Em 1981, a VI Frota da Marinha dos EUA fazia manobras no Mediterrâneo Central. Naquela época, o coronel líbio Kadafi fazia ataques particularmente duros contra os EUA e ameaçava atacar os navios americanos que penetrassem no Golfo de Sidra, águas internacionais que a Líbia reivindicava.

O primeiro dia de manobras assistiu a muitas tentativas de aviões líbios intrusos, que foram interceptados e escoltados para fora da área de operações. Foram nada menos que 35 incidentes.

No segundo dia, dois caças Grumman F-14 Tomcat do esquadrão de caça VF-41 Black Aces, baseados no navio-aeródromo USS Nimitz, voavam numa PAC em formação de combate, afastados 3.000m um do outro, com o ala voando 2.000m mais alto.

Num dado momento, detectaram dois sinais não identificados no radar. O líder da formação avistou os estranhos a 12km de distância e virou-se imediatamente para interceptá-los.

Pouco depois, a distância entre os aviões americanos e líbios tinha diminuído para perto de 5km, quando os intrusos foram identificados visualmente com segurança como caças-bombardeiros de fabricação soviética Sukhoi Su-22 “Fitter”, da Força Aérea Líbia.

Nos segundos seguintes, os pilotos americanos viram o líder líbio disparar um míssil AA-2  “Atoll”  guiado por infravermelho contra eles. Pelas regras de engajamento, os Sukhoi passaram a ser considerados como hostis e os Tomcat ficaram livres para combater, sem pedir permissão ao comando.

Depois que o líder líbio disparou o míssil, os dois Su-22 partiram em direções diferentes para tentar evitar os F-14. Kleeman, o comandante do elemento, perseguiu o avião da esquerda e seu ala, Muczynski, atacava o da direita.

Enquanto o ala líbio subia e se inclinava para começar a girar, seu líder girava brutalmente para completar 180 graus. Kleeman tinha previsto essa manobra e colocou-se na cauda do Sukhoi, a uma distância de 1.400m, enquanto Muczynski perseguia o líder.

Kleeman travou no alvo e lançou contra ele um míssil AIM-9L Sidewinder, destruindo o Sukhoi. O piloto líbio se ejetou. Muczynski fez o mesmo poucos segundos depois, mas o paraquedas do piloto do avião que ele derrubou não abriu.

O fato de deixar um grande afastamento entre os 2 Tomcat, impediu o inimigo de avistar ambos ao mesmo tempo, contrastando bastante com a formação fechada e taticamente ineficaz dos líbios.

Embora o F-14 não tenha sido projetado para “dogfight”, o treinamento recebido pelos pilotos da Marinha na escola Top Gun os capacitou a superar o inimigo em aeronaves menores e potencialmente mais manobráveis que eles.

VF-41 - RIO Dave Venlet Cmdr Hank Kleeman Ten Muczynski e RIO Jim Anderson

VF-41 – (À esquerda) RIO Dave Venlet, Cmdr Hank Kleeman e (à direita) Ten Muczynski e RIO Jim Anderson.

 

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Cronista

Creio que nem mesmo uma formação mais eficaz salvaria os Su-22 dos Tomcat ou lhes garantiria, ao menos, mais alguns minutos de vida… A diferença é muito grande: mísseis melhores, treinamento no estado de arte, ótimos radares embarcados + cobertura radar da frota… Fico me perguntando o que deu na cabeça do líder sírio para disparar um AA-2 Atoll contra um F-14???

Clésio Luiz

O Tomcat pode não ter sido projetado para dogfight, mas com certeza esse aspecto do combate aéreo foi muito importante na sua concepção. Prova disso é que sua áera alar é comparável aos outros caças do seu tamanho, como o F-15 e o Su-27 (esse com a maior área alar de todos). Além disso, um canopi com excelente visibilidade para trás e um canhão orgânico completavam o pacote. A única coisa que não saiu como o esperado foi o motor F-401, que seria um derivado do P&W F-100 (que teve problemas por si só depois) mas teve problemas no desenvolvimento… Read more »

Vader

O piloto líbio ficou locão e apertou o botão… 🙂

No mais, esse é um dos exemplos de que o treinamento é uma das poucas coisas que pode superar o “quanto menor, mais manobrável” (by John Boyd). Pois fosse em igualdade de treinamento, armamento e motivação e os F-14 poderiam se ver em maus lençóis.

E para se ter treinamento é preciso voar. E para voar, é preciso que o caça sejá viável economicamente para a força aérea que o utiliza.

Sds.

Luiz Padilha

Vamos combinar que nem em exercícios nos EUA, os “inimigos” são inocentes assim.
Fácil demais. Os caras praticamente deram as costas e disseram: Manda ver!
Pows! Suicidas, isso sim!

Marcelo

essas ilustrações e fotos são dos fascículos Aviões de Guerra da década de 80, fiz a coleção toda, está encadernada. Foi aí que comecei a gostar da aviação e assuntos de defesa!
Abraços.

MA

Su-22 tampouco era uma aeronave projetada para dogfight e ainda possuíam a desvantagem de não possuir radar abordo. Qualquer que fosse a formação dos elementos não havia chance, foi uma ação precipitada em minha opnião.

Nick

Os Libios voando em formação na mesma escola dos Argentinos em 82…. Deviam roubar alguns manuais de instrução dos pilotos de F-16 da USAF …. 😀

[]’s

Baschera

Bom lembrar do F-14……. tenho um em escala montado no escritório.
Quanto ao combate no golfo de sidra, realmente os líbios foram ovelhas na frente do lobo.

Sds.

Cronista

Vader disse em 15 de agosto de 2010 às 8:36: “E para se ter treinamento é preciso voar. E para voar, é preciso que o caça sejá viável economicamente para a força aérea que o utiliza.”

Cruel Vader, muito cruel…….

Esdras

Pedaços da história que nossos amigos do blog nos presenteiam.
Parabéns aos amigos da trilogia.

Ivan

Baschera, Aqueles pilotos líbios foram tolos… O Jogo que eles, Muammar al-Gaddafi e o Departamento de Estado Americano, estavam jogando era de provocação, para ver quem piscava primeiro. A US Navy sabia jogar o jogo, a Al-Quwwat al-Jawwiyya al-Libiyya (Aeronáutica Militar da Líbia) não. Ao menos aqueles 2 (dois) pilotos não sabiam mesmo. O melhor qua Líbia podia ter feito era mandar um par de Mirage V, cada um com um par de mísseis IR e apenas um tanque do combustível externo central (o que reduz pouco a agilidade), com a missão de “brincar” com os F-14 Tomcat. Mas era… Read more »

quatzy

Isso é história ameriana. Quero ouvir outro lado também.

General

Os pilotos da US NAVY são excelentes, só perdem para os pilotos da melhor força aérea do mundo(FAB)

ATTILA LUIZ UGGERI

Os Brasileiros estão em terceiro lugar, vamos a lista:

1º Israelenses
2º Americanos
3º Brasileiros

Raptor

Complementando… Existe um problema em relação aos VANT’s autônomos (uma espécie de MAD contemporâneo)… Por segurança, acredito por consenso de todos (incluso China) não permitir sua utilização armada e mesmo para vigilância, para não ter problemas com o “ghost in the Machine” (a capacidade de processamento irá ultrapassar o equivalente ao cérebro humano em algum momento da década de 30). A única alternativa que sobrou para veículos “sem tripulantes” seria a da categoria dos sem tripulantes porém, pilotados, os UAV’s (vídeo game, não combina com o espírito da guerra) em minha opinião. Ou seja, o elemento humano, ainda será essencial… Read more »

Raptor

vídeo game = matar sem riscos = VANT’s armados.

Raptor

Esquecendo… letra traduzida da música: http://letras.terra.com.br/motorhead/1323100/traducao.html

Billy-s

Vária vezes vi os F5 ou A1 em Canoas voando em formações de 2 ou 3 “cerradíssimas”. O radar daquela época teria como distinguir este truque? e o radar atual? Semelhança com TOP GUN?

ditongo

Acredito totalmente nas capacidades de combate dos pilotos americanos, pela sua alta carga horária de treinamento. Mas sinceramente os pilotos líbios cometeram o mais básico dos erros,
da aviação de caça: dá as costas ao inimigo, tolinhos!

Os dois líbios deveriam ter virada à esquerda. O lider líbio raramente escaparia. O ton cat 107 seria abatido após alvejar o lider líbio. Aí o combate ficaria 1 contra 1. Aí o resultado seria imprevisivel.

Pedro

Será q ninguem percebeu que isso é historinha americana para justificar ataque? Algum piloto no mundo, por pior que seja faria um ataque e daria as costas para o inimigo bem como seu ala se separaria? NUNCA! Alem disso o AA-2 não enganjava pelo quadrante frontal de um alvo, assim como os misseis leves de sua epoca. Ele so poderia ser disparado atacando os F-14 por tras. Isso foi a maneira de como os EUA venderam uma agressão deliberada sua contra um país terceiro. Provavelmente os pilotos americanos, conhecidos pela sua fraqueza técnica e emocional (só são fortes no cinema,… Read more »

Raptor

“Será q ninguem percebeu que isso é historinha americana para justificar ataque?”

Pedro,

Caso houve esta decisão neste sentido, a mesma é política e não militar.

Acredito que a matéria teve o intuito de mostrar a valentia dos pilotos e seus esquadrões e não um julgamento moral sobre o caso Líbia (provavelmente mais lambança reptiliana…risos – difícil de engolir que a Líbia algum dia, foi uma ameaça real aos EUA).

Abraços.

Baschera

Ivan disse:
15 de agosto de 2010 às 13:40

Concordo Ivan…… o M-V seria uma boa opção para a brincadeira, mas não com apenas dois vetores…. eu mandaria uns seis pelo menos ….. pilotos experientes e calculistas e depois…… pinote…..

Sds.

Madvad

eu tenho essas coleções Aviões de Guerra encadernadas!! Muito legal!

Agora o amigo aí de cima…SU-22 mais ágil que Tomcat?

AONDEEEE?????????

Rogério

Pedro disse:
15 de agosto de 2010 às 16:47

Se os Su-22 são mais ageis, pq eles não venceram o combate ?

Rodrigo

Pedro disse:
15 de agosto de 2010 às 16:47

Os pilotos líbios são maravilhosos, mas o AAA líbio uma porcaria.

Só derrubaram um F111.

Joker

Muito bom o relato! Parabens ao blog!

Tomcat

Também tenho a coleção toda do “Aviões de Guerra”! Reli várias vezes essa história! 🙂

[ ]’ s

Tomcat

Outra coisa, me corrijam se eu estiver errado: esse não foi o primeiro combate entre caças com asas de geometria variável?

[ ]’ s

Ivan

Os F-14 ganharam simplesmente porque são mais bonitos! HA!!!

Brincadeiras a parte, citando o Sérgio Luiz “O combate por si só foi muita estupidez do piloto líbio, pois o K-13 (Atoll) não podia engajar disparado de frente contra o alvo.”.
Pra mim isso diz tudo, não duvido nem de que o disparo possa ter sido acidental, de tão idiota que foi…

Giordani RS

Eu lembro bem desse fato. Tem até um vídeo no youtube mostrando o lançamento dos sidewinder. Eu era criança na época e Mais ou menos nesse interim(aí o amigo Galante pode até postar esta matéria), O SeuReagen mandou os F-14´s interceptaram e obrigaram um 737 a pousar. Na aeronave alguns sequestradores-terroristas que haviam matando alguns americanos e italianos. O que os pilotos libios fizeram foi suicidio. Atacaram caças de Defesa da Frota numa formação de ataque “asa colada”, com mísseis de curto alcance Atoll e pelo quadrante da frente! Total falta de treinamento. Su-22 mais manobrável que o TomCat? hahahaha…brincadeira… Read more »

RoyFocker

Sinceramente respeito a opinião do nosso amigo Pedro, mas dizer que os Su-22 derrubariam os “gordos e pesados jatos yankee” é d+ na minha opinião, Vc acha que a US Navy por “miseros” 33 anos confiaria a defesa de seus GT’S a um gato gordo e pesado. é fato que o filme TOPGUN ajudou na fama do Tomcat, sem contar o fato de ser um avião muito bonito, mas o fato é que chegar perto de um F-14 naquela época sem sair ileso era quase impossivel e ainda hoje seria tarefa dificil. O F-14 era uma plataforma de arma completa,… Read more »

HIDERALDO

O inacreditável é que o capt KLEEMAN, depois de muitas horas de voo e tendo participado dessa contenda e abatido um caça em combate real, veio a falecer quando desta vez pilotando um F18 simplesmente derrapou e capotou na aterragem, em 1985. Um acidente não muito comum na aviação.

HIDERALDO

Em algum site alguém comentou que “seria perigoso demais se o Estado Islamico ou ISIS tivessem caças…Ora bolas eles nunca vão ter justamente por causa disso: se eles levantassem voo desafiando as esquadrilhas americanas, seriam abatidos como vacas em um matadouro. Os pilotos americanos são os melhores do mundo e ainda tem os melhores aviões. Por isso os extremistas só combatem pelo terrorismo…

HIDERALDO

Na verdade, falando do “incidente do golfo de sidra”, o que ocorreu ali foi quase que premeditado pelos americanos. Olhem o mapa: o golfo de sidra está todo dentro do território líbio e PORQUE A FROTA AMERICANA ESTAVA TÃO PRÓXIMA DA COSTA??? O mediterrâneo e suas águas internacionais ofereciam um imenso espaço mais para o norte para a frota americana “fazer seus exercícios”. Acontece que Moamar Kadafi já vinha publicamente condenando a presença americana no mediterrâneo e as relações diplomáticas entre os dois países ferviam naquele momento. Os americanos entenderam que TINHAM DE DAR UMA RESPOSTA à ALTURA, (Hoje o… Read more »

HIDERALDO

Agradeço aos amigos do ‘PODER AÉREO’ por sempre publicarem meus comentários. Um abraço a todos os profissionais, amantes e simpatizantes da aviação! Se passarem por Santa Rosa no RS vamos assar uma costela e uma linguiça e saboreá-las acompanhadas de umas cervejas geladas de rachar o copo…

Igor Lima

Sabia que já tinha visto uma imagem semelhante a essa, na minha infância nos anos ’80… Os Su-22 estão levemente modificados.