baseado em fibra óptica. Já foi testado em aviões, no solo, agora precisamos fazer um voo espacial para certificar este veículo”, explicou Golfetto.

O passo seguinte, que serviria para fazer com que o VLS colocasse um satélite em órbita, está impossibilitado. Além da falta de recursos, existem dificuldades técnicas no desenvolvimento de componentes para completar o foguete. Há também, segundo ele, a falta de mão de obra especializada.

“Se não houver reposição do quadro, em 2020, o DCTA terá uma redução de 44% da sua equipe em relação a 2011, em virtude do processo de aposentadoria. Há pouco tempo, foi autorizado concurso e pudemos contratar mais de 200 profissionais. No entanto, isto está aquém do necessário”, alertou o vice-diretor.

Novo foco

O Brasil nunca construiu um foguete capaz de decolar para além das zonas suborbitais. O país tem mesmo mais capacidade de reinar no mercado de lançamento de microssatélites, inclusive diversos foguetes seus são utilizados na Europa para lançar cargas carregando experimentos científicos e tecnológicos.

Há êxitos com os lançadores da família Sonda e dos veículos de sondagem VSB-30, VS-30 e VS-40. O VSB-30, por exemplo, abastece o programa europeu de microgravidade.

O processo de construção do VLM se dá em cooperação com o Centro Aeroespacial Alemão (DLR). Porém novamente a descontinuidade de recursos pode atrapalhar este projeto, que tinha previsão inicial de conclusão para este ano e foi reprogramado para 2017. Estimado em R$ 126,9 milhões, até o momento o programa recebeu R$ 10 milhões, segundo ele.

O setor no Brasil

Em termos de percentual relativo do PIB, o Programa Espacial Brasileiro destina dez vezes menos recursos que a Índia e 30 vezes menos que os Estados Unidos. Os norte-americanos detêm 41% do mercado global de satélites, enquanto a participação brasileira é de 1,9%, segundo um estudo feito pela Câmara dos Deputados.

No Brasil, os investimentos governamentais a partir do fim da Segunda Guerra Mundial priorizaram setores de infraestrutura e indústria pesada e de bens de produção como mineração e petróleo. Nos últimos dez anos houve um aumento do interesse político no setor espacial, porém há diversas críticas em relação às constantes mudanças políticas, acidentes, atrasos e gasto maior que o planejado.

FONTE: BOL

COLABOROU: M. Pamplona

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Antunes

Infelizmente.

Isso é real investimento.

Antunes

Digo seria real investimento.

infelizmente tá difícil.

Marcelo Pamplona

Como recordar é viver, fico aqui me perguntando qual deve ser o sentimento das viúvas dos 21 técnicos mortos no acidente em 2003 e que ouviram a promessa de um certo Messias Nine Fingers que, entre várias bravatas e lágrimas oportunistas, afirmou que a morte deles não seria em vão e que o Brasil seguiria com o programa até o seu êxito e tomam conhecimento desta notícia: Gratidão, carinho, devoção ou compaixão? E a lista de terra arrasada por onde este grupelho passou só faz aumentar, assim como as das “vítimas esquecidas”. Até quando?! Sds. Obs.: Desculpem o desabafo carregado… Read more »

Marcelo

Como se o VLS fosse um grande foguete para órbitas geostacionárias. Está longe disso.
Mas concordo que deveria ser dado prioridade para o VLM já que e mais simples, tem mercado na Europa, e tem mais chances de finalmente colocar um satélite em órbita.
Vamos ver, torço para pelo menos o VLM vingar e podermos utilizar a posição privilegiada da nossa base de lançamentos.

a.cancado

Na boa, messes meus 53 anos de vida, poucas vezes vi uma dupla formada por governos lesivos e políticos nocivos, quanto nesses últimos 12 anos…

Edgar

Você, jovem, que aspira um futuro na área de Pesquisa e Desenvolvimento de Tecnologias Espaciais, ou mesmo você, cientista experiente, que trabalhe no INPE, IEAv, etc., leia e reflita sobre meu conselho: saia do Brasil, procure uma nação séria que tenha visão sobre P&D Espacial, e não faltam opções hoje, onde até a Índia já colocou um satélite na órbita de Marte, pois, infelizmente, corre-se o risco de se perder o timing e acabar se frustrando.

Baschera

Mimimimimi…

Se eu fosse um roteirista ou diretor de cinema… esta porcaria de daria um bom roteiro…. incompetência, roubalheira, espionagem, politica, explosão e morte….

O título seria mais ou menos assim:

“Brapzil Puthânfia – A volta dos que não foram”

Passa à régua ….

Sds.

Marcos

Quero discordar de todos aqui.
O VLS é um absoluto sucesso.
Mandou para o espaço grande quantidade de dinheiro.

joao.filho

Viramos a maior banana republic do mundo! E ainda existem aqueles que levam a sério o B no BRICS.
O último a sair apague a luz.

Baschera

O programa espacial indu tem mais de 16.000 cientistas envolvidos.

Sds.

joseboscojr

Se não fosse aquele raio cósmico disparado pelo HAARP e refletido na Lua e atingido nosso VLS e nós já estaríamos chegando em Alpha Centauro.

Lyw

Baschera 28 de maio de 2015 at 21:28 Colega você tocou em um ponto fundamental! Levemos em consideração esta citação no final do texto: “Se não houver reposição do quadro, em 2020, o DCTA terá uma redução de 44% da sua equipe em relação a 2011, em virtude do processo de aposentadoria. Há pouco tempo, foi autorizado concurso e pudemos contratar mais de 200 profissionais. No entanto, isto está aquém do necessário” Podemos ter uma ideia do quanto os sucessivos governos brasileiros levarem a sério a pesquisa científica e produção de alta tecnologia no país! Num primeiro momento nós tínhamos… Read more »

Nick

A primeira vez que eu vi o VLS foi em uma revista que falava de um Brasil Potência do século 21…….

Que dureza….

[]’s

Tadeu Mendes

O Brasil nao tem futuro, porque qualquer pais que nao investe em Ciencia e Tecnologia nao tem futuro.

Vao ter que se contentar em ser uma nacao exportadora de material prima e montadora de aeronaves com tecnologia importada do exterior.

Fazem 30 anos que me fui do Brasil. Eu deixei um pais muito melhor do que se encontra hoje.

Aldo Ghisolfi

Sem investimento em extensão e pesquisa = C&T, não adianta querer ‘as coisas’.

O Brasil foi quebrado pela dialética do poder dominante e pela demissão de cidadania.

Longos anos serão necessários para recuperar as nossas FFAA e a nossa capacidade de defesa; o que dizer, então, do avanço tecnológico e da necessidade de autonomia n a área?
.

Vader

Xiiiiiiii, eu acho que o Bravphil-PuThânphia faliu!!!

Que coisa né? 🙂

Quanto ao “Pograma Ispacial Brasireru”, acabou lá atras, em 2003. Daí pra frente foi só politicagem e roubalheira. De modo que essa notícia é só mais do mesmo.

Sds.

Andre Luis

Creio que, com exceção da Coréia do Sul e do Japão, todos os demais países com foguetes de grande porte, desenvolveram esta tecnologia para atender a grande demanda militar por mísseis de longo alcance.

Sem um foco e um mercado (militar), o investimento se torna secundário, como foi o caso do Brasil.

Wellington Góes

Colocamos, nós mesmos, a corda no pescoço. Existe mercado potencial sim, o problema está no Governo querer bancar sozinho essa façanha.

Como acontece em outros setores, o Governo Federal fosse menos centralizador e liberasse mais espaço (sem trocadilhos) à iniciativa privada nacional, este projeto poderia está em um estágio mais a frente, de repente já teria posto algum satélite em órbita.

Mais umas vez pecamos na gestão de projetos importantes.

Lamentável!!!

Marcelo Pamplona

Poggio;

Obrigado por demonstrar que minha memória não é das piores.

O falastrão oportunista investido em mandato eletivo à época não perdeu a oportunidade de proferir tais palavras, ainda que tivesse a certeza da falta de comprometimento e seriedade na bravata. Foi, é e sempre será da sua natureza tal comportamento, tem (muita) gente que se deixa iludir.

O importante é fazer auto promoção, não importa quem pague o custo real disso. Está aí a Petrobrás com a maior dívida corporativa do mundo e com bilhões desviados que não nos deixa mentir.

Segue o cortejo fúnebre.

Sds.

MARCOS ROBERTO DE OLIVEIRA FREITAS

Acho que so temos uma saida, conseguir realizar lançamentos pra podermos nos defender, pois o acidente em 2003, ficou sem respostas e a melhor respostas aos 21 tecnicos, e sua familias e terminar o serviço deles, há PENSÃO DIGNA PRA SUAS FAMILIAS

Walfrido Strobel

Um país cheio de necessidades básicas que quer lançar satélites?
Este programa nunca deveria ter existido.
Joga logo uma pá de cal em cima.