Suécia anuncia troca de embaixador na Suíça, após reportagem sobre lobby junto a parlamentares

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Gripen F em Emmen - foto Depto de Defesa da Suíça

Na quarta-feira, 30 de abril, a Suécia anunciou a troca de seu embaixador na Suíça, um dia após uma reportagem dizer que o ocupante anterior do cargo se envolveu em ações de “lobby” junto a parlamentares suíços, visando promover os caças suecos. O governo sueco negou qualquer ligação entre a saída do embaixador Per Thoeresson e a planejada venda de 22 caças Gripen, aprovada pelo parlamento suíço no ano passado mas que ainda terá que passar por um referendo, em 18 de maio, sobre os fundos para a aquisição.

A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Suécia, Catalina Axelsson, afirmou à AFP que “todos que trabalham no ministério fazem parte de um sistema de rodízio. Esta é uma troca que já estava planejada desde o ano passado.”

Em fevereiro, a rádio pública sueca revelou planos da Embaixada Sueca em Berna para influenciar a decisão do referendo, com ajuda financeira da fabricante do Gripen, a Saab. A notícia repercutiu entre grupos opostos à compra suíça, que criticaram a atitude como interferência externa, o que levou a empresa sueca a voltar atrás em ajudar financeiramente a campanha local em prol da compra dos caças.

Na última terça-feira, a mesma rádio sueca citou documentos secretos que revelaram mais detalhes do lobby sueco. O embaixador Thoeresson mapeou as opiniões dos parlamentares suíços e conseguiu reuniões privadas para convencer os mais céticos. Carls Bilt, ministro das Relações Exteriores da Suécia, disse à rádio que a Embaixada em Berna estava apenas realizando seu trabalho: “Embaixadores suecos devem apoiar os esforços de exportação do país. Isso é o que eles fazem e isso é o que eles devem fazer. É parte de suas atividades básicas”, disse Bildt. O ministro anunciou, no fim daquele dia, que Thoeresson irá para a missão permanente das Nações Unidas em Nova York.

O novo embaixador sueco na Suíça, Magnus Holm, já ocupou posições diplomáticas do país na Estônia, Alemanha e Japão, e assumirá sua nova posição por volta do terceiro trimestre (outono no Hemisfério Norte).

Gripen F de testes em Emmen na Suíça com pasto ao lado - foto via Gripen Blog

‘Comparado com outras ações comuns em aquisições de caças, o que o embaixador sueco fez foi coisa do jardim da infância’, diz jornalista sueco especializado em políticas de segurança

 

Em entrevista ao jornal suíço Berner Zeitung (publicado em alemão), o jornalista especializado em políticas de segurança do jornal sueco “Svenska Dagbladet”, Mikael Holmström, não se mostrou surpreso com essas últimas revelações. Holmström, que desde 1988 escreve sobre o caça Gripen, citou o exemplo da Noruega em 2008, quando uma possível compra do Gripen pelo país foi combatida fortemente pelos Estados Unidos., que atrasaram permissões de exportação de radar para o Gripen, prejudicando sua venda e contribuindo para o F-35 da norte-americana Lockheed Martin vencer a competição. “Vendas de caças são sempre um negócio sujo”, disse o jornalista.

Perguntado sobre como os concorrentes do Gripen poderiam ter chegado a papéis confidenciais da Embaixada Sueca, Holmström afirmou que esses despachos podem ser interceptados por quem tenha contatos na administração sueca, citando os próprios críticos ao Gripen no país, como os movimentos de paz, muito fortes entre os suecos. Em sua constituição, a Suécia também dá acesso a papéis para qualquer cidadão, desde que não coloquem em perigo a segurança nacional.

Na suécia, segundo o jornalista, essa revelação não foi considerada explosiva, pois os papéis somente mostram como o embaixador entendeu sua missão e compromisso com o Gripen. “‘Comparado com outras ações comuns em aquisições de caças, o que o embaixador sueco fez foi coisa do jardim da infância”, disse Holmström.

O referendo de 18 de maio, porém, é bastante importante para a Suécia, segundo o jornalista: “Sem um parceiro externo a Suécia não desenvolverá a nova versão Gripen E que a Suíça quer comprar. Esta é uma situação ganha-ganha para os dois países: a Suécia divide os custos de desenvolvimento com a Suíça e esta tem uma garantia governamental sueca para o caso do desenvolvimento não ser bem-sucedido. Além da Suíça, o Brasil também está interessado no Gripen, mas ainda está na fase de negociação, que levará algum tempo.”

FONTES: AFP, via The Local (edição suíça) e Berner Zeitung – compilação, tradução e edição do Poder Aéreo a partir de originais em inglês e alemão

FOTOS: Departamento de Defesa da Suíça e Gripenblogs

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