Suíços já contabilizam perdas de empregos após rejeição do Gripen em referendo

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Gripen E nas cores da Força Aérea Suíça - ilustração Saab

Gripen E nas cores da Força Aérea Suíça - ilustração Saab

O ‘não’ à compra do Gripen coloca sob ameaça cerca de 200 empregos na empresa aeronáutica Ruag, que tem contrato para desenvolver e fabricar protótipos de novos pilones para o caça, mas não para a produção em série

Após a rejeição à compra do Gripen em referendo popular na Suíça, com 53,4% dos eleitores votando contra a lei dos fundos para aquisição do caça, a empresa aeronáutica suíça Ruag já contabiliza um impacto negativo em seus negócios.

Em nota, a Ruag afirmou que “o impacto poderá afetar até 200 empregos no médio e longo prazo, se não forem tomadas medidas contra isso.” O desapontamento da empresa é grande, segundo reportagem do jornal 24heures. Em março, foi anunciado um contrato da Saab (fabricante do Gripen) com a RUAG Aerostructures, para o desenvolvimento e potencial produção de pilones (estruturas onde são carregados externamente os armamentos de caças) para o Gripen E. A parte assinada corresponde à fase de desenvolvimento e produção de protótipos, por 15,5 milhões de francos suíços, mas a produção em massa dos mesmos está ameaçada, pois a Saab tem a opção de repassar a produção (que representaria cerca de 52,5 milhões de francos) para outras empresas. A Saab, por sua vez, disse que o contrato com a Ruag será mantido dentro das condições estabelecidas (leia-se desenvolvimento e protótipos).

Gripen D e Gripen NG Demo - detalhe diferenças trens de pouso - foto Saab

A Saab já estabeleceu mais de 600 contratos com 125 empresas suíças, num valor que excede 400 milhões de francos, e a Armasuisse (organização suíça que administra as aquisições e avaliações militares) deverá checar os contratos restantes. O porta-voz da Saab na Suíça, Mike Helmy, informou que “os pedidos serão mantidos de acordo com as cláusulas contratuais.”

Além do impacto negativo no curto prazo para a Ruag, ao qual se acrescenta a desativação dos caças F-5 em 2016 (para os quais a empresa fornece manutenção), o resultado do referendo também deverá impactar a Pilatus, outra empresa suíça também envolvida com a Saab. Em março, a Pilatus anunciou junto à Saab que promoveria a venda de vinte turboélices de treinamento PC-21 à Suécia. A decisão está nas mãos do governo e do parlamento suecos.

Regiões com bases aéreas como a de Payerne (onde o “sim” ao Gripen chegou a 60%) também sofrerão o impacto do referendo. Havia a expectativa de se criar ali um “centro de competência Gripen”, com criação de empregos, aos quais se somariam outros devido ao projeto do alerta 24 horas, chegando a centenas de postos de trabalho prometidos para Payerne. A cidade pretendia criar também um polo aeronáutico, cuja operação civil só seria possível com o apoio da base militar existente.

Gripen E para Suíça - principais características - imagem Saab

Nota da Ruag suíça a respeito do resultado negativo do referendo do Gripen

“No domingo, 18 de maio de 2014, 53.4% dos eleitores suíços votaram “não” ao financiamento da aquisiçÃo de 22 caças Gripen E.

Da perspectiva da RUAG, essa decisão é lamentável. Ela não apenas enfraquece nossa Força Aérea e, consequentemente, a supremacia aérea da Suíça; ela também é prejudicial ao país como um lugar para desenvolvimento e negócios.

A única parte do contrato concedido à RUAG Aerostructures no início de março deste ano, para desenvolver e produzir pilones para o Gripen E (conforme nota divulgada em 3-3-14) que definitivamente continuará em andamento é a de desenvolvimento e fabricação de protótipos, no valor de 15,5 milhões de francos suíços. Porém, a parte referente à produção em série de 60* pilones para os caças Gripen das Forças Armadas Suecas está em questão. A Saab tem liberdade para procurar fora da Suíça uma empresa que cumpra essa parte da encomenda, com valor estimado em 52,5 milhões de francos.

No curto prazo, o voto no “não” terá um impacto nos negócios de manutenção, reparo e revisão da RUAG Aviation, já que os aviões F-5 Tiger deverão ser desativados em 2016. Ainda estão em aberto as consequências de médio e longo prazo deste voto para a RUAG. Nesse contexto, porém, a diretoria executiva da empresa espera que até 200 empregos sejam afetados no médio e longo prazo, caso não se tome atitudes para prevenir isso.

Como o volume de encomendas das Forças Armadas Suíças é esperado para decrescer no futuro, e de maneira a cumprir nossos compromissos de acordo com a estratégia de manutenção própria do complexo sistema das Forças Armadas Suíças, e apoiá-las como parceiros tecnológicos, é ainda mais importante para a RUAG manter as necessárias competências na tecnologia de defesa internacional e aplicações civis relacionadas. “

Asa de F-5 suíço em manutenção - foto RUAG

FONTES: 24 heures e Ruag (compilação, tradução e edição do Poder Aéreo a partir de originais em francês e inglês)

FOTOS: Saab e Ruag

*NOTA DO EDITOR: provavelmente, a encomenda seria para produção em série de 60 conjuntos completos de pilones (são oito estações sob as asas e fuselagem de cada caça, excetuando-se os lançadores das pontas das asas), já que a encomenda sueca até o momento é de 60 caças Gripen E  – e que poderá chegar a 70 exemplares, no que concordam o governo e a oposição da Suécia.

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Grievous

Começo a achar que o Vader tem mesmo razão. No final, vai ser bom para o Brasil. Se melar a vendar dos Pilatus, aumentam as chances de uma venda de Super Tucanos

Vader

“Ela não apenas enfraquece nossa Força Aérea e, consequentemente, a supremacia aérea da Suíça; ela também é prejudicial ao país como um lugar para desenvolvimento e negócios.”

Falei exatamente isso ontem.

Os suíços estão pior que nós brasileiros: nem sequer podem culpar os políticos…

Vox populi, vox dei. Quando a RUAG e a Pilatus falirem os suíços podem procurar empregos na França, que tem um povo super-acolhedor com os estrangeiros que vão pra lá procurar emprego…

Escrevam o que eu digo: ainda iremos agradecer aos suíços…

Vader

Off-topic: E no blog das doidivanas e da escumalha, que só tem moderação pra um lado, o substituto de editor (sim, porque o Editor estranhamente “se mandou” e deixou o blog na mão da molecada), depois que o Gripen ganhou o FX-2, anda meio sem assunto… Continua postando a bobajaiada russófila e francófila, como sempre, junto com um monte de post de velharias, numa versão bicheira do “Desafio Poder Aéreo” (até o nome é o mesmo, rsrsrs – ô falta de imaginação…). Mas como a audiência anda despencando, com os mesmos comentaristas de sempre fazendo os mesmos comentários de sempre,… Read more »

Vader

PS: e nós aqui viramos “advogados da SAAB” ahahahahaha…

Ô SAAB, se tiver alguém aí lendo, pode depositar algum na minha conta, que eu prometo que não vou reclamar não, rsrsrsrs… 😉

Guilherme Poggio

Caro Vader, além do que o Nunão já escreveu, nós só temos a agradecer pela audiência daqueles que, embora não comentem mais, continuam lendo o blog.

Ontem foi uma das segundas com mais acessos dos últimos tempos.

Obrigado a todos

Vader

Tem razão Nunão, foi só um contraponto a algumas “biltrices” que a gente lê por lá…

Mas é que “Desafio *****” é demais, kkkkkk…

Ô povinho sem criatividade, credo… 🙂

HMS TIRELESS

Nunão e Poggio:

Em que pese o pedido feito ao amigo Vader, devo acrescentar que realmente a coisa anda feia por aquelas bandas. O ressentimento e rancor das tietes francofilas chegou a um nível tal que um sujeito,que trollava aqui antes de ser expulso, fez uma insinuação a vocês.

E fiquem sossegados que eles lá, tanto os que fizeram insinuações como os que nos acusaram de ser advogados da SAAB, estão lendo o que estamos escrevendo pois essa turma é pior que esquerdistas, que adoram ler o blog do Reinaldo Azevedo…rs!

thomas_dw

quanto as possibilidades do ST na Suécia : zero

o ST desenvolvido para COIN nao se comprara a um PC-21, que foi desenvolvido para competir com um Hawk de ultima geração e similares como treinador avançado .

Os Suecos devem acabar com a sua pequena frota de treinadores ou comprar um pequeno lote, provavelmente dos M346 ou Hawk T2.

cvn76

@Vader:

Existe algum outro fórum como esse no Brasil??

O que vocês chamam de “outros” ou “naquelas bandas”…..só estou curioso…..não sabia disso.

Guilherme Poggio

Existe algum outro fórum como esse no Brasil??

Caro Franz, modéstia à parte, igual a este não. 🙂

cvn76

Grande Poggio!!

Ok….melhor que este??

Não, só estou brincando….:-)

Creio que me espressei mal….o correto seria:

” existe algum outro fórum de assuntos militares no Brasil?”

cvn76

Ok Nunão; muito obrigado…..não conhecia nenhum deles.

Quando tiver um tempo sobrando, darei uma olhada!

mdanton

Eu não fui expulso não!
Leio todos os tópicos postados quando tratam de PRODUÇÃO local (conteúdo nacional além de mão de obra) e geopolítica.
Como fui muito taxado de “offtopic” e reiteradamente alertado a não fazer postagens políticas, fui cuidar da minha vida e tentar ajudar a formar um Brasil melhor.

Agosto 2014 tem NOVO na área…gostaria muito de filiados efetivos e ativos.
kkkkkk

Grievous

cvn76 20 de maio de 2014 at 10:20# Se me permite opinar… Acompanho o Defesanet e o Cavok pelo Facebook. Sobre o Cavok, normalmente o que de relevante sai lá, já saiu aqui, mas tem algumas coisas mais pontuais, sobretudo de aviação civil que são “exclusivas”. Também tem algumas postagens de curiosidades, historinhas, etc. Legal para um entusiasta com tempo pra ler. Mas não dá pra perder tempo com os comentários. Muita “torcida de futebol”, muita paixão cega. Não tem nenhum Bosco (pra citar só um nome) por lá pra elevar o nível. Não que eu tivesse visto, já que… Read more »

cvn76

Oi Grievous.

Infelizmente não posso opinar porque não conheço os outros sites; nem sequer sabia que eles existem….

Mas num ponto concordo com voce:

Além de um bom time editorial, são os bons comentários, sérios, educados e sem paixões que aumentam o nível do fórum.

Antonio M

A Suiça pode vir a se tornar um exemplo do quanto danoso é o tal “politicamente correto”, onde mesmo com os incidentes recentes uma maioria teima em acreditar que um mundo melhor, de paz se faz com ingenuidade.